9 de jan. de 2011

capitulo 5

Posted by sandry costa On 1/09/2011 1 comment


Então pessoal, dano-se meu Dezembro de 2010 e sinto muito mesmo, mas acumulou tudo: provas de fim de ano, trabalho (quem trampa no comércio sabe como é).... Kaori com amidalite e uma semana no hospital... e por aí vai....

Apesar de tudo, as boas notícias... em Janeiro tô mais de folga e acho que vai rolar de escrever os cap. mais rápido... vamos ver...

Espero que até a metade do ano o livro 2 tenha chegado ao fim...

Abraço a todos que acompanham e boa leitura...!!!

Ang.





Estrada para a Perdição


Lembro-me de sentir uma dor excruciante... meu desespero aumentou gradualmente durante a batalha até tornar-se um horror total, assistir amigos e familiares morrerem diante de meus olhos enquanto eu tentava a todo custo proteger minha esposa foi algo que eu pensei jamais poder suportar. E, de fato, não suportei.
A luta me distanciou de Bella, de nossa defesa precária em busca da sobrevivência... afinal, quando os Volturi ordenaram o ataque nós soubemos que o resgate de Alice e Renesmee seria impossível e que, com sorte, morreríamos todos de forma rápida. No meio do caos instaurado pelos Mercadores da Morte, Felix e mais dois soldados me distanciaram do grupo arrastando-me para o meio da floresta... mesmo com o dom de ler pensamentos eles eram muitos e eu não pude conter o golpe da maioria. Consegui matar os dois soldados, mas Felix era forte demais e no meio da luta um poderoso ataque do Volturi praticamente me liquidou... um golpe tão potente que quase separou minha cabeça do resto do corpo.
Com o impacto eu fui atirado dentro do rio veloz que passava perto do local da batalha... foi minha salvação... talvez Felix tenha imaginado que conseguira me matar e eu mesmo pensei isso, mas, por sorte, a água conseguiu me salvar. Meu corpo pesado de mármore me arrastou para o fundo do rio onde fiquei preso entre o lodo, as rochas e as plantas aquáticas que secretamente se espalham sob a água escura... e lá permaneci por dias até que finalmente minha garganta conseguiu cicatrizar e minha cabeça manteve-se no lugar.

Durante os dias eu olhava para a superfície da água lá em cima... tão distante de mim e imaginava o destino dos outros. O que havia acontecido durante a batalha? Eu me culpava por não poder ajudar, à noite a água era congelante e a escuridão total e muitas vezes parecia que eu havia morrido e esta sepultura silenciosa e aquática era o meu inferno pessoal... o inferno daqueles que não tem alma.
Mas o sol surgia no outro dia... lá em cima a vários metros de distância se fazendo fulgurar na água incerta do rio, a correnteza sempre me arrastava adiante e eu flutuava perdido sendo conduzido pelas águas escuras e misteriosas deste rio indiferente. Sentia-me inerte e impotente... até minha garganta cicatrizar eu não pude me mover, afinal, eu quase fora decapitado e então decidi ficar como um passageiro da correnteza errante.
Mas o medo me dominava sempre. O medo terrível do destino de Bella e Renesmee me assombrava durante as horas da minha incapacidade, nestes momentos o desespero ameaçava me tomar, este não-saber... esta ignorância dos fatos da superfície me martirizava. Eu não podia fazer nada, com a cabeça quase separada do corpo as minhas funções motoras não me obedeciam e eu me vi preso dentro de meu próprio corpo tendo apenas minha consciência como companhia.

Eu me perdi nas horas quando tentei contá-las, para mim parecia fazer décadas que eu estava ali, sepultado sob as águas turvas desde caudaloso rio, então, quando menos esperava... eu adormeci. Não sei dizer ao certo se foi um adormecer... talvez eu tenha perdido a consciência... não sei ao certo, entretanto eu me lembro de estar acordado... talvez o que tenha visto tenha sido uma ilusão criada pela minha própria mente entorpecida e solitária.
Tudo o que me lembro era que o sol estava raiando sobre a superfície da água, seu brilho fulgurante podia ser visto lá muito acima, foi então que eu percebi uma agitação estranha vindo em minha direção, parecia uma bruma liquefeita que aos poucos tomava forma, descia brilhando e se revoltando em torvelinhos de água escura... mas no centro havia uma luz estranhamente acolhedora que cintilava como um cristal multifacetado. A estranha forma desceu até mim se aproximando lentamente... então eu percebi que era uma pessoa... uma mulher linda...: Bella.
Ela descia até mim com um sorriso doce nos lábios, seus cabelos flutuando indiferentes ao sabor da correnteza, sua pele refulgia e seus olhos dourados me absorveram por completo... ela se aproximou de mim, descendo lentamente até ficar muito próxima, então sorriu e eu pude ouvir sua voz etérea diretamente em minha mente.
“Você não pode se demorar muito, Edward”
“Bella” – eu disse sem mover os lábios chamando-a com meu pensamento.
“Eu e Renesmee precisamos de você” – ela disse me olhando.
“Mas eu estou preso aqui neste rio, Bella... eu perdi a chance de salvá-las... talvez você esteja morta... e Nessie também... você é apenas fruto de meu medo”.
“O que seu coração lhe diz?” – ela perguntou me sorrindo.
“Que vocês duas estão vivas...”
“Precisamos de você... Edward. Por favor, não desista agora...”
“Mas Bella... eu fui praticamente destruído... não consigo me mover, agora, talvez, eu seja apenas uma pedra do leito de um rio”.
“Não meu amor... o que você precisa é saber que nós estamos esperando por você... venha Edward... venha comigo... venha até mim”
E Bella começou a flutuar para longe em direção à superfície, ela estendeu seu braço em minha direção me chamando enquanto seu rosto amado se afastava gradualmente... sua voz me chamando... me forçando a segui-la... então, sem saber o que fazer e sem querer perder aquela imagem estranha de Bella eu forcei meu punho em sua direção e para minha surpresa, depois de um leve momento de incerteza, meu braço ergueu-se em direção a ela.
“Vê?” – ela disse sorrindo – “Você está vivo Edward... venha para nós... meu amor”.
Então, com um pequeno impulso eu forcei todo o meu corpo para cima e para meu total espanto eu flutuei rumo à superfície, meu corpo de pedra pesado sendo impulsionado pela força extraordinária de meus poderes. Eu deixava a solidão silenciosa do fundo daquele rio tumular e retornava para o mundo dos vivos... aos poucos, quanto mais eu me aproximava da superfície, mais a imagem espectral e fantasmagórica de Bella desaparecia... e por fim, quase lá, eu ainda ouvi um ultimo sussurro de sua impressão.
“Eu estou te esperando...”.
E com uma explosão eu emergi à luz do dia... à luz de uma aurora resplandecente, vomitei litros de água que nublavam minha mente e meus pulmões imóveis queimaram quando absorvi o ar gelado da manhã recém desperta. O sol se agitava além das nuvens e lançou seu brilho quente sobre mim cobrindo-me de calor e luz, a floresta à minha volta era diferente e estranha e percebi que a correnteza das águas me carregara rio abaixo para muito longe de onde eu fora atirado.
Estava livre para voltar para casa e para a tristeza que me aguardava.

Durante horas eu corri pela floresta rumando para a casa de Carlisle e rogando aos céus que ao menos ele e Esme ainda vivessem, no caminho consegui matar um cervo e drenar seu sangue para me fortalecer, foi com certo desconforto que notei um leve retardo em minhas ações, minha velocidade... minha força e minha percepção; talvez uma quase decapitação cause este efeito deficiente nos vampiros.
O sol já incidia quase reto no céu, aproximava-se do meio-dia e o calor aumentou muito neste tempo, eu reconheci o terreno de Forks e de La Push e caminhei até onde sabia conduzir ao jardim de Esme onde a entrada da casa dava para a mata fechada. Aproximei-me com cuidado para não assustar alguém que por ventura ainda habitasse a mansão...
Foi um alívio imenso constatar que Esme estava parada na varanda olhando o vazio... ao menos ela esta viva e um segundo depois ao notar minha presença cambaleante, atravessou velozmente o gramado atirando-se contra mim.
- Edward... – ela falou soluçando – Meu filho... meu filho...
- Calma... eu estou aqui – eu respondi tentando confortá-la.
Um segundo depois Jasper também surgiu pelo jardim vindo em minha direção e eu fiquei feliz em saber que ele também estava vivo... mas meu alívio só veio quando eu pude abraçar Carlisle, meu pai, companheiro de tantos anos... ele me abraçou com força como para comprovar que era realmente eu e em seguida me olhou nos olhos feliz por eu estar vivo.
Jacob e Seth também vieram me receber assim como Garret, Kate e Kaori... entretanto, estes foram os únicos e eu sabia que ninguém mais viria... este saber me deixou deprimido e eu quase não pude continuar até a casa. Todos permitiram-me tomar um banho e Jasper correu até o chalé para buscar algumas roupas para mim... o banho me fez bem e foi capaz de lavar toda aquele sujeira, todo o lodo e todos os resíduos que existem no fundo de um rio e que ficaram grudados em mim após dias de imersão.
Quando deixei o banho e terminei de abotoar a camisa eu notei o meu reflexo no espelho, agora, uma fina e feia cicatriz tomava conta da minha garganta no local onde minha cabeça quase fora separada do corpo... no local onde Felix me golpeara.
Ao descer e me colocar no meio dos meus familiares e amigos eu fui informado sobre tudo o que acontecera depois... e minha raiva e indignação se tornaram ainda maiores... os lobos foram quase que praticamente dizimados e Bella, Nessie, Alice e Quill agora eram prisioneiros de Aro e sua corja de loucos. A morte de Emett e Rosalie pesaram como uma bomba e parecia que a casa tornou-se ainda mais vazia com a ausência deles.
Eu não queria imaginar o que todos passaram ou o que Bella e Nessie estavam suportando e apesar de todos estarem felizes com minha volta eu sabia que a tristeza imperava em nosso meio. Assim, fechei meus olhos e apoiei a cabeça contra o sofá, minha mão sendo segura por Esme que agora não se afastava de mim, Jacob e Seth em pé e sombrios... longe de irradiarem a alegria característica dos Quileutes... a perda de Sam e Leah era um tormento inescrutável.
Jasper sentia a falta de Alice e isso o desestabilizava completamente, Alice era o ponto de equilíbrio de Jasper e sem ela ele parecia fora de si... perdido e desconcentrado... como um balão de hélio flutuando dentro de uma casa vazia e sem vento. Kaori estava assustada e sua expressão sempre estampava um vazio lacônico e triste. Carlisle estava preocupado e eu me concentrei nele para saber em que estava pensando e o que o estava corroendo... para minha surpresa não ouvi absolutamente nada.
O mesmo tentei com os outros e seus pensamentos estavam completamente mudos para mim... nem mesmo um eco... um sinal... antes eu era obrigado a me concentrar para não ouvir o pensamento dos outros, numa sala cheia de gente quieta era o mesmo que todos estivessem gritando pois seus pensamentos me invadiam sem parar... agora, nesta sala silenciosa... o vácuo dos pensamentos tornou tudo ainda mais insuportavelmente... quieto.
- Ótimo! – eu suspirei ironicamente fechando os olhos – Era só o que me faltava.
- O que foi? – perguntou Esme preocupada.
- Estou surdo.... – disse simplesmente.
- O quê? – assustou-se Jasper.
- Meu dom... eu não ouço os pensamentos de ninguém.
- Você tem certeza? Não tentou se concentrar? – perguntou Seth.
- Já tentei... antes eu nem precisava me concentrar... não ouço nada... estou definitivamente surdo para os pensamentos... 
- O que terá acontecido? – disse Garret – Será devido ao trauma ou à estafa de tudo por que você passou nos últimos dias?
- Eu não sei... Carlisle? – eu busquei seus olhos sábios e pacientes.
- Infelizmente, impossível definir – ele disse preocupado – Obviamente, Edward sofreu um trauma muito grande e quase perdeu a vida, o fato de sua cabeça ter sido quase que completamente arrancada do corpo... só poderia causar um efeito devastador. Já ouvi falar de vampiros que perdem alguma função motora... no caso de Edward... ele perdeu seu dom.
- Definitivamente? – perguntou Jasper preocupado.
- Não sei... talvez sim ou talvez o dom de Edward retorne com o tempo, ou quando ele se recuperar totalmente – respondeu Carlisle.
- Ele já não está bem? – perguntou Seth.
- Apenas um vampiro seria capaz de notar – explicou Carlisle – Há uma lentidão anormal nos movimentos de Edward... como um leão ferido... uma certa falta de sincronia.. como um ritmo lento e quase imperceptível... mas a ferida está lá sim. Provavelmente pelo ferimento recém cicatrizado, esperemos que ele volte à sua antiga forma... e a seu dom poderoso.
- Isso irá nos atrasar? – perguntou Jacob.
- Eu garanto que não – eu respondi convicto.
- Não leve a mal... – Jake disse me olhando – Mas nosso caminho já é obscuro e com um membro ferido... seria ainda mais complicado.
- Eu não ficarei aqui enquanto minha esposa e minha filha são prisioneiras dos Volturi... – eu respondi com força – Eu posso até morrer desta vez, Jacob Black, mas não permitirei que Bella e Renesmee permaneçam cativas daqueles malditos.
- Então somos dois, irmão – disse Jake vindo até mim e me oferecendo o punho fechado, ergui o meu próprio punho em sinal de seu cumprimento.
- Então... – eu disse olhando para Carlisle – Qual é o plano?

Pela próxima meia hora Carlisle me colocou a par do plano que havia sido definido na manhã pouco antes de eu chegar, não tratava-se de um plano fácil e de execução simples... primeiro teríamos que rumar para o sul rumo à América Central e tentar encontrar aquele que dizem ser o único que até hoje conseguiu escapar das garras de Aro Volturi. Mas o problema não era apenas encontrar Erestor, mas sim, convencê-lo a nos ajudar contando os segredos que guardam a cidade de Volterra; pelo que Carlisle nos disse, Erestor era um sobrevivente o que o tornou um vampiro secular poderoso mas extremamente desconfiado... seu poder de perceber qualquer hostilidade ao seu redor nos comprometeria muito.
Enfim, esta preocupação ficaria para depois quando chegássemos à Nicarágua, agora estávamos nos preparativos para partir na próxima tarde e ir de encontro ao nosso destino... o ponto final seria Volterra e o exército de Flávius Aurélius.
Por mais um tempo permaneci com Esme para que ela sentisse por mais tempo a minha presença, logo partiríamos novamente deixando-a sozinha com seus fantasmas e suas esperanças de nos rever novamente. Logo, entretanto, a casa de Carlisle oprimiu demais as minhas próprias emoções e eu fui obrigado a sair de lá, as lembranças de Emett, Rosalie e Alice me entristecia... e a ausência de Bella e Renesmee aumentava ainda mais o rombo em meu coração.
Então fui obrigado a sair e ganhei o jardim com um peso sobre meus ombros, caminhei até o rio que dividia a propriedade de Carlisle e dava caminho para a trilha que conduzia até o chalé que era o meu lar junto de Bella e minha filha. Eu fiquei por um tempo encarando o caminho sinuoso por entra a mata, o caminho que por tantas vezes eu cruzei com Bella... lembrei-me de quando Renesmee era pequena e que muitas vezes caiu no meio do rio tentando atravessar sozinha as águas turbulentas... tantas vezes fui obrigado a me atirar na correnteza para resgatá-la gargalhando de sua tentativa frustrada.
Senti o ímpeto de cruzar o rio e visitar minha casa, mas havia muitos fantasmas me rondando... rondando o caminho para o chalé e eu decidi não ir para lá... o cheiro de Bella estaria por toda a parte e isso me desconcentraria ainda mais. Assim, caminhei sem direção seguindo o rio abaixo até que minha andança arrítmica me levou até um grande pé de abeto velho que estava ali desde que Carlisle comprara a mansão... um abeto secular quase tão velho quanto eu, ele erguia-se soberano e silencioso em meio a um pequeno jardim selvagem que crescia por ali, seus galhos espalhavam-se por todos os lados e as folhas suspiravam tristes à minha presença.
Sob o pé de abeto quatro lápides erguiam-se brancas sob a luz do luar minguante, Emett, Rosalie... Ahmed e Benjamin. Quase pude ouvir o riso jocoso de Emett e o sibilar impaciente de Rosalie, conheci pouco Benjamin o suficiente para saber o quão alegre e bondoso era seu coração assim como senti a integridade de pensamento de Ahmed.
A morte era algo realmente triste, mas muito além disso, era algo extremamente solitária... ali estavam pessoas que amei e que eu não podia mais alcançar e mesmo não sabendo para onde iríamos depois da morte eu desejei que Emett e Rosalie estivessem juntos e felizes em algum lugar melhor... a falta deles jamais seria preenchida.

- Eu sinto muito pelos seus irmãos – disse a voz possante de Jacob poucos metros atrás de mim.
- Eu também – respondi surpreso sem me voltar para ele.
- Nunca imaginei que um dia poderia me aproximar de você sem que notasse.
- A falta de meu dom mental é uma lástima, terei de me acostumar melhor à minha audição... eu sempre me fiei na tempestade barulhenta dos pensamentos dos outros para identificar alguém se aproximando... se eu me distrair... pode ser fatal.
- Você realmente vai encarar esta viagem? – perguntou Jake preocupado.
- Você pensa que há alguma chance de eu ficar para trás?
- Claro que não.
- Nós vamos trazê-las de volta, Jake... 
- Espero que sim... eu preciso recuperar Renesmee e vingar a morte de Sam e dos outros...
- Eu sinto por Leah e Sam...
- Foi o destino – disse Jacob convicto – Eu preciso que você saiba o quanto amo sua filha.
- Eu sei.
- Então porque todo o maldito engodo?
- Ciúme de pai eu suponho – respondi num meio sorriso.
- Edward... nós nem tivemos muito tempo de conversar depois daquela tarde em que eu e Nessie...
- Eu me lembro daquela tarde – eu respondi rápido abreviando as lembranças desgostosas.
- Eu sei que não saiu como o previsto e eu não posso dizer que me arrependo do que aconteceu, você é velho e eu não... tem suas tradições idiotas de casamento e tal... eu respeito isso e tudo mais, enfim, preciso que saiba que eu não vejo a hora de recuperar minha noiva. Eu quero me casar com Renesmee, Edward.
- Melhor esperar para resgatá-la, Jacob.
- Você ainda tem dúvidas?
- Sinceramente? – eu o olhei com austeridade – Vamos todos morrer tentando...
- Desde quando você se tornou tão negativo? – Jake perguntou irritado.
- Há quilômetros à nossa frente... um exercito de soldados... uma guarda poderosíssima e um castelo inexpugnável, você ainda tem dúvida? Nós sacrificamos tudo Jake... eu sacrifiquei dois irmãos ... você quase todos os lobos, seus irmãos... e fomos derrotados.
- Você pensa em desistir então?
- Não diga bobagens – eu falei – Obviamente não vou desistir, mas apenas um tolo seria tão confiante numa vitoria cega... primeiro vamos conquistar a liberdade das pessoas que amamos e só então pensaremos no passo seguinte... temos que ir com calma Jacob... ou seremos destruídos.


Jacob manteve-se quieto na volta para a mansão, acho que ele desejou falar comigo longe dos outros para deixar claro que não desistiria de sua busca por Renesmee... eu sabia disso e ficava feliz que Jake me seguiria até o fim do mundo se fosse preciso para salvá-la. Infelizmente, eu não pude deixar de exprimir a minha negatividade quanto a tudo isso.
Houve mais alguns acerto e Jake e Seth partiram prometendo voltar na hora do almoço para que partíssemos, enfim, rumo à Seattle e de lá para Phoenix... o outro dia marcaria nossa despedida de Forks e possivelmente nosso adeus... eu realmente não conseguia visualizar uma volta para casa e este pessimismo todo estava me incomodando, para tanto que eu saí da casa e fui me sentar no jardim absorvendo os pingos de chuva e o cheiro fresco da grama molhada.
Não demorou muito para eu ouvir a porta da frente se abrir e alguém sentar-se ao meu lado... logo a voz de Carlisle rompeu o som monótono da chuva.
- Você está estranhamente distante... 
- Eu sei – respondi – Talvez o trauma tenha sido muito grande... perdi muitas pessoas que amava e as duas coisas mais importantes para mim me foram arrancadas.
- Além de quase ter morrido e perder seu dom de ler mentes...
- Sim... o silêncio que ouço é ensurdecedor – eu disse suspirando – Parece que o mundo se tornou um vácuo, uma quietude sem sentido... antes eu precisava me concentrar para não ouvir o pensamento das outras pessoas, me sinto oco... sem apoio... e extremamente vulnerável.
- De fato – concordou Carlisle – Antes a sua vantagem em uma luta era imensa, você podia anteceder o golpe de um oponente e agora conta apenas com sua agilidade e rapidez.
- É isso o que me preocupa...
- Edward – disse Carlisle austeramente o que me forçou a encará-lo – Você está com medo e isso é normal, mas não pode permitir que o medo arraste-o para baixo, eu sei que está apreensivo devido à sua atual condição... mas você é muito mais que seu dom e não pode permitir que isso o limite. Está com medo de se tornar um peso para nós, mas esquece-se que eu e Garret não temos, também, nenhum talento especial e contamos apenas com a força de nossos corações... por isso, não se torne pessimista por este pequeno empecilho; faça com que isso o fortifique ainda mais.
- Eu sei... – respondi enquanto absorvia as palavras sábias de Carlisle.
- Vamos descansar... nos concentrar.. amanhã será o dia decisivo.
- Sim... mas acho difícil me concentrar com esta casa tão vazia... sem Emett ou Rosalie...
- Temos que nos esforçar – disse Carlisle tristemente.
- Você se arrepende? – eu perguntei de repente – De ter transformado os dois?
- Como poderia? – respondeu Carlisle surpreso – Emett foi um ponto luminoso em nossa família assim como Rosalie, sei que ela por muito tempo não se agradou com a vida vampira, mas, mesmo assim, Rosalie aproveitou o que pode principalmente depois do nascimento de Nessie... ela foi feliz, Edward, é o que conta.
- Fico feliz de ter vivido todos estes anos ao seu lado – eu comecei tentando parecer educado – Por não ter morrido durante aquela peste que assolou a Europa... mas, ao mesmo tempo, imagino se esta existência não é amaldiçoada ao ponto de tudo o que tocamos se tornar pó.
- Ser vampiro é um estado de ser... Edward – disse Carlisle tranquilamente – Somos o que somos, o vampirismo nos torna prisioneiros do sangue e de uma vida rodeadas de segredos e superstições. Entretanto, tudo o que sentimos é humano, somo humanos por dentro, o amor, o ódio, o medo, os sonhos... são sentimentos humanos que persistem em nós após a transformação. Não considero a minha vida amaldiçoada, infelizmente a tragédia se abateu sobre minha casa e dois de meus filhos foram levados para longe de mim para sempre, mas, ainda assim, me considero um homem abençoado... fui cercado de muito amor durante boa parte de minha vida e ainda sou... agora tenho que ir de encontro ao meu destino para tentar consertar as coisas.
- Acha que vamos conseguir?
- Eu tenho certeza... – disse Carlisle sorrindo e eu não pude duvidar dele.

Fiquei mais um tempo na chuva ouvindo os sons noturnos... acostumando-me à minha própria audição... a esperança de Carlisle me contagiando... notei que ele tinha razão e que eu não podia me entregar ao desespero, tinha que acreditar com todas as forças de que conseguiria retornar para casa trazendo Bella e Nessie comigo. 
A falta de meu poder de ler pensamentos não poderia me atrapalhar... agora era assim que eu tinha que enfrentar as coisas e, com sorte, o dom voltaria com o tempo assim que meu corpo se recuperasse do trauma.
Por fim, cansado das lembranças, entrei novamente na mansão e me dirigi até o piano que descansava inerte e indiferente na sala de estar, sentei-me e dedilhei os dedos sobre as teclas notando que realmente havia uma lentidão mínima em meus movimentos... mas continuei tocando a música que há muitos anos compus para Bella... a melodia fluiu por todos os cômodos vazios da casa e percebi que Esme me olhava do sofá e seus olhos estava perdidos em lembranças alegres. 
Ela estava profundamente preocupada, afinal, amanhã, seu marido e filho partiriam junto com os amigos para tentar reaver parte da família perdida, eu espero poder fazer com que Esme volte a sorrir.
Durante o resto da noite eu toquei e percebi que a música acalmou meus medos e me trouxe uma nova esperança dourada quando a manhã chegou cinzenta e fria, eu poderia imaginar que as manhãs de Forks geralmente são assim, mas não pude deixar de pensar que era o tempo nos dando adeus. Jasper esteve impaciente durante toda a manhã e ficou sempre perto de Esme acalmando-a com seu dom, Carlisle ficou trancafiado dentro de seu gabinete enquanto Garret e Kate permaneceram sempre juntos... Kaori ficava aqui e ali... como uma nuvem flutuante entre nós.
Eu ajudei em alguns planejamentos e minha apreensão crescia exponencialmente à medida que chegava a hora de nossa partida, eu não via a hora de poder ir atrás de Bella e destroçar Felix... minha desforra seria eterna. Eu partia para livrar minha esposa e filha e para destruir de uma vez por todas os Volturi... eles perderam a noção de ser, deixaram o propósito de sua existência, corromperam sua essência e agora não precisávamos mais deles.
Eles teriam de cair.

Jacob e Seth chegaram logo após o almoço... seus rostos guardavam expressões sombrias, imagino que não deve ter sido fácil para Billy e Sue lhes dizerem adeus, afinal, eles sabiam, depois do massacre dos lobos, que havia uma chance remota de seus filhos retornarem para casa. Fiquei imaginando o quão difícil era para Sue guardar todos estes segredos de Charlie...
Reunimos-nos na sala e olhamos uns para os outros, finalmente Jasper assentiu com a cabeça e Carlisle respirou fundo...
- Bem... aqui é o ponto de partida. Partimos para talvez não voltarmos jamais, partimos com a esperança de reencontrar as pessoas que amamos e, apesar de ser um pensamento ruim, vingar aqueles que nos foram tirados. Hoje partimos com a força que apenas nosso coração carrega e rezamos para que seja suficiente... espero poder rever novamente esta cidade, esta casa... e minha querida esposa.
Esme o abraçou com força e não disse nada, acho que talvez eles já tivessem se despedido antes de descer... Kate e Garret também se abraçaram e Kate sussurrou algumas palavras no ouvido dele, achei realmente interessante o quanto um nômade como Garret se encaixou tão bem em uma família estabelecida. No fim das contas, ele se tornou um amigo leal e corajoso que estava prestes a partir conosco... levou algum tempo para Kate o soltar, um tempo que para os outros foi levemente constrangedor... ficamos ali olhando-os sem dizer nada.
Esme abraçou-me igualmente forte dizendo:
- Volte vivo, por favor... volte com Bella e com minha neta...
- Não se preocupe Esme – respondi – Nós voltaremos todos para casa.
Esme abraçou Kaori depois Seth e por fim Jacob... ela estava absolutamente desolada de nos ver partir e tenho certeza de que não conseguiria viver mais se Carlisle não retornasse... imagino o quão estava sendo difícil para Esme... no fim das contas, seu destino como humana agora se repetia e ela se via num beco sem saída.
- Vamos... chegou o momento... – anunciou Jasper.
Nós saímos todos e nos encaminhamos para perto da garagem onde o grande Jeep de Emett nos aguardava, era o maior veículo e seria capaz de comportar nós sete, o veículo continha a extensão necessária e Emett sempre gostou de levar a todos... por isso tinha um carro tão grande.

Entramos todos e acenamos para Kate e Esme que ficaram no jardim nos olhando partir, logo, Carlisle conduziu o veículo para além da curva na floresta e as duas desapareceram de vista com a esperança de nos rever novamente sem, entretanto, uma previsão de quando voltaríamos. Sei que Esme permaneceria por um longo tempo ali, parada no jardim, esperando que uma luz de esperança surgisse e que nossa família se refizesse das cinzas.
A estrada nos aguardava silenciosa e silenciosamente nós seguimos sem dirigir palavra alguma, íamos com nossos pensamentos na esperança de reaver nossa vida, agora, simplesmente havia apenas o silencio me rondando, sem meu poder de ler mentes... tudo se tornara mudo.
Assim, seguimos até Seattle e pegaríamos o avião até Phoenix e de lá para o México de onde, por fim, chegaríamos à Nicarágua e finalmente nos empenharíamos para encontrar Erestor. No aeroporto, Jacob e Seth se destacavam na multidão urbana, homens de ternos elegantes e pessoas com roupas de viajem se aglomeravam aqui e ali, as meninas olharam com interesse para os dois quileutes... afinal, dois jovens gigantes e de um tom de pele amadeirado só podiam chamar a atenção, mas Jake e Seth tinham tanto desejo de vingança em seus corações que nem ao menos notaram as olhadelas astuciosas.
Dessa forma, cruzamos o check-in sem qualquer problema e nos acomodamos nas poltronas espremidas do avião rumo a Phoenix, ali eu me acomodei na janela e quase nem notei a presença de Kaori ao meu lado... por alguns instantes até o avião decolar eu fiquei olhando pela minúscula janela enquanto o solo se afastava de nós... me perguntei quando voltaria a ver esta terra novamente e, no fim das contas, se voltaria alguma dia ou seria sepultado lá fora.
- Está pensando nelas? – perguntou a voz nebulosa e baixa de Kaori.
- Sim... eu penso nelas o tempo todo – respondi sem desviar o olhar das nuvens.
- Sei que elas estão bem...
- Eu espero que sim...
- Eu estou com medo – ela confessou enfim e eu senti pena de Kaori, ela tinha medo de nos seguir e ao mesmo tempo sabia que seria útil em nossa luta e nossa busca contra os Volturi.
- Eu também, mas fazemos o que é necessário...
- E teremos força para tanto, Edward?
- Eu não sei, Kaori... eu não sei. Há um exército à nossa frente e três vampiros gananciosos e extremamente poderosos... ainda assim, eu acredito que nossa causa é justa e que no fim triunfaremos. No fim, ainda teremos um final feliz.
- Espero que sim...
- Basta acreditar nisso com todas as suas forças – eu disse tentando absorver as minhas próprias palavras – Se crermos numa chama de esperança que mesmo tênue resista à escuridão, então, no fim, teremos nossa vitória... além disso, não se preocupe... nós protegeremos você.
- Eu sei disso... minha preocupação é ser útil e trazê-los novamente em segurança. Eu perdi minha família a tempos, Edward, e agora eu encontrei outra... e não pretendo perdê-la tão facilmente, ainda quero ter todos eles novamente perto de mim.
- Nós teremos, Kaori... eu juro que teremos.

E então, ali, sobre as nuvens onde o sol brilhava e eu tinha que me esconder da claridade para não despertar a atenção, eu aproveitei a altura e a proximidade com o céu e roguei ao Criador uma chance de retornar em paz à nossa terra.
Eu não sei o que o futuro nos reserva, sei apenas que o caminho é turvo e tenebroso e que encontraremos inúmeros inimigos tentando barrar nosso caminho, o percurso irá exaurir nossa força de vontade e testará nossos limites, mas este é o preço que a coragem cobra quando temos que agir em situações extremas. Bella e Nessie precisavam de mim e eu as sentia em meu coração imóvel, eu sabia que era preciso sacrificar tudo para tê-las novamente... e eu faria sem hesitar.


Hoje iniciamos nossa peregrinação rumo ao desconhecido...


Hoje começamos a trilhar a nossa estrada para a perdição...


Este era o começo do fim... ou o início da salvação.



Próximo Capítulo: A Voz do Mundo

1 comentários:

Nossa o jeito que vc escreve faz com que a gente sinta a dor dos personagens na pele como se fossem nó mesmos q estivessemos passando por tudo q eles passam.............
meu querido vc está de parabens pois vc escreve com a alma.
e a fic esta fantastica apesar desse cap ser tao triste eu me emocionei
beijos

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