Capitulo 14

Eu me posicionei ao lado de Emily enquanto cruzávamos o estacionamento, fizemos de conta que não vimos o bandinho de “aborrescentes” mas, infelizmente, eles nos viram... as duas meninas que eram lobas se separaram dos amigos e vieram direto para nós, seus modos eram evidentemente delinqüentes, andavam de forma rude e desajeitada, como se quisessem mostrar ao mundo que não se importavam com nada, ambas carregavam um cigarro aceso na mão e usavam roupas largas e jaquetas listradas ainda mais desarrumadas que as calças que pendiam quase nos joelhos.
- Emily... – gritou a que chamava-se Kara e que era maior que a outra – Dando um role sem o chefinho?
- Ah, olá meninas... vim comprar carne para o jantar – disse Emily sem muita emoção.
- E quem é sua amiga? Não sabia que conhecia gente grã-fina... o que acha Arina? Aquela bolsa ali vale mais que seu carro velho... além do mais, quando ela chegou eu senti um cheiro horrível, como alguém tão bem vestida pode cheirar tão mal?
- Tentem se comportar vocês duas – disse Emily aborrecida e acabou suspirando alto quando viu que não tinha como passarmos despercebidas – Meninas, esta é Alice Cullen... namorada de Jacob.
No momento em que o nome Cullen soou, Kara e Arina alteraram na hora seu comportamento... Arina começou a tremer de leve me olhando e eu senti quando Kara me observou de alto a baixo.
- Então isto é uma vampira? – disse Kara jocosamente, ela era bem mais alta que eu e até um pouco gorda, seus braços davam quase a minha cintura, seu rosto era chato e seu nariz de batata não melhorava nem um pouco seu aspecto, parecia o Paul de cabelos compridos. – Eu acabaria com ela com uma bocada só. Parece uma patricinha metida à besta isso sim... e eu achando que vampiros era seres poderosos... olha só pra isso.
- Como é que o meu Jacob pode gostar dessa garota? – falou Arina pela primeira vez, era um pouco mais baixa que a amiga, mas igualmente encorpada, quase uma halterofilista, os cabelos curtos como o de Leah, mas seus olhos eram intensos em um tom castanho escuro, como areia molhada.
- Queira me perdoar... – eu disse tentando disfarçar a irritação e me mostrar superior – Mas até onde sei, trata-se do MEU Jacob... e pelo visto, ele não encontrou nenhuma loba boa o suficiente aqui em La Push e foi obrigado a ir esquentar a cama de uma vampira.
- Espera ai – disse Arina fechando a cara – Está querendo dizer que eu não sou boa o suficiente para ele?
- Não, estou apenas afirmando que você não é NADA o suficiente para ele... mas pelo visto, eu sou... então acho que Jacob tem um gosto mais refinado, não é mesmo?
- Eu vou te partir em duas, sua vampira metida a besta – disse Kara vindo em minha direção com as mãos tremendo.
- Kara... Arina – gritou Emily se colocando à minha frente – Parem com isso agora mesmo.
- Qual é Emily... tá se esquecendo com quem tá falando? – gritou Kara.
- Pelo visto, você está se esquecendo com quem está falando – disse Emily cutucando o peito de Kara com a mão – Lembre-se que eu sou a esposa do Alfa, menina burra, e que esta aqui é a namorada do outro Alfa de La Push... então sugiro que tenham mais respeito... vem, Alice, deixe estas duas crianças mal-criadas para lá.
- Eu ainda vou testar o quão vampira você é, sua morcegona fria – gritou Arina para mim.
- Vai sonhando cadelinha... vai sonhando – eu respondi rindo enquanto entrava no mercado com Emily.
- Me perdoe, Alice – disse Emily nervosa.
- Que absurdo, Emily – respondi tranqüilizando-a – Você não precisa me pedir desculpas por nada, são apenas crianças bobas que ainda tem que crescer...
- Ah, elas vão ver uma coisa... quando eu chegar em casa... Sam vai saber de tudo.
- Olha, eu prefiro que você não conte nada ao Sam, ao menos não agora... você conhece Jacob... ele iria sair na hora procurando estas duas idiotinhas.
- Tem razão – disse Emily – vou deixar para contar a Sam amanhã cedo então.

Para minha sorte, as duas lobas delinqüentes não estavam à vista quando deixamos o mercado, Emily ficou bem chateada com isso e então eu me pus a falar durante nosso trajeto de volta e finalmente consegui fazê-la esquece o incidente... seria muito ruim tê-la emburrada durante o jantar.
Mas apesar de tudo, nossa noite foi muito agradável... depois do jantar, que ouso dizer estava delicioso (eu comi um bife inteiro e muito mal passado que deixou a todos boquiabertos) sentamo-nos na varanda para conversar enquanto Emily servia um vinho tinto que por sinal fora presente de Edward para Sam... era doce e pouco encorpado, mas de ótima safra, claro que só tomei poucos goles da minha taça.
Jake e Sam, animados com o encontro, secaram a garrafa e ficaram bêbados, por sorte, o metabolismo dos lobos era tão veloz que em menos de uma hora já estavam completamente sãos. Ainda conversamos por um longo tempo até que as horas se aproximaram da meia-noite e Emily lembrou que nossos dois bravos lobos tinham que trabalhar cedinho no outro dia.
- Isso aí.. vamos para cama então – falou Sam animado – Temos que obedecer a patroa, digo, eu pelo menos tenho que obedecer... mas eu gostei muito do encontro, precisamos repetir.
- Com certeza – eu falei sorrindo enquanto recebia um beijo de Sam no rosto – Da próxima vez lá em casa e eu cozinho...
- Ué... você sabe cozinhar? – perguntou Sam espantado.
- Mas é claro que sei... imagina só... eu sempre ajudo Esme a cozinhar quando Seth vai lá em casa jogar pôquer com os meninos... e você sabe o quanto aquele rapaz come.
- Seth é um gordo – riu Jacob.
- Tchau Alice... – disse Emily depositando um beijo estalado em minha bochecha, nela o vinho ainda fazia um pouco de efeito.

Eu estava muito feliz, até que coloquei o pé no degrau da varanda para ir até o carro... foi então que senti uma repentina vertigem e foi como se um vento frio me tomasse e congelasse minha alma. Eu fiquei muda no mesmo instante e olhei para o fundo da mata escura... no território dos lobos eu não conseguia prever o futuro... eu sabia que o que acabei de ter era um pressentimento muito forte, mas não tinha como saber porque a presença dos lobos me bloqueava... mas eu tinha certeza de que era algo ruim.
- O que foi, Alice? – disse Jacob segurando minha mão, ele tinha uma expressão preocupada no rosto.
- Eu não sei... foi uma espécie de pressentimento ou algo assim – eu respondi baixinho – Vai acontecer alguma coisa...
- O que? – perguntou Emily.
- Não sei, eu não posso ter minhas visões tão perto de vocês... mas acho que é algo ruim... 
- Mas o que poderá ser? – perguntou Sam preocupado.

Infelizmente, a resposta para a pergunta dele não demorou nem um segundo para ser respondida, no exato momento em que Sam terminou de falar o celular de Jacob tocou...
- É a Rachel... – disse ele – Alô? O quê? Quando? Espere, estou indo.
- O que foi? – perguntei apreensiva.
- Meu pai... Billy passou mal depois do jantar e desmaiou na cozinha... tenho que ir.
- Vamos com você – disse Sam e um segundo depois já estávamos no carro indo em direção à casa de Jacob, o problema era que ele morava do outro lado da reserva e as algumas estradas ainda não tinham calçamento.

Jacob estava muito preocupado e eu via isso em seu semblante, ele amava Billy apesar de os dois serem muito machões para admitirem isso, se o pai dele estivesse muito mal eu não saberia o que fazer... mas conheço alguém que sabe. No mesmo momento peguei meu celular e liguei para casa.
- Oi, Edward... preciso falar com Carlisle... é urgente... por favor – eu disse e acho que Edward obviamente leu meus pensamentos porque eu ouvi sua voz chamando Carlisle e explicando que Billy não estava bem.
- Alice, o que foi?
- Pai – eu chamei nervosa – Billy passou mal depois do jantar e desmaiou na cozinha.
- E como ele está agora?
- Eu não sei...
- Calma querida... eu estou indo para lá. Nos encontramos na casa de Jake – ele falou e desligou no mesmo instante.
- Carlisle está vindo... – eu disse um pouco mais aliviada.
- Obrigado – disse Jacob sem desviar os olhos da estrada.
- Qualquer coisa que você precise – eu respondi afagando seus cabelos – Tem algum problema Carlisle entrar na reserva, Sam?
- Não, não tem nenhum lobo hoje... ele vai poder passar tranquilamente, além do mais, Carlisle já é conhecido, nenhum de nós lhe barraria o caminho.

Ao chegar à casa, Jake disparou para fora do carro antes mesmo de eu abrir a porta, eu, Sam e Emily entramos logo em seguida para encontrá-lo na sala olhando para um Billy extremamente pálido deitado no sofá. Rachel contava ao irmão o que havia acontecido.
- Ele havia terminado de jantar e estava assistindo ao jogo pela televisão enquanto eu lavava os pratos, Paul estava lá fora conversando com Jared quando eu ouvi a xícara de café cair de suas mãos, ao me virar eu vi que sua cabeça estava inerte no colo... foi horrível. Paul entrou e o deitou no sofá, ele estava pálido e gelado... eu quase morri de susto, só agora a pouco ele voltou a si.
- Pai – chamou Jacob se ajoelhando ao lado do sofá onde Billy fora deitado – Como você está? O que foi que aconteceu?
- Não sei Jake – respondeu Billy numa voz falha – Num momento estava assistindo Tv e no outro eu simplesmente apaguei... senti uma dor no peito e desmaiei.
- Acho melhor levá-lo ao hospital – sugeriu Paul.
Mas neste instante... ouvimos o carro de Carlisle estacionar do lado de fora, eu fui até a varanda e dei de cara com ele e Esme caminhando em minha direção, Carlisle trazia na mão sua maleta.
- Obrigada por virem – eu disse.
- É claro que viríamos – respondeu Esme.
- Como ele está? – perguntou Carlisle.
- Acordado, mas não parece bem.

Carlisle entrou e cumprimentou a todos, Esme abraçou Rachel para reconfortá-la pelo susto enquanto meu pai retirava o estetoscópio da maleta e escutava o coração de Billy; Carlisle realizou alguns exames rápidos fazendo perguntas esporádicas ao pai de Jake.
- Você tem sentindo tontura ou ânsia de vomito por estes dias, Billy?
- Um pouco de tontura apenas, Dr. Cullen.
- Dores de cabeça ou no peito?
- No peito apenas hoje antes de desmaiar.
- Amortecimento no braço esquerdo?
- Que eu lembre não.
- Está bem, Billy, descanse um pouco... – disse Carlisle se dirigindo à varanda e fazendo um sinal para que Jake fosse com ele, no fim, apenas Paul e Esme ficaram na sala com Billy e o resto de nós seguiu Carlisle para fora. Eu segurava com força a mão de Jake.
- Bem... – começou Carlisle – Eu não pretendo assustá-los, mas está claro que Billy teve um princípio de infarto.
- Oh, meu Deus! – disse Rachel assustada.
- Tem certeza, Carlisle? – perguntou Jacob e eu vi quando ele empalideceu subitamente.
- Não totalmente, mas tudo indica que sim. O certo é levá-lo até Forks para uma série de exames, eu não esperaria até amanhã, hoje um grande amigo meu está de plantão, por sorte um cardiologista. Dr. Richad Kimble. Eu posso ligar para ele e avisar que estão a caminho.
- Isso, por favor, Carlisle... eu vou arrumar as coisas para irmos até lá – disse Jake.
- Ele ficará internado? – quis saber Rachel.
- Provavelmente sim...
- Então vou providenciar uma mala com algumas mudas de roupa.
- Eu vou com vocês – eu disse prontamente.
- Alice, querida – chamou Carlisle – Acho melhor você não ir, só Jacob e Rachel poderão ficar no hospital com Billy estas horas da noite, você provavelmente não poderá acompanhá-los. Sei que quer ser útil para o Jake, mas Billy está estável, não há nada par a se preocupar imediatamente.
- Não tem problema, Alice – disse Jacob segurando minha mão – Eu não quero que se canse a toa, eu vou levar meu pai até lá para os exames.
- Mas eu queria ficar ao seu lado – eu disse chateada.
- Você já está e já fez muito por mim esta noite... não se preocupe, pode voltar para casa e eu ligo para você se precisar de algo.
- Você tem certeza? – eu perguntei fazendo cara de aborrecida.
- Eu não queria ficar sem você esta noite... não queria ter que deixá-la... mas prometo que ainda passaremos muitas noites juntos.
- Espero que sim – eu respondi beijando-o com intensidade e já morrendo de saudade.

Eu esperei na varanda enquanto eles preparavam Billy para ir ao hospital, Carlisle e Esme já estavam perto do carro, pouco depois, Jacob apareceu sustentando o pai nos braços enquanto Paul trazia a cadeira de rodas e a guardava no porta-malas, Billy foi colocado gentilmente no banco da frente para ir mais confortável enquanto Paul e Rachel se acomodaram atrás. Antes de partir, Jake veio para perto de mim.
- Eu gostaria de ser mais útil pra você – eu disse abraçando-o.
- Você é, Alice – ele respondeu erguendo delicadamente meu rosto para olhá-lo - É você quem sustenta o meu mundo, você quem define quem sou e é você quem me dá esperança de enfrentar este tipo de coisa.
- Me ligue... eu estarei acordada – falei forçando um sorriso amarelo.
- Claro que ligo – ele respondeu me beijando carinhosamente – Vejo você amanhã.
Assim, Jacob se afastou de mim e eu senti meu universo esfriar, como se o sol me fosse tomado deste meu paraíso particular... estava se tornando cada vez mais complicado dizer tchau para ele, isso estava ficando perigoso... eu não conseguia mais ficar sem tê-lo perto de mim.
- Eu já liguei para o hospital, Jake – disse Carlisle – Eles os estão aguardando.
- Dr. Cullen, obrigado – Jake disse apertando a mão de Carlisle.
- Bobagem, Jake – disse Carlisle com um sorriso tranqüilizador – Você já é da família.
O motor do rabbit soou alto na noite gelada, e com os faróis acesos partiu através da escuridão, eu estava muito triste de ter que deixar Jake sozinho esta noite... quando, na verdade, eu desejava jamais me distanciar dele. 
- Vocês querem uma carona? – eu perguntei a Sam e Emily.
- Obrigado, Alice, mas não precisa – respondeu Sam – Seth está vindo para cá saber das notícias e ele nos levará para casa... pode ir tranqüila.

Eu entrei no carro de Carlisle com o coração pesado... estava estranhamente feliz pelo meu amor com Jake e ao mesmo tempo preocupada com a situação de Billy, eu não suportava ver Jacob triste... isso me feria a alma.
- Não precisa se preocupar – disse Carlisle notando meu silêncio enquanto me olhava pelo espelho retrovisor do carro – Billy está estável, claro que é um quadro que requer cuidados, mas por hoje ele estará bem... não precisa ficar pensando nisso.
Eu sorri para ele... e ali, sentada no banco de trás do carro eu me senti acolhida pela minha família, principalmente por Esme e Carlisle, era como se eu fosse uma garota comum com seus 19 anos de idade, como se meus pais tivessem vindo me buscar de carro na casa do meu namorado e agora estivéssemos indo embora normalmente. Eu percebi o quanto amava os dois, e percebi que jamais me afastaria deles, este foi um dos motivos pelo qual Jasper foi embora... ele sabia que eu jamais deixaria Carlisle e Esme.
- Amo vocês dois – eu disse não reprimindo minha emoção súbita.
- Amamos você também, querida – disse Carlisle sem desviar os olhos da estrada enquanto lançava sua mão para trás para que eu a segurasse.
- E amaremos para sempre – afirmou Esme se voltando no banco para me olhar sorrindo – E estaremos sempre aqui quando precisar de nós.
- Vocês se importam de ficarem comigo hoje à noite? – eu perguntei deprimida.
- Mas é claro que não, meu amor – disse Carlisle gentilmente – Podemos assistir a um filme se você quiser.
- Sim, aproveitamos que hoje terá uma sessão de filmes clássicos que você adora em uma daqueles canais da Tv durante a madrugada... – completou Esme.
- Eu nunca vou deixar vocês – eu falei por fim.
- Essa é a melhor coisa que uma mãe pode ouvir – disse Esme se inclinando e beijando meu rosto – Além do mais, eu e seu pai jamais deixaríamos que partisse...

E eu fiquei feliz por estar com eles... e por Esme e Carlisle serem meus pais. Realmente decidi que era uma garota de sorte... uma vampira de sorte...

Por ter uma família linda e imortal... e por amar um lobo imortal...
Mas, ainda assim, tive um pressentimento ruim... e me odiei por não conseguir visualizá-lo... 
Alguma coisa de grave ainda estava para acontecer.

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