28 de nov. de 2011

Capitulo 4

Posted by sandry costa On 11/28/2011 No comments


 PROPOSTA
"...Me permitir ser um pouco insignificante
E na minha insignificância
Poder acordar um dia mais tarde
Sem dar explicação
Conversar com estranhos
Me divertir fazendo coisas que nunca imaginei
Deixar de ser tão misteriosa pra mim mesma
Me conectar com as minhas outras possibilidades de existir..."
Bella deixou as malas no chão e sentou-se na cama. O hotel era simples, mas confortável. Tinha um nostálgico aspecto de “casa de vó”, fato que era evidenciado com o maravilhoso cheiro de bolo que vinha do fim do corredor, provavelmente da cozinha.
Caminhou até a janela e ficou apreciando a paisagem exageradamente verde que circundava a parte da cidade que era possível ver dali. O tempo nublado e a fina chuva que caía não a incomodavam, muito pelo contrário, traziam-lhe uma sensação de aconchego. Sensação que só se lembrava ter sentido quando seus pais ainda eram vivos.
Posso me acostumar com isso.”
Bella não estava compreendendo a confusão de seus sentimentos. Com tudo que estava acontecendo em sua vida, principalmente o insucesso de sua carreira, que culminou em sua demissão, era para estar se sentindo péssima, quem sabe até depressiva. Mas não era assim que se encontrava. O medo e pavor de dias atrás tinha se transformado em uma gostosa sensação de paz e equilíbrio dentro dela. Pela primeira vez na vida não parecia estar carregando o mundo nas costas. Estava leve.
O que a deixava apavorada era saber que Edward Cullen tinha tudo a ver com esse seu estranho estado de graça. Tanto tinha que ela estava ali, na cidade onde ele morava, confortada apenas em saber que ele estaria em algum lugar por perto.
Quando foi que o medo que sentia por ele se tornou essa atração inexplicável?”
Nem seus conhecimentos acadêmicos em psicologia a ajudavam. Não via uma única razão lógica e aceitável para estar tão envolvida emocionalmente com um suspeito de assassinato de dezessete anos. Nenhuma ciência existente explicaria tamanha irresponsabilidade.
Bella acabou dormindo, acordando horas depois. Tomou um banho e trocou de roupa. Viu no relógio que já eram sete horas da noite. Estava morrendo de fome.
No hotel não tinha restaurante, então resolveu andar pelas ruas próximas para ver se encontrava algum lugar onde pudesse jantar.
Um vento gélido desarrumou seus cabelos soltos. Bella se encolheu, juntando mais ainda os lados de seu grosso casaco para se proteger. Logo viu que do outro lado da rua havia uma cantina italiana.
Fez seu pedido e se dispôs a olhar ao redor. Seus olhos procuravam algo determinado e Bella se surpreendeu quando percebeu que era um único rosto que esperava encontrar: o de Edward Cullen.
– Veio me prender de novo, doutora?
Bella quase desmaiou quando ouviu aquela voz envolvente bem próxima a seu ouvido. Tão perto que pode sentir até seu estranho hálito gelado.
– Oh, Deus, que susto! – Seu coração parecia que ia sair pela boca.
Como ele tinha chegado tão perto sem que sequer tivesse notado ou sentido? - Bella se perguntava.
– Desculpe-me, não queria assustá-la. – Edward Cullen disse, já de frente pra ela, do outro lado da mesa.
– Co- como sabia que eu estava aqui? – Ela estava realmente surpresa.
– Você está no meu território, doutora. Não sou eu quem deveria estar fazendo as perguntas? – Ele falou sinicamente, sentando-se mesmo sem ser convidado.
– Importa-se? – Edward perguntou, um pouco atrasado, pois já o tinha feito.
– Já se sentou mesmo. – Bella deu de ombros, fingindo não estar nem um pouco extasiada com a presença dele, o que era a mais pura mentira.
– Se quiser eu vou embora... – Ele disse, fazendo menção de levantar-se.
– NÃO! – Praticamente implorou, não se controlando. – Quer dizer, não tem problema... Tudo bem se sentar aí. – Bella tentou consertar, constrangida com seu descontrole.
Edward deu seu arrasador sorriso torto e continuou sentado.
– Então, Isabella, o que faz em Forks? Está me seguindo? – Havia um certo sarcasmo em sua voz.
– Não seja pretensioso, garoto! Por... por que eu es... estaria te seguindo? – Bella bem que tentou se manter no controle da situação, mas sua voz falha a entregou.
O pior é que era a mais pura verdade: ela estava o seguindo sim, só não sabia por quê.
– Creio que ainda acredita que eu tenho uma informação que te interessa muito. Não é por isso que está em Forks?
Bella se sentiu envergonhada por ter levado o assunto para o lado pessoal. Não havia duplo sentido na pergunta dele. Estava claro que ele só a via como uma agente do FBI, nada mais que isso, pensou.
– Se quer saber, eu fui demitida. Não tenho mais nada a ver com esse caso.
– Demitida? Eu sinto muito. Espero que eu não seja o culpado por isso. – Ele parecia realmente chateado.
– “Deste” crime você não é culpado, Edward. Se tem um responsável por isso, esse alguém sou eu mesma. Foi por minha completa incompetência que perdi meu emprego.
Edward encarou-a por um tempo sem dizer nada. Enquanto os olhos dele passeavam por seu rosto, Bella sentiu as pernas amolecerem e as mãos suarem frio. Definitivamente aquele garoto sugava todas suas forças.
Quando percebeu que suas bochechas estavam constrangedoramente vermelhas, Bella abaixou a cabeça, fingindo olhar o copo de bebida que estava à sua frente.
– Então o que faz aqui? – Ele quis saber mais uma vez.
Boa pergunta... O que vai responder agora, Isabella Swan?”
– Turismo.
– A quem quer enganar, doutora? O que tem em Forks de especial para chamar sua atenção... Além de mim? – Ele perguntou, movendo os lábios em um sorriso devastador.
– Guarde seus hormônios para as garotas da High School, garoto! – Bella explodiu. Tinha se colocado nessa encrenca e agora precisava mostrar, talvez mais para ela mesma, que tinha o controle da situação... Mas não tinha, estava apavorada com as perguntas desconcertantes de Edward.
– Não gosto de adolescentes, prefiro mulheres mais maduras. – Ele retrucou, não parecendo nem um pouco incomodado com o que ela tinha dito.
Bella teve de se esforçar muito para não sorrir. Uma alegria desmedida a invadiu.
– Isabella, quero te fazer uma proposta. – Disse ele, mudando de assunto e de tom de voz.
– Bella...
Edward ergueu uma sobrancelha, deixando óbvio que não tinha entendido por que ela tinha dito aquilo.
– “Bella”, me chame de Bella.
Para ela aquele garoto tinha definitivamente conquistado o direito de chamá-la assim. Essa era a forma como seus amigos, parentes e namorados a chamavam. Apenas não sabia em qual desses grupos ele se encaixava. Ou melhor, sabia... Mas não ousava nem pensar nesse pequeno detalhe.
Bella percebeu que ao contrário da primeira vez que o viu, hoje ele não lhe causava nenhum medo ou lembrança ruim. Ele simplesmente era alguém que estava fazendo-a se sentir bem... Uma boa companhia.
O Garçom os interrompeu, trazendo o macarrão que havia pedido. Bella nem tocou nele. Sua fome tinha evaporado diante da presença de Edward.
– Ah, sim! – Ele riu. - Então, “Bella”, - Edward enfatizou o nome, sorrindo encantadoramente para ela – tenho algo para te propor.
– O quê? – Perguntou desconfiada.
– Eu te conto tudo o que eu sei sobre o assassinato dos Gordon, mas primeiro teremos de nos conhecer melhor... Na verdade quero que “você” me conheça melhor.
– “Nos- nos conhecermos me-melhor”? Como a-assim? Eu sou muito velha pra você! – Bella odiava essa oportunista gagueira que a acometia quando o assunto entre eles descambava para o pessoal.
– Não vai comer? – Ele perguntou, apontando para o prato, como se quisesse dar uma pausa na conversa para que ela recuperasse o fôlego.
– Não! – Respondeu sem sequer abaixar o olhar para apreciar a comida.
Edward apenas riu.
– Calma, Bella, isto aqui não é uma cantada barata e nem estou sugerindo que vá para a cama comigo em troca de informações. Quero apenas que você conheça melhor a espécie de homem que sou.
Bella sentiu seu rosto corar instantaneamente. Mais uma vez ela tinha entendido tudo errado. Que direito aquele pirralho tinha de fazê-la se comportar como uma idiota toda vez que abria a boca? – Pensou, enfurecida.
– A espécie que mata cruelmente e esconde os corpos? – Na defensiva, seu lado racional acabou aparecendo, cheio de sarcasmo e... vingativo, por que não dizer.
Edward a encarou com uma expressão de tristeza.
– Vamos deixar os julgamentos para mais tarde, Bella. Talvez descubra que eu não sou tão mau assim... Já pensou que eu posso ter bons motivos para fazer o que faço?
– “Não bastar ser, Edward Cullen, tem de parecer”. – Lembrou-se de um ditado que gostava muito.
– Nem sempre é assim, doutora. Nem todas as pessoas podem parecer o que realmente são. Para algumas isso é impossível.
Bella não entendeu o que ele quis dizer, mas deixou pra lá. Não queria continuar naquele rumo da conversa. Sentia-se mal por tê-lo ofendido.
– Por que você abriria o jogo logo agora que eu não trabalho mais nas investigações? De que adiantaria eu saber a verdade nesse momento? Não é melhor contá-la para o FBI?
– Por que não é para a Drª Swan, a agente da UAC, que eu quero me revelar... É para você, a minha Bella, que pretendo tirar meus disfarces. Não faz diferença o cargo que você ocupa. Aliás, agora ficou mais fácil ainda.
– “Sua” Bella? – Ela perguntou baixinho, querendo confirmar se tinha ouvido certo.
– É! Minha “amiga” Bella. – Ele explicou, fazendo uma pequena pausa antes de dizer “amiga”.
Bella ficou decepcionada. Edward sempre colocava um muro entre eles quando a conversa se embrenhava para o lado pessoal. Depois ficou pensativa. O que faria com as informações que ele lhe passaria? Até que ponto teria forças para denunciá-lo e ajudar a condenarem Edward a uma prisão perpétua, caso ele confessasse o crime?
Bella se surpreendeu ao perceber que cogitara encobrir um assassino. Cada vez mais se assustava com o quanto estava disposta a abrir mão por aquela aventura insana. Até onde isso iria? Essa resposta ela não tinha no momento... Mas perguntas não lhe faltavam.
– Por que quer que eu o conheça, Edward? O que eu tenho de especial?– Era difícil compreender onde ele queria chegar. Quando Bella achava que ele a queria como mulher ele vinha com aquela história de “amiga”.
– Não faz idéia de quantas vezes eu me fiz essa mesma pergunta, Bella... Não sei explicar, não sei por que eu tenho esse fascínio por você... Mas desde que a conheci se tornou essencial para mim que você conheça todos os meus segredos... Que você me aceite como eu sou... Eu preciso disso para continuar existindo!
– Edward, eu não trabalho com psicologia clínica. Não sou a pessoa mais indicada para te ajudar. Achei que tivesse deixado bem claro minha mediocridade nessa área, em nossos encontros na prisão. – Bella tentou se convencer que era sobre apoio psicológico que ele estava falando, embora duvidasse.
– Você não entendeu, Bella, eu não estou atrás de tratamento. É “você” que me interessa! É a pessoa que existe atrás desse muro de dor que eu também quero conhecer melhor. Já te falei o quanto me sinto bem ao seu lado, não se lembra?
Bella engoliu seco. As lembranças daquele segundo encontro na prisão voltaram com força em sua mente.
– Meu Deus, Edward, você é só um garoto menor de idade... Eu não posso me envolver com você!... – Mais uma vez ela se deixou levar pela literalidade das palavras de Edward. - Digo, não é certo ficarmos tão próximos. As pessoas, e mesmo sua família, podem entender errado. – Tentou consertar.
– Bella, Bella... Não se prenda a essa minha aparência de adolescente. Eu vou muito além disso. Já vivi décadas.
– É, eu já notei que você é bem maduro pra sua idade. – Bella comentou, acreditando que ele tinha feito uso de metáfora. - Sabe, eu também me sinto assim, como se tivesse vivido décadas. Às vezes pareço uma centenária... Já passei por tantas coisas nessa vida que nem acredito que tenho apenas vinte e sete anos – desabafou melancolicamente.
– Eu sei bem o que é isso... – Edward balançou levemente a cabeça, sorrindo torto novamente.
– E seus pais, o que acham disso? Eles sabem dessa sua vontade de se “aproximar” de mim? Afinal de contas até ontem eu fazia parte do grupo que te prendeu. – O temor de Bella era que ela fosse acusada de pedofilia ou algo parecido. Os Cullen deveriam odiá-la, pensou.
– Eles temem por sua vida... E pela segurança de nossa família, caso algo aconteça com você. Acham que eu estou indo por um caminho sem volta. Mas eles também sabem que podem confiar em mim. Eu nunca te faria mal, Bella, nem deixaria que alguém fizesse...
– Temem pela minha vida? – Bella estranhou aquela colocação. – Edward, você está tramando alguma vingança contra mim? – Perguntou alarmada.
Aquela possibilidade cortou o coração de Bella. Ela já estava muito envolvida emocionalmente com ele para aceitar um golpe tão baixo.
– Bella, pode pensar o que quiser de mim, até mesmo que eu seja um frio e cruel assassino de crianças, mas, por favor, nunca duvide que meus sentimentos por você são os mais puros e verdadeiros possíveis.
Uma onda de felicidade a invadiu. A angústia mais uma vez se dissipou.
– Não sei se devia, mas confio em você, Edward.
– Não imagina o quanto isso me deixa feliz! Não se preocupe, você estará mais segura ao meu lado do que jamais esteve.
E era assim mesmo que Bella se sentia enquanto estavam juntos. Parecia que nada podia transpor aquele escudo de paz que se formava ao redor deles. Estava vivendo o melhor dia de sua vida.
– O que quer que eu faça?
Meu Deus, eu estou mesmo aceitando a proposta dele?”
Bella já não tinha mais controle sobre suas ações. Agia impulsionada por uma necessidade inexplicável de estar ao lado de Edward.
– Fique aqui por uns tempos. Eu pago suas despesas, já que está desempregada por minha causa. Temos vários imóveis na cidade. Você pode ficar em um de nossos apartamentos, ou casa, se preferir. Só te peço que me dê oportunidade de te mostrar o verdadeiro Edward Cullen... Aquele que ninguém conhece.
– Não se preocupe, eu tenho minhas economias para me bancar, se eu ficar. – Bella falou, como se a parte financeira de sua decisão fosse o único fato a ser conscientemente analisado.
– Por favor, me deixa ajudá-la. Não imagina o quanto isso me deixaria feliz.
– Pagar minhas contas te deixaria feliz? – Bella perguntou rindo.
– Sim, Bella, queria que me deixasse cuidar de você para sempre. Quando estou com você eu me sinto vivo. Esta é uma sensação que eu não sentia a mais tempo do que você imagina.
Bella olhou bem no fundo dos olhos negros de Edward e viu verdade neles.
Espera aí!! Negros? Deus do céu, como eu não notei isso antes?”
Os olhos de Edward não eram mais os olhos do monstro do armário, estavam dourados como o âmbar. Não se pareciam mais com olhos da morte. Eles agora refletiam os raios do sol que há muito tempo não brilhava mais na vida de Bella.
Realmente aquele garoto estranho tinha muito o que explicar, pensou Bella...

0 comentários:

Postar um comentário

Não esqueça de comentar, isso incentiva os escritores e também a mim que tento agradar a vocês.