Capitulo 6

Estrelas, uma música e um beijo

Era uma noite sem lua, o que foi uma sorte... quando a lua está cheia a pele dos vampiros também reflete de forma fria e fulgurosa, é mais bela do que quando refletida pelo brilho do sol mas, obviamente, os humanos iriam estranhar. Eu sentia o calor do corpo de Jake, um calor possante e incontido que parecia querer incendiar a minha pele fria de mármore... meu rosto se voltava automaticamente para ele e depois de um tempo eu comecei a me controlar para não fazer isso.
Eu sabia que estava gostando de Jacob... e sabia perfeitamente que isso poderia mais me magoar do que me fazer bem, mas o amor é uma coisa estranha e incontrolável... quando a paixão te agarra, ela não solta de jeito nenhum e por mais que você tente evitar... ela parece que se torna mais arrebatadora a cada batida do seu coração. Obviamente, eu uso o termo coração de forma metafórica e romântica... afinal, o coração dos vampiros não bate mais, entretanto, o coração sentimental é tão abrasivo quanto o de um humano.

Eu ouvia o pulsar do coração de Jacob, cada batida rítmica parecia um tambor em meus ouvidos... algo sensual, vivo e cálido... Jake era lindo, e qualquer garota se apaixonaria por ele... afinal, um nativo de mais de dois metros de altura com um corpo sarado aliado a um rostinho de deus grego chamaria atenção até de uma cega. Mas não é apenas a beleza física de Jacob que me atrai... é bem mais que isso; Jacob tem um jeito quente de ser... como uma tarde de verão que chega sorrindo para você, ele te aquece com um olhar e é capaz de fazê-la sorrir simplesmente de vê-lo sorrindo; sua voz reverberante chama a atenção como o canto de um rio caudaloso e não há nada que apague aquele brilho sincero em seu olhar... 
- Qual o motivo do suspiro - ele perguntou de repente.
- Ah, foi sem querer... só estou feliz por sair de casa – eu disse rapidamente.
- Que bom que você não havia visto o filme ainda, eu ficaria chateado se tivesse que ir sozinho ao cinema... – ele completou rindo para mim e me tirando o ar dos pulmões.
O radio do carro estava ligado, nele plugado um pen-drive com alguns vários megabytes de música... agora terminava uma canção agitada do Foo Fighters e começava uma musica um pouco mais lenta: Where is the Love do Black eyed peas.
- Eu gosto desta canção – eu disse para Jake.
- Sim, também gosto dela – ele respondeu com um sorriso.
- Bem variado o seu gosto de música, eu não sabia que você era tão eclético.
- E não era mesmo – ele riu – Mas fiquei assim com o tempo, acabei me tornando mais tranqüilo e menos preocupado com estilos e tal... 
- Percebi mesmo, até dirigir mais devagar você está...
- Ah, e isso deve ser horrível para um vampiro não é Andar devagar...
- Não, eu estou achando bom – eu disse com sinceridade – Mas me admira isso em você, Jake... estar tão calmo e ponderado... tão... eclético.
- Eu sei, mas eu decidi... depois de tudo o que aconteceu após o triangulo amoroso em que eu me enfiei... que eu começaria a ver a vida com mais calma, eu sou tecnicamente um imortal, Alice, e não estava disposto a passar o resto da vida com aquilo enfiado em meu cérebro. Então, de repente, eu acordei assim, mais calmo e tranqüilo. Foi de uma hora para outra, comecei a dirigir mais devagar... a ouvir várias musicas de gêneros diferentes... de não gritar com os outros... de sorrir mais... e por ai vai... – ele terminou com um sorriso.
- Jacob Black... – eu suspirei para ele – Um homem iluminado.
- Nem – ele riu alto – Sou apenas um cara seguindo com a vida... e esperando para ver o que vai acontecer no futuro.
- Renesmee - eu arrisquei sentindo uma pontada fria no estômago.
- Também... mas não só isso. Fico pensando no que quero ser, não penso em ser mecânico o resto da vida, ou para onde irei... o que pensar sobre tudo o que acontece... coisas da vida; acho que estou na crise dos vinte anos.
- É... imagino – e nós dois rimos juntos.

A estrada passava devagar e então, depois de alguns minutos nós chegamos à Forks. A pequena, familiar e tranqüila Forks... jamais imaginei que me sentiria tão a vontade e tão em casa numa cidade como esta que nem ao menos possuía um mísero shopping center. Logo eu que conheço cada beco romântico de Paris, cada pequeno e aconchegante pub da Irlanda e os melhores alfaiates de Londres... simplesmente me acomodei em uma cidade tão pacata como Forks.
Não que Forks não tenha seu charme, seus pequenos cafés que espalham mesas e cadeiras simpáticas pela calçada onde você pode se sentar e apreciar o céu estrelado a noite... praças com árvores frondosas e canteiros bem cuidados e bonitos... ruas tranqüilas em seus bairros onde as crianças brincam jogando bola ou andando de bicicleta; enfim, é uma cidade gostosa de se viver e que mantém nossos segredos totalmente... secretos.
Jake ainda guiava tranqüila e despreocupadamente pelas ruas iluminadas até que finalmente estacionou o carro na esquina próxima ao cinema... os letreiros luminosos piscavam com néon vermelho o título de um filme de aventura que havia acabado de estrear e já havia uma pequena fila na porta do cinema.
- Um segundo, senhorita Cullen – Jake disse saindo do carro rapidamente, um segundo depois ele abriu a porta do meu lado estendendo sua mão para que eu saísse... ah, ainda bem que eu não podia ficar vermelha.
- Cavalheiresco, Jacob Black... você se daria bem na década de 30 – eu ri disfarçando minha lisonja.
- Que é isso, Alice... – riu ele – Eu apenas estou tentando ser educado.
- Bem, está conseguindo. – eu disse enquanto saia e dava a ele o meu melhor sorriso de vampira... estava na hora de ligar as minhas táticas enferrujadas de sedução.

Eu, descaradamente, enganchei meu braço no de Jacob e sorri mais uma vez para ele; fiquei realmente satisfeita quando todos na fila do cinema olharam para nós... um moreno lindo e alto e uma morena linda e deslumbrante obviamente chamavam a atenção... achei uma boa idéia ressaltar isso.
- Sabe – eu disse baixinho puxando-o para baixo e sussurrando em seu ouvido – Eu acho que você e eu estamos chamando a atenção.
- Provavelmente você... não eu – ele sussurrou de volta rindo baixinho.
- Modesto - perguntei com um olhar afiado.
- Sincero – ele respondeu sorrindo.
Aquele elogio me fez sorrir descaradamente para ele.
- Que bom que está sorrindo novamente, Alice.
- Sim... muito bom.
E meu estômago pareceu cair nos meus pés, a fila entrou rápido e apesar das pessoas que estavam ali eu percebi que a sala de cinema provavelmente ficaria vazia... gostei disso, eu sozinha com Jacob num cinema vazio. Jacob, mais uma vez se portando como um gentleman, não permitiu que eu pagasse a minha entrada. Faltava alguns minutos antes dos trailers começarem e Jacob parou com um olhar envergonhado para mim.
- Bem, você se importaria de eu comprar um saco de pipocas e um refrigerante
- Claro que não... porque eu me importaria, Jake
- Bem, achei que você talvez ficasse chateada de eu comer e você não...
- Nem esquenta, se me der fome eu te dou uma mordidinha... – eu disse revelando um sorriso faiscante.
- Gente finíssima você, Alice – Jake respondeu sorrindo.
- Então, sou mesmo... e por sinal, tome – eu disse colocando uma nota de dez dólares na mão dele – Vou ser uma companhia tão legal que te dou a minha parte da grana do lanche para você pegar dois refris e uma pipoca e acho que sobra troco para um chocolate...
- Alice, não precisa...
- Eu faço questão... vai lá lobinho.... eu fico aqui olhando os cartazes das próximas estréias.

Claro que não olhei cartaz algum, fiquei observando Jake caminhar pelo saguão até o balcão dos lanches... apurei minha audição apenas para poder ficar ouvindo sua voz melodiosa, eu sempre me impressionava com Jacob... apesar de ser tão grande ele era tão proporcionalmente bem equilibrado, geralmente homens grandes são desajeitados mas não Jacob Black... ele era perfeitamente balanceado... como uma escultura móvel de Miguelangelo.
- Hei, Lui... você por aqui - disse Jacob para o rapaz que cuidava do balcão, ele parecia bem novinho... uns dezessete anos de idade no máximo.
- Fala, Jacob... beleza Ah, descolei este trampo aqui, muito melhor e mais tranqüilo do que na biblioteca – respondeu o rapaz cumprimentando Jacob.
- Mais tranqüilo que numa biblioteca - riu Jake – Como é que pode
- Ah cara, lá era terrível... os metidos a sabe tudo eram um saco... mas diz aí.. o que vai querer
- Duas cocas... uma pipoca grande e uma barra de chocolate...
- Caraca... você vai ficar pansudo assim, Jake – respondeu rindo o rapaz enquanto enchia os copos de refrigerante.
- Não é só para mim seu esperto... – disse Jake apontando para mim e rapidamente me virei para fazer de conta que olhava distraidamente um cartaz de um filme.
- UAU, Jacob... – suspirou alto o rapaz – Meu amigo... de onde você tirou a princesa
- É uma amiga... Lui.
- Amiga - perguntou o rapaz incrédulo – Jacob, nenhum cara em sã consciência tem uma garota destas apenas como amiga... diz a verdade, você ta pegando ela, não está
- Não cara... claro que não... – disse Jake com pressa, mas eu não pude olha-lo ou ele saberia que eu estava ouvindo – Ela é só uma amiga... mesmo.
- Corta essa, quileute... – insistiu o rapaz – Olha as pernas desta garota... você é louco
- Ô Lui.. – disse Jacob rapidamente, mas eu ri por dentro – Faz favor de manter o respeito... e termina logo com a pipoca.
- Cara... se você não está pegando ela, me apresenta então.
- Essa é boa – riu Jacob – Cai na real, Lui... ela não é pro seu bico cara. É fina, inteligente, elegante e mais velha que você.
- Ah, mas vai que ela curte caras mais novos...
- Ela não pega caras de quinze anos, bobão.
- Então escuta um conselho do seu amigo bobão adolescente... até eu com esta minha pouca idade sei que uma gata destas... com umas pernas lindas destas... não se deixa escapar não... vai por mim, são sete dólares.
- Esta é boa – disse Jacob rindo – Imagina eu recebendo conselhos de um fedelho... toma a grana.
- Ah, cara – lamentou o rapaz – Eu estou sem troco Jake... dá pra você passar aqui depois do filme
- Sem problema, Lui... até depois.

Eu me virei fingindo esta distraída enquanto Jake caminhava em minha direção carregando a pipoca, os refris e o chocolate e fiquei radiante quando notei que, quase imperceptivelmente, Jacob Black deu uma bela olhada em minhas pernas... bem, acertei em cheio quando resolvi escolher um microvestido para usar na noite de hoje.
- Tudo certo - eu perguntei inocentemente.
- Ah, sim... – disfarçou Jacob – O garoto estava sem troco e eu vou ter que voltar depois pra pegar.
E ele me conduziu para dentro da sala escura de cinema, como previsto... havia varias poltronas disponíveis e nós nos acomodamos em dois lugares bem no meio da sala, a visão era muito boa porque não havia ninguém na minha frente, para Jake não havia problema mas para mim e meus parcos 1,61m de altura... qualquer anão atrapalharia a minha visão do filme, se bem que não era com o filme que eu estava preocupada.
Em alerta para minhas técnicas de sedução eu esperei Jacob se acomodar na poltrona e lentamente tirei os meus sapatos e cruzei as pernas sobre a poltrona... um gesto que, para meu total deleite, foi acompanhado pelos olhos cuidadosos de Jake... enfim, acho que as minhas pernas estavam realmente chamando a atenção. Quando o filme começou, Jake apoiou o braço esquerdo no braço da poltrona enquanto segurava o copo de refrigerante no outro, eu... muito sorrateiramente, me encostei no corpo quente de Jacob e entrelacei novamente meu braço no dele apoiando minha mão em seu antebraço, levemente corri meus dedos por seu pulso e percebi que Jake se arrepiou levemente.
- Incomodo - eu sussurrei travessamente em seu ouvido.
- De forma alguma... – ele respondeu um pouco rápido demais.
Eu apoiei a minha cabeça em seu ombro forte e fiquei tentando afastar os meus pensamentos para o filme mas, obviamente, não consegui; o cheiro de Jacob, de um leve teor silvestre me embriagava, seu calor estava me tirando do sério e eu resolvi me afastar um pouco dele porque senão eu cometeria uma loucura.
Jacob se reacomodou na poltrona e sorriu para mim, mas um segundo depois já prestava atenção novamente no filme... fiquei pensativa com relação ao que poderia fazer mas meus impulsos ficaram mais controlados quando percebi que deveria ir mais devagar... ou poderia simplesmente assustar ou afugentar Jacob.
Na dúvida se agia ou não eu esperei mais alguns minutos... o filme já estava passando da metade quando me aproximei novamente de Jake, e meu coração quase saiu pela boca quando eu percebi que ele automaticamente se acomodou perto de mim e eu não perdi tempo me apoiando nele.
- Hum... você não sente arrepios quando eu te toco com a minha pele gelada - eu perguntei um pouco descaradamente.
- Não... – ele respondeu baixinho – Acho que por algum motivo estranho eu não me sinto desconfortável com o toque dos vampiros... devo ser uma anomalia... mas é bom, eu sempre estou com calor, com você por perto eu me sinto mais... refrescado.
- Ah, eu me senti um ar-condicionado ambulante, Jake – eu disse um pouco chateada.
- Não é isso... eu gosto quando você está por perto.
E mais uma vez... meu coração parecia saltar em meu peito. Quase no fim do filme, o mocinho beijou calorosamente a mocinha... e eu me senti tão vidrada naquela cena, tão amorosamente cheia de vida e repleta de vontade de amar novamente... eu queria namorar, queria ser amada, queria tanto beijar apaixonadamente alguém... e desejava loucamente que este alguém fosse Jacob Black. É tão maravilhosamente bom estar apaixonada novamente... parece que tudo está mais colorido e vívido, parece que eu mesma me sinto mais viva e mais propensa a explodir de uma alegria estranha que me é desconhecida.
No momento do beijo cinematográfico, por reflexo, eu apertei um pouco mais a minha mão no braço de Jacob e suspirei alto imaginado como seria beijar aqueles lábios furiosamente quentes dele. Ouvi o coração de Jake descompassar um pouco... e fiquei imaginando o que isto significaria.

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