3 de jun. de 2010

Capitulo 7

Posted by sandry costa On 6/03/2010 2 comments

Encenação




Eu não sabia ao certo como iria convencer meus pais a me deixarem ir para Forks sozinha com Jacob, nem como iria contornar toda preocupação desenfreada de minha família demasiadamente protetora. Eu tinha uma vaga idéia do que eles diriam.
Minha mãe diria: “Se você quer visitar Charlie, Billy e os outros, vai ter que esperar até que eu e seu pai tenhamos alguma folga na faculdade”. E meu pai completaria: “Nós iremos nas férias de inverno querida, assim todos nós poderemos ir juntos”. E Carlisle arremataria o assunto com uma expressão gentil no rosto, enquanto diria: “Não se esqueça que você agora tem obrigações na escola querida”. Completamente injusto.
Eles eram muitos, e sempre estavam unidos quando se tratava da minha segurança. Meu crescimento acelerado não deu a eles a chance de perceber que agora eu era uma adulta de sete anos. Tive que rir com meu humor negro, afinal, nada daquilo passava de pura verdade.
Minha única grande idéia até o momento era usar o fim de semana – e o tédio que eu sentia tendo que ficar nas redondezas – para escapulir para Forks. Eu até tinha uma encenação de desânimo pronta para ser usada em minha mãe. Mas sinceramente, eu duvidava que seria o bastante.
Enquanto Jacob dirigia de volta para casa, eu me mantive atenta. Quando fosse razoavelmente perto para meu pai nos ouvir, o plano entraria em vigor. Eu deixaria o barco correr como planejado, uma coisa de cada vez. Passar pela peneira estreita da mente de meu pai seria o mais difícil, depois disso, eu só precisava me afastar o bastante para planejar o próximo passo. Quando entramos na garagem, tanto eu quanto Jacob estávamos concentrados. Eu o olhei antes de sair do carro e sem pensar muito o beijei com força, uma vez mais para reforçar a idéia em nossas mentes. Não sei muito bem se aquilo ajudou ou só nos tirou a tênue concentração. Descemos do carro e nos dirigimos às escadas. Inalei profundamente o ar, e se meu olfato não tivesse pifado, meu pai ainda não estava em casa.
Era estranho, mas Jacob estava completamente relaxado ao meu lado. Ele devia estar acostumado a controlar seus pensamentos perto de meu pai. Ninguém se sentia mais invadido e aborrecido com a falta de privacidade com meu pai do que Jacob.
Quando entramos na sala, não havia ninguém a vista, mas eu podia ouvir Esme rabiscando algo no andar de cima e Carlisle devia estar lendo em seu escritório. Eu podia ouvir sua respiração cadenciada e o farfalhar de páginas sendo viradas. Suspirei de alívio e gesticulei o sofá para Jacob. Nós nos sentamos, deixando cair no tapete nossas mochilas e livros. Esme logo veio a nosso encontro com seu sorriso habitual.
- Olá querida, olá Jacob. Nessie, você recebeu a mensagem de sua mãe? Ela não quis ligar e atrapalhar sua aula. – Esme sentou-se numa poltrona e cruzou as mãos sobre as pernas.
- Recebi sim Esme, gostaria de ter ido com eles. – Fiz uma cara de desânimo
- Ah querida, você pode ir comigo e com Carlisle amanhã – Ela tentava me consolar
- Ah tudo bem Esme, estou planejando uma visita à Billy e à Charlie para esse fim de semana – Eu joguei a isca. Se eu precisava extrair informações de alguém sobre o cronograma familiar sem levantar suspeitas, esse alguém era Esme. Ela parecia não ter o hábito de desconfiar das pessoas.
- Que ótimo querida. Você já falou com seus pais sobre isso? – Ela sorria com empolgação, sem nenhum traço de desconfiança.
- Ah sim, mas eles obviamente não concordaram em me deixar ir sozinha com Jake. Acho que eles nunca vão confiar em mim. – Fiz um beiçinho.
- E nem em mim – Jacob estava percebendo a jogada e resolveu entrar na cena. Ele fez uma cara de desapontamento e sacudiu de leve a cabeça em desaprovação.
- Ah Nessie, não pense assim. Seu pai e sua mãe apenas se preocupam com você. E Jacob, é claro que eles confiam em você. Todos nós confiamos. Você já fez muito por nós, já provou sua lealdade muitas vezes. – Esme tentava nos consolar, e pelo tom de sua voz, ela sentia-se culpada por colaborar com meus pais em seus sermões repetitivos. Ótimo, ela mordera a isca.
- Mas Esme, vocês se preocupam com Alice, com Jasper, com Emmet ou Rose? – Perguntei, mantendo a expressão magoada em meu rosto.
- É claro que sim querida, me preocupo com todos vocês.
- Pois então, mesmo assim eu não vejo vocês impedindo nenhum deles de viajar sozinhos – Bingo. Esme ponderou por um minuto e eu pude ver minha estratégia dando certo. – Sinceramente, me sinto incapaz. Nunca vou ser boa o suficiente para me cuidar sozinha. Sou uma mestiça inútil. – Eu não precisava ter apelado tanto, mas não pude conter a encenação dramática se desenvolvendo em mim. Se Esme fosse capaz de chorar, ela estaria em prantos agora, tal era sua expressão de sofrimento e culpa. A conversa deve ter intrigado Carlisle, que desceu as escadas como uma brisa leve e sentou-se ao lado de Esme, afagando seus ombros. Ele olhava para mim com um semblante igualmente culpado.
- Acho que estamos pressionando muito você não é querida? – Ele tentou sorrir cordialmente, mas eu sabia que, sem querer, eu tinha atingido dois coelhos de uma vez só.
- Ah Carlisle, você conhece nossa natureza melhor que qualquer um. Vampiros precisam se sentir livres, ou eles simplesmente piram, eu acho. Ser a única que precisa dormir, comer e tudo mais já é bem difícil, eu sei que não sou tão forte quanto vocês. – A tristeza que deixei fluir por minhas palavras foi tão perceptível que Jacob me encarava com a mesma expressão angustiada de Carlisle e Esme.
- Você está enganada querida, você é tão forte quanto qualquer um de nós. E é completamente capaz de se defender sozinha. Essa preocupação que temos com você é apenas nosso próprio medo de perdê-la. Mas eu sei que isso não é desculpa para o que temos feito com você. – Eu nunca vira Carlisle tão culpado como agora. Eu já sentia o remorso crescendo dentro de mim, mas eu precisava fazer aquilo. Era o único jeito de protegê-los. Eu sabia que tinha ganhado a primeira batalha. Não havia mais necessidade de torturar meus avós. Eles colaborariam para o meu plano, eu podia ver em seus olhos dourados e tristonhos que, meu pai e minha mãe ouviriam uns bons sermões quando voltassem. Quase sorri ao sair pela porta da sala com a desculpa de ajudar Jacob com sua tarefa de literatura, deixando dois vampiros com a consciência pesada, paralisados em expressões pensativas no meio da sala vazia.
Quando chegamos ao chalé de Jacob, ele preparou um suco e nos sentamos no único sofá de dois lugares que ocupava boa parte da pequena sala-cozinha de Jacob. Nos olhamos em silencio por alguns minutos e como se fosse algo sincronizado automaticamente, nós explodimos em gargalhadas barulhentas.
- Jake, não tem graça. Eu tive que ser horrível com eles – Eu tentava falar em meio aos espasmos de Jacob que fazia o sofá tremer.
- Ah Ness, você vai me desculpar, mas eu me senti numa novela mexicana gótica ou algo assim– Jacob ria abertamente, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. – Garota, você tem talento.
- Cale a boca Jake – Eu tentava fazer uma cara de brava, mas só o que consegui foi uma careta.
Eu de certa forma estava mais relaxada quando os últimos raios de sol brilharam pela janela do chalé. O nervosismo da espera foi amenizado pela companhia descontraída de Jacob. Nós conversamos e rimos durante toda a tarde, esperando até ouvir os passos silenciosos de algum conhecido nos interromper, mas nada aconteceu até às seis da tarde.
Quando ouvimos passos leves se aproximando, eu e Jacob trocamos um olhar apreensivo. Eu toquei seu braço e lhe mostrei resumidamente a cena do beijo no parque. Nos preparamos para a cena principal. Estava na hora da pequena Renesmee utilizar seus instintos mais básicos de sobrevivência. Estava na hora de praticar o que ninguém na minha família jamais me ensinou. Mentir, enganar, trapacear.
***
Alice bateu de leve na porta, apenas por educação. Jacob abriu a porta e sorriu pra ela com uma gentileza incomum.
- Olá baixinha. – Disse ele descontraidamente.
- Qual é o problema que vocês lobos tem com roupas descentes? Onde estão as calças que eu comprei pra você? – Alice encarava carrancuda a bermuda esfarrapada de Jacob que um dia fora uma calça jeans.
- Ah, qual é, você não quer que eu use aquilo vinte e quatro horas por dia quer? Além disso, me aperta muito – Jacob retrucava atrás de Alice enquanto ela atravessava a pequena sala a meu encontro.
- Ness, ensine seu cachorro a usar roupas – Ela resmungou enquanto me dava um beijo na testa e se sentava a meu lado no sofá.
- Impossível Alice, ele parece ter sérios problemas com qualquer coisa que cubra mais que o estritamente necessário. – Sorri para ela. Bem, eu teria de ser legal com Alice se quisesse trazê-la para meu lado.
Alice deu um sorrisinho amarelo, como alguém que tem más notícias para dar.
- É todos nós já percebemos isso. – Ela olhou pra Jacob, sentado no tapete, no lado oposto da pequena sala.
- A caça parece ter sido boa. – Sondei. Eu teria que ser mais sutil com Alice. Ela me conhecia muito bem. – Vocês voltaram agora?
- Não, na verdade voltamos há duas horas – Disse Alice, com um olhar displicente.
- Hum, e por que não me avisaram? – Eu olhei para ela desconfiada e ela cruzou meu olhar. Eu conhecia tão bem aquelas feições miúdas, que podia jurar que ela estava tentando não falar algo que não devia.
- Ah, tudo bem, você vai saber de qualquer jeito. – Ela bufou e se virou de frente para mim. – Quando voltamos essa tarde, Carlisle chamou Edward e Bella para uma conversa, e é claro que todos nós acabamos ouvindo. Mas a coisa foi séria, nunca vi Carlisle falando daquele jeito com Edward, bem, com ninguém pra falar a verdade. – Alice me encarava aturdida. Bem, agora eu estava oficialmente me sentindo culpada. Era óbvio que Carlisle resolveu ter uma conversa com meus pais depois da minha pequena encenação dramática. Tive que lembrar a mim mesma que aquilo era justamente o resultado que eu esperava.
Tentei colocar um pouco de curiosidade e inocência na voz e na expressão.
- Por que Alice? O que houve? – Perguntei. Pela minha visão periférica eu pude ver Jacob tentando segurar o riso.
- Ah Nessie, Carlisle nos contou sobre a conversa que vocês tiveram hoje à tarde. Ele disse que você está muito infeliz com o modo que temos te tratado. Quero dizer, nós sabemos que você não é mais aquele bebezinho cheio de dentes de apenas alguns anos atrás, mas nós sempre pensamos no seu bem estar. – Parecia que Alice estava reproduzindo a expressão torturada que vi em Esme aquela tarde. Suas palavras soavam mais como um pedido de desculpas do que como uma explicação. Maravilha, eu estava aumentando gradativamente minha lista de “pessoas que eu quero magoar”.
- Ah não. Carlisle não fez isso. Minha mãe vai me matar. – Era hora de mais um capítulo do meu teatro melodramático. – Ah Alice, me desculpe. Eu não queria causar nenhum problema com minhas besteiras, eu só… – Jacob quase teve um ataque do outro lado da sala quando viu minha cara de mártir de filme barato.
- Está tudo bem Ness, relaxe. E pare de se desculpar por falar dos seus problemas. Ninguém vai te castigar por você falar o que está sentindo. Somos sua família. – Alice me abraçou, tentando me confortar. Olhei para Jacob do outro lado da sala e dei uma piscadela. Que dupla maligna nós estávamos nos tornando.
- Eu ouvi também Carlisle falando algo sobre uma viajem que você pretendia fazer a Forks. – Ela me olhou profundamente e suspirou. – E eu acho que não há nada de errado nisso. Vou dizer isso a sua mãe. Está na hora de começarmos a enxergar você com outros olhos.
- Obrigada Alice. – Eu estava muito feliz com o êxito do meu plano. Mal podia acreditar como tinha sido fácil. Até aqui.
- Vocês acham mesmo que eu deixaria alguma coisa acontecer à minha Nessie? – Jacob parecia ter se recuperado o suficiente para dar uma pequena contribuição.
- Acho ótimo que você cumpra o que diz. – Alice mostrou a língua para ele, e em seguida me puxou do sofá. – Agora vamos. Temos uma reunião de família ainda hoje.
Droga! Estava indo tudo muito bem até ali, mas não parecia que continuaria assim.
- Reunião de família? Por quê? – Eu estava realmente apreensiva agora. Eu não contava com algo assim. Estava contando com o elemento surpresa.
- Bem, acho que seus pais querem esclarecer algumas coisas com você antes de você fazer as malas. – Ela sorriu e piscou para mim.
- Tá brincando? Eles vão me deixar ir para Forks? – Como? Quando? Tão fácil assim?
- Hum, pelo menos é isso que eu vejo seu pai e sua mãe decidirem. Agora vamos antes que eles mudem de idéia. – Alice saiu pela porta me puxando pelo punho. Eu olhei para traz procurando Jacob. Escutei seus passos nos seguindo na escuridão. Eu queria dizer a ele para se preparar, mas Alice balançava meu braço para frente e para traz como se estivéssemos passeando num parque. Eu tinha que parecer feliz, relaxada, descontraída.
Quando chegamos ao gramado da casa, eu parei. Alice me olhou confusa, esperando que eu desempacasse. Olhei pra ela sem pensar muito e disse:
- Alice, tenho uma coisa pra contar a vocês. – Os olhos de Jacob brilhavam no escuro. Ele me olhava apreensivo, procurando algum sinal de blefe.
- Nessie, o que vocês fizeram? – Estremeci quando ouvi Alice usando o plural. Ela normalmente não podia ver nem meu futuro nem o de Jacob – ou de qualquer outro lobo – mas a expressão que apareceu em seu rosto naquela hora foi como sabão no último degrau da escada. Eu escorreguei. Por um breve segundo, pensei que tudo tinha ido por água a baixo. Tentei me recompor imediatamente, evocando as imagens que me salvariam naquele instante. Olhei para ela atônita, segurei-a pelos ombros pequenos e delicados e mostrei a ela uma imagem minha e de Jacob num parque, nos beijando sob a sombra de um abeto grande e robusto. Depois deixei ela ouvir a voz de Jacob, me contando tudo. Alice estremeceu e voltou a focar seus olhos em mim. Não tive tempo de explicar tudo, só mostrei a ela um resumo rápido. Alice soltou o ar, como se tivesse prendendo a respiração durante horas.
- Eu vi vocês dois sumindo completamente. Como se tivessem se misturado numa coisa só. Uma coisa grande e totalmente borrada. Não posso mais ver nada sobre vocês Nessie. Absolutamente nada… – Alice parou de novo, olhando algo muito além de mim e da escuridão do gramado. Tão rápido que não pude nem ao menos piscar, ela se virou em direção a porta bem a tempo de ver um vulto passar por ela e voar em direção a Jacob. Então Alice gritou:
- Edward, não!

2 comentários:

Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa, Nossa!
Muito legal^^
Vc escreve super iper bem! Meus parabéns!!!
Posta mais, quero saber o que vai aconteceu com o Jacob e com o Edward... E quero descobrir se a Nessie e o Jacob vão conseguir fugir, bem primeiro eu quero ver se o Jacob vai sair dessa briga com o Edward vivo né! rsrs
Amo sua fic!
Bjsculos^^

Oi esta incrivel, parabens, estou amando rele la

bjss

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