6 de set. de 2010

Capitulo 45

Posted by sandry costa On 9/06/2010 2 comments


 Céu Vermelho Parte 4
- Pare com isso! – Gritei, levando as mãos aos ouvidos. Senti uma leve agitação a minha volta, mas não podia saber quem era, embora tivesse uma turva sensação de que alguém gritava para mim. Minha mente era bombardeada por imagens perturbadoras e vozes que se misturavam à minha própria voz num turbilhão desesperado que engolfava meus sentidos. Os gritos desesperados de um homem ensurdeceram meus ouvidos, rasgando meus pensamentos como garras afiadas, e através de meus próprios olhos, eu me vi indo ao encontro dele. Alguém estava morrendo, eu podia sentir o cheiro de sangue no ar. O cheiro queimava meu corpo como se o próprio fogo estivesse vertendo de dentro de mim. Não era nada como o sangue dos aldeões, que misturava-se como sal e ferrugem, quente e viscoso, mas sangue é sangue, e eu estava faminto. Uma criatura gelada se aproximou de mim, e tinha um cheiro terrível, adocicado, tão forte que fazia minha cabeça doer e minhas narinas arderem. Ele trazia nas mãos um coração ainda pulsante, e através da escuridão e da dor que rachava minha cabeça, ele lançou o coração ainda quente para mim. Eu o engoli inteiro, rugindo com a fome abrasadora, enquanto ouvia os risos cortantes daquela coisa morta e gelada que me observava com olhos vermelhos. Por entre as grades que me enclausuravam eu vi o rosto imóvel da criatura que perdeu seu coração para saciar minha fome.
- Pare, pare! – Minha voz parecia longínqua embora eu estivesse gritando a plenos pulmões. E não importava o que eu fizesse, o rosto de Nahuel ainda permanecia ali, sob minhas pálpebras, como se eu mesma estivesse assistindo Aro arrancar seu coração e jogá-lo para a criatura, eu senti o gosto enquanto ele engolia o órgão ainda quente. 
- Ness, pare com isso! – Alguém gritava para mim, eu não sabia se era real, mas a voz dissolveu a escuridão daquela cena terrível e logo eu pude ver Alec, jovem e humano, correndo por um caminho de pedra, sorrindo sinceramente sob a luz de um dia quente, e uma garotinha vinha logo atrás dele, e ela sorria também, os cabelos dourados ficavam ainda mais claros na luz. Seus grandes olhos azuis seguiam o pequeno Alec onde quer que fosse, e ele sabia que ela queria ser tão rápida e esperta quanto ele... Mas então o céu escureceu, e tudo em volta se tornou sombrio, os irmãos já não estavam mais ali. Grandes árvores ameaçadoras se fecharam sob mim, e em algum lugar eu podia ouvir passos leves e velozes sobre a relva baixa. Então eu vi três mulheres grandes e morenas correrem por entre as árvores, a primeira delas conduzia as outras por entre a escuridão e sem que pudessem perceber como, um bando de homens encapuzados saiu de dentro da escuridão, eles agarraram as três mulheres. Elas não conseguiram lutar, eles eram muitos, a primeira delas gritou de dor enquanto assistia as outras duas serem destroçadas, e antes que pudessem acender as piras para queimar seus restos, os homens levaram a mulher da selva pela escuridão adentro. Zafrina chorava sem lágrimas enquanto era levada pelo exército Volturi.
- Façam ela parar! – Gritava alguém repetidamente, enquanto um turbilhão de outras vozes e imagens rodopiavam em volta de mim. Eu não sabia mais aonde estava, eu estava perdida? Impossível, esse era o caminho, o mapa dizia exatamente a mesma coisa. Olhei em volta novamente, e com grande alívio eu vi a nossa campina se abrir diante de mim, um lugar de magia onde eu sempre poderia ir para encontrá-lo uma vez mais. Era lindo, a relva coberta por flores silvestres, o sol se pondo e o crepúsculo tingindo o céu, mas eu, estranhamente, a achei tão vazia e desoladora quanto um deserto estéril. Ele não estava ali, ele não voltaria jamais. A campina sem ele era nada mais que um amontoado de mato.
Essa será a última vez que você me verá...
Oh Deus, doía, como doía. Minha cabeça girava e era espremida por uma onda incessante de imagens e lembranças que se alternavam tão rapidamente que não me deixavam espaço para saber que era eu. Eu era o monstro comedor de corações? Era o pequeno Alec? Ou era Zafrina? Poderia eu ser Bella, abandonada por seu amor numa campina esquecida? Quem? Quem era eu nesse mar de memórias?
Uma torrente de imagens me envolveu e eu senti que elas me envolviam como fumaça, e eu estava sufocando. Senti que estava caindo, alguém comprimia meu tronco, um abraço gelado me envolvendo, uma película de luz caindo sobre mim como água fria.
- Ness, Ness... Volte para mim. Volte para sua mãe querida. – A voz suave soprava em meus ouvidos, e enquanto eu tentava alcançá-la, eu via mais e mais rostos e imagens passarem por mim. “Eu te amo Lavínia, e não vou te condenar a mesma maldição que me cerca.” “Não, não, por favor. Amun, não me deixe aqui, leve-me com você, eu quero ser seu filho, por favor...” “Eu nunca vou me perdoar por ter feito isso com você Emily.” “Eu te amo Renesmee, eu sempre te amei...”
- Ness! – Gritou minha mãe. Abri meus olhos, sem saber que eles estavam fechados. Eu ainda podia sentir o poder do escudo dela me envolvendo. Minha cabeça latejava de forma violenta, eu me sentia com a disposição de quem acaba de se lançar de um prédio de vinte andares. Olhei em volta, tentando me situar, tentando descobrir onde eu estava e quem eu era. Sim, eu era Renesmee, e estava bem aqui, no meio do pesadelo. Me sobressaltei ao ver que todos os lobos estavam em suas formas humanas, cambaleando entre os outros que colocavam-se eretos com alguma dificuldade, todos pareciam ter acordado de um desmaio. 
- O quê eu fiz? – Sussurrei, e minha mãe apertou minhas mãos entre as suas. Jacob, que estava mais próximo de mim, olhou-me consternado.
- Agora está tudo bem querida, não se preocupe. – Minha mãe afagou meus ombros enquanto nos colocávamos de pé.
- Não, não está nada bem. – Zafrina se aproximou, seus olhos grandes faiscaram em meu rosto por um momento. – Bella, ela deve saber e compreender o que fez, ela quase matou a todos nós. – Me sobressaltei ao ouvir aquilo. – Ness, como fez aquilo? – Disse ela segurando-me pelos ombros e me lançando um olhar perscrutador. 
- Eu... eu não sei. Eu estava olhando para a criatura e de repente ela olhou pra mim e a mente dele... Era como se ela me puxasse para dentro, e eu vi...
- Você viu Aro matando Nahuel e alimentando a fera com seu coração. Todos nós vimos Ness, é isso o quê você fez. Você roubou as lembranças de todos nós e espalhou pelas mentes ao seu redor. Você plantou pensamentos roubados em nós. – Enquanto Zafrina falava, eu via passar em minha mente rápidos fleshs, mas apesar de entender o que eu havia feito, eu não conseguia acreditar que aquilo pudesse ter matado alguém.
- Por quê você diz isso Zafrina? Por quê acha que eu iria matar a todos? – Minha voz tremia, eu sentia o olhar de todos caindo sobre mim. Zafrina ponderou por um momento e disse:
- Eu não sei se teria nos matado, mas Ness, desde a minha transformação eu não sinto uma dor tão abrasadora quanto essa que você nos impôs. Era como sentir o cérebro rachar ao meio e se incendiar a partir do centro. Eu não teria suportado mais um segundo daquilo. – De um em um, eu fitei os rostos em volta da clareira, e ao pousar meus olhos em Alec perguntei:
- Onde está o filho da lua? – Ele se aproximou, seu rosto transparecendo uma preocupação muda.
- Fugiu, se embrenhou no vale. Ele sentiu a dor também, e acredito que tenha visto tudo que vimos. – Assenti sem dizer nada, enquanto sentia um medo soturno crescer dentro de mim. Eu estava me tornando algo que nem mesmo eu sabia o quê era. Reuni o pouco de orgulho e caráter que ainda restavam em mim e, sentindo meu rosto corar, disse:
- Peço desculpas a todos vocês. Eu não... não sabia o quê estava fazendo. Não pude controlar, embora isso não desculpe o fato de tê-los exposto dessa forma. – Todos permaneceram em silêncio, o quê aumentou gravemente minha humilhação e vergonha. Eu não conseguia olhá-los de frente.
- Todos nós perdemos o controle às vezes. – Disse Jacob, e percebi quando ele lançou um olhar atravessado a Sam. – Ninguém aqui pode te culpar por perder o controle, ainda mais quando estamos numa situação como esta.
- Ele está certo. – Disse Willian, aproximando-se de mim. – Mas agora não importa mais. Precisamos ir atrás daquele monstro e queimá-lo de uma vez, não há tempo para considerações e cautela. Se não atacarmos agora, ele pode sumir, ou pior, pode nos caçar como...
- Como humanos? – Interrompeu Sam. Um esgar sombrio cruzando suas feições
- Como cachorros. – Provocou Willian, sustentando o olhar soturno de Sam.
- Sam, os outros precisam da sua liderança agora, você é o Alpha. – Falou Jacob. – Vamos seguir o plano anterior. Bella, Zafrina e Benjamin irão para Volterra, você deve mandar um bando para as montanhas...
- Eu sei o quê devo fazer Jake. – Resmungou Sam e com um tremor violento, o corpo moreno explodiu num lobo negro. Seguiram-se então mais quatro transformações, Paul, Embry e Quil se afastaram com Sam até a orla de árvores e um minuto depois se lançaram em uma corrida silenciosa pela floresta. Sam contornou o tronco de um abeto e de lá saiu caminhando na forma humana. 
- Eu vou ficar, já que Seth está ferido e Leah terá de cuidar dele. – Olhei por sobre o ombro de Sam, onde, entre as arvores, Leah mantinha o corpo de Seth apoiado em seu colo. Seth tinha as duas pernas quebradas e várias costelas fraturadas, mas estava consciente e nos observava de longe.
- Acha que pode cuidar disso? – Ouvi minha mãe perguntar a Alec discretamente enquanto mais planos eram traçados por Zafrina e Willian.
- Ele não deve estar longe, só precisamos chegar perto o bastante para que eu o desoriente por um momento, e então, acendemos a pira. – Minha mãe assentiu, silenciosa, enquanto lançava um olhar ininteligível para mim. Ela não estava questionando o poder de Alec de deter a criatura, mas sim de lidar comigo e com esse novo e incontrolável poder que estava brotando em mim, se desenvolvendo tão rapidamente, que eu não tinha tempo sequer de percebê-lo se manifestar. Vendo que eu a observava, ela não voltou a falar e simplesmente veio até mim e me beijou na testa, dizendo:
- Você devia vir comigo.
- Eu logo estarei com vocês novamente. Preciso fazer isso, prometo que vou ter cuidado. – Eu não queria fazer nenhum tipo de promessa ou dizer que ficaria tudo bem, mas o quê mais eu poderia dizer a minha mãe quando ela me olhava daquela forma? Ela ponderou por um momento, e eu cheguei a achar que ela tentaria me levar com ela de qualquer forma, mas ela nada disse ou fez.
- Cuide-se e volte para mim assim que puder. – Disse ela, enquanto se afastava e seguia com Zafrina e Benjamin para as ruínas de Volterra.
- Ness, precisamos nos apressar. - Disse Jacob, colocando a mão em meu ombro. Respirei fundo o mais discretamente que pude e disse para mim mesma que eu me manteria sob controle. Estava temerosa, e receava que aquela não seria a última vez que eu me veria perder o controle de minha própria mente. Enquanto caminhava silenciosa ao encontro dos outros, ouvi Sam dizer á Leah:
- Você vai ficar bem? Já mandei Jared vir para cá para ficar com vocês, ele chegará em breve. Se cuide Leah, e cuide de Seth por mim. – Me sobressaltei ao ver Sam acariciando o rosto de Leah, com uma ternura que eu o vira usar apenas com Emily. Leah o olhava sem dizer palavra, o olhar torturado preso no rosto de Sam como quem implora algo. Desviei o rosto daquela cena e numa rápida passagem pela clareira a minha volta, meus olhos se encontraram com os de Alec. O manto negro havia sido quase completamente destruído, obrigando-o a se livrar dos farrapos. Agora, porém, sua pele contrastava acentuadamente contra a camisa preta, que a despeito das mangas rasgadas, deixava seus braços longos e esguios nus. Também não era seguro olhá-lo, nem tampouco confortável me recordar de que já o havia beijado, de modo que me senti agradecida quando todos se reuniram para a iminente caçada que se seguiria.
- O rastro dele vai para o norte, talvez esteja indo para as montanhas. – Disse Willian, enquanto nos reuníamos para partir.
- É possível, e se ele não fizer nenhum desvio vai dar de cara com Jasper e Emmet. – Concordou Jacob. – Então aí o encurralamos.
- Não vai ser tão simples assim, você viu como ele reage quando está sem saída. – Eu percebi que Alec tentava não pousar os olhos em mim com tanta freqüência como fazia, enquanto falava, ainda mais com Jacob a meu lado, e no meio dessa disputa de olhares eu me via de cabeça baixa, escutando e tentando não me sentir tão desconfortável com aquilo.
- Temos que considerar a hipótese dele desviar e descer o vale até a cidade, há famílias morando no campo, pouco mais de dez quilômetros daqui. – Sam mantinha a voz firme enquanto falava, e percebi, ao olhar para ele, que Sam não se sentia nem um pouco a vontade com a proximidade de Willian e Alec, e talvez até mesmo com a minha.
- Acho pouco provável. – Respondeu Alec. – Não perceberam o incômodo dele com a luz do sol? Ele é uma criatura noturna e já é um mistério o fato dele estar andando por aí em pleno dia, geralmente essas criaturas dormem durante a lua minguante e só despertam no quarto crescente para se banquetear durante os sete dias da lua cheia. Por mais faminto que esteja, ele não vai correr pelos campos de trigo quando o sol está a pino. Ele vai para as montanhas, onde há grutas geladas durante todo o verão.
- Como sabe tanto sobre essas...coisas? – Indagou Jacob, e eu não pude deixar de perceber a nota de desconfiança que pontilhou aquela pergunta, nem creio que Alec o tenha deixado passar despercebido. 
- Eu tive muitos anos para saber e conhecer muitas coisas. – Respondeu Alec num tom brando.
- Me parece, e não sei se vocês concordam comigo, que o fato do filho da lua ter abandonado suas tradições, tem alguma coisa a ver com aquela cena grotesca com que Ness nos presenteou. – Interveio Willian, olhei-o, sobressaltada por ter meu nome destacado naquela conversa novamente, e ponderando por um momento, eu concluí que não poderia discordar dele, nem ignorar o fato de que Aro deveria ter bons motivos para ter preparado tudo aquilo, tal como vi na mente da criatura, mesmo com as tendências teatrais e todo ar rebuscado de Aro.
- O coração. – Disse eu. – Acha que tem alguma ligação com essa mudança de hábito?
- Acho que o fato de Aro ter escolhido o coração meio imortal de um mestiço, não pode ser inteiramente ignorado por nós. Ele tinha alguma finalidade com aquilo, disso eu tenho certeza. – Willian me encarou, e eu não pude deixar de notar que ele havia destacado especialmente o fato de Nahuel ser um mestiço, como eu. – Bem, pelo menos sabemos agora o quê o interessava tanto em você minha cara, uma vez que mestiços estão em falta no mercado. – Disse ele.
- Maldito. – Grunhiu Jacob. 
Silenciosamente, eu tecia minhas próprias teorias sobre os interesses de Aro, mas não podia deixar de concordar com a lógica de Willian.
Todas essas considerações se firmaram num prazo de poucos minutos e logo estávamos correndo pelo vale esverdeado, com a luz do sol penetrando as árvores grandes e antigas. Jacob e Sam assumiram a dianteira, suas patas enormes rasgavam o solo úmido enquanto cravavam suas passadas rápidas na relva. Alec e Willian seguiam comigo logo atrás numa marcha acelerada, todo som, todo cheiro, todo rastro era registrado, levando-nos, como dissera Alec, para as montanhas que circundavam Volterra. Quanto mais perto chegávamos, mais os odores da criatura se fundiam com a fumaça pesada das piras que ainda queimavam em vários pontos, dentro e nos arredores da cidade. Olhando para a depressão que acomodava a pequena e devastada cidade de Volterra, eu imaginei onde estariam meus pais, mas tive que deixar meus temores para outra hora, e me concentrar no rastro de poucos minutos que contornava a montanha pela base, subindo poucos metros de sua encosta íngreme.
- Fiquem atentos. – Murmurou Alec. – Ele sabe que estamos aqui.
Uma brisa fresca varria a encosta, agitando a orla de árvores e levantando a fumaça negra das ruas mortas de Volterra, por um breve momento senti um traço de um cheiro familiar, mas não conseguia segui-lo ou detectá-lo, e o rastro se dissipou no vento.
- Tem mais alguém aqui. – Eu disse, tentando encontrar aquele tênue rastro que se confundiu no ar. Willian e Alec trocaram olhares atribulados enquanto procuravam captar algum rastro, e foi vasculhando cada ínfimo indício de presença, que subimos a encosta escarpada dos morros de Volterra.
- É Jasper e Emmet, eles estiveram aqui não faz mais de quinze minutos. – Falei, inspirando o ar quando já adentrávamos as primeiras fendas da montanha. O cheiro de Jasper se espalhava por toda a entrada da caverna e penetrava fundo na montanha.
- Será que encontraram a criatura? – Perguntou Willian.
- Não acredito que tenham, nós teríamos ouvidos os barulhos da luta. – Respondeu Alec. Olhei para entrada da caverna que ficava cada vez mais para trás, a luz do dia morrendo sob as pedras que fechavam-se sobre nós. O caminho estreito não permitiu que Sam e Jacob entrassem, tendo eles que dar a volta na encosta até o outro lado e seguir o rastro por fora, caso a criatura tivesse encontrado uma outra entrada. Alec, Willian e eu seguimos o rastro de Jasper e Emmet por dentro, e eu não conseguia deixar de sentir a presença de mais alguém, embora o cheiro me parecesse tão distorcido e modificado.
Nós estávamos no meio da caverna quando os rugidos da criatura soaram na superfície, reverberando pelas paredes internas da montanha. 
- Por aqui. – Gritou Alec, arrebentando um dos recôncavos da caverna e abrindo uma passagem improvisada para um túnel adjacente. Corremos desenfreadamente pelo túnel cada vez mais estreito, até que avistamos a luz do dia se estender a nossa frente. Os urros da fera misturavam-se ao dos lobos e ecoavam pelas pedras como se essas conduzissem sua ferocidade diretamente para nós. Antes de cruzar a passagem, percebi com um estalo que era o cheiro de Alice que eu vinha sentindo, e nem ao menos tive tempo de pensar sobre isso, e já estávamos do lado de fora, frente a frente com a criatura erguendo-se nas pernas traseiras e sibilando furiosamente contra Jacob, Sam, Emmet e a pequena Alice que se retraía ao lado de Jasper. Minha respiração se conteve ao vê-la, e se não fosse a seriedade e urgência da situação, nada teria me impedido de correr para abraçá-la.
Alice olhou-me aturdida, seu rosto pequeno se contorcendo numa máscara de pânico. Eu podia ver seus olhos se perderem nas inúmeras possibilidades que se abriam em sua mente, e por um instante eu imaginei se nossa chegada havia bloqueado suas visões. Minha presença, bem como a interferência dos lobos, mudava tudo na perspectiva das visões de Alice, e ela agora estava cega para o que viria a seguir.
Não houve muito tempo para conversas ou estratégias, tão logo nos reunimos, deu-se início uma seqüência de ataques coodernados, sucessivos e extremamente violentos. Jasper avançou com tudo, inspirando Emmet a segui-lo em suas investidas pouco ponderadas. Sam e Jacob não ficaram para trás, e logo eu quase já não podia acompanhar tudo que se sucedia naquela cena terrível.
- Eles vão se matar. – Gritou Willian para Alec, que mantinha-se logo atrás da luta, tentando enlaçar a criatura em sua rede de torpor.
- Recuem. – Gritava Alec, mas ninguém o ouvia, exceto eu.
Eu podia sentir o quão mortal e sanguinolento a luta se tornava a cada momento, e mesmo assim obrigava-me a não desviar o olhar. Jasper investia com toda fúria contra a criatura e suas habilidades em combate o renderam vários golpes de êxito que fizeram a criatura sangrar em vários pontos de seu enorme corpo deformado. Mas isso só parecia o enfurecer mais, e em dado momento, eu pude extrair uma pequena parcela de escuridão de sua mente, e então eu sabia que ele agora estava tomado pela sede de morte e destruição.
Olhei para Alice. Ela estava imóvel, observando, aterrorizada, o desfecho sangrento daquela luta. Eu não sabia se ela se dava conta do quão próxima ela estava do combate, e antes que ela fosse pega pelo turbilhão de golpes que a teriam destroçado, eu me lancei em direção a ela e cheguei a tempo de tirá-la dali. Mas então algo aconteceu atrás de nós, e ao me virar, não consegui assimilar de imediato o quê acontecera e meio segundo após, Emmet foi lançado nas pedras, os braços parcialmente arrancados de seu corpo. Um estrondo sucedeu o impacto e o barulho me fez acordar para o fato de que aquilo era real e estava acontecendo bem ali, a alguns metros de mim.
- Emmet! – Gritei, sem saber ao certo o quê fazer ou o quê pensar. Ele ficaria bem, não é? Ele se restabeleceria em alguns minutos, certo? Minhas pernas ameaçavam ceder a qualquer momento, e com algum esforço eu me obriguei a me manter firme, não importa o quê houvesse. Alice estava trêmula em meus braços, de modo que tive que ampará-la junto a mim, não podia deixá-la. Mais uma explosão de fúria chamou minha atenção para a luta, e dessa vez eu vi Willian e Sam sofrerem sério golpes e serem arremessado para longe. Jasper investiu, Jacob o seguiu de imediato, cercando a criatura. Alec se aproximou, os olhos focados em seu propósito de abrandar a fúria do animal, mas não parecia que seria o bastante dessa vez, não quando Jasper e Jacob o estavam ferindo tanto.
Num último urro de dor e ódio, a criatura agarrou Jacob pelo pescoço e lançou-o de encontro a Alec. Meus olhos seguiram o corpo grande e peludo de Jacob ir de encontro às árvores e Alec desviar do golpe que receberia se fosse atingido e quando voltei meus olhos para a criatura, eu vi o corpo de Jasper ser levantado no ar. A pata dianteira atravessou o peito de Jasper, eu vi suas costas arquearem e seu rosto perder a expressão. Enquanto Alice gritava ao meu lado eu só pude sentir a dor dela alcançando minha mente, e quase como um instinto inevitável de destruição, eu me propaguei para dentro da mente da criatura. Ele largou o corpo abatido de Jasper e dobrou no chão com a dor que irradiava de seu cérebro primitivo. Era como segurar um laço de calor que se estende até a outra mente, queimando ambos os lados da linha tênue que nos unia, comprimindo nossos pensamentos numa só caixa de escuridão e dor. Eu não sabia como manter a ligação por muito mais tempo, e enquanto a sentia escorregar e oscilar, eu senti que meu corpo ia de encontro à criatura que se contorcia de dor.
E então eu estava fora da mente dele, perdendo por completo a ligação que me mantinha dentro dele, e ele, dentro de mim. Os olhos negros e vazios da criatura me fitavam enquanto eu me aproximava, e desviando meu olhar dele por um momento, eu vi o rosto de Jasper se contorcer e seu corpo reagir, tentando se juntar novamente. Apenas alguns passos me separavam da criatura, embora eu não soubesse o quê faria de fato quando estivesse cara a cara com ele. Eu estava quase alcançando Jasper quando ele avançou bruscamente e o abocanhou, içando-o pelo ombro e o arrastando com ele para a encosta da montanha.
- NÃO! – Ouvi Alice gritar, enquanto permanecia paralisada, vendo-o arrastar Jasper para as ruínas de Volterra, e sabendo, com um aperto de aço comprimindo meu peito, que seu veneno já corria pelas veias de meu tio.

Autora Anna Grey

2 comentários:

Não tenho palavras, sua fic é MARAVILHOSA,
Parabéns Anna,
Um grande abraço.

Essa fic esta ótima, mas esta me dando um desespero por ñ saber o q vai acontecer.

Postar um comentário

Não esqueça de comentar, isso incentiva os escritores e também a mim que tento agradar a vocês.