21 de abr. de 2011

Capitulo 11

Posted by sandry costa On 4/21/2011 No comments

Bem vinda à escuridão



es não iriam me impedir mais.
O outro dia amanheceu nublado, o que pra mim foi um alívio. Mas não poderia atacar a garota em local público. Não... Eu queria degustá-la. Prova-la como o mais caro dos vinhos. Teria que traçar um bom plano para isso. Resolvi esperar até o começo da tarde para adentrar a cidade. Estava chegando na fronteira de Biloxi no estado do Mississipi quando senti o seu cheiro. Estava fraco mas ainda assim podia senti-lo.
Segui até um grande farol branco onde seu cheiro estava um pouco fraco. Peguei no ar também um cheiro familiar. Encontrava-se na minha última vítima do Alabama. Era de um rapaz. Provavelmente o irmão da menina ruiva. O cheiro seguia para o leste, em direção às pequenas propriedades rurais. Cheguei a um estábulo onde havia quatro cavalos. O cheiro da garota estava impregnado em um deles. Resolvi olhar discretamente pela janela. A casa estava completamente fazia. Havia alguns vestígios de flores no chão, mas não achei estranho. Os humanos têm uma obsessão por esses matos coloridos.
Foi aí que senti. Um cheiro peculiar. Não era cheiro de um deles. Cheiro de um dos nossos... Um não. Dois.
O cheiro da garota havia atraído mais da minha espécie. Eu tinha que encontra-la. Agora mais do que nunca. Nenhum outro tem o direito de morde-la. Eu estava caçando há tanto tempo. Ela era minha, não podia ser de mais ninguém.
Um rastro dos três cheiros me levou até um hospital psiquiátrico. Já estava escurecendo quando cheguei. Sem sinal da humana ou dos dois outros vampiros. Não pararia de procurar até encontra-los. Olhei os quartos onde o cheiro estava mais evidente. Em um quarto o cheiro do sangue estava muito forte assim como o cheiro do veneno. Era como se ele a tivesse mordido.
Então, era isso. Eu pensei. O maldito a transformou em vampira antes de mim. Ele provou de seu sangue e depositou seu veneno imundo nela.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer, disso eu sabia. Uma ira tomou conta de mim. Nunca havia ficado tão revoltado em todo este tempo de vampiro. Saí a procura do miserável que tirou meu troféu. Não sentia mais o cheiro da humana e tão pouco me importava o outro vampiro. Agora eu queria vingança. Fui até o escritório do diretor para ver se achava alguma coisa que pudesse me auxiliar a descobrir onde encontra-lo.
Nada.
Havia uma garrafa de whisky em cima da mesa e ao seu lado uma caixa reluzente de fósforo em cima da mesa do diretor. Tsc tsc tsc, que péssimo hábito era o de fumar e o de beber. Não sabia que podia causar um... acidente? E se alguém... um vampiro de repente acendesse um fósforo e deixasse cair sobre o whisky derramado na cortina?
Saí do asilo enquanto as chamas consumiam o escritório do diretor. Minha vingança estava apenas começando. Queria encontrar o responsável pela minha ira.
Seu cheiro estava forte na direção do cemitério da cidade. Na certa, já haviam dado a menina como morta e ele foi resgata-la. Mas quando cheguei até o local, apenas um vampiro que aparentava ter trinta anos humanos estava parado, em pé, olhando para mim. Sem sinal de outros vampiros, da humana ou de qualquer testemunha. Isso não teria tanta graça. Mas queria que ele sofresse.
-         E então? – ele perguntou.
-         Então o que? – eu disse.
-         Não vai me matar?
-         Está tão confiante disso?
-         Eu sei que vai. Está em meu destino, não vou me opor a isto.
-         Então está aceitando a morte de tal maneira que não vai se preocupar se eu o matar aqui, agora mesmo?
-         Não.
-         Está louco, velho?
-         Não. – ele desviou o olhar. – Apenas acredito que minha missão terminou. Poderei descansar a minha alma, isso se eu ainda tiver uma. Mas acho que ao morrer irei recupera-la. Ela está aí, vagando em algum lugar, assim como eu.
-         Tem uma teoria bastante engraçada de como é ser vampiro, velho.
-         Mas não é o que somos? Fantasmas de alguém que já existiu? Tínhamos famílias, amigos, pessoas que se preocupavam com a gente, e de uma hora pra outra sumimos do mapa, como se tivéssemos morrido. Aí perambulamos pela Terra sem motivo algum, parasitando outras formas de vida, aniquilando outros para nos manter vivos. Isso não é estar morto? Quem quer este tipo de vida.
-         Eu quero. Eu agora tenho força, sagacidade, rapidez. Poder. – eu disse. – Eu nunca tive isso quando era humana. – eu lembrei. Eu era apenas um capataz da fazenda e tinha fugido para a floresta depois de ter seduzido a filha do meu patrão. Lá lembro que algo pulou em mim e foi minha última recordação como humano. A dor durou muito tempo e depois acordei para a minha nova vida.
-         É isso que você quer? Poder? – ele sorriu. Estava debochando. – Para conquistar o que? Você não pode se misturar na multidão. Os poderosos da nossa espécie são civilizados e você não passa de um vampirinho fajuto.
-         Não me provoque, velho.
-         Você nunca vai ser feliz, garoto. Você sempre vai parecer um animal. Agindo por instinto, matando inocentes. Sabia que mataria a menina, por isso eu a transformei.
-         Eu sei que a transformou. Por isso vim aqui.
-         Não há mais nada que você possa fazer além de me aniquilar. – ele disse.
Eu parei por um instante. Minha ira já tinha ido ao limite. Podia sentir meus instintos falando mais alto. Tinha que acabar com ele.
-         Como desejar. – eu disse, partindo para cima dele.
Quando terminei com o velho, ele não era nada além de uma grande nuvem de fumaça. Ele havia mexido com a criatura errada. Já não me importava mais a garota e o outro vampiro. Meu trabalho estava terminado.
Mal sabia eu que há muitos quilômetros de distância uma garota estava despertando para sua nova vida. Sozinha e confusa em um lugar escuro. Esta seria a sua nova vida. Bem vinda à escuridão.

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