21 de abr. de 2011

Capitulo 10

Posted by sandry costa On 4/21/2011 No comments


P.O.V – Hellena di Fontana

-Seu café esta bom? – perguntou.
Já estávamos na cafeteria há algum tempo, e como sempre acontecia, ficamos em silencio. Alec resolveu quebrá-lo, como ele sempre fazia.
-É um mocha de chocolate branco. – falei como se fosse uma resposta.
-Claro... – ele concordou sorrindo. – Tem quantos anos mesmo?
-Por que quer saber? – respondi sem nenhuma petulância na voz, apenas curiosidade.
-Preciso saber mais sobre você. Aro mandou.
-No que isso vai mudar?
-Ele não conseguiu ver sua mente, e quer saber de algumas coisas. Aro é meio excêntrico, ele gosta de saber tudo nos mínimos detalhes. – deu de ombros. Levou a xícara ate os lábios, e bebeu um gole.
-É realmente isso? – perguntei desconfiada.
-Qual seria meu outro interesse?
Fiquei muda. Realmente, qual seria o interesse dele para uma humana?
-Tenho dezesseis.
-Faz aniversario quando?
-Primeiro de abril – relutei em responder.
-O dia da mentira? – ele riu.
-Essa é uma data originalmente americana.
-Eu sei. – disse presunçoso. - Qual o seu bale favorito?
-Isso importa mesmo? – suspirei.
-Não. Só estou curioso.
-O lago dos cisnes.
-É por isso que sua amiga te chama de cisne? – franziu as sobrancelhas.
-Ah... – fiquei muda. – Como você...  Claro. A audição super sensível. – cruzei os braços. – Não sei, ela disse que danço como um cisne.
-Como se ela já tivesse visto um cisne dançar. – sussurrou para si mesmo.
-Ah ta. – revirei os olhos. – Já não duvido de mais nada.
-Tem a audição bem boa. – falou parecendo realmente surpreso. – Falei muito baixo.
-Que seja. – desdenhei com minha mão.
-O que menos gosta?
-Não tem um BALE que eu menos goste. – passei a me envolver com a conversa. – Eu não gosto do terceiro ato de lago dos cisnes. O cisne negro.
-Por quê?
-O príncipe age como um idiota. Ele se deixa cegar por um encanto estúpido, e acaba magoando Odette. Ele trai ela.
-Na verdade, ele a trai sem saber.
-Ele jura amor à outra mulher, que ele viu Odette. Mas se ele tivesse olhado melhor, quer dizer, sentido melhor, ele perceberia que era na verdade Odile. Ele apenas viu o exterior, não teve a capacidade de sentir. Ele não amava Odette o suficiente para perceber a diferença.
-Acha mesmo isso?
-Acho que ele era um cego estúpido, que só ligava para o que ela perecia ser. A coisa que o fez conhecer a princesa, foi a beleza do pássaro que ela era, depois a beleza de mulher dela. Quando percebeu que havia perdido Odette e Odile, foi atrás da princesa para se desculpar.
-Isso para mim é amor.
-Não, isso é culpa. E ai ele morre. A morte pelo amor. – bufou.
-Agora sei por que Aro não te matou. – abaixei os olhos em direção ao biscoito que veio acompanhando minha bebida. – Hellena. – sussurrou meu nome com o seu sotaque italiano. Olhei para ele, estávamos sentados tão próximos que eu podia sentir o frio de sua pele. Segurou com delicadeza meu pulso.
Não disse nada, apenas olhou para a minha pele morena clara. Traçou o caminho das linhas de minha palma. Recuei minha mão, mas ele não dissolveu o aperto.
-Você tem que tocar em tudo que vê?
-Gosto de sentir as coisas. Vai me ver freqüentemente tocando em tudo. – a forma que disse freqüentemente fez com que eu me sentisse estranha.
Desviou os olhos dos meus, e subiu os dedos mais firmemente por minha mão. Traçou a teia de veias azuis de meu pulso, como que com fome.
-Não vai cair na tentação vampirinho. – ri. Ele riu junto comigo. – Há quanto tempo não come?
-Pouco tempo... – deu de ombros.
Roçou as pontas deles mais acima do meu pulso, subindo por meu antebraço. Na hora em que seus dedos tocaram nas finas cicatrizes esbranquiçadas e quase invisíveis, percebi o que ele queria.
-O que é isso Hellena? – disse com a voz rouca e baixa. Ergueu as íris claras para o meu rosto, me olhando levemente de baixo, como se fosse beijar a minha mão, e recuasse.
Dessa vez consegui me desfazer de seu aperto. Puxei a manga da minha blusa de volta, apesar do calor que sentia. Às vezes eles exageravam com a calefação.
-Isso vem do tal papo de “aliviar dor com mais dor” que Aro disse?
-Faz algum tempo que eu parei com isso. – desviei o olhar.
-Espero que sim. – disse com a voz fria. Seus olhos pareciam pretos de tão escuros que ficaram. – Qual musica mais gosta de tocar? – sua voz ainda possuía o tom enegrecido de seus olhos.
-Não sei, faz muito tempo que não toco. Mas... – pensei um pouco, e uma resposta sagaz preencheu meus lábios. - Acho que gosto mais dos noturnos. – dei minha resposta de segundas intenções.
Me encarou abertamente, sentindo o ar de especulação em minha voz, e a minha grande capacidade de figuras de linguagem. Sorri convencida, e me sentindo vitoriosa de deixar-lo sem palavras.
-Musico? – continuou com o interrogatório.
-Debussy, Clementi... – dei de ombros.
-Ler?
-Ham... Meus gostos para leitura lembram uma menina de cinco anos. – comentei constrangida.
-Para quem tem tantos livros.
-Eu gosto muito de livros de literatura fantasiosa, o mundo em si já é muito chato, porque eu deveria ler sobre ele também? – mordi um pedaço de um biscoito de aveia.
-Gosta bastante da Itália. – não era uma pergunta. – Seu sobrenome é italiano, mas creio que não nasceu aqui. – ele mudava de assunto como quem muda de roupa.
-Não... Eu sou do Brasil. Minha família por parte de avó morava aqui, mas na segunda guerra fugiram para o sul do Brasil. Meus pais se conheceram lá, se casaram. Eu nasci lá. – desviei meus olhos em direção a uma janela. – Quando eles morreram, eu estava na casa de minha avó. O mais obvio era eu me mudar para a casa dela e viver o resto da minha adolescência lá, mas ao abrirem o testamento, descobriram que eu tinha uma bolsa em um colégio interno aqui, e por aqui fiquei.
Alec de um gole na água com gás que sempre acompanha os cafés.
-Sempre vou para o Brasil passar os natais, e datas de feriados, mas o dinheiro não é infinito. Sou muito ligada as minhas irmãs por parte de pai, mas não tenho ido muito mais para o Brasil, esse ano não vou passar o natal nem o ano-novo com eles.
-Por quê?
-Eu teria uma apresentação de natal aqui. A faculdade sempre encontra uma desculpa para inventar apresentações, e as datas comemorativas são as mais usadas.
-Fará que papel?
-Não tem um exato papel, eu fui tirada da apresentação de natal, e me mudaram para me apresentar no carnaval de Veneza. Em fevereiro. Quer ver?
-Seria ótimo. – ele concordou com a cabeça.
Olhei meu relógio de pulso, vendo que ainda tinha uns quarenta minutos.
-Temos tempo para um tour por Verona... – sorri atrevida. – Creio que não conhece a cidade. – dei meu ultimo gole.
-Dei uma voada por cima. – deu de ombros.
-Que ótimo, vai poder me explicar melhor essa “voada” e ainda vai conhecer meu lugar favorito aqui em Verona. – tirei uma nota da bolsa, mas ele me impediu, colocando antes de mim.
-Estou louco para conhecer esse lugar.

O lugar que eu pretendia levá-lo era o jardim mais lindo de todo o mundo, o Giardino Giusti. Tudo bem que estávamos no inverno, mas ele era lindo em qualquer época do ano.
Seguimos pelo centro, andamos de longe pelo Anfiteatro Romano, passamos pela ponte Nuovo e fomos pela via Ca Rducci. Foi uma boa caminhada, mas fizemos em cerca de vinte minutos.
-Foi criado no século XV – comecei a ensinar um pouco da historia, mesmo prevendo que ele já devia saber de tudo aquilo. Seguimos pelo caminho de cipestres, nos deleitando com o suave sossego e o cheiro de arvores. Nem estava tão frio, deveria estar uns vinte graus, o ápice do inverno era mais para perto do natal.
-É realmente lindo. – comentou depois que subimos no observador.
-Sempre venho aqui quando quero pensar, ou quando estou triste. – tracei os caminhos dos labirintos com os olhos. Voltei-me para Alec. – Que tipo de pássaro você vira?
-Um falcão. – disse lacônico. – Eu não me transformava muito, não gostava de usar essa magia. Mas depois que o fiz pela primeira vez... É uma sensação muito boa. – respirou fundo.
-Aro tem o mesmo dom de ver mentes com um toque, mas você e Jane têm mesmo aqueles dons?
-Tenho. – sorriu em minha direção, e vi em seu sorriso os longos e pontudos caninos. Estranho, eu não havia visto esses dentes em Aro, e em nenhum outro deles.
No minuto seguinte senti uma leve cegueira, e era como se eu estivesse mergulhada na inércia.
-Pare Alec. – reclamei rindo.
-Nossa. Parece que você tem alguma coisa protegendo sua mente... – falou ofegante. Minha visão foi se estabilizando devagar. Olhei meu relógio, como eu costumava fazer freqüentemente, e vi que tinha pouco tempo para voltar.
-Tenho que voltar para a faculdade.
-Quer que eu te leve? Faço o caminho em menos de dez minutos.
-Hoje não, eu comi demais. – ri. – Quando nos veremos de novo?
-Quando quiser, você tem meu telefone. – virou-se de costas e sumiu entre as arvores

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