Minha nova família
Continuei por minha rotina durante muito tempo. Matar bandidos, beber seu sangue, roubar roupas, fugir e me esconder. Sempre que previa a chegada de um tipo da minha espécie, escapava, como mandava a carta. Eu já havia perdido a noção de tempo, mas sabia que os anos estavam passando. As roupas mudavam, os ares, as cidades, os costumes. Passei a observar de longe o comportamento humano na tentativa de um dia poder interagir com eles. Pude observar a evolução que sofreram nos anos. Mulheres saindo de suas casas para trabalharem fora, mudança de presidentes, mudança de costumes, mudança de roupas. Esta última eu acompanhava bem, já que ainda continuava com o meu hábito de roubar roupas. Sabia que era um péssimo hábito, mas era algo que me agradava muito, me vestir bem.
Visitei a maior parte dos estados, indo também ao Canadá e ao México, mas nunca indo ao antigo continente. Certa vez, eu cheguei bem perto. Estava andando pela South Street Seaport, em New York, quando avistei o porto. Um navio cargueiro transportaria frutas para a Inglaterra. Eu estava cansada dos mesmos ares, das mesmas cidades. Em três anos já havia percorrido a maior parte do país e duas vezes por algumas cidades. Poderia ir para o sul do continente, mas acreditava encontrar a mesma coisa.
Parei em frente ao navio.
É isso. Eu pensei. Fico aqui, contrario minha vontade de conhecer o mundo. Vou e contrario “o Caro Amigo”.
Era tentador a oferta de ver novos lugares, mas o Caro Amigo dizia na carta que era mais prudente ficar no novo continente.
Se bem que ele não está aqui para me dizer o que devo fazer. É só um pedaço velho de papel. Eu tirei o velho pedaço amarelado de papel da minha bolsa. Já havia lido tantas vezes que já tinha decorado todas as palavras. Caro amigo, sinto desaponta-lo, mas eu vou trilhar o meu próprio rumo. Pensei.
Subi até o navio e me endireitei em um compartimento de cargas. Sabia que dentro de duas horas o navio iria sair com a nova clandestina. Animava-me com a idéia de estar em outro lugar, em outro continente, de ver novas coisas, novos costumes e, também, novos modelos de roupa.
Ouvia a agitação dos tripulantes, apressando-se para o embarque e saída do navio. Estava pensando na possibilidade de encontrar outros da minha espécie quando um clarão em minha mente se fez e então, eu vi. Eu o vi entrar em uma lanchonete na Filadélfia. Ele ela tão pálido quanto eu, mas tinha cabelos dourados e rebeldes. Seus olhos eram de um tom escuro, um tom púrpura escuro e seu olhar era desconfiado. Mesmo com as cicatrizes ao longo do rosto, era a criatura mais bela que já havia visto. Eu me vi indo até ele e ele finalmente sorriu para mim.
Eu nunca tinha visto aquela criatura, mas com certeza era como se já tivesse visto aquele ser em algum lugar, como se ele me pertencesse e eu o achara. Seu nome era Jasper.
- Preciso encontra-lo. – eu disse a mim mesma. Não pensei duas vezes em sair do navio.
Desci até o estado da Pensilvânia para encontrar este misterioso ser. Corri o mais rápido que consegui, o mais rápido que eu havia tentado até aquele instante. Em menos uma hora já tinha atravessado o Estado de New York e cheguei até Filadélfia. Passei um bom tempo procurando o local da minha visão. Encontrei.
Eu já tinha um certo controle em relação aos humanos. Eu os via como pessoas e isto facilitava muito o contato. Os bandidos, eu os via como animais selvagens, então eu conseguia beber seu sangue sem piedade. Com estes pensamentos, entrei e sentei-me em um banco no balcão. A garçonete me ofereceu alguma coisa e eu disse que estava esperando por alguém.
Esperei por uma hora inteira... Nada.
Esperei por duas horas... Tampouco.
Esperei por cinco horas... Mas será que ele nunca vai chegar? Eu pensei. Minha impaciência estava me matando. Minha ânsia por vê-lo com meus próprios olhos estava me corroendo. Não sentia dor, apenas angústia.
Estava distraída, observando uma senhora dar de comer a seu neto quando ele finalmente chegou. Estava chovendo e seus cabelos estavam levemente molhados. Seu olhar era melancólico e parecia estar desconfortável por entrar num ambiente cheio de humanos. Seu cheiro era como o meu. Era doce, suave, talvez um pouco menos que o meu.
Então, ele me viu. Não me contive e fui diretamente onde ele estava. Sua reação foi defensiva. Ele se encolheu um pouco, pareceu meio tenso, então eu sorri para ele. Estava feliz por ele estar ali, por estar com ele, em sua presença. Meus sentimentos estavam florescendo e eu sentia algo novo, algo fabuloso. Eu nunca tinha lido ou ouvido falar em nada daquilo. Algo que eu tinha dentro do peito começou a apertar. Ele olhou para mim, ainda curioso, mas relaxou a sua fisionomia.
- Você me deixou esperando por muito tempo. – eu disse, sorrindo.
- Eu lamento, madame. – ele disse, com um sorriso. Sua voz era forte, mas ao mesmo tempo era tão doce.
Num gesto involuntário, levantei minha mão para afagar o seu rosto. Quando toquei, ele segurou a minha mão. O toque de sua pele era tão bom, tão macio e quente, como jamais havia experimentado. Sua expressão ficou mais serena. Ele já não estava com receio de me tocar. Ele queria aquele contato, eu podia sentir isto.
- Sou Jasper. – ele disse.
- Eu sei. – eu sorri. – Sou Alice.
- Alice, eu não sei o que aconteceu aqui e não sei como é ter estas emoções que estou vindo. Você me traz paz. Eu a seguirei pelo resto da minha vida imortal. – ele disse, e sorriu. Eu sorri com a felicidade de não ter que passar minha eternidade só e mais do que isso. Eu estaria com ele.
Saímos da lanchonete pois a tempestade havia passado. Muitos já nos olhavam e não queríamos levantar hipóteses.
Saímos andando pelas redondezas da cidade. Ele me contou sua história, de como se tornou vampiro, sobre a sua família antes de ser o que é. Quando foi a minha vez, eu tentei lembrar de tudo o que havia vivido antes de me tornar o que sou.
- Não consigo lembrar de nada.
- Nada? – ele perguntou.
- Absolutamente nada. – eu confirmei, explicando a ele o conteúdo da carta, sobre minha habilidade de prever o futuro e de como eu distinguia os bandidos que iriam atacar minhas vítimas para poder me alimentar.
- Isto parece ser mais justo. – ele refletiu. Sabia que ele devia ter matado alguns inocentes para poder se alimentar, mas não precisava ser assim para ele. Ele estava comigo, agora. Um novo estilo de vida poderia começar.
Viajamos por outras cidades ao longo dos meses. Eu sempre prevendo alguma tentativa de assalto, estupro, roubo ou assassinato e ele ajudava a fazer com que a vítima estivesse mais relaxada. A vida estava maravilhosa com Jasper, mas ainda assim faltava uma coisa.
Estávamos nas proximidades do Estado de Washington quando de repente eu os vi.
Jasper já estava acostumado com as minhas visões repentinas. Sabia como se portar. Antes era muito engraçado. Seu desespero por me ver paralisada e olhando fixo me rendia algumas risadas depois. Mas desta vez eu não vi o jantar. Eu não vi algo ruim. Pela primeira vez eu os vi. Eram cinco. Cinco da minha espécie. Três machos e duas fêmeas. Um deles era loiro e tinha uma feição muito séria, porém acolhedora. O outro era enorme, de cabelos escuros e cacheados e estava sorrindo. As mulheres tinham cabelos ondulados, mas uma era loira e a outra tinha cabelos caramelos. O último tinha cabelos bronze e olhar triste. Senti uma grande afeição por ele. Chamavam-se Carlisle, Emmett, Rosalie, Esme e Edward. Eles viviam na Península Olympice viviam em uma grande casa com vários quartos. Mas o mais curioso é que eles se alimentavam de sangue de animal, e não de humanos como eu e Jasper.
Assim que minha visão acabou, contei para Jasper o que vira.
- Sangue de animal? – ele me perguntou.
- Sim. Soa estranho, mas parece mais justo que beber sangue das pessoas.
- Mas só bebemos o sangue de quem não merece viver. – ele disse.
- Sim, mas e quando tivermos exterminado todos os bandidos? Vamos começar a matar inocentes? – eu perguntei. Ele refletiu um pouco e viu que meus pensamentos faziam sentido. Uma hora, teríamos que começar a matar vítimas inocentes quando não achássemos mais bandidos para matar. Mataríamos uma mãe de família? Um pai que sustenta uma casa? Uma criança que tem a vida inteira pela frente?
- E onde podemos encontra-los? – ele me perguntou, parecendo um pouco convencido.
- Estamos perto, podíamos ir até eles. Vi que dois dos machos estão caçando. – eu disse, sorrindo triunfante. – Vai ficar tudo bem. Eu sei.
- Eu sei que você sabe. – ele sorriu e eu também.
Saímos a procura dos dois vampiros, Edward e Emmett. Não demorou muito e os encontramos, bebendo sangue de um cervo. Edward levantou antes que eu me aproximasse e ficou na defensiva.
- Olá Edward. Emmett. – eu disse, enquanto sorria. O maior se assustou e se preparou para atacar, mas o mais jovem fez sinal para que parasse.
- Ela não pretende fazer nada, Emmett. Ela só quer se apresentar.
- Meu nome é Alice e este é o Jasper. Eu vi vocês em minhas visões e queríamos nos juntar a família de vocês.
- Em suas visões? – Emmett me perguntou.
- Sim, eu consigo prever o futuro. É meio incerto, consigo vê-lo quando decisões são tomadas. Eu os vi aqui pois vocês resolveram caçar.
- Sei como é. – Edward falou. – Eu posso ler os pensamentos dos outros, vampiros ou humanos.
Deixei que ele percorresse pelos meus pensamentos. Expliquei como havia encontrado Jasper, como nos alimentávamos e como eu queria mudar de vida.
- Ele não está muito feliz com a sua escolha, você sabe disso, não sabe? – Edward me disse, apontando para Jasper.
- Sim. Eu sei, mas ele se acostumará. Eu sei. – eu disse. Uma pausa de fez. Olhei para Jasper e ele estava tentando induzir os dois a nos aceitarem.
- Está bem. Você pode ir até nossa casa e falar com Carlisle. Se ele aceitar, você poderá ficar conosco. Você vai seguir...
- Saberei onde encontra-lo. – eu sorri, puxando Jasper pela mão. – A propósito, Edward. Você tem um belo quarto, com uma bela vista.
- Eu sei, e é melhor você ficar longe dele. – ele me disse enquanto sorria. Algo me dizia que seríamos grandes amigos.
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