Boas Mudanças
Acredito que minha adaptação ao meu novo estilo de vida foi muito boa. Eu realmente gostava de estar rodeada pela minha nova família e por Jasper. Beber sangue de animal não era tão saboroso quanto era beber sangue humano, mas era necessário e conseguia me nutrir. Passados alguns anos, meus olhos e os de Jasper mudaram de coloração. Agora estavam dourados como o do resto da nossa família.
Para Jasper estava sendo difícil se adaptar. Na península Olympic, por causa de um tratado feito entre Carlisle e o povo indígena da região, os Quileutes, estava ficando difícil manter a discrição. Mudamos várias vezes de lugar, entrando em várias escolas, num ciclo de ensino médio e formaturas. Ficávamos restritos à área urbana e isso ainda era difícil para Jasper e Emmett. Emmett muito menos, mas a poucos anos antes da nossa chegada, ele teve um grande deslize, matando uma camponesa que lavava suas roupas. Então Carlisle decidiu que nós iríamos passar uma temporada em Denali, no Alasca, com a família de vampiros que habitava lá. Rosalie odiou a idéia, não gostava de lugar onde não podia expor a sua beleza. Eu também não gostei muito de ir para lá. Os Denali eram criaturas educadas e civilizadas, mas só se importavam com seus próprios interesses. Principalmente Tanya, cujo objetivo de conquistar Edward me dava nos nervos. Todos os dias era uma nova tentativa de conquista-lo e aquilo era engraçado. Ela tomava uma decisão, eu a via e conseqüentemente Edward a via também. Logo, ele se esquivava. Era uma parceria interessante, Edward e eu. Quando jogávamos algo em grupo, era sempre muito injusto quando éramos da mesma equipe, e quando ficávamos em equipes separadas o jogo não andava. Então quase nunca nos deixavam jogar e passávamos a nossa maior parte do tempo conversando. Lembro-me que certa vez estávamos passeando por uma pequena vila, tentando interagir com os humanos, mas sem um contato mais profundo.
- Carlisle está pensando em voltar para Washington, você sabia disso? – eu perguntei inutilmente. Claro que Edward sabia. Eu apenas ri da minha colocação.
- Acho que será mais saudável para nós. – ele sorriu. Sabia que estava cansado das investidas de Tanya, portanto estava louco para sair de lá.
- Também podemos tentar um contato mais profundo com os humanos. Quer dizer, já estamos no ensino médio, alguns de nós já foram para a faculdade, mas nunca fizemos amizades humanas...
- Você acha prudente nós termos um contato com humanos, Alice? – ele me perguntou.
- Porque não? Carlisle consegue.
- Carlisle tem mais de trezentos anos de experiência e nunca provou sangue humano. – ele me disse, parando e sentando em um banco ao lado de uma loja vazia. – É diferente. Ele não precisa se controlar tanto quanto nós.
- Mas não precisa ser assim. – Nós temos que tentar. Edward, nós não somos tão diferentes deles como pensamos. Também temos emoções, também temos sentimentos.
- Fale por você. – ele me falou, amargamente. – Eu não sei o que é ter medo, coragem, tristeza, alegria, ódio... amor. Eu não tenho um coração palpitante para que eu possa sentir esse tipo de emoção.
- Mas eu li que estas coisas não são fisiológicas, Edward. Sentimos com a alma.
- Alma? Alma? Alice, por favor, não me faça rir. – ele se pôs de pé, ficando de costas para mim, virando-se rapidamente para fitar o meu rosto. – Estamos fadados à escuridão. Isto não é vida. Não, isto é apenas uma existência.
- Não se entregue assim, meu irmão. Eu sei que você tem amor por nós, por sua família, você mesmo nos disse. Como alguém que sente amor por seus entes queridos não tem uma alma?
- Eu os quero muito bem, até mesmo a Rosalie. – ele disse e por um momento sorriu. Eu sabia que Rose tinha sido criada para ele, mas sabia que meu irmão não gostava muito das loiras. – Mas não é o mesmo que você sente por Jasper, ou o que Emmett sente por Rose, ou o que Carlisle sente por Esme, e vice versa. Eu posso ver, eu posso ouvir os pensamentos, apesar de tantar bloqueá-los, mas você não sabe o quanto o amor de todos vocês grita alto. É como se no íntimo de cada um vocês quisessem que o mundo inteiro soubesse como é bom amar. E não são apenas vocês. Eu vejo isso com os humanos. Você não faz idéia de como é ser sozinho.
Eu parei, peguei em suas mãos e olhei fundo em seus olhos.
- Você nunca estará sozinho. Você tem a mim. Você tem ao Jasper, e toda nossa família. Nós amamos você e estaremos sempre a seu lado. Nunca deixarei que mal algum te aconteça. Nunca deixarei que nada o machuque. Eu irei até o inferno por você ou em qualquer outro lugar para te buscar e te guiar porque você é meu irmão e é a quem confio todos os meus segredos.
- Você os confia pois não consegue esconde-los de mim. – ele sorriu e eu sabia que seu humor estava melhor. Eu ri, mostrei-lhe a língua e então fiz uma bola de neve e joguei nele. – Então, temos um trato. Tentaremos nos familiarizar mais com os humanos, quem sabe e você poderá me resgatar no inferno qualquer dia desses.
- Também vai deixar eu escolher o meu quarto primeiro na nova casa e cuidar do guarda roupa de toda a família. – eu disse.
- Alice... você JÁ faz isso. – ele disse.
- Eu sei. Mas é bom reforçar. – eu sorri, enquanto levantava de onde estava. – Uma corrida até nossa casa. Quem perder vai ter que ir caçar ursos com o Emmett.
- Sua trapaceira, você viu que você vai ganhar e... – antes que ele terminasse eu já havia começado a correr na sua frente. Edward era mais rápido do que eu, mas com certeza eu era muito mais esperta.
Dois meses depois da nossa transferência, chegamos à pacata cidade de Forks. Era muito pequena, já havia passado por lá antes. Esme conseguiu uma casa nos arredores da cidade, onde poderíamos estar mais a vontade com o nosso segredo. É claro, meu quarto e meu banheiro eram os maiores, como também era o meu closet. Era bastante claro, arejado e agradável. Logo Rosalie, Edward e Emmett ganharam carros para que pudéssemos nos locomover dentro da cidade. O de Rosalie, sua BMW vermelha ficava na maior parte do tempo dentro da garagem. Apenas quando íamos a outra cidade longe de Forks o carro podia ser usado para não chamarmos atenção.
- Porque eu não posso ter meu próprio carro, Carlisle? – eu perguntava quase todos os dias.
- Alice, - ele me explicava pacientemente. – Você aqui tem 15 anos. Não quero problemas com o chefe Swan.
- Mas Edward tem a mesma idade do que eu e tem carro. – eu batia o pé.
- Sabemos que Edward é um pouco mais velho do que você. – ele sorria.
- Sim, mas... mas... ah! Desisto.
- Talvez depois, baixinha. – Emmett falava, enquanto passava com a chave de seu Jeep pendurada acima da minha cabeça. Se Emmett não fosse tão grande, eu juro que eu o derrubava de jeito.
Dois anos se passaram e minha tentativa de interagir com os humanos era praticamente nula. Tentava ser simpática com algumas meninas, mas Edward sempre me precavia de como algumas delas eram interesseiras. “Os irmãos dela são lindos. Será que ela me arranja um encontro com Edward?” “Eles são tão ricos. Posso conseguir muita coisa sendo amiga dela.”
Não podia fazer esportes por eu ser mais forte e mais rápida do que eles. Não podia ser líder de torcida pois um pulo que eu desse seria três vezes maior do que o de qualquer ginasta olímpica. Nem fazer parte do clube de xadrez eu podia pois Carlisle disse que meu poder de prever decisões seria extremamente injusto com os demais. E para prever as ações as quais vale a pena investir na bolsa de valores não era injusto? De qualquer forma, eu me sentia excluída de tudo e de todos na escola. O que me confortava é que estava levando uma vida aparentemente normal. Aos fins de semana nós íamos caçar nas montanhas com o pretexto de que íamos acampar.
Numa dessas caçadas eu a vi.
Seus longos cabelos escuros e olhos castanhos expressivos. Seu rosto tinha um formato de coração estranhamente familiar. Ela era tão branca, mas não chegava a ser pálida como a gente. Se chamava Isabella. Bella. Ela não gostava quando a chamavam pelo nome. Era filha do chefe Swan e viria morar em Forks por uma decisão imediata. Seu futuro na cidade ainda era incerto, mas algo que eu não sabia o que era me deixava extremamente feliz. Era como se eu a conhecesse. Como se ela fizesse parte de mim. Foi a primeira vez que sorri em uma das minhas visões.
Edward veio até mim, pensativo.
- O que você prevê, Alice? – ele me perguntou.
- Vejo mudanças. Boas mudanças. – eu disse e sorri.
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