3 de jul. de 2011

Capitulo 13

Posted by sandry costa On 7/03/2011 3 comments

Tristes melodias de um vampiro Cego


As noites passavam amargas e solitárias, a linda lua da Itália não permitia que meus sentimentos de dor e perda fossem banidos de meu coração, e mesmo a brisa cálida que soprava nas madrugadas não era capaz de afastar meus receios. Noite após noite eu ouvia o uivo lamurioso de Quil, um uivo de lamento de um lobo solitário e apartado de sua matilha; mesmo sem compreender eu sabia que aquele uivo continha um chamado distante por seus companheiros.
Era terrível não poder saber as notícias... de Edward, Jacob ou qualquer outro. A perda de Emett e Rosalie me cortava por dentro como adagas afiadas, meu coração imóvel sangrava toda vez que pensava neles; às vezes, em minhas lembranças lentas de vampira, eu jurava poder ouvir ao longe o riso debochado de Emett, ou o som melodioso da voz de Rosalie... ambos perdidos para sempre.

Mas a maior apreensão e dor vêm de Renesmee. Minha tentativa frustrada de salvar as pessoas no navio Volturi custou minha filha, Nessie agora é prisioneira do poder de Chelsea que liga qualquer vampiro aos Volturi de forma irremediável. Tenho medo que a mente de minha filha acabe vagando de uma vez por todas para uma fidelidade a estes vampiros malditos... se eu perder Nessie, perderei a única coisa que me mantém viva.
Nesta torre solitária eu aguardo há dias pelo retorno de Renesmee que saíra junto de Caius e seus lacaios para espalhar o terror em nome dos Volturi... um arrepio de medo percorre minha espinha só de imaginar Nessie tendo parte nos assuntos sombrios dos três irmãos. Ao menos eu tenho a promessa de Aro de que Nessie não será alimentada com sangue humano, o que, dadas as atuais circunstâncias, já é alguma coisa.
Alice, como sempre, viera me ver ao fim da tarde e agora, nesta madrugada irritantemente silenciosa, eu sinto a falta dela.
- Bem... – disse-me ela mais cedo – Ao menos seu passeio pelo pátio do palácio serviu para alguma coisa, não é mesmo?
- Eu não entendo esta obsessão repentina de Aro por mim – respondi um pouco desconfortável.
- Ah, Bella... me poupe – disse Alice impaciente – Ele se interessou por você desde a primeira vez que a viu quando viemos a Volterra impedir Edward de se matar.
- Não me lembre disto. E pensar que se eu não tivesse feito a besteira de me jogar do penhasco... nada disso teria acontecido...
- ... inclusive – emendou Alice rapidamente – Você teria permanecido em Forks e hoje estaria casada com Jacob e com uns três lobinhos te rodeando.
- Bem... ao menos os Cullen estariam em paz.
- Ora Bell, você não pode se culpar por isso. Bem, mudando de assunto antes que nós duas fiquemos deprimidas... acho que Aro a considera peculiar, afinal, o que o fascina é o mesmo que fascinou Edward.
- Quer seria?
- Edward e Aro são leitores de mentes, claro, ambos ao seu próprio modo... mas eles compartilham este dom; Aro considera você uma incógnita porque é a única vampira que ele não pode simplesmente ler o pensamento. Assim, como você interessou Edward, também interessou Aro e acho que sua beleza de vampira acabou conciliando as coisas fazendo com que ele simplesmente... bem, te desejasse.
- Você tem alguma noção do quanto isso é inoportuno e perturbador? – eu disse encarando Alice.
- Eu sei... eu sei – respondeu ela numa fungada – Mas já discutimos isso antes e decidimos que você não tem escolha.
- Temo que Aro leia os seus pensamentos e descubra estas suas tramóias – falei com medo genuíno.
- Acho que não... Aro não prestará atenção em nossas conversas, por mais absurdo que pareça ele é um cavalheiro e não estará interessado nas fofocas de duas garotas.
- Espero que tenha razão, porque isto tudo está ficando cada vez pior.
- Bella... confie em mim. Além do mais, pior não pode ficar.

“... pior não pode ficar”. As palavras de Alice flutuaram à minha volta, sem saber notícias de ninguém, ou mesmo sabendo se estavam vivos ou tinham fugido para longe e nos abandonado à própria sorte, eu permanecia noite após noite na janela desta torre imensa sem saber o que desejar ou em que ter esperanças.
Minhas forças se esvaindo e me deixando cada vez mais triste e desamparada... Edward estaria realmente vivo? Se sim... onde estaria? E Jacob? A lança transpassara seu corpo e eu pude ouvir seu coração parar de bater... teria meu Jacob Black morrido? O Jacob de Nessie?
E justamente quando o pânico ameaçou se instalar em meu peito, quando eu arqueei em busca de ar, ouvi quando o guarda na porta se postou rígido em posição de respeito... e isso só significava uma coisa: Aro estava presente.
Com um leve resfolegar a porta se abriu e Aro entrou flutuando pelo quarto envolto na penumbra, eu tentei de todas as formas me lembrar do plano de Alice, mas não consegui; ali estava o vampiro que destruiu tudo o que eu amava, tentei manter a complacência, mas meu rosto assumiu automaticamente uma expressão de indiferença.
- Boa noite, Isabella – disse Aro com sua voz doce.
- Um pouco tarde para visitas... Aro – eu respondi com um quê de impaciência e ele riu, Aro se deliciava com minha rebeldia como se fosse o comportamento mais charmoso que existisse.
- Sim, me perdoe por minha súbita aparição, mas eu vim lhe trazer um presente.
Eu não demonstrei qualquer reação, qualquer coisa vinda de Aro seria recebia com desgosto, por mais que eu me esforçasse em levar o plano descabido de Alice à diante, estava se tornando impossível olhar para Aro Volturi sem a vontade de decapitá-lo. Ao menos era esta a minha intenção até que Chelsea entrou no quarto com Renesmee seguindo-a de perto. 
- Filha? – eu chamei, minha voz saindo num sussurro rouco.
- Chelsea, por favor, liberte Renesmee – ordenou Aro.
Eu encarei minha filha e neste breve segundo não a reconheci, seus olhos tão familiares, de um castanho amendoado na mesma tonalidade e forma dos meus olhos quando humana me encaravam com desdém; eu percebi imediatamente a semelhança daquele olhar, um olhar que lembrava indubitavelmente Jane Volturi; frio, indiferente... distante.
Chelsea não pareceu se importar em desativar seu dom, num segundo os olhos de Renesmee piscaram e parecerem recobrar o brilho inocente de sempre, ela pareceu despertar de um sono profundo e se assustou ao me encarar naquele quarto estranho.
- Mãe? – ela chamou surpresa correndo para os meus braços e afundando o rosto em meus cabelos.
- Oh, Nessie... Nessie, minha filha... – eu disse sentindo seu cheiro e deixando a saudade extravasar para fora.
Eu levantei os olhos e vi que Aro estava satisfeito com a cena, ele sussurrou um “como prometido” para mim e deixou o quarto silenciosamente, eu fiquei confusa com o ato do Volturi, sabia que Aro havia desenvolvido uma afeição estranha por mim, mas o pior, sem dúvida, é que ele estava fazendo o possível para provar que este sentimento era verdadeiro.
E isto era assustador.

- Mãe... o que está acontecendo? – Nessie perguntou com lágrimas nos olhos, ela parecia assustada e confusa – Eu simplesmente comecei a segui-los, seguir Caius e fazer tudo o que ele pedia, uma coisa absurda, eu nem ao menos pestanejei, nem titubeie... simplesmente segui os Volturi.
- Está tudo bem, Renesmee – falei consolando-a – Está tudo bem, querida, você está sob o domínio de Chelsea, ela tem o dom de desfazer os laços que unem as pessoas e ligá-los aos Volturi. Você está sendo controlada.
- Mas eu não ligo para nada a não ser eles – ela choramingou – É horrível, eu me esqueço de você, do meu pai... de Jake.
- Renesmee... você não tem culpa de nada – falei com firmeza e a carreguei para a cama onde deitamos juntas uma ao lado da outra, Nessie passou a mão pelo meu rosto e um sorriso triste se desenhou em seus lábios rubros.
- Eu senti sua falta, falta do seu rosto... amo você antes mesmo de nascer.
- Eu sei...
- Não deixe eles me levarem para longe novamente.
- Ah, meu amor – eu disse abraçando-a com força – Você precisa ser forte, precisa ser forte por nós duas... logo este martírio irá terminar, eu estava morrendo de preocupação, Aro não me disse aonde vocês foram e só de te imaginar com aquela maldita Jane.
- Oh, ela é terrível – disse Nessie me olhando desesperada – É a criatura mais vil e cruel que eu conheci, pura maldade, não há nada nela que não seja sádica e diabólica. Nem mesmo o mar a faz sorrir.
- O mar? Vocês estiveram na costa?
- Sim, no Mediterrâneo, os Volturi têm uma imensa propriedade lá, um palacete à beira mar quase do tamanho de Volterra... é lá onde moram Flávius Aurélius e todos os Mercadores da Morte.
- Ah, então é em outro lugar que os Volturi escondem seu exército... imaginei que não seria em Volterra, eles não teriam espaço para esconder tantos vampiros. Aliás, Nessie... onde eles conseguiram um exército tão grande? Garret e Carlisle imaginavam que os Mercadores da Morte já estavam quase extintos.
- Pelo que sei, e só sei por que Jane faz questão de salientar isso... Caius recrutou e criou vampiros nos últimos 10 anos para refazer o exército. Aro não viu necessidade, mas Caius convenceu Marcus de que os Volturi estavam muito fragilizados e com dois votos contra, Aro não teve escolha a não ser ceder e permitir que Caius reerguesse novamente os Mercadores da Morte e lhes desse o brilho que outrora tiveram.
- Entendo...
- Mãe – ele perguntou me olhando com atenção – Por acaso tia Alice teve alguma... notícia?

Eu encarei Renesmee e no momento em que falaria sobre o plano de Alice, sobre o fato de sua tia estar evitando ter visões para alertar os Volturi... eu me calei. Por mais que me doesse, Renesmee agora estava muito próxima de Caius e eu tinha certeza de que ele faria Aro inspecionar as lembranças de Nessie para saber sobre o que falávamos.
Nem ouso imaginar o que aconteceria se eles descobrissem através de Renesmee que eu e Alice estávamos tentando armar contra eles, provavelmente seríamos destruídas e Renesmee seria uma escrava dos Volturi pelo resto da eternidade. Então, a verdade me atingiu, eu não poderia revelar nada à minha filha e por mais que eu detestasse isso... teria que deixar Renesmee sem saber de qualquer coisa, eu mentiria para ela e espero que um dia ela possa me perdoar e entender que faço isso por amá-la.
- Não, Nessie – eu falei num sussurro – Alice não vê nada há dias.
- Não vê nada ou você não quer me contar alguma coisa? – ela perguntou desconfiada.
- Sua tia não vê o que deseja, Renesmee, apenas fragmentos do que pode ou não ter acontecido e somente quando diz respeito à ela, se os fatos não vêm de encontro à sua tia... então as visões não funcionam.
- Mas Jake e meu pai estão bem, não é mesmo?
- Eu não sei querida... – eu falei afagando seus cabelos e secando suas lágrimas – Realmente não sei.
- E o que faremos agora? Ficaremos aqui para sempre?
- Se formos ficar – eu disse esperando que Aro lesse este pensamento e odiando estar envolvendo Nessie neste joguete perigoso – Eu farei com que eles não a submetam mais ao controle de Chelsea.
- Ora, você não precisará disso – disse Renesmee visivelmente irritada – Se formos ficar aqui para sempre, seremos Volturis e não haverá necessidade de alguém me controlar. Mas fico surpresa de dizer isso, mãe, até parece que há alguém controlando você também.
- Eu só quero que saiba que não vou permitir que ninguém lhe faça mal...
- Você não pensa em voltar à Forks? Há rever meu pai?

Novamente uma pontada de dor lancinou meu coração, se eu dissesse qualquer coisa relacionada à Forks e Edward poderia acontecer uma péssima aceitação dos Volturi. Eles saberiam que ainda éramos por demais arredias. Eu tinha que seguir o plano de Alice nem que isto custasse magoar Renesmee, seria o único modo de amolecer Aro e nos permitir fugir um dia, quem sabe... seria o único meio de libertar Nessie das garras de Chelsea e da companhia de Jane.
Respirei fundo, pois sabia que eu diria algo que destruiria as esperanças e o coração de Renesmee... eu sabia que ela ficaria deprimida e mesmo me odiando, mesmo detestando seguir este plano louco... eu o fiz.
- Temos que ser realistas, Nessie – comecei com cuidado – Nossa família pode estar morta e agora nós somos obrigadas a cuidar de nós mesmas. Eu, você e Alice temos que sobreviver e encontrar um meio de ajudar Quil; ficar se lamentando ou buscando falsas esperanças só vai nos prejudicar ainda mais.
Nessie me olhou com espanto, ela recuou imediatamente e se alojou desconfortável do outro lado da cama afastando suas mãos das minhas, então me encarou demoradamente como se não me conhecesse.
- O que aconteceu com você? – ela disse franzindo o cenho – Minha mãe jamais desistiria de rever meu pai, rever Charlie e nossa casa, a Bella que me criou era determinada e teimosa, jamais se daria por vencida e se acomodaria numa situação destas. Minha mãe iria preferir morrer de forma obstinada a recuar frente os desejos dos Volturi.
- As coisas não são tão simples, Nessie – eu respondi mesmo sabendo que ela tinha razão – Eu sou mãe e preciso cuidar do bem estar da minha filha antes de qualquer outra coisa e, principalmente, tenho que manter os pés no chão para poder nos manter vivas na situação em que nos encontramos.
- Eu não acredito que está dizendo estas coisas – ela disse num tom de revolta – Então devemos esquecer-nos de tudo e todos e nos contentar com uma vida de escravidão?
- Temos que sobreviver, Nessie... 
- Prefiro morrer a servi-los.
- Você é muito jovem e fala da morte com leviandade. Não seja tola, pense um pouco, Renesmee... – eu falei tentando fazê-la ver além de minhas palavras – Sempre há uma saída para tudo, mas muitas vezes o caminho para alcançá-la é tortuoso e incompreensível.

Renesmee não se satisfez com meu ponto de vista, se ela soubesse que eu queria gritar e fugir com ela daquele pesadelo todo, mas não podia; Aro saberia de tudo o que conversamos esta noite e o plano era atraí-lo para minha teia e poder me aproveitar de sua boa vontade estranha. Mas era extremamente difícil manter minha filha longe destas idéias, mantê-la acreditando que Jacob e Edward haviam morrido naquela batalha sem propósitos.
Entretanto, estávamos todos no mesmo barco e Renesmee teria de ser forte, ela teria que suportar toda esta carga e as sutilezas do jogo que Alice e eu armávamos contra os Volturi... querendo ou não, Nessie seria um peão no meio deste imenso tabuleiro de xadrez.
Ela adormeceu no meu colo num sono conturbado e eu apenas lamentava o fato de que a manhã chegaria logo e que Chelsea viria buscar a minha filha. Permaneci a olhando dormir, lembrando de quando era pequena e estava rodeada por uma família que a amava; um casa tranqüila... e de repente lembrei de minha própria infância e a saudade de Charlie e Renée me assaltou terrivelmente. Neste momento de medo... eu só queria poder ter os meus próprios pais perto de mim.
Tão logo amanheceu, ouvi o habitual ranger da porta se abrindo, Nessie não acordou e eu olhei para Chelsea, alta e esbelta, silenciosa e apática, cruzar o quarto em nossa direção.
- Então, você veio levar minha filha – eu disse num tom de desalento agarrando com força Renesmee.
- Sabe que não há escolha, Sra. Cullen – respondeu Chelsea com indiferença – Seria melhor para todos se a senhora e sua irmã declarassem lealdade aos mestres, assim, ao menos, não seriam tratadas como prisioneiras e sua filha seria apenas sua novamente.
- Mãe? – chamou Renesmee se movendo, ela me olhou e encarou Chelsea em seguida, seus olhos se entristeceram imediatamente – Oh, não.
- Está tudo bem, querida – eu falei abraçando-a com força – No veremos há noite.
- Eu não quero ir...
- Também não quero deixá-la ir...
Mas foi inútil, o dom de Chelsea atingiu Renesmee e aquele olhar frio e calculista surgiu nos olhos de minha filha apagando o brilho inocente que sempre tiveram. Ela se levantou da cama sem se despedir e se postou em pé ao lado de Chelsea que, por sua vez, pareceu se compadecer um pouco da situação.
- Ao anoitecer eu prometo trazê-la novamente. Aliás, mestre Caius deseja a sua presença e a de sua irmã esta noite.
- Deseja... – eu falei com sarcasmo ainda olhando com desagrado o olhar frio de Renesmee – Ele ordena, você quis dizer.
- Sim – respondeu ela simplesmente – Ele ordena.
E Chelsea se virou e saiu, Renesmee deu um leve aceno de cabeça e com uma meia volta rápida deixou o quarto e eu fiquei sozinha com minhas preocupações fervilhando em minha cabeça. As coisas começavam a ficar complicadas, estávamos realmente envoltas em inúmeras dúvidas e becos sem saída... eu precisava falar com Alice.

Enquanto o dia raiava com mais intensidade lá fora, eu caminhei irresoluta até a porta e a abri, Giordano me deu seu habitual olhar inquisidor; ele era um vampiro alto e bonito, fora transformado no alto de seus talvez 30 anos de idade e seu rosto maduro era inexpressivo e sério. Os olhos rubros contrastavam com os cabelos claros e sua voz de trovão sempre ecoava pelo corredor quando falava comigo.
- O que deseja, senhora Cullen? – perguntou ele polidamente.
- Ah, Giordano... bom dia – comecei eu sendo educada uma vez que estávamos seguindo o plano estapafúrdio de Alice – Eu preciso falar com minha irmã.
- Claro, siga-me.
Giordano era quase tão alto quanto Emett fora, seu corpo volumoso me conduzindo pelas escadarias até os aposentos de Alice que ficavam três andares abaixo do pináculo da torre onde eu fora enclausurada. Pensei por uns instantes e imaginei que seria interessante ter a simpatia dos guardas porque, talvez, eles pudessem nos passar informações interessantes.
- Há quanto tempo você serve os Volturis, Giordano?
- Não me recordo – ele respondeu rápido.
- Ah... – eu suspirei sem pensar em nada, acho que Giordano era sério demais para me dar qualquer espécie de atenção, entretanto, dois minutos depois e um pouco antes de chegar ao corredor que conduzia aos quarto de Alice, ele suspirou e exclamou simplesmente.
- 180 anos.
- É muito tempo. Foram os Volturi que o criaram?
- Não.
- E você os serve de livre e espontânea vontade, ou Chelsea usou seu poder em você?
- É uma honra servir aos Volturi – disse ele incomodado.
- Claro, eu entendo – respondi rápido para evitar que ele se aborrecesse – Era só uma curiosidade, sei que os Volturi são a realeza...
- A existência deles é essencial ao nosso mundo, senhora Cullen – disse Giordano parando, voltando-se para mim e me encarando com austeridade – O mundo todo seria um caos se eles não existissem, por favor, não seja tão ávida a julgá-los sem conhecer totalmente sua história.
- Está certo, me perdoe Giordano – eu disse baixinho desviando propositalmente de seu olhar inquisidor, seria prudente ser humilde com aqueles que quero despertar simpatia. Além disso, eu alcancei o objetivo que desejava... com jeito, eu conseguiria que Giordano me contasse algumas coisas.

O guarda se virou novamente me conduzindo pelo corredor ecoante onde tapeçarias finas e antigas estavam expostas penduradas nas paredes de pedra velha. Logo, não mais que alguns passos, eu pude divisar no fim do corredor a porta do quarto de Alice que era guardada por outro velho guarda conhecido: Matheu.
Apesar de Matheu ser mais baixo que Giordano era muito mais belo, não propriamente uma beleza física, era como se Matheu tivesse um porte mais majestoso, além de parecer mais jovem. Na armadura dourada que os guardas de Volterra trajavam, parecia um cavaleiro medieval com seus cabelos negros caindo pelas costas; seus olhos rubros me encararam e um leve sorriso de simpatia tocou seus lábios.
- É um prazer revê-la, senhora Cullen – disse ele polidamente, se afastando e abrindo a porta do quarto de Alice para mim.
- Como vai, Matheu? – eu disse cumprimentando-o também, mostrando simpatia para conquistar mais um guarda, apesar de que, por mais que detestasse, eu nutria uma simpatia natural por Matheu.

Encontrei Alice atirada sobre sua cama, o quarto dela não era tão luxuoso quanto o meu e sei que no fundo Alice detestou isso, mesmo sendo prisioneira, ela preferiria ser uma prisioneira com estilo. Os móveis eram bonitos apesar de muito sérios para o gosto de Alice, a cama não era de dossel como a minha e a sacada bem menor, em contrapartida, o teto de seu quarto era completamente tomado por figuras desenhadas com tamanho zelo e genialidade que não pude evitar pensar se não fora o próprio Botticelli que pintara aquele teto.
Alice não desviou o olhar distraído, ficou ali, vestida e de sapatos sobre a cama, não se mexeu quando sentei ao seu lado e afaguei seus cabelos; seus olhos dourados nem piscaram.
- Alice? – chamei baixinho me deitando ao seu lado – O que foi?
- Entediada... – ela respondeu num suspiro – Isso aqui é muito chato.
- Para alguém com a sua energia, só pode mesmo.
- E você, como está?
- Aro trouxe Renesmee para ficar comigo ontem à noite, sem o encanto de Chelsea.
- Ah, então Aro cumpriu sua promessa? E como estava Nessie?
- Pois é – eu disse visivelmente desanimada – Nessie estava bem abalada com tudo, essa situação está acabando com ela... e isso remete há mais preocupações que não estavam no roteiro...
- Como assim? – ela perguntou rápido me interrompendo.
- Alice, eu terei que mentir e enganar Renesmee...
- Mentir e enganar? – ela perguntou sem entender.
- Qualquer coisa que dissermos... bem, sou obrigada a dizer para ela que provavelmente o pai e o noivo estão mortos e que nós seremos eternas prisioneiras dos Volturi.
- O que não deixa de ser verdade, Bella.
- Do que está falando? – eu perguntei surpresa.
- Temos que considerar nossa vida aqui em Volterra agora... 
Meus lábios mal haviam se aberto para protestar quando eu notei o brilho e a intensidade com que os olhos de Alice me encaravam e a gravidade da situação me atingiu impiedosamente: Alice fazia comigo o que fiz com Nessie.
O plano de Alice não envolvia apenas fazermos de conta que aceitávamos, aos poucos, a triste verdade que ficaríamos em Volterra em definitivo; ela iria mais longe, tínhamos que realmente fazer parecer isso. Alice temia que seus pensamentos fossem lidos por Aro e com isso estava fazendo parecer que realmente não tínhamos escolha... fazia isso até para mim.
Por isso fiquei calada e ela também se calou quando percebeu que eu havia compreendido tudo, não bastaria apenas eu mentir para Nessie, teria que mentir para mim mesma. O plano de Alice era mais assustador do que parecia no começo, muito mais perigoso e complexo do que se mostrara a princípio; eu quase fiquei com raiva de Alice, mas me lembrei de quando ela partiu sem dizer nada da primeira vez que enfrentamos os Volturi.

Alice fazia o que era preciso e isso demonstrava que era muito mais forte que eu... e muito mais forte do que eu poderia supor.

Mas eu sabia que jogávamos um jogo perigoso, Alice estava jogando xadrez contra os Volturi e estava me usando como peça deste tabuleiro; ela sabia que talvez precisássemos nos virar sozinhas mesmo que o restante de nossa família estivesse vindo nos salvar. No fim, não vi escolha para mim a não ser jogar o jogo de Alice... e torcer para que conseguíssemos vencer a disputa.
- Então você já perdeu todas as esperanças? – eu perguntei.
- Quase... mas vejo que não temos muitas opções – ela respondeu me encarando ainda, havia tristeza em seus olhos por ter de fazer isso.
- É uma pena.
- Fomos destruídas, Bella – continuou ela – Não sobrou nada, o que podemos fazer além de aceitar? Talvez devêssemos pedir para os irmãos Volturi nos destruírem de uma vez...
- Sim – falei e senti um arrepio, Alice estava apostando muito alto – Eu vou pensar sobre isso... te vejo depois, Caius requisitou nossa presença.

Eu desci da cama e caminhei até a porta, meus sentidos pareciam estar amortecidos e eu não pensava direito; eu, Nessie e Alice estávamos no meio deste joguete que se formou e tudo parecia incerto demais; eu mentia para Nessie e para Alice e Alice mentia para nós duas. Mentíamos conscientes de nossas mentiras, mentíamos sabendo que não tínhamos escolha... quando nossas vidas se tornaram tão obscuras? 
- Bella – chamou Alice antes de eu abrir a porta – Eu realmente sinto muito.
- Eu também, Alice... eu também.

Na volta eu não pronunciei qualquer palavra, as escadarias se torciam numa espiral contínua e depressiva, Giordano me guiando em silencio me permitindo sofrer apenas comigo mesma. Entretanto, antes de alcançar o cume das escadarias, ouvi chegar até meus ouvidos o som melodioso de um toque delicado de violino.
Era um som triste, uma melodia quase desesperada. Os acordes subiam e desciam de tom e o volume variava para alto e baixo à medida que as cordas eram tocadas; parei para apreciar aquele som que combinava tão bem com meu estado de espírito e me deixei levar pela melodia que invadia os corredores do palácio.
- É mestre Alec – disse Giordano acima de mim, também parando ao notar que eu não o seguia.
- Ele parece depressivo, se é que é possível um Volturi ficar deprimido com algo – eu disse deixando escapar a minha insatisfação com toda a situação.
- Como eu disse antes, senhora Cullen – falou Giordano – A senhora precisa saber de toda a história antes de formular um julgamento.

A tarde se arrastou diante dos meus olhos, horas pareciam anos que passavam em ritmo lento me desafiando a sair correndo desta torre; eu não estava acostumada aos dias ensolarados da Itália, diferente de Forks, aqui quase não chovia e o céu azul parecia debochar de minha prisão, eu não compreendia como o sol podia continuar raiando tão belo...
À noite eu estava absorta em pensamentos quando Giordano bateu na porta, era o sinal que deveríamos nos apresentar a Caius. No corredor inferior Matheu e Alice nos aguardavam, ela sorriu fracamente entrelaçando sua mão na minha e juntas percorremos os corredores fantasmagóricos de Volterra até as grandes portas duplas do salão real.
Senti Alice apertar minha mão quando os guardas do salão escancararam as portas para que entrássemos; Giordano e Matheu ficaram para trás, não era permitido a eles entrarem no salão principal uma vez que foram designados a apenas nos guardarem. Estranhamente, me senti desamparada sem os dois, por mais bizarro que possa parecer, Matheu e Giordano são os únicos Volturi que eu simpatizo, mesmo sem querer eles parecem se compadecer da nossa situação. Mas é claro que eu não confio em qualquer um que sirva aos três reis.
Nos três tronos sentavam os três Volturi: Aro, Caius e Marcus. Aro me lançou um sorriso simpático e Caius nos observou com cautela, Marcus nem parecia se importar com nossas presenças. Chelsea e Renesmee estavam dispostas em pé atrás dos tronos, as duas sustentavam olhares frios e calculistas, era terrível ver minha filha nesta situação.
- Ah, as meninas Cullen – disse Caius intencionalmente numa voz sarcástica.
- Como vão nossas hospedes? – se manifestou Aro se sobrepondo à ironia de seu irmão.
- O que desejam de nós? – eu perguntei mantendo a minha sempre rebeldia comedida.
- Bem, nós as trouxemos aqui para uma inspeção, indo direto ao assunto – disse Caius sem rodeios.
- Inspeção?
- Sim, senhoritas Cullen. Infelizmente nós precisamos medir o nível de sua confiabilidade, estamos ansiosos para tê-las como hospedes e não como prisioneiras, entretanto, faz-se necessário que tenhamos certeza que vocês duas não estão tramando nada contra nossa casa.
Apesar do ímpeto de olhar para Alice eu me segurei e apenas me limitei a encarar Caius com indiferença, com Renesmee hipnotizada eu podia continuar o teatrinho sem nenhuma preocupação.
- E que espécie de inspeção seria esta? – perguntei fingindo pouco interesse.
- Aro usará seu poder para sondar as memórias de sua irmã... e nós saberemos se vocês duas ainda pensam numa forma de escapar ou sabem de qualquer notícia sobre o quase extinto clã Cullen. Eu ficaria desapontado em ter que caçar os últimos remanescentes de sua família que só sobreviveram devido à nossa piedade.
- Se é isso, por favor, queira fazer de uma vez a inspeção para que eu não seja mais incomodada...

Se era para fingir, foi o que fiz; demonstrar medo seria fatal e apesar de sentir o nervosismo de Alice, ela também se empertigou e deu um passo em direção à Aro oferecendo a mão para que ele a tocasse e extraísse suas memórias. Eu até senti o receio florescendo em mim, mas passou num segundo, afinal, se eles descobrissem algo e viéssemos a ser destruídas... bem, seria muito melhor do que viver como prisioneira.
Aro encarou Alice com voracidade, a idéia de possuir uma vidente sempre lhe foi aprazível, entretanto, segundos antes de ele descer os degraus que nos separava, a porta dupla se abriu e Jane, Alec e Felix entraram. Os três cruzaram o salão como anjos da morte, suas vestes negras esvoaçando como um vento pestilento... eu encarei Jane com raiva e ele me devolveu apenas um olhar indiferente e irritante.
O que me chamou a atenção foi o comportamento de Alec, com meus instintos de vampira eu notei um desequilíbrio em seu caminhar; seus movimentos não eram fluídos como os de um vampiro comum, ele balançava a cabeça de forma suave de um lado para o outro, um movimento quase imperceptível. Era como se estivesse tentando se orientar de um modo diferente... eu achei peculiar estes modos, até o momento de encará-lo de frente quando os três se postaram ao nosso lado. 
Os olhos de Alec, antes de um vermelho brilhante, agora encaravam o vazio num tom fosco e leitoso, o brilho havia desaparecido como se seus olhos tivessem sido filtrados ou vazados e toda a vida de sua visão houvesse desaparecido por completo. Era como se um véu tivesse sido estendido diante dos seus dois olhos.

Mas eu desviei a atenção e me foquei em Aro Volturi que neste exato momento segurava a mão de Alice, num movimento rápido Caius também desceu até nós e se posto ao lado do irmão.
- Renesmee, você teria a bondade, minha bela criança?
Antes de eu me manifestar, Nessie já estava ao lado de Aro segurando sua mão livre ao mesmo tempo em que Caius segurava as suas; ver a minha filha ali, ao lado dos dois Volturi me deixou sem ação. Era uma imagem horrível de se ver. Eu sabia a intenção de Caius, ele veria tudo o que Aro extrairia das memórias de Alice através do dom de Nessie, eles já a estavam usando para seus propósitos doentios.
Alice fechou os olhos enquanto suas lembranças eram vasculhadas, eu virei o meu rosto para não ver o que aconteceria se Aro descobrisse seu plano maluco. Notei que Alec não estava mais ali e apenas Jane e Felix nos encaravam com interesse; eu odiava Felix com todo o meu ardor... fora ele quem destruíra Edward.
Os segundos passaram, mas antes de um minuto ter transcorrido Aro soltou Alice e se afastou junto com Caius, do alto de seus tronos, com Renesmee atrás, Aro sorriu para nós.
- Eu detestaria que vocês duas nos pedissem para destruí-las – ele falou, eu fiquei tensa sem compreender suas palavras – Destruir duas vampiras tão lindas seria praticamente uma heresia. Eu e Caius ficamos felizes que vocês já estejam compreendendo sua situação junto aos Volturi, perdoe-nos a desconfiança, espero que daqui em diante possamos nos encontrar apenas em oportunidades afortunadas. 
- Vocês podem ir – disse Caius um pouco desapontado.

Eu os olhei por um instante, mas Alice se virou, agarrou minha mão e literalmente me arrastou dali, pude apenas divisar rapidamente um sorriso satisfeito de Aro e o olhar de ódio de Jane.
As portas duplas se abriram e Matheu e Giordano nos encararam com alívio, eu não compreendi este gesto, mas soube que era significativo; apesar de não ter pensado nisso, era óbvio que eu e Alice acabávamos de passar por um teste Volturi.
O único problema é que eu não compreendi como havíamos nos safado, pelo que lembro, Alice havia comentado sobre o plano e ele deveria estar impresso em suas memórias... a não ser que Aro não tenha dado importância quando vasculhou as memórias de Alice nos momentos em que conversávamos no meu quarto. Teria o Volturi respeitado a minha privacidade? Ou teria ele apenas visualizado as últimas lembranças de Alice que diziam respeito a esta manhã quando nós duas incorporamos nossos personagens dando a entender que estávamos desistindo de sermos resgatadas?
Os corredores nos acolheram em silêncio, quando as escadarias começaram, Matheu subiu na frente e Giordano atrás deixando eu e Alice no meio, eu a chamei baixinho dando um puxão de leve em sua mão, mas o olhar que ela me lançou foi claro: “agora não!”.
Sabia que ela me explicaria o que aconteceu mais tarde, assim deixei que minha mente fervilhasse de curiosidade em saber o que Alice fez para nos livrar de uma condenação certa. No andar que antecedia o meu, Matheu me desejou boa noite e conduziu Alice ao seu quarto, ela se despediu de mim com um beijo e um sorriso meigo.
Sem alternativa, eu apenas acompanhei Giordano através das escadarias até a torre que me servia de prisão; entretanto, no meio do caminho o som triste do violino me alcançou novamente e a melodia era de tal modo melancólico que eu parei para ouvi-la.
- Por favor, senhora Cullen... – chamou Giordano incomodado.
- Eu estou indo... – respondi num suspiro – As melodias de Alec sempre foram tão tristes?
- Não, elas costumavam ser mais... fervorosas.
- O que aconteceu?
- A senhora o viu no salão, não? Notou seus olhos?
- Sim, notei. Estavam muito diferentes...
- Mestre Alec está cego.
- Cego? – eu perguntei num pulo, mesmo sendo um Volturi e tendo tentado nos matar, eu me surpreendi com a notícia, nunca ouvira falar num vampiro cego.
- Sim, durante a batalha o ataque que quase o decapitou acabou causando este efeito. Mestre Alec não vê qualquer imagem, ele conta agora apenas com sua audição e seu olfato.
- Deve ser difícil... e o poder dele?
- Restrito.
- Restrito?
- Senhora Cullen – disse Giordano abrindo a porta do quarto para mim – Por hoje basta.
- É claro, Giordano – respondi resignada – Me perdoe por importuná-lo sempre com minhas perguntas.
Lancei-lhe o sorriso mais humilde e charmoso que consegui e inacreditavelmente Giordano respondeu com um sorriso sem jeito e fechou a porta rapidamente; era uma boa idéia fazer amizade com os guardas. Eu notava que os Volturi - de qualquer classe que fossem – sempre se mostravam surpresos comigo e Alice, eles achavam espantosos os nosso olhos dourados e se referiam a nós como “as meninas de olhos brilhantes”; era estranho.

Eu caminhei lentamente até a sacada sentindo que tivemos sorte, fomos pegas de surpresa e sobrevivido graças a Alice. Deixei meus braços repousarem no parapeito da sacada enquanto admirava as estrelas cintilarem no céu noturno, havia uma brisa agradável e eu esperava ansiosa que Chelsea me trouxesse Nessie como ela faria todas as noites.
Talvez Nessie pudesse me contar algo sobre as memórias de Aro já que ela serviu de canal para os dois Volturi... entretanto, era Alec quem não deixava meus pensamentos. Um vampiro cego... deveria ser horrível viver na escuridão sem poder ver qualquer coisa, presenciar o movimento, as cores... a luz.


Talvez fosse um bom castigo para um Volturi...


Mas eu senti pena de Alec.


E me deixei ficar assim, olhando o céu estrelado e ouvindo, ao longe... a melodia triste deste violino tocado por um vampiro cego

3 comentários:

Pelo menos o mal causado a Alec foi pior que o de Edward. Fico me peruguntando se em algum dia eles poderão se recuperar novamente. Edward sem ler mentes meio que descaracterizou ele, sua personalidade.

Concordo com Alice e Bella... Se fosse eu, eu ate beijaria aquele velho, para sobreviver e poder ter a esperança de ser resgatada um dia pelo meu amor.

Comecei ler condor lunar 1 Ontem e ja cheguei até aqui.. ansiosissima pelo proximo capitulo... Essa fanfiction é fascinante.

Nossa eu nem estou acreditando no que eu li;;; o Alec esta cego. incrivel.
e bom mesmo eles terem o Alec como um lembrete do que aconteceu quando eles foram gananciosos
beijusss

Cada capitulo fica mais emocionante, lindo, empolgante, já estou louca pelos proximos...... parabéns..... bis,bis,bis.......

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