18 de ago. de 2010

Capitulo 40

Posted by sandry costa On 8/18/2010 No comments


- Eu fiz o que tinha que fazer meu querido Edward, e agora, nós veremos quem tem o cachorro mais bravo. 
Eu observei, imóvel, o rosto de Aro se contorcer num esgar doentio, enquanto Demetri afastava os dois anciões para o meio das árvores. Jane virou-se de costas para nós e fitou as sombras nevoentas da floresta que nos cercava. Seus olhos se ascenderam, focaram um nada longínquo, como se estivesse chamando por alguém – ou por alguma coisa. Tudo aconteceu tão rápido, e mesmo assim, em minha mente entorpecida, eu via um slow motion se desenrolar frente a meus olhos.
Meu pai se virou, puxando pelo braço minha mãe, e quando nossos olhos se cruzaram, eu pude ver o desespero comprimindo sua alma. Num grito sufocado, eu vi os lábios dele formarem as palavras: saia daqui Ness. Mas eu não pude me mover, e com Jacob igualmente imóvel ao meu lado, eu presenciei o momento mais aterrorizante de minha vida.
Um grunhido doentio explodiu em meio às árvores, uma fusão monstruosa de um rosnado gutural e uma voz humana, gritando desesperada. Jane murmurava palavras ininteligíveis em uma língua que parecia-se muito com os idiomas árabes, seus olhos pequenos fitavam a criatura encoberta pelas sombras, fazendo-o obedecê-la, machucando a coisa como um toureiro atiça o touro bravo. Mas o quê diabos era aquilo?
- Ness, venha. – Gritou meu pai. Esforcei-me ao máximo para desviar meus olhos daquela silhueta deformada que se debatia entre as árvores, e quando os olhei, vi meu pai e minha mãe vindo em minha direção. Minha mãe agarrou meu pulso e me puxou, eu quase não sentia meu corpo se mover.
- Pode andar? Nós precisamos sair daqui agora. Precisamos encontrar os outros. – Ouvi meu pai murmurar apressadamente para Jacob. 
- Que merda é essa Edward? Aquela coisa não cheira bem. – Disse Jacob.
- Aquilo é um lobisomem. Um verdadeiro. 
- Pensei que estivessem extintos Edward. – Disse minha mãe, a voz trêmula e as mãos firmes enlaçando meu pulso.
- Eu também pensava assim. Lobisomens não são vistos há mais de mil anos.
- Edward, como isso é possível? Estamos no meio do dia. – Replicou Carlisle. – Eles são filhos da lua, não tem como aquilo ser um lobisomem autêntico.
Filhos da lua. Eu já ouvira algo sobre eles. Criaturas noturnas altamente infecciosas. Brutais. Sanguinários. Feras sem consciência. Mas eu sempre pensei que fossem lendas, ou que deixaram de existir em algum período remoto.
- Pai, por quê estamos fugindo assim? Não podemos deixar Aro escapar, ainda mais agora. Se aquele monstro fugir... Se chegar às cidades... Ele não parecia muito à vontade com as ordens de Aro. – Meu pai me lançou um olhar intransponível. Nós corríamos pelo vale nevoento, por entre a vegetação fechada onde a luz do sol ainda não havia chegado. Um silêncio se formou em volta daquela pergunta, todos nós esperávamos por respostas, tentando encontrá-las em nossos próprios pensamentos confusos.
- Aro fez alguma coisa com aquela criatura. A mente dele é um vazio, completamente oca, nenhuma centelha de consciência. Aro não me deixou ver muita coisa, da alguma forma ele adquiriu um controle mental quase intransponível. Está deixando as informações escondidas em um lugar subconsciente. Se eu tivesse os dons dele eu saberia encontrá-los. – Disse meu pai após uma longa pausa. Ele ponderou por um momento e continuou: - Ele deve ter encontrado uma das últimas criaturas dessa espécie que ainda havia no mundo, mas se aquela criatura morder um humano, nós certamente vamos ter sérios problemas.
- Eles são incontroláveis, famintos, e como Edward disse, não têm consciência de que devem se manter anônimos aos humanos. Eles apenas matam. Aro foi longe demais quando trouxe aquela criatura para civilização. Se ele escapar, o que certamente não vai demorar, os humanos dessa região estarão correndo sério perigo.
- Não é só os humanos que estão em perigo Carlisle. – Disse meu pai, taciturno. – Uma das poucas coisas que vi na mente de Aro, e que foi confirmada na mente de Caius, foi o que essas bestas fazem com a nossa espécie. – Ele parou, sondando nossos rostos. – Você nunca se perguntou por quê Caius os teme tanto?
- Não me diga que...
- Sim. O mesmo veneno que infecta humanos e os transforma, é capaz de paralisar um corpo imortal de forma irreversível. É talvez a única forma de morte que dispomos, além da fogueira. – O silêncio pairou novamente sobre nossas cabeças, enquanto nossos pés se apressavam em direção ao norte, onde nossos aliados nos esperavam. Um medo subido e inflamado me dominou, pensando no que poderia ter acontecido se não tivéssemos saído imediatamente de lá, e o que aconteceria se não encontrássemos os outros a tempo.
- O quê pode matá-los? – A voz rouca de Jacob rompeu o silencio. Eu me sobressaltei com a expressão rígida em seu rosto quando o encarei. Meu pai ponderou por um momento.
- Eu não conheço muito dessas criaturas. – Suspirou meu pai. – Mas estou partindo do princípio de que a maioria de nossos dons não surtem efeito nele.
- E por que não? – Perguntou minha mãe alarmada.
- Por quê a maioria dos nossos dons agem na mente e aquela criatura não tem uma mente, apenas uma vaga percepção das coisas.
- Como um animal? – Perguntei.
- Exatamente como um animal. – Respondeu meu pai.
- Edward, isso não faz nenhum sentido. Você viu o que Jane estava fazendo com ele, incitando-o, enfurecendo o bicho contra nós. Se ela pode causar efeito na mente dele, por quê nós não podemos?
- Bella, aquela criatura ainda tem certas percepções, mas nenhuma delas é mais humana. Possivelmente ele é um lobisomem há milhares de anos. Ele ainda têm percepção de perigo, de fome, de dor... as coisas básicas. Para todos os efeitos ele é um animal infinitamente forte e imortal. O quê Jane estava fazendo é justamente incitar um dos poucos pontos de acesso da mente dele. A dor, é só disso que ela precisa. De que adianta eu ler os pensamentos dele se não há nada coerente para se ver? – Minha mãe encarou-o aflita, os olhos âmbar cintilaram em mim por um momento antes de retornar aos de meu pai.
- Ok, ele é ignorante, mas o quê diabos pode matar aquela coisa? – Interrompeu Jacob. – Uma bala de prata? Uma estaca de prata? Um crucifixo de prata? – Ironizou ele, impaciente.
- Talvez só a força bruta. – Respondeu meu pai, olhando novamente de mim para minha mãe, o típico olhar de um pai de família preocupado. – Mas é perigoso demais nos aproximar. Nós não sabemos quase nada sobre ele, a nossa única chance está escondida na mente de Aro.
- Precisamos achá-lo Edward. – Disse minha mãe. Eu pude perceber o desespero contido na voz dela. Meu pai trocou um olhar cheio de tensão com Carlisle e disse:
- Carlisle e eu cuidaremos disso. Agora, eu quero que você, Nessie e Jacob continuem até encontrar os outros.
- Edward...
- Bella, escute. – E ele parou, pegando o rosto de minha mãe entre as mãos. Eu e Jacob paramos um pouco a frente. Meu pai suspirou, o rosto contraído, e disse: - Não importa o que aconteça, não volte. Corra para o mais longe possível desse monstro e leve Nessie com você para algum lugar seguro, algum lugar onde Aro não poderá encontrá-las. Quando encontrar nossos aliados, diga a eles o que aconteceu e em seguida saia daqui. Cuide de Nessie se eu não voltar, fique perto das matilhas, eles vão proteger vocês. Se precisar de dinheiro, de passaportes, de qualquer coisa, você sabe onde encontrar. Vá, saia daqui e não pare até estar longe e a salvo.
Eu vi o terror estampado na face pálida de minha mãe. Vi a súplica se derramando dos olhos penetrantes de meu pai, e embora eu pudesse pensar em mil coisas para dizer naquele momento, eu não consegui formular sequer uma palavra. 
- Jake... – Começou a dizer meu pai, olhando-nos com carinho.
- Eu sei. – Interrompeu Jacob, a voz embargada, os olhos turvos. – Você não precisa me pedir para cuidar delas com minha própria vida. Eu venho fazendo isso há anos, e eu vou continuar cumprindo a promessa que te fiz quando ela nasceu. – Jacob olhou para mim, o rosto impenetrável. – Quando elas estiverem a salvo, eu volto e te acho nem que seja no inferno. – Meu pai assentiu, sem nada dizer, o agradecimento mudo morrendo em seus olhos que não podiam chorar, e apesar da dor que separava todos nós novamente, abrindo novos buracos, todos nós sabíamos o quanto era preciso que fôssemos fortes.
Meu pai me abraçou antes de ir. Beijou minha mãe nos lábios selando aquela que poderia ser sua última promessa, de que a amaria eternamente, não importa como ou onde. Carlisle se despediu de nós, tornando tudo mais difícil, fazendo com que o fantasma do medo se tornasse mais real. Despedir-se era sempre uma incerteza, mas aquele adeus pareceu mais do que nunca um mal agouro. Eles deram meia volta, então, seguindo novamente para a encosta do morro que cercava Volterra, e antes que suas silhuetas fossem encobertas pelas árvores frondosas, o som indistinto de passos fez todos congelarem em seus lugares. Meio segundo se passou até aqueles passos nos alcançarem. Meu pai apenas esperou, paciente. E de alguma forma, eu sabia quem estava vindo ao nosso encontro.
- Eu sei onde Aro vai estar. – Disse a voz melodiosa e inabalável que eu conhecia tão bem. – Eu posso levá-lo até ele Edward. – Alec imergiu das árvores com um manto negro cobrindo-lhe a face. Meu pai olhou-o pacientemente por um segundo enquanto Alec mantinha em sua expressão o mais simples e verdadeiro olhar, tão diferente dos olhos sombrios que antes enfeitavam seu jovem rosto. Olhando para ele agora, eu não conseguia imaginá-lo um Volturi, nem mesmo com o manto negro e com o medalhão que trazia o brasão de seu antigo clã brilhando em seu peito, Alec não parecia mais com um deles.
- Sua ajuda é mais que bem vinda Alec. – Disse meu pai. – Vamos, se apresse, nós não temos muito tempo.

By: Anna Grey

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