31 de ago. de 2010

Capitulo 44

Posted by sandry costa On 8/31/2010 No comments


Céu Vermelho Parte 3
- O quê disse? – Perguntou Alec, aproximando-se de mim silenciosamente. Jacob estreitou os braços em minha volta e tentou não encarar tão rudemente a pessoa que acabara de salvar nossas vidas. Engoli com dificuldade a bola presa em minha garganta e disse:
- Eu vi a mente dele Alec. Eu não sei como, mas vi. Por um momento meus pensamentos saltaram de dentro de mim e as memórias dele vieram. É tudo caótico, atemporal, nada tem coesão, mas eu senti... Eu não sei explicar como isso é possível, mas eu senti o medo dele, a aversão pelo fogo. – Enquanto falava, eu podia sentir os olhos de todos presos em mim, e o silêncio que era quebrado apenas por minhas palavras e pelos roncos grotescos da criatura que repousava num estado de inércia. O vento corria livre pela clareira, as árvores se agitavam acima de nós, encobrindo o céu claro e os raios de sol. Alec ouvia minhas palavras com olhos atentos, o rosto frio intransponível enquanto me olhava. Minhas palavras eram tão estranhas para mim quanto eram para os outros, mas eles não sentiram o que senti, eles não viram o horror e a escuridão que inundavam a mente daquele ser. Meu pai entenderia, ele saberia nos dizer o que aconteceu.
- Como isso é possível? Ela nunca fez nada parecido antes... – A voz de Jacob ressonou baixa às minhas costas, e quando olhei para ele, vi que encarava o rosto tenso de minha mãe.
Uma raiva súbita tomou conta de mim, e sem que eu tivesse a chance de me controlar, coloquei-me de pé e me afastei de Jacob e de seus braços protetores. Eu estava cansada de ser olhada daquele jeito, como uma aberração indefesa.
Os cortes nas costas de Jacob já haviam fechado, enquanto meus braços estavam apenas sujos e doloridos com as marcas rosadas das cicatrizes que logo sumiriam.
Ignorei os olhos atentos de minha mãe que me seguiam como fendas de calor, e caminhei até o corpo imóvel e grande da criatura. Enquanto me aproximava, eu tentava não me sentir culpada ou envergonhada pelo modo que eu vinha agindo, a raiva por ser protegida e vigiada por todos me pinicava por dentro, oscilando silenciosamente dentro de mim. Eu estava farta de ser salva por todos, de ser poupada sempre. Quantas vezes eu estive frente a frente com a morte? Mesmo assim, aqui estava eu; a aberração preferida das criaturas insanas. Primeiro Aro, depois isto? Pensei, encarando os olhos vidrados do lobisomem a minha frente.
- Ela pode estar certa. – Ouvi Benjamin dizer. – Afinal, nós também não somos lá tão fãs de uma fogueira, certo?
- Isso não é um vampiro Benjamin. É a droga de um monstro de mais de dois mil anos, nós não sabemos nada sobre ele, e pode ser que, assim como nossa espécie, ele fique mais forte com o tempo. Todos nós sabemos o que os anos fazem conosco. – Willian se aproximou de mim, suas palavras ecoaram pelas árvores e morreram no silencio do vento.
- Nós precisamos tentar. –Disse Jacob, ocultando sua nudez com uma camisa semi destruída.
- Se nós colocarmos fogo nele e não funcionar, eu não serei mais capaz de usar meus poderes para acalmá-lo. Esses são monstros controlados pelo ódio, quando estão enraivecidos, nada pode controlá-los. – A voz de Alec soava distante em meus ouvidos, e estranhamente, como num túnel, eu me vi afastando-me do grupo, sendo tragada por uma força invisível. Os olhos negros me fitaram, desprendendo-se da estagnação e do torpor, e quando o brilho selvagem faiscou em mim, eu senti a força atrativa que exerciam. Ele estava me puxando - como se usasse as próprias mãos – para dentro de si. Um turbilhão de força chacoalhou meus pensamentos por um instante, e antes que eu sucumbisse novamente à mente obscura dele, eu gritei:
- Alec! – Senti o vulto negro passar por mim como um sopro de uma brisa gelada. Alec parou em frente a criatura, entre mim e aqueles olhos negros, e mesmo sem poder enxergar, eu pude sentir a força maciça de poder desprendendo-se dele, envolvendo a criatura como um casulo de fumaça e torpor.
- Não posso contê-lo por muito mais tempo. – Disse Alec, a voz entrecortada pela concentração intensa.
- E então, o que faremos? – Perguntou Benjamin, ansioso.
- Vocês vão para Volterra, as coisas podem estar piores lá. Alec se moveu de forma que só seu perfil pálido ficasse visível para os demais. Por entre as sombras das árvores, eu pude ver os olhos vermelhos faiscarem no rosto disforme da criatura que se debatia freneticamente.
- Os lobos... – Resfolegou ele, enquanto tentava conter os espasmos violentos da criatura. – Leve alguns para as montanhas. Jasper precisa de... – Os urros furiosos impediam que Alec terminasse de dizer à Sam o que ele pretendia. Ele tremia, tentando manter os olhos fixos na fera. Os outros se afastaram, desviando dos destroços que eram lançados pelas patas do animal. Eu fiquei ali, um passo atrás de Alec, não podia deixá-lo enfrentar sozinho a ira daquele monstro.
- Ness, saia daqui. Vá com eles para Volterra, não é seguro... – Gritou Alec por sobre o ombro. 
- Alec, você tem que se afastar. Você não vai conseguir segurá-lo por mais tempo. – Minhas palavras confundiam-se com os rugidos que rachavam nossos ouvidos. Enquanto eu me obrigava a pensar num modo de tira-lo dalí, eu novamente me surpreendi olhando para a criatura. Dessa vez porém, eu ouvi sua voz, e o quê ele me disse naquele momento, me seguiria por toda minha vida.
Autora Anna Grey

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