Uma Vida Inacabada
Eu nunca deixo de estranhar a família de Carlisle e, por
muitas vezes, me peguei imaginando como era sua vida antes de Esme ou seus
“filhos”, eu sei que ele viveu uma época com aqueles três tarados italianos
mas, ainda assim, me pergunto o que o levou a transformar pessoas moribundas em
vampiros. Imagino que Carlisle fosse imensamente solitário perdido em seus
pensamentos até resolver salvar pessoas e dar-lhes uma segunda chance com a
vida eterna... acho que não é uma decisão fácil de se tomar e, por mais bizarro
que pareça, acho que Carlisle conseguiu transformar seu sonho em realidade
constituindo uma família tão grande, feliz e estranha.
O clã dos Cullen
possui seus membros especiais como Edward, Bella, Alice, Jasper e Nessie mas,
eu admito que o dom especial mais impressionante é o de Carlisle: a humanidade.
É difícil definir Carlisle e Esme para quem é de fora, aparentemente parecem
dois jovens com seus 27 ou 29 anos de idade e recém-casados; Esme possui uma
beleza recatada e maternal como se ela tivesse nascido exatamente para ser mãe
e Carlisle possui uma tranqüilidade absurda estampada na cara...é impossível
tirar ele do sério eu acho; eles emanam uma aura de bondade, sensibilidade e
carinho e são o centro da família Cullen.
Os dois estão
sentados ao lado de Kaori olhando-a ternamente e curiosos com a sua história,
eu me sentia tranqüilo e descansado e desconfiei que talvez Jasper estivesse
acalmando a todos com seu dom; Alice e Bella estavam sentadas no outro sofá, Alice
com um braço em volta de Bells e o outro mexendo distraidamente em seu cabelo
curto e bagunçado. Emett tinha um sorriso estranho no rosto e Rosalie olhava
para Kaori com profundo interesse. Edward estava parado atrás do piano.
Nessie não falou
mais comigo.
- Então, Kaori –
começou Carlisle suavemente – O que trás você a Forks?
- Eu...não vim
aqui propositadamente. Apenas segui correndo e acabei chegando até o território
de Jacob.
- A Reserva La
Push não é de Jacob, ele apenas mora nela. – Disse Nessie de súbito.
- Sim, me
desculpe, eu não quis dizer isso.
- Mas você viaja
sozinha?
- perguntou Esme.
- Sim, viajo. Já
havia visto grupos de vampiros, dois ou três no máximo mas nunca uma família
tão grande quanto à de vocês e, principalmente, fixadas com uma residência.
- Sim, somos
incomuns mesmo. – sorriu Carlisle para ela – Mas não precisa ficar com
vergonha, Kaori, você pode nos contar o que aconteceu com você, talvez possamos
ajuda-la.
- Eu não sei ao
certo o que aconteceu, num momento eu viajava pelos arredores de Washington e
Seattle e no outro estava sendo caçada por dois vampiros estranhos.
- Caçada? -
perguntou Jasper interessado.
- Sim. Algo
muito estranho, eu jamais tive problemas antes pois sempre evitei outros
vampiros, desta vez só não fui morta porque ao atravessar a fronteira da
Reserva eles deixaram de me perseguir, por algum motivo eles não entraram aqui.
- Claro que não.
– ribombou Emett do canto da sala – Há quarenta lobos maiores que bois aqui,
vampiros não entram em La Push desse jeito.
- Eu entrei, mas
não sabia que existiam lobisomens aqui, na verdade, nem sabia que lobisomens
existiam.
- É isso o que
me deixa mais cismado. – começou Jasper – Você nunca esteve aqui e por isso
cruzou a fronteira sem saber dos lobos, mas os outros vampiros não, era de se
esperar que eles viessem atrás de você mesmo assim. O que me parece
estranho...como se eles soubessem o que havia em La Push e não entraram porque
tinham consciência de que se o fizessem não sairiam com vida.
- Hum... – gemeu
Alice – Acho que Jass tem razão.
- Bem, mas
porque eles estavam te caçando afinal? - perguntou Bella – O que
você fez para eles?
- Não sei
explicar, é tudo tão confuso.
- Nós temos um
meio de ver suas lembranças se você nos permitir, Kaori. – disse Edward – Minha
filha Renesmee tem o dom de absorver memórias e conversar por pensamentos ao
tocar as pessoas e a habilidade dela funciona mais ou menos como a sua, todos
nós podemos ver o que você passou. Se você não se importar é claro.
Kaori me olhou e
sua voz tocou minha mente e eu soube que ela falava apenas comigo.
“Você acha que
eles estão tentando definir se digo a verdade?”
“Não Kaori, eles
estão apenas tentando ajuda-la. Eles não têm intenção de lhe fazer mal e não
estão dizendo que você está mentindo, acontece que esta família já foi vítima
de uma conspiração antes que quase levou todos a morte e eles têm razão para
desconfiar de vampiros rondando os arredores. Eu não sei o que você viu mas não
custa darmos uma olhada para definir alguma coisa e poder te ajudar de repente”.
- Tudo bem. Se é
importante para vocês. – Ela disse finalmente.
Logo estávamos
num circulo fechado em plena sala de estar. Nessie – meio a contragosto na
verdade – estava segurando a mão de Kaori e, por sua vez eu a dela; Edward
tinha a mão sobre meu ombro e Bella o abraçava pela cintura, Alice abraçava
Bella com Jasper segurando seus ombros, Emett sem noção segurava a cabeça de
Jasper para provoca-lo e Rosalie segurava a mão de Emett; Esme estava abraçada
a Carlisle que, por sua vez segurava nos ombros de Rosalie.
Se alguém
olhasse de fora iria pensar que éramos macumbeiros...com certeza. Parecia uma
oração em grupo e eu não pude deixar de rir até que Edward me cutucou para eu
me concentrar.
- Kaori, tudo o
que você lembrar nós veremos. Se você quiser aproveitar e nos contar sua
história nós ficaríamos verdadeiramente lisonjeados e, desta maneira,
provavelmente poderíamos ajuda-la melhor. – Carlisle disse sorrindo ternamente
para Kaori.
Ela concordou
timidamente com a cabeça, estava olhando para nós com um pouco de apreensão mas
eu podia entende-la, ela estava cercada por uma gangue de vampiros mais um
lobisomem, sinceramente, não sei como eu consegui convence-la a vir até aqui;
eu fiquei novamente com pena de Kaori, ela se sentia sozinha e amedrontada com
tudo e pelo visto havia “morado” naquela árvore no meio do pântano durante
algumas semanas, eu não sei o que ela havia passado mas estava preste a
descobrir.
Só não imaginei
que ficaria tão chocado.
Subitamente
fez-se um silêncio absurdo, tão profundo que pensei ter ficado surdo, em
seguida uma miscelânea de cores e formas atingiu minha mente me fazendo
suspirar alto; havia sons e sentimentos de medo por todos os lados, uma
correria, gritos, pedidos de socorro, solidão, escuridão e silêncio. Eu percebi
que Kaori regredia em suas lembranças para nos mostrar o que ela queria que
víssemos para tentar compreender talvez o que ela fazia ali.
De repente eu
estava vendo uma fazenda grande cujos campos de trigo corriam altos e dourados
por vários hectares de terra, o céu muito azul não era maculado por nenhuma
nuvem e um vento de primavera varria lentamente a poeira de uma longa estrada
de terra; no fim da estrada havia uma casa grande de madeira com dois andares e
varandas sossegadas que circundavam todo o casarão.
Um cão latia do
quintal onde alguns maquinários de arar a terra estavam parados, um homem de
macacão azul mexia num motor e seu rosto sujo de graxa me pareceu familiar por
alguns instantes; era óbvio que este pensamento era antigo, de décadas passadas
a considerar pelo carro estacionado no celeiro e pelo vestido que uma mulher
usava, ela cruzou a varanda em direção ao homem segurando um jarro de limonada
gelada. Era jovem e bela, os cabelos negros ondulando ao sabor do vento, seu
rosto oriental sorrindo e feliz como uma manhã de natal. Kaori.
- Está terminando? - perguntou ela com o sotaque carregado do meio-oeste do
país.
- Acho que sim, esta porcaria de arado deu em alguma pedra
no meio do caminho novamente, eu não sei o que anda acontecendo para ter tantas
pedras em meio ao trigal.
- Tome. – ela ofereceu um copo de limonada que o homem
tomou de um gole só.
- Ah, o que eu faria sem essa minha linda esposa? - o
homem então se livrou do motor e agarrou Kaori pela cintura erguendo-a no ar e
beijando-a, ela riu e retribuiu o beijo dele.
Então, Kaori já fora casada em uma outra época, já tivera
uma casa e uma família; o que será que teria acontecido?
- Você está me deixando toda suja de graxa, Damon.
- Não tem problema, te dou banho depois...
Os dois ficaram ali rindo alto e era claro que se tratava
de um casal recente. Kaori estava linda naquele vestido estampado de flores,
ela estava estranhamente diferente desta garota que conheci hoje, seu rosto era
leve e alegre como se não houvesse nada no mundo capaz de desfazer a felicidade
que ela sentia; o sorriso brotava fácil de seus lábios enquanto ela ficava ali
nos braços de seu marido.
Subitamente, em meio aos gracejos e risos do jovem casal,
um cavaleiro apontou na estrada de terra se deslocando rápido como o vento e
erguendo nuvens de poeira em sua corrida desabalada. O rapaz se afastou um
pouco de Kaori e murmurou algo ao vento.
- O que foi, Damon? - perguntou Kaori
estranhando.
- É Eliot... aconteceu alguma coisa, ele não deveria estar
aqui há esta hora e está vindo rápido demais.
- Será que ele
encontrou outra?
- Espero que não meu amor...espero que não. Se quiser
entrar...
- Não. – disse Kaori ficando ao lado do marido – Eu espero
aqui com você.
Logo, talvez nem mesmo um minuto depois o cavaleiro chegou
até eles. O cavalo estava cansado evidenciando uma longa jornada a total galope
e o cavaleiro estava esbaforido, seu
chapéu de feltro marrom jogado para trás e seu rosto encharcado de suor.
- Patrão. – começou o homem com a voz rouca.
- O que foi, Eliot...não me diga que...
- Sim senhor – respondeu o homem com urgência – Mais uma,
além do ultimo campo de trigo que plantamos, no pasto do terreno arrendado; os
cães farejaram e encontraram a carcaça, do mesmo jeito que a outra.
- Sem sangue... – afirmou com assombro Damon.
- Sim patrão, nenhuma gota de sangue... a carcaça deve ter
menos de um dia e não tem nenhum marca de tiro ou outra coisa; se for algum
coiote...
- Coiotes não matam vacas de 600 quilos, Eliot. Nem um
bando deles tampouco, o velho Orsom aqui ao lado teve problemas com coiotes mas
eles matavam galinhas e ovelhas...coiote algum mata vaca e nunca ouvi falar de
coiotes que sugam sangue...que tipo de animal daria cabo a tanto sangue assim?
- Não sei patrão, mas acho melhor o senhor ir lá porque o
Stevie ta querendo chamar o Reverendo Willian para exorcizar a fazenda.
- Pois volte lá e diga ao Stevie que se a fazenda precisar
de exorcismo eu mesmo chamo o Reverendo, eu já estou indo e provavelmente
teremos de passar algumas noites em claro para pegar o maldito que anda sugando
o sangue do gado.
Damon então virou-se para Kaori dizendo:
- Fique aqui com Kevin, eu vou até lá e volto antes do
anoitecer.
- Damon, por favor, tenha cuidado.
Ele beijou Kaori e correu até o celeiro onde estava parado
o carro, o motor rugiu alto e Damon saiu rápido formando uma nova nuvem de pó
pelo caminho; Kaori ainda olhou o marido por um tempo até o carro desaparecer
na curva longínqua e então entrou dentro da casa. Os móveis eram bonitos mas
tinha um tom antigo e forte, a sala era ampla e cheia de pequenos enfeites de
gesso pintados à mão, Kaori subiu pelas escadas até o andar superior onde
ficavam os quartos; na primeira porta à esquerda ela entrou e eu pude ver um
alto berço de criança de onde vinham sons de riso sincero. Kaori olhou então o
filho, tinha os olhos levemente puxados e os cabelos escuros como os da mãe,
ela pegou o pequeno no colo e foi até a janela de onde admirou o verde-dourado
da plantação de trigo, suspirando alto ela sussurrou no ouvido do da criança.
- Não se preocupe, meu pequeno Kevin... papai volta logo.
De repente um novo turbilhão de cores me atingiu quando
Kaori avançou suas lembranças, eu senti a mão de Edward apertar meu ombro e
percebi que todos se sentiam angustiados como eu...nós podíamos prever o que
viria em seguida. De repente o caleidoscópio luminoso diminui de velocidade até
que parou e eu me vi num cômodo escuro da casa onde Kaori morava...havia gritos
de homens lá fora.
- Patrão – gritou alguém – Ele pegou o Stevie...ele pegou
o Stevie...
- Atire no desgraçado...atire na cabeça – berrou Damon de
algum lugar lá fora.
- Ele não cai...o desgraçado não cai...
Tiros e gritos continuaram, eu vi Kaori colada
aterrorizada contra a parede da cozinha e em seu colo o pequeno Kevin chorava a
plenos pulmões, do nada um homem entrou correndo pela sala e veio até ela, seus
cabelos brancos iluminaram-se com o clarão dos tiros lá fora e sua batina preta
esvoaçava atrás das pernas enquanto ele andava rápido.
- Reverendo...o que é? - perguntou Kaori
amedrontada.
- É o demônio, minha filha, ele não morre...levou tantos
tiros e não cai...ele fica rindo e correndo rápido como o vento desviando das
balas e sumindo na plantação...ele volta rindo e começa tudo de novo, ele levou
Stevie para o meio do trigal...
- Meu Deus...Damon?
- Escute, saia pelos fundos e fuja...fuja daqui com a
criança e não volte...estamos todos condenados...fuja menina...FUJA.......
O padre saiu rápido e só então eu notei que ele carregava
um longo rifle de caça, sua silhueta estampou a porta por uns instantes e ele
saiu para a noite amaldiçoada onde homens morriam gritando e balas de metal não
surtiam efeito na criatura que agora os desafiava. Eu cerrei os dentes de ódio.
Kaori agarrou com força o filho e correu pela casa, mas
ela não saiu pelos fundos e sim pela frente...ela tinha que ver o marido e ver
se estava bem, eu me retesei quando vi o que esta atitude causaria. Kaori saiu
para a varanda a tempo de ver o mostro quebrando a espinha do Reverendo, o
rifle caído no chão impotente, o som dos ossos quebrando ecoou na noite escura
e balas voaram contra o corpo da criatura.
- Desgraçado, bastardo do inferno...maldita cria do diabo
– berrou Damon.
Ele empunhava um antigo Colt e descarregou o tambor
inteiro de balas contra o vampiro, o som era semelhante a quando você bate uma
pedra contra outra, as balas não vaziam efeito...nem sequer podiam arranhar o
vampiro. A criatura então olhou para Kaori com os lábios arreganhados num
prazer insano e desvairado; nunca vi nada como aquele vampiro, nem mesmo quando
Vitória nos atacou com seu exercito de vampiros. Era doentio, seus olhos
vermelhos ígneos incendiavam a noite e seu rosto deformava-se com o prazer
sádico da matança, seu cabelo desgrenhado dava a ela um aspecto selvagem e
obsceno...ele passou a língua pela boca e sua voz diabólica cortou a noite como
um trovão:
- Sangue de criança....sangue de criança...coraçãozinho
cheio de sangue.
- Kaori...corra...CORRA e não olhe para trás. – berrou
Damon.
Autor Angus
3 comentários:
Meu Deus!!! :p eu vou morrer de ataque cardíaco! quero mais! o que acontece com a criança! ai meu Deus!... Angus vc ta de parabéns sua fic é realmente incrível! :n :g
Angus, sua fic é perfeita, vc escreve muito bem, parece profissional!!!! Muito ansiosa pelo próximo cap, por favor não demora, não!!!! E, please, reforça o amor de Jake por Nessie, já tô ficando agoniada, parece até que ela não é a alma gêmea dele e ele tá tendo uma quedinha por outra, aff, não faz isso, pelamordedeus rsrsrsrs...
nossa q horror ela passou q sera q aconteceu depois... ai curiosidade mata...mas vc escreve com uma clareza q me falta ate palavras pra descrever como me sinto quando leio algo q vc escreveu vc é simplismente brilante parabens
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