20 de set. de 2010

Capitulo 8

Posted by sandry costa On 9/20/2010 3 comments


A elfa, a feiticeira e o corvo da noite
Sophia

A floresta negra suspirava desconfiada... As árvores centenárias espiavam nossa correria desabalada imaginando o porquê de nossa pressa; animais noturnos saiam de suas tocas para espionar-nos e pássaros estranhos gritavam de forma assustadora de seus ninhos ocultos nas alturas... O céu salpicado de estrelas cintilantes inclinava-se sublime sobre nossos rostos, o brilho da lua cheia recaia como um manto celeste sobre a face da criatura encantada que eu  guiava para o interior da floresta.
Apesar de sustentar o rosto de uma bela garota, eu sabia que ela não pertencia a este mundo e imaginei o que estava fazendo aqui, caminhava de forma sublime pelo tecido de musgo que cobria o chão da floresta e os secretos sons da noite não a incomodavam... Era um ser mágico de grande poder e percebi que seu coração não era negro. Seus olhos claros abriam-se grandes e azulados com um brilho luminoso e misterioso rondando seu interior, tinha um ar angelical e que tão descuidadamente demonstrou quando surgiu na festa daquela pequena aldeia.
Eu guiava a garota estranha para o ventre da floresta rumo a um local que apenas minha família conhecia e que era o lugar dos rituais que fazíamos para a natureza e onde jovens feiticeiras eram iniciadas em seus ritos de bruxaria. Lá nós estaríamos seguras, pois o local estava protegido por poderosos encantos de ocultamento e proteção.  Chamava-se de Akena-kaor, um dos poucos redutos para as feiticeiras Ordem de Dahuman; raros eram os templos de Akena-kaor que ainda restavam sobre a face deste mundo pois muitos bruxos e feiticeiras foram aniquilados a tempos atrás quando um grande mal caminhou sobre a terra... Meus pais não me falavam disso porque a todos era proibido repassar tais historias, o único que pode revelá-las é a Mestre dos Conhecimentos de nossa Ordem... E eu jamais tive contato com uma bruxa tão poderosa.
Apesar de fazer parte da Ordem e estar contemplada com todos os meus poderes, uma feiticeira pura só consegue total controle sobre a sua magia após a maioridade de seu espírito mágico, ou seja, aos 25 anos. Só após este período nós podemos visitar a Mestre dos Conhecimentos e descobrir todos os percalços sinuosos de nossa história, funciona como um Oráculo do passado e do futuro e é por isso que, às vezes, eu me sinto tão mal preparada e imatura para encarar bruços e feiticeiras mais velhas que eu... Apesar de me considerar poderosa eu sei que ainda resta muito conhecimento a ser adquirido para me tornar uma feiticeira pura.

 Mas agora um aperto diferente tomou meu coração e a saudade de meus pais me assaltou de repente me fazendo diminuir o passo; as lembranças enchendo a minha mente com memórias do dia em que fui adotada e passei a viver ao lado deles, uma vida doce, sincera e cheia de risos... Uma vida perfeita, ao menos até o estranho chamado me tomar. Algo que eu não compreendia e que me forçou a deixar meu lar... Um chamado para algo que eu não consigo compreender e que fugiu de minha mente no momento em que as lembranças de meus pais vieram à mente.
“Vou sentir sua falta, pequena” – disse meu pai com o olhar austero – “Procure se cuidar, Sophia, o mundo lá fora é diferente do que você está acostumada... há trevas no coração dos homens e malicia em seus pensamentos”.
“Eu sou uma feiticeira, pai” – respondi abraçando-o – “Além do mais, eu sempre dou um jeito de ludibriar o destino...”
“O destino é oculto até para nossa Ordem, minha pequena menina” – falou minha mãe me olhando nos olhos com intensidade “Nós jamais sabemos o que ele planeja e mesmo que consigamos, através de nossa magia, enxergar meros vislumbres do futuro... o destino nos é desconhecido e inexorável”.
“Você realmente prefere partir hoje?” – perguntou meu pai – “Pouco depois de ter celebrado o seu décimo nono ano de vida?”
“Acho melhor...” – eu respondi triste – “Ver todos reunidos me traz lembranças alegres, eu não quero partir já me sentindo saudosa demais... além do mais, todas as pessoas que me são caras estão aqui e assim não cruzarei com ninguém pelo caminho”.
Então, na calada da noite eu deixei a casa de meus pais... O lugar que para mim era o mais seguro do mundo e onde fui contemplada com felicidade e amor desde o dia em que Mordred e Melina me adotaram. Foi neste pequeno vilarejo que me tornei uma feiticeira e passei a conhecer muitos dos segredos da Natureza, e apesar de partir... Eu aqui deixo o meu coração e sempre que minhas lembranças se voltarem para este lugar eu ficarei feliz não importa quão sombria esteja a situação em que eu me encontre.
Eu cruzei o jardim da casa de meus pais rumo à floresta escura que se abria à minha frente, parei no limiar fronteiriço da mata e voltei meus olhos mais uma vez para meus pais que me seguiam atenciosamente com o olhar, eles estavam aflitos e preocupados e eu sentia isso... do interior da casa fluíam risos e canções e meu coração se apertou dentro de meu peito; eu sorri e acenei uma ultima vez para eles e dei as costas ao meu lar. Mas momentos antes de desaparecer de vista o vento ainda trouxe algumas palavras de minha mãe que apenas minha mente captou.
“Lembre-se... pequena menina... o destino é inexorável”
Caminhei solitária pela floresta em busca do templo de nossa Ordem e do Oráculo que poderia me dar algum direcionamento em minha busca por este impulso que me fez partir, eu havia planejado não deixar a floresta até encontrar o templo e não caminhar muito pela estrada, não por medo, mas uma feiticeira pura tende a preferir a companhia da natureza a da luz das estrelas.
Não contava, entretanto, com uma pequena aldeia cruzando o meu caminho ou que o destino estava em ação. Nesta noite, ocorria uma Celebração de Primavera onde os aldeões rogavam para o deus da floração uma boa colheita e fartas plantações... Uma festa pequena próxima à floresta e meu coração se alegrou de ver um festival homenageando a natureza e deste modo eu me misturei ao povoado.
Era uma festa bonita cheia de risos e conversas alegres, frutas e danças... Muitos homens me olhavam ansiosos e eu passei a sistematicamente desviar o olhar deles, não seria uma boa coisa arrumar confusão com alguma esposa enciumada... A beleza mágica das feiticeiras às vezes causava incômodo, afinal, eu preferia passar despercebida esta noite o que seria algo muito difícil. Eu estava impressionada com a ornamentação e com a doçura das frutas... as lâmpadas coloridas presas nos galhos das árvores iluminavam tudo com uma luz velada e romântica, parecia um local de sonhos onde todas as pessoas estavam felizes e tranqüilas... Pelo menos até ela aparecer do nada...

Um ser mágico... Uma Elfa.

Era hipnoticamente bela, a pele alva como a neve e os olhos de um azul luminoso e diferente, como uma safira polida pelo mais hábil dos ourives... os cabelos dourados caiam como uma cascata de luz até quase a altura da cintura e seus movimentos eram fluidos e naturais, suas orelhas eram afiladas e mais altas que a dos humanos; mas ela estava assustada, com medo e eu senti o impulso de tirá-la de lá.
As pessoas ficaram instantaneamente arredias, mas minha voz melodiosa acalmou a todos, fiz com todos acreditassem que a Elfa era uma diversão da festa e não uma intrusa sobrenatural que ressaltou a todos... Agarrando a mão dela, corremos para a floresta temendo que alguém ali pudesse reconhecer um ser mágico e uma feiticeira... Nem todos são tão receptivos à magia e muitos a temem verdadeiramente.
E levando em conta o modo pelo qual eu deixei a pequena aldeia... Resolvi que as palavras de minha mãe além de sábias... Também foram proféticas, afinal, o destino nos é totalmente incontrolável.

- Quem é você? Ou devo perguntar o que é você? – perguntou-me de repente a Elfa e sua voz carregava o timbre da impaciência – Por que me ajudou? O que quer de mim?
As perguntas inquisitivas me irritaram instantaneamente, eu acabara de salvá-la de ser aprisionada pela população da aldeia e como agradecimento recebo uma saraivada de dúvidas e impaciência. Foi então que parei de repente e me virei para ela encarando aqueles olhos terrivelmente azuis e sobrenaturais.
- Um muito obrigado! Seria um bom começo! Você não acha? – Eu disse e recomecei a caminhar dando as costas para ela – E quanto à suas duvidas, já lhe responderei, primeiro temos que nos afastar da festa.
- Algum motivo preocupante para isso? – ela perguntou mais calma agora.
- Humanos são seres desconfiados, principalmente com o que lhes é desconhecido... E uma elfa surgir do nada em todo o seu esplendor não é algo com que eles estejam acostumados.
- Espere! – ela disse alarmada novamente e se afastou de mim lentamente – Como sabe que eu sou uma elfa...
- Porque cresci ouvindo falar de entidades mágicas e seres elementais... Fez parte da minha educação. A Ordem à qual eu pertenço já teve contato com elfos na antiguidade e...
- Sua Ordem?!  - ela falou me cortando – Eu percebi que há algo diferente em você desde que estamos correndo pela mata, você não é uma humana comum... há magia em você, uma magia estranha que eu não pude identificar.
- Sou uma feiticeira.
- Feiticeira?? – ela disse cuspindo as palavras e do nada, como um raio luminoso, um arco prateado surgiu em suas mãos com uma flecha fria e fina encaixada na corda e apontada para mim, ela se apoiou na perna direita em posição de defesa e cerrou os dentes gritando em sua própria língua – Daedîn cuiviëdrau Doldör finië...
- Espera! – eu falei um pouco nervosa, acabara de sair de casa e já entraria em confronto com uma elfa enfurecida – Eu não compreendo a sua língua... Mas não desejo o seu mal.
- Eu não confio em feiticeiras, magia negra foi lançada em Arda há muito tempo e consumiu a Floresta de Longoroën em chamas... Feiticeiras são más e suas almas são negras como o manto da noite.
- Escute – eu disse agitando as mãos – Eu não sei qual é o tipo de feiticeira que existia em seu mundo, país... Ou sei lá o quê, mas eu e minha mãe pertencemos à Ordem de Dahuman das Feiticeiras Puras e meu pai é servo da Irmandade dos Bruxos da Aurora... Nós não somos adeptos da magia negra.
- Nunca conheci feiticeiras que não usassem sua magia para o mal – ela sussurrou ainda em posição de defesa.
- Olha. – eu comecei falando bem devagar – Há feiticeiras do mal e bruxos das trevas... Eles estão quase extintos, mas ainda vivem em lugares remotos e isolados, eu não pertenço á parte negra da magia, meus poderes são oriundos da lua e da mãe-terra, dos elementos e das estrelas... sou uma Feiticeira-pura e você pode confiar em mim. Eu a salvei... lembra?
- Para onde está me levando? – ela perguntou abandonando a postura defensiva apesar de sua voz ainda ter soado desconfiada.
- Para o templo oculto de Akena-kaor onde a minha Ordem se reúne, é um local de paz e harmonia, um Oráculo e lá estaremos seguras.
- Não vejo ameaça à nossa volta... – ela falou por fim.
- Mas também não vê conforto, vê? – eu disse sabendo que ela não se sentia em casa.

Uma sombra de tristeza perpassou seus olhos cansados e a chama que ardia neles diminui e quase se apagou, sua luminosidade natural foi declinando e então ela assumiu uma forma humana e não tão gloriosa quanto a beleza élfica. Seus cabelos ainda possuíam um leve padrão dourado, mas sua pele assumiu um tom amadeirado, seus olhos de uma azul intenso agora escureciam em um castanho amendoado... o brilho ainda estava lá; suas orelhas se ovalaram em um formato humano ela me pareceu absolutamente indefesa ali na mata.
- Ouça – eu disse me aproximando com cuidado – Eu não desejo o seu mal, não sei o que procura ou porque está perdida... Eu também não sei o que procuro e porque me sinto perdida então, quem sabe, não possamos encontrar isso juntas?
Ela me olhava com cautela agora, imaginando os reais efeitos de minha voz... Ela não era tola e percebeu que eu podia hipnotizar as pessoas com o timbre que saia de meus lábios, mas eu não estava fazendo isso agora... E ela soube disso.
- Você fala com sinceridade... – ela sussurrou na noite escura.
- Eu sou Sophia Luzdaurora... Da Ordem de Dahuman das Feiticeiras-puras – eu disse estendendo minha mão direita para ela.
- Lizii Thiderek, filha de Kendon do Vale Flutuante – ela disse segurando minha mão.
Nós sorrimos uma para a outra sob a luz das estrelas pálidas do firmamento e acho que finalmente nos acertamos.

Lizii passou a me acompanhar em silêncio, seus passos não eram ouvidos enquanto caminhava sobre a cobertura de folhas mortas no chão da floresta, a única luminosidade era emitida das estrelas distantes; o vento também estava silencioso e as árvores sibilavam seus segredos milenares umas para as outras na quietude da noite. Eu senti um impulso de perguntar à Elfa o que ele fazia ali, mas notei que uma grande tristeza caía sobre ela e talvez a curiosidade apenas a distanciasse ainda mais, deste modo, resolvi me calar... Mas hora ou outra nossos olhares se cruzavam e uma pergunta morria em nossos lábios.
- Apenas você conhece este templo para onde vamos? – ela perguntou por fim e sua voz instrumental cortou a quietude da noite.
- Eu e meus pais... Somos os únicos feiticeiros da região, então o templo é só nosso apesar de que ele estava aqui muito antes de meus pais virem morar nesta floresta.
- E o que você busca lá?
- Iluminação – eu respondi simplesmente.
- Por que está deixando seu lar? – Lizii perguntou, eu não me ofendi com sua curiosidade, era melhor ouvir o som de sua voz que o silêncio da floresta, além do mais este não era um assunto que me entristecia.
- Não sei ao certo... Algo me chama.
- Algo lhe chama? Uma voz?
- Não – eu respondi rindo – Não uma voz... Uma força, algo que não consigo explicar. Um chamado em meu coração...
- Mas é algo para a sua Ordem? Alguma coisa importante?
- É importante, mas não para minha Ordem... Para mim mesma, algo que eu sei que não encontrarei aqui... Um companheiro.
- Ah – disse Lizii e havia um sorrisinho enviesado em seus lábios rosados – Você saiu de casa para buscar um namorado? Só isso?
- Não é apenas um namorado – eu respondi me defendendo – É um companheiro, isso representa muito em nossa Ordem, alguém que una seu poder ao meu para equilibrar nossas almas... Nossos dons e nossos poderes; isso aconteceu com meus pais há muito tempo e suas vidas mudaram completamente. Um companheiro significa outro estágio do poder natural das coisas e da certeza de que você não está... Sozinha. Afinal, você tem noção de quantos bruxos e feiticeiros restaram no mundo? Pouquíssimos... e encontrar alguém que preencha meu coração e minha existência é ainda mais difícil e eu jamais o encontraria aqui.
- Me perdoe, não imaginei que fosse tão importante... – pediu Lizii se desculpando.
- Afinal, você nunca amou ninguém?
Mas a Elfa não respondeu, uma expressão estranha assumiu seu rosto, mas eu não soube o que ela significava... Pelo que sei, elfos são imortais e possuem um elo vital com a natureza; Lizii poderia muito bem possuir algumas centenas de anos de idade e muito provavelmente já amara alguém, ou será que não?
- Vai demorar muito até chegarmos ao tempo que você procura? – ela disse se esquivando de mais uma pergunta.
- Não, com esta velocidade estaremos lá pouco depois da meia-noite.

Caminhávamos em silêncio depois disso, eu sentia a floresta pulsando de vida, as raízes nodosas das árvores se embaraçavam sob a terra formando uma teia vital de milhares de quilômetros, cada folha e cada tronco representava uma entidade viva e diferente... os pensamentos das árvores eram lentos e milenares e remontavam a épocas antigas e menos complicadas que as de hoje. Havia tristeza nas florestas atualmente, porque as árvores antigas sabiam que invariavelmente tombariam ante o machado afiado de algum lenhador... o homem as estavam destruindo de forma sistemática e ininterrupta.
Sei que Lizii sentia isso também, era por isso que talvez sua expressão sempre estava carregada com um quê de tristeza... os elfos eram ligados por espírito a toda e qualquer criação da natureza e nenhum habitat lhes era tão caro como uma floresta.
 Cruzamos a noite até chegar ao sopé de algumas colinas altas que fechavam a região, ali eu me embrenhei por matas mais fechadas até encontrar um caminho oculto localizado entre duas das colinas mais baixas... ali, nós caminhamos por uma trilha sinuosa e estreita que conduzia para baixo das colinas até desembocar em um vale amplo e secreto.
Havia uma clareira rodeada por antigas construções de pedra que agora não passavam de ruínas, os pilares antigos estavam cobertos por hera; carvalhos altos e frondosos cresciam ali como guardiães silenciosos e eternos, seus galhos fortes formavam um teto natural em meio às paredes semi desmoronadas e tudo tinha um cheiro tranqüilizante de hortelã... no fundo uma cachoeira pequena corria ruidosa formando um lago espelhado rodeado por pedras angulares e arredondadas. Lizii suspirou alto ao ver o local.
- Por Orbëth.... este é o lugar que você buscava?
- Sim – eu respondi ainda contemplando o local – Este é o templo de Akena-kaor.
- Impressionante, nunca imaginei que no mundo dos mortais existiria um local assim.
Eu fiz um sinal para que Lizii me acompanhasse para dentro das paredes da construção antiga e ela ficou maravilhada com o teto de folhas que as árvores guardiãs formavam, em seguida nós saímos e eu me sentei de frente ao lago espelhado e Lizii acompanhou meu gesto... Ficamos em silêncio durante muito tempo apenas ouvindo a voz da cachoeira.
- Este é o Lago Espelho – eu falei baixinho – Um dos Oráculos de minha Ordem e aqui eu venho em busca de conhecimento e conselho.
E no silêncio eu toquei a água espelhada e um segundo depois ela se tornou luminosa como o dia, uma luminosidade fátua e fosforescente, o vento então surgiu em meio às árvores da floresta e varreu as folhas caídas para dentro do lago, nossos cabelos flutuavam pelo ar e os olhos de Lizii brilharam diante da magia executada. Depois disso eu me inclinei sobre a borda do lago para analisar a predisposição das folhas flutuando na superfície e tentar desvendar um pouco de meu futuro... mas as folhas nada me diziam, o Lago estava confuso e eu não consegui decifrar sua mensagem.
Eu me esforcei mais e sintonizei minha magia com o brilho das estrelas e uma aura prateada de poder emanou de meu corpo, meus olhos faiscaram e eu me inclinei novamente para a água parada e sussurrei palavras antigas para tentar despertar os espíritos elementais que viviam no lago... assim, finalmente, uma voz espectral saiu da escuridão da floresta dizendo:
“O mensageiro está vindo”.
- O mensageiro está vindo – eu repeti num sussurro e imediatamente Lizii se mexeu incomodada encarando as árvores escuras atrás de si... ela não gostava de magia apesar de eu considerá-la um ser mágico.
Eu o ouvi antes mesmo de vê-lo. O bater rítmico de pequenas asas cortou o ar parado da floresta e o vento deixou de soprar, um instante depois um corvo surgiu por entre as árvores  vestido em sua pelagem negra como a noite... Ele planou por um segundo ao nosso redor e pousou suavemente sobre uma rocha saliente ao lado da cachoeira e grasnou seguidas vezes me olhando com seus olhos escuros e suspeitos.
- O Corvo é o arauto de maus agouros – suspirou Lizii.
- Eu sei...
- Você fala a língua dos pássaros? – ela perguntou me encarando.
- Não – eu respondi – Mas posso fazer com que os pássaros falem a língua dos homens.
Assim, eu fechei as mãos em conchas e sussurrei nelas palavras antigas em uma língua secreta, palavras que apenas as feiticeiras de minha Ordem conheciam... E um segundo depois uma leve luz esverdeada dançou na palma de minhas mãos, como uma bruma liquefeita, Lizii admirou por alguns segundos a dança esguia desta pequena chama e depois eu a soprei levemente; o feitiço flutuou no ar por alguns instantes e como uma nuvem atingiu o corvo negro que chacoalhou seu corpo pequeno.
- És tu o mensageiro do templo? – eu perguntei nervosa.
- Eu sou Kron... O mensageiro dos Ventos Errantes – disse ele com sua voz fina e estridente – O que de mim desejas, feiticeira da Pura Ordem?
- Eu procuro respostas para minhas perguntas, corvo mensageiro... Procuro pela força que me chama.
- O que procuras está além do grande vácuo... Na linha do horizonte... E lá suas respostas repousam... – ele disse, e sua voz espectral me causou arrepios, Lizii estava em silêncio admirando o corvo falante.
- Mas eu encontrarei o que procuro? – eu perguntei aflita.
- Eu não sei. As respostas não sou em quem busco... feiticeira, eu apenas transmito a mensagem que os Ventos Mensageiros me ordenam... então, preste atenção ao que eu direi... Para trás do grande vácuo há dor e aflição, para trás do fim do horizonte o fim do mundo repousa e sua busca lá findará, mas precisa saber, feiticeira da lua, que um caminho fatídico você não fim escolherá.
- Uma escolha? – eu disse me levantando.
- Escolher, você terá, entre luz e sombra... Bem e mal... Salvar ou destruir.
E o corvo levantou vôo e circulou mais uma vez nossas cabeças fazendo menção de partir.
- Espere – eu gritei desesperada – Espere você apenas me trouxe mais enigmas, mensageiro dos Ventos, eu busco respostas e não perguntas... O que você tenta me dizer através destas palavras estranhas?
- Você verá! – a voz do corvo se fez ouvir por entre as árvores no momento em que ele desapareceu no céu noturno – Adeus, por hora, filha de Cagliostro.

O corvo partiu e o silêncio opressivo da floresta me tomou por completo, dúvidas rodeavam e enchiam minha mente com perguntas sem respostas... eu roguei ao espírito do Lago Espelho por esclarecimento e ele me enviou um mensageiro que só aumentou o meu temor. O que haverá no fim de minhas viagens? Que escolha é esta que terei de fazer?
- Você está bem? – a voz delicada de Lizii chegou até mim, eu me virei e ela estava em pé também e seu rosto trazia uma ruga de preocupação.
- Acho que sim... o corvo disse muitas coisas que eu não compreendi.
- Sobre a decisão que terá de tomar?
- Sim.
- Talvez, Sophia – disse Lizii com cuidado – Seja melhor você retornar ao seu lar... É muito ruim estar longe de casa...
- Não – eu respondi – Não posso, eu tenho que descobrir que chamado é esse que aperta o meu coração e que me incitou a deixar minha casa... e meus pais.
- Seu pai é Cagliostro?
- Não, meu pai se chama Mordred... Meu pai adotivo – eu disse com uma dúvida surgindo em minha mente.
- Então, o corvo se referiu ao seu pai biológico?
- Talvez – eu disse encarando-a – Mas talvez não signifique nada...
- Talvez – completou Lizii, mas eu percebi que as dúvidas também a rondavam.
- Acho melhor descansarmos, o templo nos concederá toda a proteção necessária por esta noite... Amanhã seguirei o meu caminho, você está livre para seguir o seu.
- Bem, eu estou em dívida com você... Então decidi segui-la em sua busca até quando nossos caminhos se desvencilharem... Até lá a auxiliarei a encontrar suas resposta e, quem sabe, encontrar algo para mim também.
- Fico feliz – eu disse sinceramente – Será bom ter uma companheira.
- Um feliz acaso – disse Lizii sorrindo.
- O destino é inexorável – eu falei sentindo um formigamento no coração, afinal, impensadamente, repeti as palavras de minha mãe.

E então nós duas estávamos sorrindo uma para a outra e eu senti conforto em ter Lizii perto de mim, minha jornada seria menos obscura tendo ela como companhia... uma Elfa da Luz sempre é de utilidade, os elfos parecem emanar de si um pureza inigualável. Eu convidei Lizii para entrarmos no templo e nos deitamos lado a lado na turfa macia que crescia sob o teto das árvores.
Eu admirei o céu noturno e as estrelas que emitiam seu brilho por entre as folhas das árvores, suspirei uma vez lembrando meus pais... a distancia me corroia e agora eu soube que minha viagem me levaria ainda mais longe deles. Tudo em prol desta busca alucinada cuja qual meu coração foi chamado... que forças estavam em ação eu não sabia dizer... tudo estava irremediavelmente em movimento... o destino estava agindo.
E pensando em todos os acontecimentos desta noite e nas estranhas palavras do corvo mensageiro, eu finalmente... Adormeci.
Fanfic escrita em conj
capitulo escrito por Angus

3 comentários:

Gente q amizade mais incrivel.
amei elas terem se encontrado e se darem bem.

Nussa que capitulo incrivel
como ela falou com o corvo? kkk
amei, vc escreve muito bem

:q
Carmen

Bem, na real ela uou um feitiço que permitiu que elas ouvissem o corvo... e além disso, nao é um corvo qualquer... srsrsr... mas tarde a gente explica.
Valeu pelos comentários gente.

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