Capitulo 2

Dor


Naquele momento, tive certeza que poderia morrer. A dor que sentia era tão intensa, que destruiria meu corpo de pedra.


Corri na maior velocidade permitida por minhas pernas. Não queria ir para casa, não queria ver ninguém, falar com ninguém. Não agüentaria o olhar de minha família, um olhar de pena, de tristeza por minha perda.


Precisava me distrair, precisava ir em frente com meus planos, precisava encontrar Vitória.


Apesar de não acreditar que realmente exista algum perigo por parte de Vitória, não poderia deixá-la viver. Não existindo a mera possibilidade de seu retorno. Mesmo Alice não conseguindo ver nada nesse sentido... para deixar a vida de Bella intocada por minhas mãos destruidoras, iria, nem que fosse meu último ato, eliminar Vitória.


Sabia que minha família ficaria preocupada, e contava com Alice para informá-los de meus planos.


Preocupava-me com Esme, sabia que a faria sofrer e Carlisle...


Meus atos conseguiram fazer com que as pessoas que tanto amo sofressem.


Como fui capaz de fazer tanto estrago? Nunca recebi de minha família nada além de amor incondicional e é assim que os pago? Mesmo reconhecendo que os faria sofrer, não poderia voltar, não poderia conviver com ninguém.


Estava condenado a viver sozinho, condenado a aceitar as conseqüências de minhas escolhas.


O belo, delicado e amoroso rosto de Bella não deixou minha mente. Ela sempre estaria lá.


Não queria apagá-la de minha memória.


A coisa mais linda que já me aconteceu. A mais pura pessoa que já conheci.


Não sabia como iria conseguir cumprir minha promessa, só sabia que iria tentar, dar o melhor de mim.


Eu teria conseguir, não podia voltar atrás, no entanto era o que queria fazer. Mal havia acabado de lhe dizer adeus e já ansiava por ela, ansiava por seus olhos, seus carinhos, seu cheiro.


O que ela pensava de mim agora? Será que a machuquei demais?


Claro que sim! Claro que a machuquei. Foi só o que fiz.


Odiava-me por ter deixado as coisas chegarem a esse ponto. Bella deveria estar arrasada, sofrendo, e por minha causa.


Nunca iria me perdoar.


Minha família já havia partido. Todos ouviram calmamente quando compartilhei minha decisão. Somente Alice se opôs, até mesmo Rosalie, que odiava a idéia de deixar Forks, entendeu a necessidade de nossa partida. O que ela não entendia era como aquilo me magoava, me machucava, ela realmente acreditava que tudo voltaria a ser como antes, antes da humana entrar em nossas vidas, antes de Bella mudar a minha, completamente. Mais Alice... Alice não concordava e deixou claro que eu não conseguiria viver sem Bella.


- Isso é errado, Edward. Você não pode partir, não pode abandonar Bella. – O tom de sua voz era diferente, mais alto, mais desesperado. – Eu não quero deixá-la.


- Nós temos que ir, Alice. Não posso continuar expondo-a aos riscos... Ela merece mais.


Muito, muito mais.


- Você não vai conseguir. – Ela disse e então pude ver o quanto iria sofrer, pude sentir com antecedência, que a dor que já me consumia, seria muito pior.


Estava sendo pior.


- A escolha é de Edward, Alice. – Disse Carlisle, intervindo a meu favor tentando anemizar seu ânimo. Ela estava alterada.


Ela também amava Bella.


- Se fosse suficiente, eu iria sozinho, Alice. Tenho eu fazer o melhor por ela e o melhor é nos afastarmos. – Minha voz era baixa, fraca.


- Não, não é. – Ela parou e respirou fundo antes de continuar. – Eu realmente a amo, mas esse não é o maior motivo de minha objeção. Eu também te amo, Edward, e você NÃO vai conseguir. – Ela disse a última parte da frase, com ênfase.


Todos me olharam. Podia sentir a dor de Esme ao entender o que Alice dizia.


Meus dias com minha família estavam contados, meus dias nesse mundo estavam contados. Assim que Bella deixasse de existir, eu também deixaria. Ela sabia disso... ela viu isso.


Os olhos de todos ainda estavam fixados em mim. Podia ver através de cada um a agonia estampada em meu rosto.


Carlisle se aproximou e colocou uma de suas mãos em meu ombro. Não conseguia desprender o meu olhar de Alice.


- Faça o que achar melhor, filho.


Estava correndo, mas não entendia como. Sentia-me desprovido de forças, forças para mover, para falar, para respirar. Como conseguiria viver sem Bella? A resposta era simples: eu não conseguiria. Sabia disso. E sabia muito bem.


O que ela está fazendo agora? Como ela está agora?


Um dia ela me esqueceria, eu seria apenas mais um em sua vida, mas até esse dia chegar, ela sofreria. Quanto tempo levaria para sua mente humana deixar para trás minha existência? Por quanto tempo Bella choraria por mim?


Queria tanto poder estar com ela, poder tocá-la, sentir o calor emanando de sua pele e atingindo a minha, sentir seus dedos em meu cabelo, sentir seu hálito em minha boca.


Nunca mais teria isso. Eu nunca mais estaria em meu paraíso, nunca mais tocaria meu anjo.


Esperava que a vida não colocasse muitos obstáculos em seu caminho. Esperava que tudo corresse bem, que ela terminasse a escola, seguisse para faculdade, e quem sabe iniciar uma carreira promissora. Ela sempre foi muito inteligente.


Por um tempo realmente acreditei que seria possível estar ao seu lado durante os momentos importantes de sua vida. Que poderia vivenciar seu crescimento intelectual e profissional, que poderia acompanhá-la até seu último suspiro... até meu último suspiro.


Que tolo fui.


Tentei me enganar. Fiquei cego pela luz que Bella trouxe a minha escuridão.


Oportunidades não faltaram. Poderia ter feito a coisa certa há muito tempo. Poderia tê-la ferido menos se fosse corajoso o suficiente para deixá-la.


Como pude esperar que sua vida fosse ameaçada pelo que sou – novamente?


Quanto mais pensava, mais me odiava.


- Tolo inconseqüente. – Murmurei para mim mesmo.


Precisei parar.


Precisava de ar. Estava me sentindo sufocado.


Não sabia onde estava. Encostei em um tronco de árvore, procurando por apoio.


Me recompor era necessário.


Foco.


Balancei minha cabeça tentando clarear minha mente.


Meu telefone vibrou.


Olhei para o visor. Era Emmett.


Considerei não atender, não seria uma boa pessoa para conversar, mas senti que devia a ele...


- Sim. – Minha voz estava rouca.


- Edward... onde você está? – Ele pareceu preocupado.


- Não sei, algum lugar ao norte de Hoquiam.


- Oh...


O silêncio reinou. Minha paciência não precisava ser testada naquele momento.


- O que foi, Emmett?


- Sinto muito, sei que já disse isso antes, mas sinto mesmo.


Eu sabia disso.


- Eu sei.


- Quando pretende voltar?


- Não sei.


Não voltaria. Não queria dizer isso a ele.


- Bom, não vou mais te incomodar. Só... não desapareça.


Desliguei o telefone e comecei a correr novamente, para que a culpa que sentia pudesse tomar meu corpo mais rapidamente.


Era o que eu merecia. Ser consumido pela culpa.


Irônico como a consciência de um ser tão monstruoso pudesse doer tanto.


Quase sorri ao pensamento.


Só quase.


Meu rosto e meu corpo estavam paralisados.


Não... essa seria uma descrição incorreta.


Nunca mais poderia expressar qualquer sentimento feliz. Havia me tornado capaz de sorrir. A dor e agonia seriam minha marca de agora em diante.


- Argh! – Rosnei.

Não seria capaz de viver com ninguém. Acabaria levando todos comigo para meu inferno pessoal. Agora eu estava queimando. Um mundo de dor me aguardava, e eu o receberia de braços abertos. Por ela. Por meu anjo. Por minha Bella.





Autora Lolo Cristina

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