Capitulo 27

Um dia qualquer

Bella

Assim como Alice preveu, Renée ligou para Esme no dia seguinte. Ela acreditava que Edward e eu estávamos viajando e queria nos surpreender quando retornássemos.


Esme usou a desculpa que teria que acompanhar Carlisle em uma viagem de negócios e que ninguém estaria em casa até o dia quinze - dois dias após meu aniversário, afinal a viajem que Edward e eu “estávamos fazendo” havia sido um presente em comemoração a data. Renée chegaria no dia meu aniversário, dois dias antes de nós supostamente voltarmos de viagem.


Em apenas uma ligação tudo ficou acertado. Renée e Phil chegariam dia treze e ficariam em um hotel em Port Angeles. Edward e eu estaríamos em casa dois dias depois e seríamos “surpreendidos” por ela.


Eu estava relativamente calma. O que foi uma surpresa para todos, especialmente para mim, mas tinha certeza que a qualquer instante minha famosa crise de ansiedade iria atacar.


Faltando apenas um dia para a chegada de minha mãe, todos os detalhes haviam sido acertados. Alice, prestativa como sempre, já havia abastecido a casa com lentes de contato – dessa vez ficou mais natural, já que meus olhos agora são dourados - e ensaiado algumas desculpas para minhas “pequenas” alterações físicas.


Nessie iria para o Alasca com Esme e o restante da família e dessa vez, Jacob ficaria para trás.


- Não entendo porque ela não pode ficar aqui. – ele resmungou.


- Já expliquei o porquê. Renée não pode vê-la, pelo menos não agora e o restante
da família não pode ficar aqui...
– ele conseguia me deixar irritada. Quantas vez teria que explicar a Jacob a
mesma coisa?


– E você não pode ir com eles por causa da escola e principalmente porque sua presença cega Alice.


Ele suspirou.


- Eu sinto muito, nós te damos o máximo de liberdade possível com Renesmee, mas em algum momento você terá que deixa-la, mesmo que por um curto espaço de tempo.


Sua expressão se fechou ainda mais.


- Por quanto tempo eles ficarão em Denali?


- Por quanto tempo for necessário. Agora... pare de perder seu tempo discutindo comigo e vai ficar com Nessie...


- Ela vai sentir minha falta também... sabia? – disse ele de forma presunçosa enquanto se virava em direção a porta.


- Eu sei, mas eu não me preocuparia tanto, ela se distrai tão facilmente como qualquer um de nós. Essa é uma das diversas vantagens de ser meio-vampira.


Seu rosto de contorceu de raiva.


Eu estava sendo má gratuitamente, mas não retirei o que disse.


Isso era tão típico entre nós.


Ele se virou e seguiu para onde Renesmee estava – do lado de fora, com Alice, Jasper e Esme, fazendo seus planos.


Bufei ao me virar e segui para o que estava fazendo antes... conversando com Rosalie.


- Você dá espaço demais para esse cachorro. – comentou ela.


- Não seja má. – pedi, mesmo tendo acabado de ser. – Ele vai sentir falta dela.


- Eu sei, mas ele tem que aprender a aceitar... – ela estava susssurrando agora. – E quando Nessie crescer e decidir que existem pessoas melhores na vida do que um menino que bebe água do vaso sanitário? O que quero dizer, é que Nessie pode muito bem escolher quem ela quiser. Não precisa ser ele.


- Sei disso e tenho certeza que ele também sabe que existe essa possibilidade. – respondi aos sussurros. Não queria que Jacob escutasse.


Rosalie sorriu e recostou no sofá.


- Eu não acho que ele esteja considerando isso e Edward vai enlouquecer quando ela começar a namorar. – comentou ela rindo delicadamente.


Suspirei.


E o assunto surgi novamente.


- Não acha que é um pouco cedo demais para começar a pensar nisso? – perguntei, sentindo-me um pouco incomodada.


- Nunca é cedo demais para pensar nisso. E irá acontecer... ela é tão linda que vai deixar os meninos na escola malucos, não que ela possa se relacionar com um humano, mas os pensamentos masculinos serão o suficiente para
deixar Edward no limite. Conheço bem o irmão que tenho.


Ouvimos o barulho do motor de seu volvo se aproximando. Ela mudou de assunto tão rapidamente que foi engraçado.


- Estou planejando fazer outro álbum temático com Nessie... – Anunciou Rosalie.


- Qual o tema dessa vez? – perguntei, realmente curiosa. Ela já tinha dezenas deálbuns, cada um com um tema específico – Festas, Dia-a-Dia, Roupas, especialmente sobre roupas...


- Gelo. Bom... neve para ser mais específica, ela já tem algumas, mas são poucos, então vamos aproveitar nossa curta viajem...


- Boa idéia. – disse Edward se aproximando de nós. Eu estava atenta ao som de seus passos enquanto conversava com Rosalie.


Ele havia saído cedo para assinar o contrato de compra de meu novo carro. Preferi não ir, porque apesar de ter escolhido, queria evitar fazer caretas ao ver o modelo em display na concessionária.


- Então...? – perguntou Rosalie a ele.


- Vai estar aqui amanhã. – respondeu ele. – E você pode dirigir com Renée em seu novo carro – falou Edward sentando-se no chão, ao lado de meus
pés.


Ele estava bem a vontade, tão a vontade como antes de Abadir aparecer em nossas vidas.


- Melhor esconder o volvo. – disse Rosalie.


Edward passou sua mão pelos cabelos. Sua expressão concentrada.


- Estou pensando seriamente em trocar de carro também. – anunciou ele.


- O que? Vender o volvo?


- Bom... não precisamos vendê-lo...


- Você poderia ter me falado isso antes... eu poderia ter ficado com ele e você comprado um novo.


Ele fez cara de ofendido.


- Não ia dar a minha esposa outro presente de segunda mão. Especialmente em seu aniversário. Um já é mais do que o suficiente.


- Oh, então decidiu parar de afirmar que o pingente – levantei meu pulso e apontei para o grande diamante pendurado nele, ao lado do meu pequeno lobo de madeira – é de segunda mão?


Sabia que a única coisa de segunda mão que ele havia me dado era o anel – o anel que pertenceu a sua mãe, Elizabeth Masen.


Ele riu descaradamente.


- Eu mal posso acreditar que você caiu nessa. – a voz de Emmett veio da janela atrás de mim. Não ouvi sua aproximação... ou não estava pretendo atenção o suficiente. – Edward não sabe dar presentes de segunda mão, especialmente para você. Ele gosta de comprar coisas novas tanto quanto Alice.


Ele se postou ao lado de Rosalie.


- Pronta? – perguntou ele.


- Sim, deixe-me dar um beijo em Nessie antes.


- Vejo vocês em alguns dias... e feliz aniversário adiantado, irmãzinha... juro que dessa vez não comprei presente nenhum para você – disse Emmett.


Sorri a sua declaração.


Ele e Rosalie sairiam em uma expedição de caça e encontrariam com Alice, Jasper, Esme e Carlisle na casa de Tanya. Que a propósito, estava em completo êxtase em poder ver Renesmee novamente... tão cedo.


A família de Tanya havia partido ontem pela manhã, sabendo que em breve nos veríamos novamente. Tive a impressão que ela queria ficar um pouco mais. Edward me disse que realmente era assim.


- Ela se sente estranha estando presente por tanto tempo entre os “recém-casados”. – Edward comentou quando ela partiu. Ele riu ao final da frase.


Tanya sempre seria bem vinda aqui e ela nunca nos incomodou, nem mesmo por um segundo.


- Hummm... – murmurou Edward. – Jacob está realmente irritado conosco. Bom... mais com você. – comentou ele olhando pela janela.


Revirei os meus olhos.


- Jacob não é nenhuma criança, ele deveria parar de fazer bico toda vez que tomamos alguma decisão.


Edward sorriu. Ele sempre sentia uma pontadinha de prazer quando eu me irritava com Jacob.


Escorreguei do sofá para me sentar ao seu lado.


Ele passou a mão carinhosamente por meus cabelos.


- Está preocupada? – perguntou ele.


- Com Renée? Ainda não.


- Com Nessie?


- Eu não estou preocupada, sei que ela vai ficar bem. Ela entende a situação.


- Você queria que Renée a conhecesse. – afirmou Edward.


- Uhum... mas acho que isso será impossível. Não apenas dessa vez, mas sempre. Renée nunca poderá fazer parte da vida de Renesmee.


Edward ficou calado por um momento, me observando enquanto brincava com meus cabelos. Ele sabia que eu estava certa. E eu sabia que mesmo assim ele tentaria me convencer de alguma possibilidade futura.


- Quem sabe um dia...


Não conti minha risada. Eu o conhecia bem demais.


- O que?


- Quanto mais penso, mas chego a conclusão de que será impossível. Ela verá a semelhança e ficará muito assustada e não quero deixa-la perturbada, Edward. – deixei o meu tom mais leve, dando os ombros. – Entendo que certas coisas não são possíveis.


- Você parece tranqüila o suficiente.


- E estou. Por enquanto. – respondi rindo.


Ele riu comigo, mas ficou sério rapidamente. Sério e em silêncio por um momento.


- Vamos lá fora. – disse ele pegando minha mão.


- Mamãe, papai, olha só o buquê que fiz com tia Alice.


Renesmee estava segurando um pequeno buquê de flores selvagens coloridas. O buquê era pequeno mais longe de ser simples. Estava ornamentado que dezenas de folhas diferentes.


- É para Tanya. Vou fazer um para Kate e Carmen. – seus olhinhos se arregalaram e ela olhou para Alice. – Tenho que fazer um para mamãe também.


- Vamos fazer um para ela com as flores da casa de Tanya. Assim fica mais divertido. – respondeu Alice.


- E um para você também... e para Rose.


- Um para cada. Mas esse é apenas um modelo, não podemos fazer tudo hoje ou elas estarão murchas quando você for entregá-las.


- Fazemos amanhã, então.


Jacob estava sentado ao lado de Renesmee apenas observando. Seu rosto suave. De repente fiquei preocupada com o que ele poderia estar pensando, ou mesmo com o que estava evitando pensar.


Nos sentamos no último degrau da escada da varanda. Edward estava brincando com meus dedos, mas seu rosto ainda transparecia concentração.


- Tenho que ir agora. – disse Jacob colocando-se de pé.


- Já? Por que? – questionou Nessie.


- Tenho muita lição de casa para fazer e já está quase na hora de você ir dormir. – respondeu ele. – Amanhã eu fico até um pouco mais tarde, para compensar. Isso se sua mãe deixar.


- Mamãe?


- Claro, ele pode ficar alguns minutos a mais amanhã. – respondi a ela e virei meu rosto para ele. – Ainda é um dia de semana.


Na realidade ele estava indo embora apenas uns minutos antes do horário de costume. Mas isso não era algo que ele fazia sempre.


Jacob revirou os olhos.


- Às vezes acho que você se esquece que sou apenas um pouco mais novo.


- Oh, eu não me esqueci disso, mas você mesmo disse uma vez que eu deveria ser mais madura e ter um pouco mais de dignidade agora que sou casada e tenho uma filha... lembra?


Edward riu.


- É, e agora você decidiu me ouvir. – Jacob revirou os olhos mais uma vez.


Ele beijou o cabelo de Nessie e o meu antes de partir.


Olhei para Edward sem entender nada.


- Ele precisa conversar com Sam, não é nada demais. Coordenar as matilhas. – afirmou ele.


Poderia facilmente ficar maluca. Tudo que acontecia e que era relativamente diferente me preocupava.


- Ele está pensando em segui-los, não está? Até o Alasca? – perguntei sussurrando.


Edward deu uma risada curta e dura.


- Ele está pensando nisso. Mas ele manterá distância para não interferir nas visões de Alice.


Suspirei. Jacob não tinha jeito. Pelo menos ele entendeu o principal motivo não poder ir e se adaptou a situação.


Para ser honesta, a sensação de segurança sempre aumentava com ele perto de Nessie.


Renesmee bocejou.


- Bem na hora... mas precisa do que um relógio suíço. – comentou Alice, enquanto Nessie subia em meu colo.


- Não entendo como ela resistiu até agora. – falou Jasper. - Ela ainda está sob os efeitos da festa. Cansada.


- Poderíamos dar outra amanhã...


- Sem festa, Alice. – a interrompi.


Ela fechou a cara.


- Estou falando sério. Se quiser comemorar alguma coisa que seja o aniversário de qualquer um, menos o meu. Não esse. Ainda não se cansou?


Ela riu da impossibilidade.


- Oh Bella, você me conhece bem o suficiente para saber que isso nunca acontecerá. E tudo bem, não vamos fazer nenhuma festa, mas você receberá presentes.


Por isso eu já esperava.


Apesar de ter ganhado vários presentes esse ano, ainda me apavorava ser o completo centro das atenções. Talvez não fosse nem isso... talvez fosse apenas minha antiga aversão ao dia. De qualquer maneira ainda não via razão nenhuma em se comemorar nada.


Estava cansada de tantas festas.


- Ano que vem celebraremos os seus dois aniversários, não se preocupe, tenho certeza que Edward não vai deixar nenhum outro vampiro curioso se aproximar e atrapalhar a celebração de seu segundo e vigésimo primeiro aniversário.


Renesmee bocejou novamente enquanto Alice falava.


-Vamos para casa. – falei para ela.


Ela tocou meu rosto – com preguiça demais para falar, ela raramente usava seu dom agora, preferindo conversar como todos nós.


- Sim, posso ler um pouco até você dormir.





Estávamos os três deitados na pequena cama de Renesmee. Edward ao meu lado e ela estirada sobre meu corpo. Ele estava lendo para nós.


Fiquei impressionada ao perceber que as histórias Quileutes ainda atraíam muito minha atenção. As histórias eram fascinantes.


Renesmee pegou no sono antes mesmo de Edward chegar ao segundo capítulo do livro de lendas da tribo de Jacob.





Edward parecia não entender porque ainda era tão aversa ao meu aniversário. Na realidade eu jurava – há algum tempo atrás – que minha aversão havia de certa forma sido superada.


Agora acho que isso só é válido para festas de casamento.


Na realidade, realidade, esperava não precisar mais comemorar meu aniversário humano e sim a data de meu novo nascimento. Que esse ano foi apenas lembrado, mas não comemorado. Não havia clima para isso. Abadir arruinou muita coisa.


Estávamos emaranhados entre os lençois de nossa cama.


- Eu nunca gostei de comemorar meus aniversários, não é coisa de agora e também não começou quando me mudei para Forks. Eu sempre fui assim. Se quiser culpar alguém, culpe Charlie, puxei isso dele.


- Por mim tudo bem. Fico feliz por você ser mais receptiva aos meus agrados materiais. E isso é o suficiente... por enquanto. Posso ver em seus olhos como estáanimada com o carro. – disse ele sarcasticamente.


- Muito animada. – respondi no mesmo tom.


- Eu sei que irá gostar. Alice já viu. – disse ele todo presunçoso.


Revirei meus olhos.


- Bom... mesmo você querendo ignorar o seu aniversário. Eu não vou. Hoje é o dia em que todos devem fazer apenas as suas vontades. Além de tudo... hoje é o dia mais importante de minha vida também.


- Engraçado é que justamente hoje ninguém faz minhas vontades... porque se fizessem todos teriam que ignorar tudo e aceitar sua insignificancia.


- Insignificância? Não há absolutamente nada de insiginificante no dia de hoje.


- Que seja. Você sabe o que acho.


Ele suspirou e riu.


- E todos realmente acreditando que você seria mais razoável. Mas acho que você não seria BELLA se não fosse uma pessoa difícil.


Meu rosto se contorceu levemente e dei um tapa carinhoso em seu braço.


- Eu não sou difícil. - resmunguei.


- Você é a pessoa mais dificil que já conheci, Bella. Faz parte do seu charme, não se preocupe.


- Se sou tão difícil, porque quer tanto que Renesmee seja como eu?


- Exatamente por isso. Ser difícil não é uma coisa ruim, pelo menos do meu ponto de vista.


Lembrei-me da conversa que tive um pouco mais cedo com Rose.


- Se estiver se referindo aos possíveis futuros namorados de Nessie, seria muito melhor se ela fosse mais como você, afinal eu não demorei nem um dia
sequer para me apaixonar.


- Tem razão... seria mais sábio da parte dela esperar cerca de cem anos antes de pensar em qualquer coisa do tipo.


Eu ri, mas continuei.


- Não vai demorar muito, sabia? Para que ela cresça e passe a ver as coisas de forma diferente. Ela me disse uma vez que queria ir para o colégio e encontrar alguém... assim como eu encontrei você.


Ele ficou quieto por vários minutos. Levantei meu rosto de seu peito para observá-lo melhor e continuei.


- Ela comentou isso a alguns dias, com tudo que aconteceu, esqueci de falar com você. Por enquanto ela não vê Jacob dessa forma... claro que isso pode mudar.


Ele continuou calado... pensando.


- Você quer manda-la para alguma escola só para meninas na Europa, não quer? – perguntei tentando fazê-lo falar.


Ele riu um pouquinho mais alto que antes e balançou a cabeça.


- Tenho que admitir que a idéia não é toda ruim.


- Você nunca faria isso com ela. – voltei a descançar a cabeça em seu peito.


- Não. Não faria. Mas não era isso que estava pensando. Sei que sou difícil com Jacob, mas faz parte de meu trabalho como O pai, mas honestamente, Bella, por mais perturbador que essa história toda seja, será muito mais difícil se ela decidir que não quer ficar com ele... que ela queira outra pessoa. Existem tantas possibilidades e tenho quase certeza de que todas são piores que Jacob.


- Existe uma boa chance disso acontecer.


- Agora que ela mencionou isso a você, também acredito que exista essa possibilidade.


- Não sei o que pensar disso tudo.


Seus braços me apertaram ainda mais.


- Não vamos ter como correr da situação.


- Pelo menos conhecemos a índole de Jacob.


- Sim, ele é uma boa pessoa de certa forma.


- De certa forma? – perguntei levantando minha cabeça de novo.


- Bom... ele é um homem.


- E homens não são boas pessoas de uma forma ampla...? Está preocupado com os possíveis pensamentos...?


- Não possíveis, Bella. Ele os terá. Ele os teve com você, mesmo sabendo que você era minha. – ele fez careta com a memória.


- Oh!


Ahhh... se eu pudesse corar.


- Exatamente.


- Ok, quer saber de uma coisa. Jacob não é nenhum pervertido. Ele sempre me respeitou. – disse rapidamente. Eu tinha que defender Jacob nessa questão.


- Exceto no dia em que ele a beijou contra sua vontade.


- Agora você está mudando de assunto. Eu sei que ele sempre respeitará Renesmee também. E com relação aos pensamentos... é natural, certo?


Ele não respondeu e eu continuei.


- Tenho certeza que você já teve esses tipos de pensamentos também... considerando que você é um homem. – argumentei, usando a lógica de Edward. Preferi não dizer que ele “também teve os mesmos pensamentos comigo” não queria soar convencida, mas agora sabia que era assim, agora que entendia o conceito de desejo e em como tudo funcionava para nós... vampiros. Entendia como era quase impossível deixar de pensar em certas coisas, mesmo quando se é perigoso demais.


O assunto havia ficado pesado demais para mim, então decidi aliviar um pouquinho. Fazer uma pequena piada.


- Ou talvez não os teve... você era controlado demais. – completei em um tom de brincadeira.


Funcionou. Edward riu. Alto.


- Viu... a diferença entre você e Jacob é que apenas VOCÊ consegue saber o que VOCÊestá pensando.


- A diferença entre nós naquela época é que você era MINHA e ele não aceitava. AGORA a situação praticamente se repete.


Balancei a cabeça. Eu não concordava e ainda estava defendendo Jacob.


- Não estamos criando ela para nós... não estamos fazendo isso para ele também, lógico. Estamos criando Renesmee para que ela possa ter a liberdade de fazer as próprias escolhas. Claro, que se ela fizer uma que for errada demais... nós iremos interferir, como pais fazem. E Edward... você tem que rezar muito para que ela não seja como eu nessa parte. Eu fui bem teimosa com Charlie ao seu respeito, ele não tinha direito a opnião no assunto.


Percebi que estava passando a me acostumar um pouquinho mais com essa história toda de imprinting. A presença de Jacob na vida de Renesmee ERA uma coisa boa. Bom... mesmo assim, mesmo “começando a me acostumar” ainda me sentia um pouquinho irritada com a situação. Especialmente com a parte onde ele acreditava ter direitos sobre ela.


Edward respirou fundo.


- A cada dia que passa sinto mais empatia por tudo que Charlie passou nos últimos anos.


- Uhum... não deve ser fácil ter a filha “roubada” por um homem que apareceu do nada.


Ele se virou contra meu corpo.


- Especialmente por um monstro. – disse ele mordendo levemente meu pescoço.


- Um monstro muito, muito mau.


- Bella... – murmurou ele ainda em meu pescoço.


- Humm?


- Feliz aniversário.








A manhã chegou muito rápido... como sempre.


O vento fazia as folhas das árvores cantarem e a poeira dançar no ar.


- Eu quero sair hoje. – disse a Edward enquanto nos vestíamos.


- Onde gostaria de ir? – perguntou ele com um sorriso.


- Quero sair para comprar livros, com você e Renesmee.


- Então é isso que faremos hoje. Apesar de saber que essa animação toda é simplesmente uma tentativa fraca de correr da sua própria família.


- Eu não estou tentando correr... só adiar o que sei ser inadiável.


Renesmee foi a segunda a me dar os parabéns. Apesar de ser meu aniversário, ela quem pareceu ser presenteada quando contei sobre nossos planos.


Foi um pouco depois das oito da manhã que recebi o meu primeiro telefonema de congratulações. Era Charlie... claro.


- Parabéns, Bella!


- Obrigada, pai.


- Desejo tudo de bom para você, menina.


- Eu sei...


- Queria poder ir até você hoje, mas não queria me intrometer.


- Oh... você nunca atrapalha. De qualquer forma não vamos fazer nada de especial aqui, na realidade eu vou sair com Edward e Renesmee para comprar algumas coisinhas e na volta podemos passar aí.


- Mesmo?! – perguntou ele animado.


- Aham...


- Eu tenho que ir trabalhar....


- Quando você chegar.


- Isso será muito bom, Bells.


- E nada de presentes. Você sabe como me sinto com relação a isso.


- E eu sempre te ignoro, não é verdade?





Estávamos quase saindo do chalé para pegar o carro de Edward quando Alice apareceu.


- Feliz aniversário Bella!!! – exclamou ela, pulando contra mim.


- Obrigada. – disse rindo. Era incrível como ela se empolgava com pouca coisa.


- Aqui. – ela me entregou uma caixa branca retangular, provavelmente alguma peça de vestuário. – Aproveite e não precisa abrir agora.


- Obrigada de novo, Alice. – disse com um suspiro.


- Vamos? – perguntou Edward.


A apenas alguns metros da casa, eu já sabia o que me esperava.


Um elegante carro branco – com um grande laço azul no vidro dianteiro – chamava a atenção na entrada principal.


Era lindo. Claro. E menor do que havia imaginado. Para minha grande surpresa, eu gostei.


Alice estava quicando ao meu lado, observando minha reação assim como Edward.


-Uau! – disse em voz baixa.


- Eu sabia que você ia gostar. – cantou Alice.


- É lindo. Na realidade ele parece “dirigível”.


- Então você realmente gostou? – perguntou Edward. Ele pareceu deliciosamente surpreso, o que era interessante, porque ele já sabia que iria adorar o carro.


- Sim... realmente gostei. Obrigada. – disse o beijando rapidamente e depois o abraçando apertado.


- Não precisa me agradecer, amor. Foi você quem escolheu. – ele pareceu reclamar.


- Mesmo assim.


Alice riu.


- O avião de Renée vai aterrissar daqui a duas horas. Não precisa se preocupar com nada. Ela irá direto para o hotel e ligará para Charlie a noite. Ele vai confirmar a história de que você e Edward chegarão amanhã e que Esme e Carlisle estão viajando e que a casa está vazia. Aquela história toda que você já conhece. Tudo está correndo muito bem.


Esme e Carlisle não estavam em casa, eles haviam saído para caçar e retornariam a noite.


O dia estava indo bem apenas com os comprimentos de minha família e alguns poucos presentes.


Começou a chover assim que deixamos Forks – para desgosto de Renesmee que queria a capota do carro abaixada.


Era confortável dirigir meu próprio carro. Edward parecia estar gostando de também, porque sempre manteve um grande sorriso nos lábios.


Não fomos ao shopping e sim a livraria do centro. Renesmee chamava atenção demais. Todos queriam tocar em sua bochecha rosada. Ela adorava toda aquela atenção. Então quanto menos lotado o local, melhor.


Passamos a tarde toda comprando livros e mais algumas outras coisas em Tacoma.


Comecei a ficar com “medo” de voltar para casa e me deparar com algo absurdo, como uma festa surpresa. Ela havia prometido se comportar... mais eu conhecia a irmã que tinha. E deixa-la sozinha não foi exatamente a melhor das escolhas.


Insisti para que Edward dirigisse no caminho de volta até a casa de Charlie. Dessa vez Sue estava lá, cozinhando para ele.


- Hey Sue. – a comprimentei assim que entramos. Ela apenas sorriu. Mesmo fazendo parte de nossa vida, ela ainda não se sentia bem com
nossa proximidade.


Charlie ficou encantado com o carro e passou boa parte do tempo conversando com Edward sobre ele.


Fiquei feliz em ser “deixada de lado” por um momento e recostei na poltrona de meu pai enquanto os ouvia. O assunto não me interessava muito – quantidade de cavalos de potência e outras tecnicalidades sobre carros – mais gostava de ver os dois conversando daquela forma. Bem à vontade.


Renesmee não perdeu um segundo sequer – ela correu e pulou no colo de Charlie assim que o viu e lá ficou até irmos embora.





Quando saímos da casa de Charlie já estava escurecendo. Jacob não havia ligado e nem aparecido. Isso me deixou um pouquinho inquieta e me fez ter certeza que Alice estava aprontando alguma coisa.


Edward levou o carro direto para a garagem. Não ouvi nada e ninguém nos esperava. Ele franziu a testa ao desligar o motor.


- O que? – perguntei.


- Nada. Vamos para casa.





Jacob foi o primeiro a me abraçar quando chegamos. Ele estava esperando na escada da varanda ao lado de minha antiga motocicleta com um sorriso enorme no rosto.


- Jacob, ela é sua.


- Estou devolvendo ela a você... como um presente.


- Bom... – ele não me deixou terminar de falar.


- Ótimo. Eu estava esperando uma grande festa surpresa... mais Alice saiu com um pouquinho de pressa agora a pouco.


- Ela disse para onde estava indo? – perguntou Edward.


- Não. Ela só disse que teria que sair e que não demoraria muito. Isso foi a meia hora atrás. O vampiro dela foi junto.


- O que aconteceu com você hoje? Por que não nos ligou? Estávamos na casa de Charlie, poderia ter nos encontrado lá depois da escola.


- Eu tinha que adiantar umas coisinhas e organizar outras. Tenho certeza que você jásabe porquê. – falou Jacob com um sorriso travesso no rosto.


- Você não tem jeito mesmo. – brinquei com ele. Edward parecia olhar distraído para um ponto específico entre as árvores da floresta.


- Você está preocupado com alguma coisa? – perguntei a Edward.


- Não, só surpreso. Achei que ela estaria aqui... – ele olhou para trás. Todos nós seguimos seu olhar.


Alice e Jasper apareceram com uma caixa nas mãos. Uma caixa entalhada com pedras valiosas. Uma caixa que entregou imediatamente seu emissor.


- Presente de Aro, chegou agora a pouco. – disse Edward em uma voz apática.


Respirei fundo. Podia sentir um gosto amargo em minha boca.


Mal podia acreditar no que estava vendo. Era muita cara de pau, mais de alguma forma eu deveria ter esperado por algo do tipo.


- Eu o vi enviando. Não disse nada porque não faria bem a ninguém. – murmurou Alice.


- Eu não quero. Você pode jogar fora. – disse me virando e seguindo para o Chalé. De repente eu estava me sentindo muito irritada, minhas mãos estavam tremendo e estava vendo tudo vermelho.


Era apenas um presente, mas por algum motivo senti que ele estava perto demais. Como uma ameaça. Estava sendo irracional? Essa reação toda teria algo haver com meu instinto reprimido de recém criada?


Não importava...


Senti as mãos de Edward em meus ombros. Ele não disse nada.


Ficamos em silêncio por vários minutos. Alice havia ido embora e Renesmee estava com Jake lá fora.


- Tem algum bilhete, carta ou algo do tipo? – perguntei assim que encontrei minha voz.


- Sim.


- O que diz?


- Eu não abri.


- Onde está?


Ele retirou o papel refinado de dentro do bolso e me entregou.





Espero que não exista mágoas entre nossas famílias.


Quero que saiba que desejo-lhe toda felicidade possível.


Você acabou se tornando mais esplêndida do que esperava.


Aro.





- E o teatro continua. – comentou Edward.


Meu telefone vibrou. Eu sabia que seria Renée, mas eu não estava em condições de falar com ninguém agora.


Edward sabia. Ele atendeu.


- Renée?


- Edward? Oh! Como você está?


- Bem, todos estamos bem.


- Faz tanto tempo...


- Eu sei. Como vai você? E Phil?


- Ótimos. Bella está por perto?


Eu o olhei e balancei a cabeça negativamente.


- Ela está dormindo.


- Oh! Que pena, não vou poder falar com minha menina em seu aniversário. Bom... pelo menos vou surpreende-la. Não conte nada a ela, ok? Estou em Port Angeles com Phil, falei com sua mãe e ela disse que vocês estariam em casa amanhã.


- Isso é ótimo, Bella ficará tão feliz em vê-la. Ela sente muito sua falta.


- Eu também. Tanto. Vocês já estão em casa? Ou a caminho?


- Estamos em casa. – respondeu ele.


- Phil queria passar o dia amanhã em Seattle, ele está louco para conhecer o Space Needle. Achei que chegariam apenas amanhã.


- Está tudo bem. Não vamos a lugar algum, tire o dia de amanhã para conhecer Seattle e espero vocês aqui no seguinte. Prometo não dizer a Bella.


- Sim, não diga nada, por favor, quero ver sua carinha de surpresa. Vou deixá-lo descançar agora. Você deve estar exausto.


- Boa noite, Renée.


Edward apertou o botão end, jogou o celular no sofá e me abraçou. Ainda estava de certa forma paralizada pela raiva.


- Está tudo bem, amor. Ele não irá nos incomodar. Aro não perde
oportunidades como essa. De se exibir. Tentando ser o superior.


Fechei meus olhos tentando fazer a raiva passar. Repirei fundo várias vezes e mesmo assim não conseguia sentir o ar entrando em meu corpo. Pensei em Renée, na visita por vim e comecei a relaxar... a um pouco. Muito pouco.


Percebi que Edward parecia calmo demais e que provavelmente era apenas por meu benefício. Ele deveria estar tão irritado como eu.


- Melhor? – perguntou ele, preocupado.


- Um pouco.


Edward esperou pacientemente ao meu lado até que me acalmasse. Foi um alívio tremendo quando aconteceu. Pude sentir o ar de volta aos meus pulmões.


- Agora sim. – disse ele. – Você sabe que iria ganhar uma festa surpresa, mas Alice decidiu que você não estaria no clima para isso...


Boa forma de me distrair.


Bufei.


- Eu sabia! – sussurrei. – Pelo menos ela chegou a conclusão certa. Os presentes são mais do que suficientes. Agora só devo esperar pelo de Esme e Carlisle – sabia que eles haviam comprado algo – e posso encerrar o dia.


Ele sorriu o levemente. Era um sorriso diferente, quase culpado.


- Não quero que fique chateada comigo... mais eu não resisti e comprei uma outra coisinha para você.


Revirei meus olhos.


- Claro que comprou.


Ele riu, passando as mãos pelos cabelos. Ele se levantou e foi até nosso quarto, ouvi a porta do closet se abrir e fechar. Ele estava de volta em menos de um segundo.


- Achei que seria algo que você adoraria ter...


Não estava embrulhado quando ele entregou em minhas mãos um exemplar antigo mais bem conservado do livro “Morro dos Ventos Uivantes”. A capa era marron e o autor do livro tinha um nome diferente do exemplar batido que eu tinha. Ao invés de “Emily Bronte” autora orginal esse estava assinado com pseudônimo “Ellis Bell”.


Minha ficha caiu no mesmo segundo. Esse livro era um dos originais. Da época em que Emily assinava como homem com medo da censura vitoriana.


- Meu Deus, Edward. Onde você conseguiu isso?


Estava com medo de abrir o livro e ele desintegrar. Apesar de bem conservado, provavelmente era mais velho que Edward.


- Comprei de um colecionador, ele não queria vender, porque ele não queria que o livro saísse da Inglaterra. É a primeira edição.


- De 1847? – perguntei completamente impressionada e tentando não pensar em quanto isso custou.


- Uhum. Você ama tanto esse livro que achei que adoraria possuir o original.


Não sabia o que dizer.


- Isto é... perfeito. Ele deveria estar protegido, ou algo do tipo?


- Sim, ele tem que ficar em um pequeno compartimento com pressurização negativa para proteger o papel do ar, mais isso é a longo prazo. Você pode lê-lo - deve lê-lo. Nossas mãos são livres dos famosos óleos destrutíveis. – ele riu.


Era perfeito... mais do que perfeito. Mal podia acreditar que tinha em minhas mãos algo tão raro. Só Edward para fazer esse tipo de coisa. E ainda ter coragem de dizer que comprou mais uma
“coisinha”. Sabia que dinheiro era insignificante para ele... mais isso era demais.


O mais importante de tudo é que eu havia passado o dia com minha família – Edward e Renesmee – e para melhorar não ganhei nenhuma
festa surpresa, apenas presentes especiais das pessoas que amava, o que era normal, poderia até ser considerando um dia como outro qualquer – isso porque decidi ignorar o presente de Aro.



Poderia facilmente classificar esse aniversário como um dos melhores aniversários que já tive.

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