15 de jun. de 2011

Posted by sandry costa On 6/15/2011 1 comment


O reencontro
Hera
Continuei a encarando com a mesma intensidade, seria possível o destino brincar mais uma vez com meu coração? Eu suportaria, mas uma decepção? Ela começou a andar pra trás com uma cara assustada se atrapalhando um pouco nos saltos altos, como só a Murgen podia fazer, esbarrando sem querer em um grupo de caras que estavam conversando por ali, sem querer ela fez um derramar bebida no outro que logo se alterou. Meu instinto de proteção que antes estava adormecido reascendeu do nada, como se fosse mesmo a Murgen que estivesse ali. Um deles a segurava pelo braço e a sacudia com brutalidade, com cara de divertimento. A raiva que a pouco foi acordada, agora floresceu ainda mais, ela não estava reagindo, ainda estava com a mesma cara entorpecida, por que ela não estava reagindo? Fui chegando, mas perto, ouvindo o que eles estavam dizendo.

- Que séria! Você tem nome gatinha?- Ele dizia com uma voz totalmente bêbada.

- Tire as mãos de mim. - Ela disse, mas não parecia convicta, ainda estava assustada.

- Que isso, vamos brincar... - Quando ele estava prestes a beijá-la a força, eu cheguei, empurrei os outros que estavam na minha frente, esses me olharam interrogativamente. Cutuquei o ombro de quem tentava abusar de minha amiga, ou melhor, da mulher que parecia ser minha amiga, não importa, meus sentimentos e instintos de proteção continuam os mesmos. Ele se virou e me olhou de forma superior.

- A moça mandou soltar. - Falei impaciente o encarando de forma desafiadora. Murgen, quer dizer, a mulher me olhava ainda mais assustada.

- Vaza se não, quiser ser a próxima. - Então ele se virou me ignorando, bom eu tentei avisar. O puxei pra se virar pra mim, fazendo largar a mulher bruscamente, me bati mentalmente por isso, ela poderia ter se machucado. Ele se espantou com minha força.

- Você que pediu. - O acertei bem no meio da cara quebrando seu nariz, ele caiu inconsciente. – Aprenda a ser delicado com uma mulher. - Falei pro seu corpo estirado, e ainda me virei pra deixar um recado aos outros. - Alguém mais?- Como previ, todos saíram às pressas, logo em seguida apareceu um policial da região.

-Κυρίες, είναι όλα εντάξει?- Ele falava grego, perguntando se estava tudo bem, logo olhei pra mulher que ainda estava no chão olhando pra mim.

-Ναι, όλα είναι καλά, ευχαριστώ. - Respondi que estava ele ainda olhou preocupado para nós, mas logo se retirou. Virei-me para ela e estendi a mão.
Murgen

O olhar dela continua intenso, tudo em minha mente girou. É impossível!
A Hera esta morta! Muita coisa para processar... Só pode ser isso, que esta
Levando-me a essa alucinação!
Ela estendeu a mão pra mim com aquele mesmo olhar que anos atrás me estendeu uma água viva... Tirou qualquer duvida que fosse um sonho.
Não foi minha intenção fazer desfeita, mas entenda, encontro-me em estado de choque! E não consegui reagir... Aquele olhar...
Ela abaixou a mão e ia se virando - Espera! – pedi. Por mais assustada que estivesse deveria agradecê-la ela me livrou de confusão exatamente como Hera faria... Não! Ela não é a Hera! Não pode ser a Hera... Hera está morta! – repeti mentalmente, enquanto me levantava, tentando me convencer que meus olhos pregavam-me uma peça.
_obrigado! A algo que possa fazer para recompensá-la? – minha voz saiu tremula. Essa mulher deve me achar louca.
Ela me olhou desconfiada, e antes que respondesse falei
_Não se ofenda, por favor, mas que tal uma arrumada no visual?
Tenho uma amiga naquela loja, ela me deixa pegar o que quiser posso arrumar roupas melhores pra você. – tentei ser o mais doce possível e creio que fiz bem, pois ela apenas assentiu com a cabeça e me seguiu.
Foi fácil me acostumar à mulher e por incrível que parece, a cada hora ela me parecia menos a Hera.
Algo no seu modo de agir revelava que naquele coração existia raiva e muita magoa, não sei se já me convenci disso, mas consigo ler as pessoas facilmente e essa mulher pode ser parecida fisicamente e ate em certos aspectos com a minha irmã, só que definitivamente não é ela.
Hera evitava as coisas muito escuras, e essa mulher caprichou nas cores vestindo um vestido azul marinho colado ao corpo de manga longa que vai até o meio das cochas com listras brancas e um cinto vermelho.
Algo muito moderno para uma semideusa.

Saímos da loja em silencio, ela me acompanhou ate a parte menos barulhenta do vilarejo, o orla da pequena floresta vizinha da praia.

_Bom eu fico aqui! - Ela disse em tom de despedida!
_Mais uma vez, obrigada! E perdoe meu jeito – eu disse, ela sorriu sem que atingisse seu olhar e afirmou com a cabeça se virando para ir, nesse momento meu peito apertou, tentei me convencer que era reação a esse novo corpo, a essa nova Murgen e que não tinha nada haver com a minha irmã.
Hera
Definitivamente o destino me odeia, essa mulher é a cara da Murgen. Seu jeito de falar, sua fisionomia, mas definitivamente não era ela. É logicamente impossível ser ela, primeiro que Murgen é uma sereia que precisa ficar na água 24 horas por dia a não ser em noites de lua cheia e segundo, essa mulher apesar de ser igual, seu interior é diferente. Ela parece mais madura que a Murgen, apesar de ser gentil a sua maneira é claro, sinto que por dentro ela é mais... Crescida? A minha Murgen era mais alegre, mais infantil de um jeito bom, essa parece triste, como se tivessem roubado sua alegria.
Ela se ofereceu pra comprar roupas pra mim, de uma forma bem... Diferente? Bom, se fosse outra pessoa recusaria, mas como estava curiosa pra conhecer essa possível Murgen, aceitei, não só porque eu realmente estava precisando de roupas, mas porque de alguma forma não queria me distanciar dessa mulher. Meu instinto de proteção, talvez?
Saímos, e seguimos em silencio, a acompanhei até onde meu caminho seguisse com o dela. Percebi que ela continuaria reto  e eu teria que virar, já que não poderia mais me demorar por aqui, mas de alguma forma aquilo me entristeceu, não queria deixar a mulher parecia que eu estava abandonado Murgen outra vez. Só que infelizmente mais cedo ou mais tarde eu teria que ir.
- Bom eu fico aqui. - Disse me despedindo, seu olhar me pareceu... Triste?
- Mais uma vez obrigada! E perdoe meu jeito. - Dei um meio sorriso e apenas acenei com a cabeça, não queria prolongar mais aquilo, pois uma hora teríamos que nos separar, ela não poderia saber da minha vida, então era melhor que não quisesse saber da dela. Virei-me pra partir e ainda senti seu olhar em mim, me recusei a virar e continuei andando.
- Espera!- Ela gritou, parei automaticamente. Apesar de saber que não dar um fim logo nisso, pois sabendo que meu coração iria se partir se eu confundisse mais as coisas. Não pude evitar era como se Murgen estivesse me chamando. Virei-me lentamente e ela veio andando até mim, parou a mais ou menos um metro de distancia, ela abria a boca mais não saia som como se estivesse totalmente confusa e insegura.
- Sabe é que você... Não esquece provavelmente... Você tem quantos... - Ri de sua confusão ela sorriu também e disse. - Você deve me achar louca.
- Provavelmente- ri mais um pouco. - mas pelo que você viu, também deve me achar uma. - Ela sorriu, ficamos, mas um tempo em silencio.
- É que você parece muito com alguém que eu conheci há muito tempo. - Ela disse, finalmente quebrando o silencio, não me contive e revelei meus pensamentos.
- Tenho a mesma sensação. - Nossos olhares se cruzaram, uma assimilando o que a outra disse.
- Mas é impossível!- Dissemos juntas, dessa vez, nos olhamos com espanto.
Murgen
 Maldito seja esse meu jeito impulsivo. Não quero mais sofrer com ilusões, Contudo minha mente diz uma coisa e meu coração outra. Lógica e racionalmente aquela não pode ser a Hera, mais por que a agonia ao vê-la partir? Por que essa sensação incapacitante?
 Um erro? Talvez! Mas não consegui segurar o que sentia e botei pra fora o que estava pensando! E o incrível é que ela reagiu da maneira que a Hera reagiria isso inflamou a esperança em mim.
Espanto, não é a palavra adequada para a sensação que tive, quando afirmamos juntas ser impossível, foi ai que me convenci: os sentimentos realmente enganam-se.
Só que... Tarde de mais para apenas me virar e ir abri uma brecha enorme para aquela mulher e o pior ela não pode saber da minha identidade, sou um ser que não deveria existir aos olhos humanos.
_Você parece muito triste! Essa pessoa é importante pra você. Não é?! – apenas afirmei com a cabeça – Sabe às vezes falar faz bem, me diga como ela é.
A mulher me olhava analítica, como se estudasse minhas reações. com certeza acredita que sou louca. Confesso que não quero falar sobre isso, vai me fazer lembrar a dor. Só que com ela me olhando com aqueles olhos azuis como as águas profundas do oceano...
_Não é, era. Ela esta morta!  E já faz muito tempo! – disse e me encaminhei à praia, acho que por força do habito. Esperava que ela apenas fosse embora, mas ela no o fez e acompanhou meus passos.
E lá estávamos nós, caminhando lado a lado nas areias da praia em que a vida me deu e tirou tantas coisas, a mesma areia que me acolheu tantas vezes, agora sustentava uma Murgen ferida por mais essa ilusão! 
_Como ela morreu?! – a mulher mostrou curiosidade, mas como explicar a morte de uma semideusa a uma mortal?
_Isso não importa mais! É esse lugar. Sempre me faz lembrar ela, vai ver é por isso, que a confundi com você. Os seus olhos se parecem muito.
A mulher encarou o mar por um momento, sentou-se na rocha próxima e me pediu _fale-me sobre ela...
Hera
Ela me olhou meio hesitante, meio em duvida sobre contar ou não contar, mas acho que ela cedeu a briga interna em seu coração, sentou-se em uma rocha próxima a minha. Ficamos por um curto tempo admirando o sol, o modo preguiçoso de a onda bater na areia, absortas em pensamentos. Mas no fim ela resolveu quebrar o silencio.
_Ela foi à melhor pessoa que já conheci – começou em um tom saudoso - ela era sempre muito centrada, nunca demonstrava o que estava sentindo. Tinha a mania de me proteger. – ela sorriu abertamente me fazendo sorrir involuntariamente - era uma pessoa maravilhosa, que não teve tempo de conhecer o mundo, graças a um ser desprezível, que não sabe o que é amor. Agora ela demonstrava rancor.
_ Nós costumávamos correr por essa praia e a dançar sem música, mesmo depois de crescidas, costumávamos a nadar juntas mesmo ela sendo digamos, mais pássaro do que peixe. Posso compará-la a uma águia que enxerga longe e é astuta. - Ela pausou tristonha - prometemos nunca abandonar uma à outra, mas o destino não quis assim.
Os olhos dela estavam marejados. Eu não tinha palavras pra descrever o que estava sentindo, era mesmo a Murgen, segurei o impulso de abraçá-la, pois ainda queria ouvir mais do que ela tinha a dizer, mas não contive uma lagrima que desceu pelo meu rosto. Minha amiga, minha irmã estava realmente ali! Como?!
_ Lembro desse dia, ela estava queixosa. - Continuou Murgen - a muito não ficávamos sozinhas, ela acreditava que nunca conheceria alguém e a incentivei, dizendo que ser maravilhoso ela era e ela disse que não precisava de ninguém especial, pois já me tinha a mim.
Meu coração martelava no peito, depois de todos esses anos, depois de tantas maldições, finalmente algo bom. Murgen estava absorta nas nossas lembranças e enxugando suas lágrimas que também banhavam meu rosto.
_Sempre nos encontrávamos ali. - Ela apontou para o lugar, que todos os dias, ao entardecer, eu ficava esperando e continuo, muitas vezes, lembrando da minha vida sem a maldição. Agora ela estava sorrindo levemente assim como eu.
_Ela sempre chegava primeiro, constantemente impaciente com a minha demora e eu sempre a ouvia dizer...

- Por que demorou tanto Murgen. - Me apressei em falar pra ela entender que era “eu” que estava ali. Ela virou o rosto lentamente estava com uma cara totalmente surpresa, eu não sabia se ria ou se chorava, mas mesmo com a voz embargada continuei. - E você sempre dizia que não se atrasava que eu era a certinha adiantada.

- Hera... - Ela disse não acreditando no que estava acontecendo, nem eu acreditava ainda achava que era um sonho, mas se fosse não queria acordar nunca mais. Lagrimas caiam de nossos olhos, sem saber muito o quê fazer e praticamente soluçando disse.

- Dessa vez você demorou mesmo. – Ela não esperou mais, nem uma segundo se quer, pulou em cima de mim, nos fazendo cair na areia, como só a Murgen, com saudades e carinho. Eu estava segura mais uma vez, estava em casa.

- Como? Como você ta aqui? Como você sobreviveu? - Murgen me encha de perguntas ainda abraçada a mim, porém não deu tempo para responder, pois quase no mesmo instante uma onda nos engoliu nos levando, mas pra perto do mar, nos separamos por causa do impacto, conseqüentemente eu engoli um pouco de água, fazendo com que perdesse o ar e tossi-se exageradamente. Ao longe eu ouvia os gritos desesperados da Murgen. – _Hera! Meu Deus, Hera! Desculpe-me, me desculpe, me desculpe!- Logo ela já estava do meu lado me amparando e me dando a mão pra levantar, que segurei sem demora, ainda cambaleando eu levantei. Ambas estávamos encharcadas, nosso estado era cômico. – Você está bem?
- Sim, acho que sim. Bom fora isso, não me sinto bem há um bom tempo. – Dei um sorriso aberto pra que ela entendesse que aquele pequeno incidente era fruto da nossa felicidade e que não importava.
- É que isso acontece quando minhas emoções ficam aos extremos. – Ela mexia os braços levando as mãos aos cabelos, a boca, tentando se explicar deixando a situação ainda mais cômica.
***
A cena realmente era cômica, contudo muito gratificante. Hera mantinha um olhar terno para Murgen que por sua vez exibia um largo sorriso em sua fase. Com a mais absoluta certeza esse momento, como muitos outros na vida de todos os seres existentes, era único. Finalmente algo de bom acontecia na vida de ambas, depois de tantas lutas e perdas, os corações se enchiam de conforto, carinho e acima de tudo, esperança! Uma esperança tirada da força de uma amizade que nem as circunstâncias, nem à distância e muito menos o tempo, foi capaz, de sequer enfraquecer, pois no memento em que se viram, por mais que a mente disse se que não, elas se reconheceram... Com o coração!
Murgen ajudou Hera a sair do mar, não por necessidade, mas para tocá-la e ter certeza que esse não era mais um de seus sonhos. Aos poucos as respostas foram respondidas e a realidade das circunstâncias as atingia.
_Você nunca será um mostro! Mesmo que se transforme fisicamente em um! Levante essa cabeça amiga, prefiro essa maldição a esse sentimento de vazio que senti quando pensei que estava morta!
Murgen consolava uma Hera cabisbaixa, com a sua condição. E praguejava em sua língua aquática, a Zeus por ter cometido tamanho mal, pois acredita cegamente que um ser que é deus de deus deva ser amor e liberar perdão!
Hera sorriu, como a muito não fazia e sentiu seu rosto estranho por estar acostumada a seriedade que lhe acompanhou durante todos esses anos. Hera não sabia como sabia, mas tinha convicção que essa felicidade não lhe seria duradoura.
A conversa saudosa entre as amigas, mais chegadas que irmãs, continuo, ate que a quimera perguntou a sereia o que fora feito do seu mais fiel guardião, a harpia que ela tanto se apegou e que a sereia tanto amou.
Ainda o amo como antes Hera, mais forte até! Ele me disse que você já sabia sobre o nosso laço, bom ele realmente existe e é inquebrável, pois o amo mais que nunca, mesmo estando longe!
_Sim Murgen, mas o que aconteceu com ele que te deixa com o olhar distante – Hera como sempre muito perspicaz não deixou passar o olhar da amiga! 
Nesse momento as lagrimas correram pelo rosto de porcelana da sereia, que agora aparentava um ar infantil completamente diferente da segurança adulta que ainda pouco demonstrava para uma suposta desconhecida!
_Você esta me assustando! O que houve com o Atheir? Ele esta longe como?
_Hera é uma longa historia!... Ele foi seqüestrado! – Hera sentia um peso no peito, pois sempre considerou Atheir, desde o dia em que ele não a entregou aos guardas do Olímpio. Ela movimentou a cabeça incentivando a Murgen a continuar e assim foi feito!
_Foram os filhos do Mestre do submundo. Eles me queriam e não a ele. Foi confuso, eu ainda estava pressa ao mar e logo depois era humana, Atheir tentou lutar, o ajudei. Contudo a forma humana é nosso ponto vulnerável, eu caí no momento em que ele, mas precisava de mim, acordei em casa. Hera foi o pior momento de minha vida.
Hera não tinha palavras, e compreendia perfeitamente a situação de Murgen ela mesma se encontrava nessa situação. Querendo se sentir a presença do  único homem que a aceitou como ela é!  E ver o sofrimento nos olhos da amiga a fazia sofrer também!
_Murgen você acabou de dizer que a forma humana é seu ponto vulnerável! Porque procurou as feiticeiras? Não entendo?
_Eu as procurei porque preciso ir atrás dele. Preciso libertá-lo e foi à única maneira que encontrei de pode ir resgatá-lo! - Hera sabia o tamanho do sacrifício que Murgen se sujeitava ao ficar fora do mar. E isso só provava a força desse amor, mas também sabia que seja lá quais filhos de Hades os levaram Murgen estaria em perigo no meio deles!
Amiga pensa direito! É perigoso demais ir ate eles sozinha, e vulnerável! Você pode se ferir!
Então venha comigo Hera?! Ajude-me! –a sereia mantinha a esperança acessa em seu coração, finalmente não estaria sozinha, ate que a quimera perdida em fatos que omitiu a amiga por vergonha, hesitou em responder.

1 comentários:

nossa estou feliz pelas duas e triste ao mesmo tempo.
mais como sempre um capitulo perfeito
parabens gente
beijusss

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