10 de abr. de 2010

A FESTA...E ALGUNS PORMENORES

Posted by sandry costa On 4/10/2010 No comments

A FESTA...E ALGUNS PORMENORES

 Gostaria de saber o que estava acontecendo de errado comigo... Aparentemente eu ia ter que me acostumar com a rotina dos sonhos malucos assombrando minhas noites e ditando meu comportamento durante o dia. Como se um pesadelo só não bastasse, dessa fez foram vários. Acho que vou escrever um livro. “O que não fazer quando se está sonhando – Por Jacob Black!” Um lembrete para mim mesmo: Quando estiver em uma semana de pesadelos constantes, não durma fora de casa... Você pode dar prejuízos! Se no domingo eu achei que tinha passado dos limites, o que dizer sobre meu show de horrores dessa noite?! Show mesmo, porque é isso que acontece quando se passa a noite em uma casa onde ninguém dorme! Ainda não havia recobrado totalmente a consciência, mas podia escutar coisas do tipo “Esse cara tem problemas!”; “...naquela hora eu achei que ele ia quebrar a coluna!”; “... o melhor foi quando ele fez aquele barulhinho de...”; “Psiu, ele tá acordando! Ele tá acordando!”... Fui abrindo meus olhos vagarosamente, tentando dar umas espiadinhas ao redor, para ter uma noção da minha platéia... Casa cheia, como eu suspeitava! O espetáculo, aparentemente, foi um sucesso! Demorei mais alguns segundos para acordar por completo, desejando que tudo aquilo não passasse de um outro pesadelo... Era inútil! – Olá, princesa – Emmett às vezes me lembrava Paul; ele fez uma voz solene – enfim despertaste do teu sono! – Uma pena, eu admito... – Jasper deu o ar de sua graça. Alice largou um tapinha no abdômen dele, numa censura sarcástica. Eu não tinha pra onde correr mesmo, então me sentei no sofá. Até Esme e Carlisle estavam lá, me observando corar feito um pateta. Eu queria cavar uma vala e me atirar de cabeça... Todos se divertiam com meu constrangimento. – Sorte sua eu não te fazer pagar por esse vaso de 200 anos, que você tão delicadamente destruiu, enquanto fazia o passo do “Moon walk”, ou sei lá o que era aquilo! – foi a vez de Esme se pronunciar Olhei para o chão e vi os mil e um estilhaços do que restou de seu belo vaso egípcio. Senti um gelo no estômago. Nem se eu vendesse minha alma eu conseguiria pagar por aquilo, ou compensá-la! Sorte minha mesmo... Ainda bem que ela estava de bom humor. “Alguém me dê um tiro, por favor!” – Relaxe, Jacob! Todo mundo tem o seu dia de “cão”! – Rosalie não perdeu a oportunidade e nenhum deles conseguiu não rir da piada! – Você precisava ver sua cara agora... – Céus, até Bella estava envolvida – Espere, vou pegar um espelho! – e mais risadas se seguiram. Coloquei a cara mais sombria que pude e me levantei, passando por entre todos, com destino à saída. Ela me ultrapassou em uma fração de segundos, se colocando entre mim e a porta. – Que é isso, Jake! Foi só brincadeirinha nossa. Não precisa ficar desse jeito... – ela anteviu meu abatimento – Será que não?! Ora, Bella, tenha dó... – minha voz tão fraca que mal saía. Fiquei com medo de chorar na frente dela. Ia ser a cereja do bolo! – Não sei como você ainda consegue olhar pra mim... – Que besteira, Jake, não foi nada demais! – Ela me envolveu em um abraço maternal esquisito. Isso por que eu já estava com os olhos úmidos. Mais que mer... Esperei até que se afastasse, pois não seria capaz de fazê-lo eu mesmo. Ela os enxugou com as pontas dos dedos gélidos e me deu um beliscão de leve na bochecha. – Lobo bobo! Eu estava confuso. – Então você não está com raiva de mim?! Foi a vez dela ficar confusa. – Hã?! Mas por que eu estaria com raiva de você?! – Como assim?! Eu não... Nesse ponto, eu comecei a suspeitar que meu show não houvesse incluído palavras. Precisava me certificar dessa vez. – O que “exatamente” eu fiz enquanto dormia, Bella?! Ela não conseguiu reprimir o riso. – Ah... Você ficou se mexendo muito. MUITO mesmo! E também fez uns barulhinhos bem cômicos! Mas foi só isso. Por que?! “Graças a Deus!” Meu alívio foi imediato. Eu tratei logo de disfarçar. – Não, por nada! Eu só perguntei por perguntar... – Hum, sei... – ela me conhecia muito bem pra saber que eu estava omitindo coisas, mas resolveu não insistir – Ok! Que bom que está tudo bem então, né?! – Se você chama isso de bem... – Eu dei de ombros Olhei de volta para a sala. O restante do clã estava rindo a valer, enquanto Emmett fazia imitações ridículas de minha performance noturna. Edward, no entanto, permanecia sério, sentado um pouco mais afastado em uma poltrona. Ele era o único ali que era capaz de ter uma visão completa dos meus terríveis delírios. Diante de opções, eu teria preferido que ele tivesse me visto na noite de domingo, ao invés dessa. Até agora eu não acreditava que tinha conseguido me manter de boca fechada. Era pouco provável que algum dia eu conseguisse reconquistar seu respeito outra vez... O que quer que estivesse provocando aquelas alucinações em mim, tinha uma força muito intensa e exercia um controle absoluto sobre meu inconsciente. Estava se tornando perigoso para mim fechar os olhos. Essa energia emanava de uma fonte desconhecida, e estava sendo muito insistente, ao ponto de eu achar que nunca mais teria uma noite de sossego. Uma vez eu li que “quando a gente não encontra mais refúgio em nossa própria mente, precisamos nos livrar dela!”. Não sei quem foi o idiota que escreveu isso, mas eu estava começando a compreender seu ponto de vista... Bella acabou me convencendo a voltar para a sala, me prometendo um belo café da manhã de consolação. O circo que Emmett montou às minhas custas ainda estava de pé, enquanto ele e Jasper tentavam fazer contorcionismo. Fomos direto até a mesa de jantar (puramente decorativa naquela casa, óbvio), onde me sentei, virado de costas para as apresentações dos dois mais novos palhaços de Forks! Eles se cansaram, por fim, e vieram todos se sentar comigo. Uma ocasião bastante conveniente para estrear a mesa, eu percebi... Bella estava na cozinha, preparando algo que começava a cheirar (Bem até...) e Esme foi fiscalizar. Mas o restante ainda parecia ter disposição para 1000 horas de interrogatórios. – O que você estava sonhando quando deu aquela risadinha?! – Jasper estava me surpreendendo com sua falta de decoro... – E naquela hora em que você... – Emmett foi interrompido por Bella, que educadamente exclamou da cozinha – Chega gente! Ele não tem como saber do que vocês estão falando – era tão bom ter alguém para me defender daquele ataque vampiro Eles se renderam feito duas crianças mimadas. Achei graça pela primeira vez. O único a permanecer de fora foi Edward, ainda estranhamente evitando qualquer participação. Ele fingia ler um livro qualquer, mas por detrás de cada passada de folha, eu via seu olhar morto atravessar o objeto em suas mãos... provavelmente, estava tentando se concentrar em não me estrangular, ou avançar na minha carótida... Nesse momento, Alice tentou descontrair o ambiente novamente. – Menos mal que tenha sido o vaso, Jake – olhei pra ela, ao escutar o meu nome – se você tivesse avariado alguma coisa da decoração, por mais insignificante que fosse, iria experimentar o gosto da minha fúria. – uuUU! – os dois engraçadinhos fizeram eco à ameaça exagerada! Meu olhar se desviou na direção da janela. O tempo, quem diria, estava firme, sem uma gota de chuva caindo do céu. A qualquer momento, começaríamos a receber os convidados... Foi nesse ponto que avistei Renesmee surgindo por entre a folhagem, vinda do chalé. Estava encantadora em seu pijama de ursinhos preferido, embora suas feições fossem as de alguém que nem sequer tinha conseguido pregar o olho. Ela caminhava impaciente, marchando sobre os galhos secos no solo em frente à casa. Desapareceu na linha que delimitava o andar de baixo, então escutei o ranger suave da porta. Ela reapareceu na entrada da sala, ainda bocejando, e foi recebida pelo tradicional canto de parabéns coletivo. Emmett assobiava enquanto o resto cantava animadamente. No fim batemos palmas e ela nos agradeceu, sem graça. Eu nunca me senti a vontade quando as pessoas resolviam cantar parabéns para mim. Todos gritavam “êêÊÊ, Renesmee! Renesmee!”, quando seu olhar se fixou na minha direção, e ela ficou rígida feito estátua. O silêncio se instalou, fazendo até com que Edward saísse de seu transe literário. De súbito, ela saiu em disparada, com destino a sei lá onde. Todos a observaram fugir, depois seus olhares pousaram em mim, e em seguida cada um voltou ao que estava fazendo antes, frustrados. Me encolhi na cadeira, sem saber o que pensar. Pior, me torturando com suposições horrendas sobre o que eles poderiam estar pensando... Que mistério escabroso! Passados alguns segundos mais, Edward disse à Alice, sem tirar os olhos do livro: – Ela está te chamando no banheiro! Alice deu um muxoxo e o censurou. – Eu acho que não era pra você dizer isso alto. Ele deu de ombros, com indiferença. Ela levantou suavemente para se encaminhar até o banheiro, dando um tapa na nuca de Edward ao passar por ele – Ai!! – Ele protestou, dissimulado. Bella veio me entregar a bandeja com um sanduíche e suco de maçã {sua cara era de quem se divertia}. Em seguida, foi se sentar no braço da poltrona onde estava o marido, massageando o local onde havia levado a pancada. Ele se aninhou em seus braços e voltou ao livro. Jasper foi procurar algo de interessante na internet, prevendo que Alice não retornaria tão cedo. Olhei para os lados e me vi rodeado unicamente por casais que trocavam olhares e carícias. Comecei a entender o dilema de Seth... Engoli o lanche de uma vez (Pelo amor de Deus, Bella, eu não era um passarinho... mas o que valia era a intenção!) e decidi dar uma volta ao redor da casa. Ninguém pareceu me notar enquanto atravessei a sala até o hall. Do lado de fora, o ar estava fresco e os raios solares até aqueciam em contato com a pele! Um clima verdadeiramente especial, digno da data. Há exatos sete anos, vinha ao mundo a mais bela criatura que já pisou esta terra, mudando para sempre a minha forma de enxergar as coisas, de agir, de respirar até. Sua chegada sacudiu meu universo, literalmente, e sua existência agora regia a minha. Como as pessoas por aí gostam de dizer, ela mudou meu mundo. Pra melhor, muito melhor. Mas agora, com aqueles sonhos vindo se antepor a este meu estado de perfeição absoluta, eu me torturava o tempo todo. Estava me sentindo desanimado, fraco, sujo, humilhado... Indigno de estar em sua presença. No entanto, em todas as vezes que estivemos juntos desde então, era como se não houvesse outro lugar onde eu devesse estar, senão ao seu lado, ouvindo sua voz, tocando sua pele, sentindo seu perfume... Cuidando dela. Era uma contradição perturbadora. Eu sentia o peso do mundo todo retesando meus músculos, como se todos ao redor estivessem me julgando. Pior, me condenando. Eu próprio me condenava, acima de todos, acima de tudo. Eu era vil... atrevido...obsceno... porco! Estava mergulhado nesse mar de depressão, quando ouvi passos estranhos vindo em minha direção. Tive certeza de que eram duas pessoas, caminhando juntas, em um ritmo rápido e constante. Minha atenção se voltou toda para o leste, e eu fiquei a postos, quase como se antecipasse a vinda de uma fera selvagem. Bom, de certo modo, eu não estava errado. Porém, um pouco tenso demais... Dois vampiros, um garoto com aparentemente 16 anos e uma mulher igualmente jovem, de peles morenas cor de oliva e bem abastados de ornamentos e maquiagem, aproximaram-se tranquilamente de mim, após surgirem por entre a floresta densa. Seus olhos cor de vinho me encaravam, despreocupados, e eles pareceram satisfeitos em me ver. Suas feições não me era estranhas... O garoto falou, com sua foz produzindo um eco: – Jacob?! É você?! – ele sorriu pra mim – Somos nós, Benjamin e Tia, se lembra?! Claro, os vampiros egípcios. O dois mais jovens, pelo menos. Sorri em resposta, dando também um aceno cordial de cabeça. – Sim, como não me lembraria de vocês?! – Se o cheiro não fosse um fator incomodo a nós dois, teríamos trocado um abraço amigável – Sejam bem vindos! Onde estão os outros dois... ham... – Amun e Kebi! Eles preferiram ficar, mas mandaram lembranças à todos. Eu já sabia daquilo, porém as regras de boas maneiras exigiam um certo grau de interesse nesses tipos de situação. Incrível como as coisas mudaram. Jamais pensei que um dia me encontraria recepcionando vampiros com tamanha naturalidade... – Ah, sim, eu ouvi algum comentário a respeito! Bom, é uma pena que eles não puderam se juntar a nós. – É verdade! – ele concordou, apesar de não parecer muito insatisfeito com a decisão de seus companheiros – E onde estão todos?! Chegamos cedo demais?! – ele olhou em volta, estranhando a falta de movimentação – De jeito nenhum! Chegaram em uma boa hora, estão todos lá dentro. Vamos fazer uma comemoração mais caseira do que imaginávamos... – coloquei um sorriso amarelo na cara ao mencionar aquela parte – Venham, vamos entrar! Conduzi os dois até as escadas, como se eu fosse o dono do lugar. Já tinha me acostumado a passar dias e dias na mansão. Ficava mais tempo lá do que em casa. Carlisle e Esme vieram para a entrada recepcioná-los. Todos se cumprimentaram, repetindo o mesmo ritual de boas vindas. Lá dentro, o restante dos Cullen os recebeu com muita animação. Piadas do tipo “vocês não mudaram nadinha!” eram comuns entre os vampiros, e a descontração contagiou até a mim. Não demorou muito até que outros convidados começassem a chegar. Os próximos foram os Denali. Tanya, Carmen, seu companheiro Eleazar, Kate e Garrett traziam consigo presentes enormes. Emmett lhes perguntou se tinham vindo em um caminhão, e todos riram e se cumprimentaram. Em seguida, Zafrina, Senna e Kachiri, do clã das Amazônas, foram recepcionadas pelo ambiente festivo. Eu já havia me esquecido de como aquelas três eram particularmente altas, quase batendo na decoração do teto. Cada clã demonstrando uma enorme satisfação com o reencontro, principalmente por ser em uma ocasião feliz, tão diferente da anterior... Todos perguntavam incessantemente por Renesmee, principalmente Zafrina, cuja afeição por Nessie fora evidenciada em todas os emails e presentes que lhe mandou ao longo desses anos. Bella se esquivava com a desculpa de que Alice a estava ajudando a se arrumar, e todos acreditavam cegamente, já conhecendo sua fama. Eu estava bastante preocupado, apesar de seus insistentes pedidos de “paciência”... A atitude de Nessie na hora do café havia sido bastante incomum. Será que estava se sentindo mal?! Vi que Edward revirou os olhos para essa minha linha de raciocínio e, embora confuso, eu relaxei. O que quer que o estivesse levando a agir daquele modo frio comigo não o impediria de nos avisar, caso algo de errado estivesse acontecendo. Logo, foi a vez do clã Irlandês fazer sua aparição. Siobhan, Liam e Maggie ficaram bastante satisfeitos por terem conseguido chegar à tempo. A coisa já estava começando a pegar para o meu lado. Como era de se esperar, o cheiro era quase insuportável. Reprimia constantemente o impulso de tossir, com medo de ofender algum dos presentes. Bella e Esme me lançavam olhares de compaixão, enquanto Carlisle me felicitava por meu esforço. Jasper me prometeu que iria direcionar uma tranqüilidade extra ao meu estado de espírito durante toda a permanência dos visitantes, o que me ajudaria a manter o controle. Pude então aparentar um pouco mais de alegria, nem que fosse pelo fato de que a festa estava se encaminhando para ser um sucesso. Todos estavam entretidos com alguma coisa. Os homens cederam ao convite de Carlisle para o tradicional poker, algumas das garotas estavam conversando animadas sobre algum assunto que não pude entender, enquanto outras faziam um tour com Esme pela mansão, apreciando os minuciosos detalhes da decoração que preparamos. Eu permaneci sentado no chão, próximo à parede de vidro, observando a movimentação com a sensação de missão cumprida. Me afligi, contudo, quando pensei em Billy, Sue e alguns de nossos convidados “humanos” no meio daquela quantidade de vampiros. Se eu não estava enganado, alguns deles não eram 100% vegetarianos... Bella veio até mim nessa hora, colocando-se de joelhos na minha frente, ficando mais ou menos na altura dos meus olhos. – Edward mandou que eu viesse aqui te dizer que não há nenhum perigo para sua família. Ele garante que todos os presentes saberão se comportar. Será como uma reunião de pessoas comuns! – Como ele pode ter tanta certeza?! – eu não dei muito crédito à essa última parte de sua afirmação – Ele disse que Alice não previu nada além de risadas, jogos e diversão. Ela viu todos juntos, vampiros, humanos e borrões, ou seja, lobos... Eu franzi o cenho. – Então não teria sido bom que Charlie também tivesse sido convidado, afinal?! Ela deu um assopro pro ar. – Seria demais para ele, Jake! Ele não iria se entrosar... além do fato de que ficaria horrorizado com algumas coisas. – Com várias coisas! – eu corrigi e ela concordou Um aspecto primordial naquela conversa precisava de esclarecimento. – Eu posso perguntar o porquê de o próprio Edward não ter vindo aqui me dizer isso?! Ele está tão estranho comigo, ultimamente... – fiquei tenso ao entrar nesse mérito. Ela rolou até ficar do meu lado, sentando-se na mesma posição com as costas apoiadas no vidro. – Não se preocupe. Isso é só um detalhe desagradável que irá se resolver com o tempo, eu te asseguro! – seu sorriso não me deu a chance de duvidar – Não terá sido alguma coisa que eu fiz?! – eu estava me arriscando, mas a curiosidade era mais forte... Ela pareceu tentar elaborar uma resposta satisfatória – Em tese... sim! Mas não precisa se preocupar com ele. O momento é de festa, não é?! Então?! Todos estamos com os ânimos alterados... – a risadinha nervosa, que acompanhou sua fala dessa vez, era a marca registrada de alguém que não sabia mentir. Eu estava agora disposto a cavar até o fundo daquela história, mas minhas intenções foram interrompidas com a chegada da minha parte dos convidados. O bando era de arrepiar. Dezesseis Quileutes adentraram à mansão Cullen, introduzidos por Carlisle e Esme, cada qual com uma expressão diferente. Alguns estavam tensos, outros curiosos, outros até esboçavam uma reação simpática, como era o caso de Seth, claro. Ele foi reconhecendo os vampiros um a um, sendo recebido com animação pelos velhos conhecidos. O restante foi recepcionado por Edward e Emmett, o que acabou por descontraí-los por fim. Um buffet havia sido cuidadosamente organizado por Esme exclusivamente para nós, consumidores de alimentos regulares. De longe, notei que Leah estava acompanhada por Zach. Era engraçado ver o esforço que ele fazia para não pirar, coitado... Já devia passar das cinco horas da tarde, agora. Eu me levantei e estendi a mão para Bella, mas ela se pôs de pé em uma fração mínima de segundo e piscou, convencida, indo na direção dos recém chegados. Não contive o riso e caminhei até eles também. Billy pareceu muito satisfeito em me reencontrar. – Olá, Filho! Quanto tempo, não?! – o velho sarcasmo tão característico em seu tom de voz – Não vamos começar com isso agora, pai! – falei entre os dentes, trincados em um sorriso forçado – Concordo! Vamos deixar pra mais tarde! Eu nem me dei ao trabalho de responder. Fui cumprimentar os outros. Os lobos gritaram “Jake” em um coral que chamou a atenção de todos, muito provavelmente. Era como se não nos víssemos há séculos... A distância supervalorizava os efeitos do tempo entre os lobisomens, fazendo uma semana parecer uma eternidade realmente. Ele se jogaram em cima de mim, se aglutinando em um montinho esmagador e embaraçoso. Escutei as risadas de todos por debaixo dos corpos gigantes de meus ex-companheiros de matilha. Que bom que estavam se divertindo, pelo menos. Alice, enfim, apareceu. Todos a saudaram calorosamente e ela os cumprimentou de volta, com o mesmo entusiasmo, porém sem arredar pé da entrada do cômodo. Ela se preparava para fazer um anuncio. Solicitou a atenção dos presentes, agitando suas mãozinhas pra cima. Todos lhe deram ouvidos. – Olá a todos! Eu estou muito contente com a presença de vocês e tenho um comunicado a fazer. Ela fez um suspense, e eu comecei a escutar o palpitar do meu coração. – A aniversariante está pronta e já vai descer, então eu vou apagar as luzes pra criar um clima de suspense, enquanto ela fará sua entrada, ok?! Todos concordaram. Edward revirou os olhos e deu o primeiro sorriso do dia, direcionado a Bella. Eles pareciam se deliciar com uma piada particular... As luzes da sala então se apagaram, ficando acesas somente as do Hall da escada, de onde esperávamos que Renesmee surgisse. Alice foi depressa até o andar de cima, descendo em seguida. “Ela está vindo!” ela sussurrou a todos, explodindo de empolgação. Alguns segundos depois, eis que, diante dos olhos de todos, surgiu a figura translúcida e espetacular de Nessie, em seu longo vestido azul meio perolado. Eu tive certeza de que nunca mais seria capaz de piscar na vida. A ovação foi de arrepiar os pelos, tamanho o entusiasmo geral. Ela estava radiante de felicidade ao ver tantos rostos conhecidos. Parecia indecisa entre quem abraçar primeiro. Foi recepcionada pelos pais, que não conseguiam esconder o orgulho e emoção pela filha. Era uma cena característica de grandes acontecimentos. Ela encolheu-se entre o abraço dos dois, posando para que Alice batesse uma foto. Eu me deliciava enquanto seu rostinho perfeito se modelava em um sorriso. Ela parecia tão natural que sua atitude me fez relaxar por completo. Eu não conseguia tirar os olhos dela, enquanto era cercada de abraços e beijos de parabéns. Ela percorreu a sala, cumprimentando a todos e se demorando em alguns conforme ia sendo solicitada. Ninguém falava em outra coisa, a não ser em como ela havia crescido e se tornado uma belíssima mulher (apesar de só ter sete anos, todos precisavam se lembrar desse detalhe quase sem importância!). As vozes se misturavam de maneira que eu não conseguia escutar uma palavra que saía de seus belos lábios. Mas sabia que ela estava constantemente dizendo “obrigada”, por conta da leitura labial... Seus olhos brilhavam tanto que contagiavam a todos, e eu não conseguia entender porque somente o meu coração parecia estar em um ritmo descompassado. Tudo estava tão perfeito... Ela estava tão angelical! Seus cabelos acobreados estavam presos em um penteado muito delicado, e alguns cachinhos caíam por seus olhos. Eu poderia descrevê-la milhões de vezes sem, contudo, fazer jus a sua perfeição! Finalmente, seu percurso teve continuidade, trazendo-a até aonde estávamos. Os Quileutes não tinham muita aproximação com ela, mas foram cativados por sua calorosa saudação. Seth a estava cumprimentando e uma distância mínima nos separava agora. Meu coração batia tão depressa que produzia um som único, como um tambor muito rápido. Quando seu olhar veio, finalmente, de encontro ao meu, fui atingido por uma onda de repentina... tranqüilidade! Olhei para Jasper, mas ele estava conversando com Eleazar e Benjamin, parecendo muito ocupado pra ser o responsável por aquilo. De repente, eu era o cara mais confiante do mundo. Me aproximei com habilidade dela, sem vacilar nem um instante sequer. Seu corpo se afetou como de costume à minha proximidade, o que pareceu me estimular mais ainda. “Que coisa mais estranha! O que estava acontecendo comigo?!” pensei, enquanto abria minha boca para pronunciar alguma coisa: – Feliz aniversário, minha princesa! Ela corou e sorriu, seu nariz franzindo. Céus, como alguém podia ser tão linda?! – Obrigada, Jake! Um novo impulso me fez estender os braços. Ela, muito timidamente, veio se aninhar em mim, que a recebi como se meu abraço tivesse sido projetado unicamente para ela. Eu estava vibrando por dentro com meu autocontrole e súbita confiança! De início, ela estava muito tensa e seus braços pendiam para o chão, sem participar do gesto. Mas pouco a pouco ela foi relaxando, se entregando por fim ao momento. Ela não conseguia fazer a volta completa com os bracinhos em torno de mim, mas se esforçou o máximo possível para isso. Pude sentir seu rosto em meu peito, então descansei o queixo no alto de sua cabeça, após dar-lhe um beijo na fronte. Nos esquecemos completamente das pessoas ao redor, até que um pigarro nos interrompeu. Era Alice, protestando para conseguir tirar uma foto decente de nós dois. Remodelamos nosso abraço, ficando lado a lado. Ela encostou a cabeça no meu ombro e meu braço envolveu suas costas. “Digam Renesmee” Alice disse. –Click – O flash cegou minhas vistas... Esfreguei os olhos em um reflexo natural para tentar recuperar a visão. – Você está bem, Jake?! – Ela perguntou, segurando minhas mãos. Eu pisquei umas duas vezes, depois sorri pra ela afirmativamente. Ela me surpreendeu, com um beijo no rosto – Que bom! Meus músculos se retesaram outra vez, quando alguém a chamou de longe e ela teve que se afastar, pesarosa. Dessa vez, uma onda de calores me atingiu, percorrendo todas as esquinas do meu corpo. Olhei para Jasper, que finalmente me enxergou. Fiz uma cara de dor e ele entendeu meu recado. Lançou seu “feitiço” e eu pude sentir meus dedos das mãos outra vez... Respirei profundamente, aliviado! “Obrigado!” Eu disse pra ele, silenciosamente. Ainda bem que, em sua cabeça, o motivo para aquele meu desequilíbrio emocional era o cheiro de nossos convidados. Se soubesse a verdade, não sei o que seria de mim... ia virar piada pelo restante da noite! Esme anunciou que o buffet estava à nossa disposição. Humanos e lobisomens se dirigiram até aonde estavam os doces e salgadinhos. Tudo estava delicioso, fazendo jus ao bom gosto da anfitriã. Benjamin acenou para mim, um convite para que eu me juntasse à ele e aos outros vampiros. Estava de boca cheia e segurando um prato de comida, mas não me opus a seu chamado. Fui assim mesmo, totalmente desengonçado, me esquivando dos que bloqueavam a passagem. Ao me achegar, alguns deles abriram um lugar para mim no sofá, enquanto a maioria estava sentada confortavelmente no carpete. Estavam rindo enquanto discutiam algum assunto que peguei pela metade. Parecia que se recordavam de quando, há sete anos atrás, estávamos sendo julgados pelos Volturi, e Caius parecia se pelar de medo da alcatéia. Ninguém se privou de expressar alguma piadinha sobre o vampiro macabro... Emmett agora imitava um repórter, fazendo a mão de microfone. Fui seu primeiro entrevistado. – Então, Sr. Black – aquilo soou estranho, mas cômico – como você se sente, sendo uma das poucas criaturas no mundo capazes de fazer Caius Volturi borrar as calças?! Eu fiquei sem ação ao ver todos aqueles rostos pálidos me encarando, ansiosos por uma réplica que os fizesse cair na gargalhada! Então dei um meio sorriso e respondi, colocando minha expressão mais cínica: – Eu me sinto confuso... isso sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha todos esses anos... Ele soltou uma gargalhada muito empolgada e todos o acompanharam. Fiquei admirado por terem achado o trocadilho tão engraçado... Até Rosalie riu, quem diria! Soube, com certeza, que naquele momento eu me tornava o primeiro “lobisomem” em toda a história a se sentir a vontade entre tantos vampiros. Me rendi completamente ao bom humor deles e a entrevista continuou. A cada pergunta descabida que Emmett me fazia, eu dava uma resposta mais sem noção ainda. Eu, no fim das contas, acabei virando a piada da festa, mas não foi do jeito que eu temia. Foi até bem divertido... Todos me adoraram. Estava tudo ótimo, até a hora em que Jasper relembrou minha apresentação noturna e Emmett imediatamente começou a oferecer a todos imitações bizarras de mim, enquanto dormia... Aturei aquilo por uns momentos, só pra não ser indelicado. Mas, quando percebi que o show não iria mais ter um fim, pedi licença a todos e me retirei, escutando o coro de desapontamento que eles fizeram. “Valeu Jasper, você é um amigão!” Escutamos o tilintar de um garfo em uma taça de cristal. Alice solicitava a atenção de todos novamente. – Gente, chegou a hora dos presentes! Eu e nossa família, incluindo Jake, temos duas surpresas para Nessie! A primeira delas – ela disse, já olhando em minha direção – é uma coisa muito especial que Jake preparou, com muito esmero eu devo dizer! Todos se viraram para olhar pra mim, admirados. Eu estava tendo um ataque de pânico. JASPEEERRRR!!! Alice me chamou, para que pudéssemos ir juntos buscar o painel. Atravessei a sala, passando por todo mundo e recebendo alguns tapinhas nas costas. “Aê Jake!” ouvi alguém gritar... Emmett me barrou, quase na entrada do Hall. – Deixe que eu vou! Assim você pode ficar aqui e admirar o espetáculo! Que idéia mais genial, cara-pálida, muito atencioso... Arf, eu não tinha mais condições de replicar. Bella me deu um puxão pela camisa (droga, eu era o único mal vestido da festa, reparei naquela hora!), me colocando ao lado de Renesmee, que, a seu modo, se ruía de curiosidade! Aquela súbita autoconfiança me invadiu outra vez... ...Estava claro agora, ela estava fazendo aquilo comigo, inconscientemente. Ainda não via como, mas já sabia, pelo menos, que algo estava acontecendo de novo entre nós. “O começo de uma nova fase é uma coisa positiva!”. A frase que Seth tinha dito, dois dias antes, ecoou em minha mente! Por que será que me lembrei daquilo?! Não tive tempo de buscar respostas no meu subconsciente, pois os dois já estavam retornando, com o presente envolto em um pano lilás cintilante. “Alice!” não pude deixar de suspirar... Fizeram o suspense habitual e ... – Tcharam! – falaram juntos, enquanto o tecido foi retirado, revelando o arsenal de imagens e dizeres que eu havia (com a ajuda das garotas, claro!) conseguido organizar no quadro. Estava até graciosinho... Ele era maior do que Alice e, ainda assim, Emmett o sustentava com total equilíbrio, de maneira que todos pudessem ver. Ouvi atrás de mim os comentários positivos do tipo “Uau!”; “Que lindo!”; “Olha só, quem diria...” (esse foi de Leah, eu podia jurar...); “As fotos ficaram maravilhosas, e os dizeres são emocionantes!”. Senti um alívio com a aprovação deles. Mas a principal opinião ainda não havia sido pronunciada. Renesmee estava imóvel, a expressão em um misto de choque e deslumbramento! Alice não se conteve e tirou uma fotografia dela. Ela voltou a si com o flash. – Bom, não dizem por aí que “uma imagem vale mais do que mil palavras”? – Alice disse em aprovação à foto que aparecia no visor da câmera, fazendo com que todos rissem A aniversariante chegou um pouco mais próxima ao painel. Parecia maravilhada com a riqueza de detalhes e a ternura dos dizeres que todos escreveram. Ficou mesmo parecendo um cronograma de sua vida. Minha satisfação agora era completa. Ela se virou para mim, os olhos úmidos de emoção. Senti meu rosto se repuxando. Calma Jake, Calma! – Este – ela falou com a vozinha rouca, a cabeça pendendo para o lado enquanto olhava fixamente para mim – é o presente mais lindo que eu já recebi em toda a minha vida! Um coro de “ÒÒÒÒÒ!” ecoou ao nosso redor, enquanto eu corava feito um tomate maduro. Ela veio se aninhar nos meus braços, o rosto já cheio de lágrimas de alegria. Todos bateram palmas... Era o paraíso na terra, apesar de um tanto desconcertante! Não se demorou muito nos meus braços, afastando-se logo em seguida para se recompor e mostrar aos demais que estava tremendamente contente e agradecida. Senti mais tapinhas nas costas. Eu era o herói do momento, mas não me envaideci ao ponto de externar essa impressão. O centro das atenções deveria ser, exclusivamente, dela. Passada a comoção inicial, Alice tornou a solicitar atenção. – Ok, a primeira surpresa já foi! Agora, vamos dar continuidade! – ela batia palminhas de empolgação – Eu peço agora que todos me acompanhem até lá embaixo, por favor. Ela então foi na frente, com seus pacinhos ligeiros, e todos a seguimos. A ansiedade era geral. Não havia um que não se perguntasse qual seria a próxima surpresa. “Será que ela superaria a primeira?!” minha mente me torturava com o que eu achava que estavam pensando... Por fim, nos aglomeramos no jardim. Estava tudo escuro ao redor, a não ser por uma luz perolada, que iluminava Alice sutilmente. Ela voltou a falar: – Meus queridos amigos. Estamos hoje aqui reunidos para celebrar um evento muito importante na vida de nossa querida Nessie: sua maioridade! Sim, por que essa garotinha de apenas sete anos tem, e isso desde sempre, o incrível dom de nos surpreender e superar em tudo – nesse ponto, todos riram em concordância, mas a ansiedade só fazia aumentar – de modo que ninguém aqui consegue se lembrar de sua real idade, quando diante de tamanha maturidade e graça. Foi a vez de Nessie corar. Alice deu uma piscadela para ela e seguiu em frente: – Por esse motivo que nós, seus tios e tias, avós e pais, decidimos lhe oferecer, nessa noite – eu podia escutar o rufar dos tambores mentalmente – uma prova de nossa confiança e eterna admiração! Na seqüência, a luz que a envolvia se apagou e um palco giratório, iluminado por luzes brancas e uma nuvem de fumaça, surgiu diante de nossos olhos. Me perguntei em que momento da festa os Cullen se ausentaram para preparar aquilo tudo, visto que o mesmo local estava vazio enquanto os convidados ainda chegavam... Em cima, o glorioso Porsche se encontrava, ostentando o penhor de sua marca imponente. – WOOOOW!! – os garotos Quileutes vibraram todos ao mesmo tempo, descrentes. Pude ver meu pai balançar a cabeça com o exagero da situação... O restante permaneceu imóvel, admirando o esplendor do veículo! Era de tirar o fôlego, de fato. Após um longo minuto, tempo em que o palco fez uma volta completa, todos aplaudiram efusivamente. Renesmee olhou para o pai, sua carinha angelical e maravilhosa evidenciando a gratidão de seu coração. Depois fez o mesmo para a mãe e em seguida todos os Cullens. Edward parecia muito satisfeito consigo mesmo. Ouvi Bella comentar maliciosamente com ele: – Enfim, você encontrou alguém para redirecionar esse seu consumismo exagerado, não é?! Dei uma gargalhada interior... Com isso ela não quis dizer que a filha era fútil, ou algo do tipo. Mas era um alívio para ela deixar de ser o alvo central de tantos mimos de valores incalculáveis... Edward estendeu a chave para a filha, que a recebeu com zelo e depois correu para dar um abraço em cada um deles. “Muito obrigada!” Ela dizia a cada um. Vários grupinhos se formaram, onde cada um presente expressava o quanto estava maravilhado com as surpresas que aquela família era capaz de armar. Os garotos da reserva se aglomeraram ao redor de Renesmee, dando-lhe parabéns e tecendo inúmeros comentários empolgados sobre o carro. Ela agora seria a heroína deles. Leah veio para perto de mim, agora que seu namorado estava mais entretido com o presente de Nessie do que com ela. Eu achei graça de sua cara. – Com ciúmes do carro, Leah?! – Claro que não Jake! Vocês homens é que são todos uns bobos, quando se trata de carros velozes. Parece que viram crianças de novo! – ela revirou os olhos, os braços cruzados. Ela sim é que parecia uma criança mimada. Apontei o dedo pra ela, dando uma risadinha escraxada de sua cara. Ela fez menção de o quebrar, então o recolhi, prendendo uma gargalhada mais intensa. A festa teve continuidade ali mesmo no jardim. O céu estava iluminado por milhares de estrelas que vieram brindar à homenageada. Emmett colocou umas musiquinhas de fundo. Foi o que bastou para os casais presentes iniciarem um circuito de dança. Os que não tinham um par se deliciavam em os observar, enquanto conversavam sentados na relva. Carlisle e Esme foram os primeiros, seguidos de Jasper e Alice. Depois, Edward convenceu Bella a acompanhá-lo... Ela cedeu, de má vontade {Ela sempre iria ser Bella, não importa quantos séculos se passassem}! Rosalie e Emmett ficaram sentados mesmo, namorando quietinhos. Os convidados também se animaram. Benjamin e Tia, Kate e Garret, Sam e Emilly... Foi bonitinho quando Quil puxou a pequena Claire para uma dança. Eu não a tinha visto até aquele momento, e reparei que estava encantadora em seu vestidinho bege. Ela estava agora com dez anos e seus ombros já batiam na cintura dele. Quil, todo desengonçado, a conduzia com muita satisfação, enquanto os garotos riam de seu jeito atrapalhado. Ele nem se importava. Era como se fosse o irmão mais velho dela, sempre lhe cobrindo de mimos. Tinha sido assim comigo e Nessie... Até agora... Ela estava próxima às Amazonas. Observei que Zafrina lhe fez algum comentário, enquanto olhava direto pra mim, que a fez corar. Eu soube exatamente o que era e também corei. – Vai lá, Jake! – Leah, que estava juntamente com Zach, sentada ao meu lado, me cutucou com o cotovelo – Você está morrendo de vontade de fazer isso! Eu fui incapaz de dizer uma palavra. Engoli em seco e me pus de pé, buscando a coragem necessária para os impulsos elétricos do meu cérebro em equilíbrio. Vi que Alice e Jasper haviam notado minhas intenções enquanto dançavam, e me mandaram um olhar de incentivo. “Ai, que vergonha!”... Se eu não fosse agora, iria ser muito mais embaraçoso. Caminhei trôpego em direção ao local onde ela estava. Todos {todos mesmo} acompanharam meu percurso, com muita expectativa. Dei o último passo de aproximação, a cabeça baixa o tempo todo. Me dignei a olhá-la. A confiança retomou seu posto em meu estado de espírito! Nessie me encarava fixamente e sua expressão tornou-se surpresa quando lhe estendi a mão. – Posso dançar com a aniversariante?! Ela aceitou lisonjeada, sem nem piscar. Então nós dois fomos nos juntar aos casais, entre os assobios dos Quileutes. Me virei para eles, o olhar mortal inflamando de raiva e eles voltaram a conversar sobre o Porsche... Céus, quem era eu pra dizer que Quil era desajeitado. Eu devia ser o pior dançarino da face da terra. Era óbvio que eu nunca havia dançado na vida, por isso as pessoas pareciam relevar. Mais que isso... Seus olhares para mim e para ela eram tão... Constrangedores! Ficamos em silêncio por algum tempo, então ela iniciou uma conversação tímida: – Pensei que não iria me convidar. Achei que eu mesma teria que tomar a iniciativa... – seus olhos buscavam os meus Fiquei desconcertado ao ouví-la. Pronunciei uma desculpa, concentrado em não pisar no pé dela enquanto falava. – É que eu estava dando a oportunidade aos outros primeiro! Sabe como é né... A gente não pode ser egoísta nessas horas! – o sorriso amarelo brotando da minha cara de pau. Ela deu risada, sua voz grave e melódica, e se concentrou nos passos. Do nada, eu senti um ímpeto para mudar completamente de assunto: – Por que as coisas parecem estar diferentes agora, Nessie?! O que está havendo?! eu fiz algo de errado?! Sua expressão cedeu a um abatimento profundo. Eu me apressei em mudar o teor da conversa, antes que ela ficasse mais triste: – Deixa pra lá! Olha, sua festa foi perfeita e... – Não precisa mudar de assunto, Jake! Está tudo bem, você tem o direito de perguntar o que quiser! – seu tom era o de um mártir e eu me apavorei com aquilo – Eu só preciso saber se está tudo bem com você. Ela meneou a cabeça. Parecia que seus pensamentos estavam em guerra, mas ela não conseguia mostrá-los pra mim... Ela não queria me mostrar! Seu rosto começou a se contorcer e ficar vermelho. Meu Deus, era uma tortura ver aquela cena. – Nessie, por favor, não fique assim! Vamos esquecer esse assunto, ok?! – Não! – ela exclamou de súbito, quase chamando a atenção dos demais. Paramos de dançar imediatamente e ela me puxou pelas mãos para fora dali. Pude sentir por fim os olhares de preocupação se dirigindo a nós dois, enquanto ela me arrastava para dentro da casa novamente. Fomos nesse ritmo até o Hall, então ela me soltou, ofegante de nervosismo. Estava muito agitada, seus braço tremendo em agonia. Não tinha coragem de me olhar de frente. Eu previa que lá fora as pessoas começariam a se perguntar o que estava havendo. Olhei através da cortina de seda branca que mascarava a porta, mas constatei, aliviado, que o ambiente não apresentava qualquer alteração. Esperei que ela se acalmasse, com uma certa impaciência... Ela se virou, por fim. Sua expressão era indecifrável. – Eu não sei o que está acontecendo, Jake! – a voz séria como nunca havia escutado antes – Mas de uns tempod pra cá, algumas coisas mudaram sim. Eu nem sei mais até que ponto eu sou digna da sua amizade... Digna de que você me olhe assim, com tanta admiração... Mas do que ela estava falando?! Pareciam as minhas palavras que saiam de seus lábios! Minhas impressões sobre mim mesmo, sendo torpemente atribuídas a ela. – Nessie, você está me assustando! Seus olhos se cravaram nos meus, e tudo ao redor saiu de foco. Ela avançou decidida até mim e me tomou em um beijo desesperado. Meu coração parou. Eu não pude prever aquilo e meus músculos se enrijeceram. Foi como em meus sonhos, só que mais intenso... Quase violento! Era a realização de um sentimento que agora era muito claro para mim... Porém... Algo não estava certo. Eu me senti na obrigação de intervir. Reprimi o impulso de ceder ao seus lábios urgentes, com muito esforço, e iniciei um movimento evasivo. Consegui prender seus pulsos com delicadeza e me esquivei do beijo devagar. Ela soltou o fôlego e seu rosto repousou em meu pescoço, sua respiração descompassada aquecendo minha pele. Eu a abracei contra mim e ela desabou em um choro intenso. – Jake, me desculpe! Me desculpe! – eu ouvia ela dizer entre os soluços Nada teria me satisfeito mais do que ter retribuído ao beijo com toda a força do meu ser. Mas eu não podia... Não parecia certo! Eu seria mais indigno ainda se o fizesse, ela estava claramente sofrendo. Eu queria construir uma ponte que me levasse até seus pensamentos outra vez. Não conhecê-los era perturbador! Era como caminhar cego por uma corda bamba. Não me importava quanto tempo iria levar, mas ela ficaria em meu braços até que estivesse bem outra vez. Não teria forças para negar isso a ela. Seria mais doloroso do que a primeira renuncia. Então esperei... Esperei... Ela principiou a separação. Seu olhar era distante, quase como se sua mente tivesse abandonado o corpo. Meus olhos ansiavam por um sinal de que ela estava melhor, mas ela não podia vê-los. Após longos segundos, ela balbuciou as seguintes palavras: – Agora eu já sei. Era como eu suspeitava... você é especial demais para mim. Espero que um dia você possa me perdoar – e então se afastou, correndo em direção ao chalé. Ponto. Uma pancada me atingiu no peito e eu arquei, sufocando... ... “Respire... apenas respire!”

 Fanfic escrita por Raffaela Costa

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