10 de abr. de 2010

OS ÚLTIMOS PREPARATIVOS

Posted by sandry costa On 4/10/2010 No comments

OS ÚLTIMOS PREPARATIVOS

 Amanheci com os raios solares fritando o meu rosto. Não era o tipo de clima que antecedia uma chuva torrencial, como estava previsto para todo aquele dia. Esfreguei os olhos e me sentei na cama, virando as costas contra a luminosidade. Examinei o ambiente e minha avaliação foi reconfortante: nada fora do comum, a não ser a esperada desordem dos lençóis. A noite foi tranqüila dessa vez, embora o fluxo de sonhos tivesse sido quase tão intenso quanto na noite anterior. Mas, em essência, eles foram bastante agradáveis. Sonhei que Nessie e eu estávamos caçando na floresta, como costumávamos fazer. Eu sempre parecia estar na mesma posição, deitado na relva, enquanto ela se divertia indo e vindo de diferentes direções, com suas presas nas mãos. O destaque, porém, foi o modo como ela se apresentava no sonho. De início, era apenas um bebê de uns dois anos aproximadamente, e me trouxe um esquilo pequeno de presente, antes de desaparecer por entre os pequenos arbustos para caçar algo novo. Depois, ela reapareceu, mas agora com a aparência de uma criança de uns seis anos. Dessa vez, me entregou um coelho. Tornou a desaparecer, retornando um pouco depois, a aparência amadurecida novamente até uns onze anos, e me trouxe um filhote de servo. Em todas as vezes, ela parecia determinada a me mostrar o quanto suas habilidades melhoravam, esboçando uma expressão satisfeita com a minha aprovação. Uma última vez ela se perdeu por entre as árvores. Quando ressurgiu, sua aparência já era a que ela tinha hoje, uma bela jovem de feições delicadas e olhar determinado. No entanto sua atitude era tímida e ela caminhou até mim em um passo lento e parecia me sondar antes de cada avanço. Suas mãos estavam para traz, escondendo algo com muita reserva. Ela parou a uma distância de uma pessoa e eu me pus de pé, estranhando sua atitude. Ela se aproximou, os olhos firmes prendendo os meus, e me entregou algo muito diferente das ofertas anteriores: Uma rosa branca. Eu recebi o presente e esbocei uma surpresa. Ela sorriu e se inclinou, seus lábios querendo alcançar meu ouvido. Ajudei, inclinando-me para baixo um pouco, meu corpo se arrepiando com a expectativa. Suas mãos gentis e trêmulas pousaram suavemente em meu rosto, então ela repetiu a mesma coisa que me disse, dois dias antes, quando fui levá-la de volta para casa: “Você é especial demais para mim!”. Tive alguns outros sonhos com ela durante a madrugada, mas esse foi o que me chamou mais a atenção, pela sutiliza de seus detalhes. Pareciam querer me dizer algo, mas eu não era ainda capaz de entender com precisão. O “demais para mim” me incomodava. Era como se eu fosse alguém extraordinariamente especial e ela uma pessoa comum, e não o contrário... A rosa branca devia ser uma forma de me agradecer por sermos tão bons amigos... Não, era algo mais intenso, significativo... Vi que não chegaria a lugar nenhum por ora, então deixei de lados as suposições e tratei de me levantar. Me espreguicei e fui até a sala. Paul já estava acordado e, como de costume, afundado no sofá, sua concentração variando entre o pacote de Doritos e a tela da televisão. Quando me viu, abriu um sorriso cheio de pedaços de salgadinho entre os dentes. Arght, eu nunca iria me acostumar com aquilo também. Na cozinha, o café estava posto somente para uma pessoa, mas ninguém além de nós dois parecia ter acordado ainda. – Foi você quem cozinhou o café pra mim, Paul?! – a incredulidade tomando conta do meu semblante – Claro que não, Jake – ele quase se engasgou com minha pergunta – Foi a Rachel. Ela e seu pai foram até a cidade para fazer umas compras. – E porque você não foi com eles? – Por que quando eu acordei, eles já tinham ido... – ele deu de ombros e voltou a assistir seu desenho animado Eu voltei os olhos para o relógio. 11:30 am. Meu coração deu um salto. – Ah, que droga! – berrei estrondosamente. Fui correndo de volta ao quarto, para colocar uma blusa. Peguei a primeira que vi, de flanela cor azul bebê. Meus olhos percorreram o espelho. Passei as mãos nervosas pelo cabelo desgrenhado, numa tentativa inútil de colocá-los em ordem. No geral, eu sempre negligenciava com a minha aparência, mas fui tomado por um súbito impulso de me perfumar. “Mas que saco, isso não é hora de começar a ser vaidoso!” Desisti, afoito, e me atirei janela afora em direção à oficina onde meu Rabbit estava estacionado. Se eu me transformasse em lobo e corresse até a mansão, chegaria duas vezes mais rápido do que se fosse dirigindo. Mas, aparentemente, meus instintos eram mais fortes do que minha razão naquela manhã. Dei a partida e o motor rangeu com violência. Ouvi Paul gritar de boca cheia pela janela, enquanto eu contornava a casa: – Ei, aonde você vai?! O que eu digo para o Billy?! – Diga que eu fui ao lugar de sempre, Paul. À casa dos Cullen! – gritei de volta, com a cabeça pra fora da janela, depois pisei fundo, cantando pneu até sumir de vista. Ele, é claro, estranhou minha saída com o carro àquela hora da manhã e com aquela pressa, logo após ele ter mencionado a ausência de meu pai e Rachel. Ninguém iria esquecer nunca daquela história de eu virar um lobo solitário e errante por tanto tempo. Em parte, por que se preocupavam comigo... Em parte por que não confiavam em meu julgamento sobre as coisas. Eu seria sempre um garoto inconseqüente, por mais que meu gênio tivesse mudado tanto no decorrer desses sete anos. A estrada ia ficando para trás enquanto eu dirigia concentrado, sem que nada ao redor me distraísse. Precisava cumprir minha promessa dessa vez. Não demorei mais do que 20 minutos para completar o trajeto. Fiz a curva para seguir pela estradazinha que levava à entrada da propriedade e dei duas buzinadas de leve, antes de estacionar. Nessie já estava encostada na imensa parede de vidro da sala e deu um aceno tímido quando eu olhei pra cima. Meus músculos travaram na hora e eu quase não fui capaz de retribuir o gesto. Dei um aceno de cabeça e segui em direção à porta, subindo as escadas desengonçado pelo nervosismo intenso. Edward me recepcionou, como sempre, antes que eu tivesse a oportunidade de bater. Ele ficou me avaliando de cabo a rabo, sem sequer se preocupar em me cumprimentar. Estava muito estranho e eu tive que tomar a iniciativa, antes que meu coração escalasse minha garganta e saltasse pela boca. – Olá Edward! Ele deu um suspiro desanimado e abriu caminho para mim. Passei por ele de cabeça baixa e, sem pressa nenhuma, me dirigi até a sala, me virando pra olhá-lo antes de atravessar o cômodo. Ele observava meu carro com um ar indecifrável. Quando surgi na sala, todos estavam presentes, ocupando espaços alternados. Tudo estava diferente de como eu me lembrava. Uma decoração simples, mas de muito bom gosto, preenchia as paredes e o teto. O piano no canto estava recheado de porta retratos com fotos de todos, em especial de Renesmee. Balões brancos e cor-de-rosa presos por fitas vermelhas estavam espalhados por todos os lados, e alguns ursinhos de pelúcia foram estrategicamente deixados em vários pontos da casa, como que recepcionando quem quer que chegasse. Tudo estava bastante harmonioso e aconchegante. Pude, enfim, sentir um alívio por ter tomado uma atitude de protesto contra o plano original para a festa, mesmo tendo terminado com aquele meu papelão. Ao me verem, cada um esboçou uma reação diferente à minha presença. Os rapazes me cumprimentaram cordialmente, cada um executando alguma tarefa relacionada à decoração. Bella, que estava junto às garotas cortando alguns enfeites, me lançou um sorriso radiante de satisfação. Rosalie, por sua vez, torceu a boca e voltou a amarrar as fitas nas cestinhas que seriam entregues como lembrança aos convidados. Esme também sorriu para mim com sua áurea maternal inabalável. Alice imediatamente parou de desenhar os corações dos enfeites e atravessou discretamente a sala, até se aproximar de onde eu estava. Seu olhar era de resignação. – É lobo, parece que no fim das contas, você venceu não é mesmo?! – falou secamente. Eu olhei para ela com uma profunda contrição. – Me perdoe, Alice! Sua expressão irônica se tornou surpresa e ela pareceu admirada ao me ver tão sinceramente humilhado. Se desarmou completamente de sua arrogância infantil e sorriu para mim com gentileza. – Pedido de desculpas aceito! – disse, serena, então voltou ao seu lugar, não deixando de transparecer seu choque por não ter previsto aquela minha reação. Ela sempre se frustrava com isso... eu era um de seus enigmas particulares. Edward me ultrapassou e foi sentar-se junto a Bella, onde provavelmente devia estar antes de eu chegar. Renesmee permanecia próxima à janela, me observando indecisa. Em outros tempos, ela teria vindo e se atirado em mim para me cobrir de cócegas e me mostrar suas emoções. Mas agora ela estava fria e eu não tinha muita certeza sobre como agir também. E mais, me sentia sujo por tê-la desvirtuado daquele jeito em meu sonho. Olhei para Edward, prevendo que ele já tivesse tomado conhecimento das minhas lembranças sórdidas, mas ele pareceu estar bastante concentrado nas sugestões que as garotas davam umas as outras enquanto trabalhavam. Vi que, novamente, eu seria aquele que teria de quebrar o gelo, e iniciei meu trajeto até onde Nessie estava. Ela permaneceu imóvel enquanto eu me aproximava. Parei diante dela, meus sinais vitais se estabilizaram, incrivelmente. A proximidade pareceu afetá-la. – Bom dia, meu anjo! – minha voz saiu tão suave como se nem fosse eu mesmo falando. Ela me deu seu melhor sorriso. – Bom dia, Jake! – sua voz, apesar de doce, estava vacilante. Não pude conter o impulso de acariciar seu rosto. Era como se nossos corpos estivessem em atração física. Ao tocá-la, senti como se uma leve corrente elétrica percorresse minha pele. A sensação era maravilhosa. Ela fechou os olhos em reação ao meu gesto e suas mãozinhas pousaram com ternura sobre as minhas. Beijei sua testa longamente e ela soltou o ar, como se o estivesse prendendo até ali. Fechei meus braços ao seu redor, como quem protege um tesouro do mundo inteiro. Uma atmosfera diferente nos envolveu, embalando aquele momento como uma canção de ninar. Um longo minuto se passou, antes que sentisse seu corpo empurrando de leve o meu. Ela pareceu relutante, mas se afastou de mim por completo, virando-se de costas como quem esconde as emoções. Não estava acostumado com aquele silêncio, que parecia construir um abismo entre mim e seus pensamentos. Me coloquei do lado dela para olhar na mesma direção. Vi ao longe as nuvens escuras se formando. Uma tempestade estava a caminho. – Eu senti muito a sua falta, seu mentiroso! – ela falou sem tirar os olhos do horizonte. Eu dei um risinho, notando sua sinceridade. – Me perdoe, Nessie! Foi um erro gravíssimo, eu sei... Como eu posso te recompensar por tamanha falta de consideração?! – Já está se redimindo agora! – meu coração voltou a se acelerar quando ela me lançou outro sorriso encantador. Eu enrolei um cacho de seus cabelos em meus dedos e isso fez ela corar. Nesse momento, Carlisle se aproximou de nós. Ele também veio observar a prevista mudança de tempo que se seguiria. Nessie se afastou para lhe abrir espaço, se livrando do meu carinho com astúcia, eu percebi. Ele pareceu não notar nada. – É maravilhoso que os planos anteriores tenham sofrido algumas alterações, não é Jake?! Já não teremos que nos preocupar em envolver tanta decoração com lonas de plástico até a hora da festa... – ele disse, colocando uma mão em meu ombro. – É verdade! – eu não conseguia pronunciar muita coisa quando o assunto era aquele. – Isso tudo graças a você! Sinceramente, eu te agradeço! – ele fez uma cara engraçada. Parecia que comemorava uma vitória, mas não queria que as garotas notassem. Aquilo me fez relaxar um pouco. – Foi um prazer! Quando precisar, estarei às ordens. – Excelente, Jake! – seu sorriso gentil me deixou muito satisfeito comigo mesmo. Ele observou o céu por mais alguns segundos, depois voltou para ajudar Jasper a pendurar uma faixa grande e cor de pérola, com o nome de Renesmee. Achei muito cômico que Carlisle estivesse aliviado com a minha intervenção, principalmente por que ele parecia tão solícito quando Alice lhe atribuía tarefas absurdas, como podar os arbustos do quintal em formato de “estátuas de Renesmee”, por exemplo. Fiquei mais tranqüilo ao saber que eu havia beneficiado mais de uma pessoa, afinal. A voz delicada de Nessie interrompeu meus pensamentos. – Eu espero que você não sofra tanto com a presença dos nossos convidados, Jake! Sinto tanto pela questão do nosso cheiro... – ela pareceu desanimada. É mesmo, não demoraria muito e aquele lugar estaria cheio de vampiros, vindos de todos os cantos do planeta. Me arrepiava só de pensar. Seria exatamente como a sete anos atrás, só que em circunstâncias infinitamente mais agradáveis. Mesmo assim, não cria que esse detalhe fosse interferir muito no aroma enjoativo que iria se instalar no ambiente, durante a estadia deles! Não fiquei muito tempo perdido nas recordações, pois um aspecto da preocupação de Nessie me alarmou. Ela se incluiu quando disse “nosso cheiro”, convicta de que essa era a realidade. Mas não era, nem nunca foi. O cheiro de Renesmee, eu poderia dizer sem dúvida, era o que dava sentido à palavra “agradável”. Era uma mistura de vampiro com humano, que estranhamente resultava em algo fascinante, pelo menos para mim. Me perturbou o fato de ela pensar isso de si mesma, que de algum modo ela me incomodasse. Segurei seu queixo, obrigando seus olhos a irem de encontro com os meus. Novamente, a sensação agradável fluindo por meu corpo. – Seu cheiro nunca me incomodaria. Muito pelo contrário. E não se preocupe com nada. Eu não perderia essa festa nem que 1000 vampiros tivessem sido convidados! Ela não pode conter o riso e eu me certifiquei de que estava bem outra vez. Se não fosse por aquele mínimo desconforto que ela parecia sentir agora, quando ficávamos juntos, estaria tudo perfeito. Nossos olhares se demoraram um no outro algum tempo. – Ei, Jake, você vai fazer alguma coisa, ou vai ficar o dia todo aí, fofocando com a aniversariante?! Obrigado Emmett! Olhei de soslaio para ele. Renesmee mostrou a língua e ele sorriu satisfeito. Apesar de ter acabado com nossa atmosfera feliz, sua intromissão me despertou para um detalhe importante: Ainda havia tempo pra que eu contribuísse com alguma coisa! Me apressei em ir até onde eles estavam, dando uma piscadela para ela, pra que não se sentisse deixada de lado. Ela foi se juntar às garotas. O dia inteiro transcorreu de maneira bem acelerada. Estávamos todos envolvidos no processo de criação e execução do que faltava para transformar a mansão Cullen em um pedaço do paraíso. Nessie, é claro, foi proibida de realizar qualquer tarefa que fosse. Mas agora, sua opinião era constantemente solicitada e ela estava muito animada com tudo aquilo. A tempestade protestava do lado de fora, lançando raios e trovões com violência e empurrando o vento contra as vidraças. Era difícil pra qualquer um de nós crer que amanhã realmente seria um dia sem chuva, e Alice não podia garantir muita coisa, já que minha presença cegava seu dom. Nessie estava radiante! De vez em quando, eu me distraía, admirando-a de longe. Quando seu olhar se encontrava com o meu eu desviava o rosto, voltando ao que estava fazendo. Numa dessas, eu dei de cara com Edward, que me secou com um olhar sombrio. Mais o que é que estava acontecendo com esse cara?! Deve ter por fim tido um vislumbre das imagens em minhas lembranças, que ocasionalmente vinham a tona, por mais que eu lutasse contra. Droga! Eu estava trabalhando em um painel colorido, que iria conter várias fotos dela, desde quando era apenas um bebê, até os dias atuais, além de algumas mensagens escritas por todos. Seria a minha surpresa. Bella, Alice e Esme estavam me ajudando, agora que não restava muita coisa a ser feita. Rosalie não se entusiasmou com minhas intenções e recusou participar, dando a desculpa de que iria distrair Nessie para que ela não visse o que estávamos fazendo. Eu nem fazia questão de sua presença, mas tive que ficar agradecido no fim, pois ela estava cumprindo o que prometeu. Nessie e ela foram se ocupar em escolher a nova cor das toalhas de mesa. Nosso trabalho estava ficando primoroso. Os caras agora estavam assistindo a algum jogo na tv. Emmet dava uns gritos de vez em quando que estremeciam as paredes e Alice temia pela decoração. O painel ficou pronto em pouco tempo e eu fiquei muito contente com o resultado final. Deixamos ele em um canto reservado, pra exibir somente durante a festa. Tudo estava relativamente terminado, só faltavam os convidados. Todos estávamos agora relaxando. Após o jogo na televisão, Carlisle organizou uma mesa de poker e Alice desafiou Edward para uma partida de xadrez {Já que nenhum dos dois tinha permissão para jogar nenhum jogo de sorte. O motivo era bem óbvio}. A diversão durou horas e horas, que nenhum de nós notou, até o momento em que Nessie começou a bocejar. Já passavam das 3:00 da manhã quando Edward foi levá-la para dormir no chalé. Quando ele retornou, todos se colocaram de pé num salto e eu não entendi o que estava acontecendo. Fizeram uma reunião em círculo em que eu me vi incluído de repente. Carlisle falou primeiro: – Muito bem, pessoal, é a nossa chance! Eu e os rapazes iremos até o depósito da concessionária, enquanto vocês meninas ficam aqui, atentas a qualquer sinal de consciência de Renesmee, certo?! Todos assentiram e eu fui subitamente arrastado pelo braço por Emmett, continuando a não entender nada. Jasper percebeu que eu estava boiando. – Não se preocupe. Você vai se surpreender bastante! – e virou-se de volta, enquanto andávamos até a garagem. O que ele disse somente acentuou minha confusão. Fui empurrado para dentro do carro {nem sabia a quem pertencia aquela nave espacial em que entramos. Só soube quando Carlisle se sentou no banco do motorista!}. Fiquei espremido entre Edward e Emmet. Jasper se sentou no banco do carona. Num piscar de olhos, estávamos voando por sobre o asfalto escuro. Eu gostaria muito de saber que depósito eles pretendiam encontrar aberto àquela hora da madrugada... Eu ocasionalmente me virava para Edward para tentar extrair alguma informação, mas ele estava imerso em seus pensamentos, enquanto olhava pelo vidro da janela. Num dado momento, ele se impacientou com minha inquietação e disse, friamente: – Relaxe e pare de se mexer tanto! Credo, o cara estava muito esquisito. Eu não estava acostumado com ele bancando o mandão rabugento. Me encolhi, lembrando da atribuição que dei àquele comportamento hoje mais cedo. Vi que ele ergueu uma sobrancelha quando formei o pensamento. Céus, aquilo era embaraçoso demais... Passaram-se aproximadamente uns 30 minutos, até que paramos diante de um portão fechado, desses que se vêem mesmo em depósitos. Tudo estava escuro ao redor do carro e eu não me surpreendi como Jasper me garantiu que iria. Carlisle buzinou duas vezes, então vários holofotes vindos de dentro do portão se acenderam, revelando centenas de carros enfileirados. E não eram carros comuns, eram todos importados! As marcas mais conceituadas do mundo estavam reunidas ali. Eu não fazia idéia de que Forks era agora um ponto de distribuição de carros com aquele porte... Vi o vulto de uma pessoa bem ao longe, num galpão, quando o portão rolou, abrindo passagem para nós. Fomos em direção à ele, passando pelo imenso estacionamento, então o carro parou em frente à cosntrução. Descemos todos. Emmett, colocando aquele seu braço enorme ao redor do meu ombro, me conduziu junto com os outros até nos aproximarmos de um homemzinho gordo e visivelmente cansado, com a idade entre 45 e 50 anos, que estava à espera do nosso grupo. – Poxa, até que enfim vocês apareceram! Já estava quase indo embora... – ele disse, impaciente. Quando entramos no campo da luminosidade que vinha de dentro do galpão, seus ombros encolheram e ele engoliu em seco. Éramos realmente um grupo, no mínimo, intimidador. – Peço mil desculpas – Carlisle parecia sempre envolvido por uma energia sublime – mas é que minha família e eu perdemos a noção do tempo. Estamos às vésperas de uma celebração, como sabe. – Está certo, então... – ele ficou desconcertado com seus modos elegantes – venham, o veículo está logo ali mais a frente. Seguimos o gorduchinho, que nos levou até um ponto onde havia um carro oculto debaixo de uma capa cinza. – É este aqui! – Podemos dar uma olhada?! – Jasper se pronunciou, a curiosidade dele era somente para avaliar minha reação, pois ele já o tinha visto antes provavelmente. – Com certeza! Ele abriu o zíper lateral da capa e a retirou. Se eu não conhecesse bem os Cullen, diria que Jasper também possuía o dom da premunição, pois ele acertou em cheio. Meu queixo foi ao chão quando, diante de nós seis, um Porsche 1001 Ztx Quantum* se revelou em todo o seu brilho e esplendor azul marinho. Era um sonho de consumo, em todos os aspectos. Nenhum dos carros naquele depósito se comparavam a ele. Fiquei tonto ao imaginar as cifras no contrato de compra daquela preciosidade automobilística. Os demais nem pareceram se impressionar, mas eu vi a satisfação de Jasper ao perceber minha expressão catatônica. – Eu não te disse?! O homenzinho voltou a ficar impaciente. – Pronto, está tudo feito! Os documentos estão dentro do porta-luvas, todos em nome da srta. Renesmee Carlie Cullen – ele fez uma careta ao pronunciar o nome. E eu dei um salto ao escutá-lo. Então aquela máquina era um presente para Nessie?! Mas eu nem tinha idéia que ela já sabia dirigir... – Eu sei o que você está pensando... – Emmet sussurrou pra mim, frustrado – É um tremendo desperdício dar essa obra de arte de presente para uma criança de sete anos, que mal saiu das fraudas! Mas, eu tenho que admitir que ela é uma excelente aluna. Edward nem teve o trabalho de lhe ensinar os macetes. Ela se virou muito bem sozinha na primeira aula de direção que ele lhe deu. Eu não tinha condições de acompanhar o ritmo daqueles vampiros. Era muita extravagância junta em um lugar só. Vi pelo canto dos olhos Edward entregar um envelope ao senhor. – Aqui está! 10 mil dólares, como prometidos – ele disse, como se não fossem nem 10 centavos. Aquele desdém pelo dinheiro chegava a ser pecaminoso. Os olhos do homem se iluminaram de incredulidade e alegria. Acho que ele não sabia que ia sair ganhando tanto quando aceitou fazer o favor. – Santa mãe de Deus! Eu nem acredito nisso. Você estava falando sério mesmo quando disse que sabia ser generoso. Eu não devia aceitar isso... – ele falou somente por educação, é claro – Ora, o que é isso, Roger, não é nada demais! – Carlisle precisava de um choque de realidade com urgência... O gorducho decidiu não insistir mais e colocou o envelope no bolso, não tirando a mão de cima dele até que nos despedimos. Ele entregou as chaves para Edward. Emmett, Jasper, Carlisle e eu voltamos para o carro. Edward viria pilotando o Porsche logo atrás. Entrei em silêncio, enquanto eles se divertiam tagarelando sobre a potência do motor de 1400 cavalos que o Quantum tinha. Suas vozes iam se distanciando mais e mais, conforme a minha incredulidade aumentava. Que tipo de gente era essa que dava uma máquina mortífera a uma criança, sem nem pestanejar?! Nunca deixaria de me surpreender com aquela família... Em dado momento, Carlisle se virou para trás para analisar minha expressão. – Muita loucura pra uma madrugada só né?! Quando percebi que ele falava comigo, eles já estavam rindo outra vez de suas opiniões sobre pneus com aros de 18 e 22 cm. Me recostei no banco, o cansaço mental me abatendo. Levamos o mesmo tempo para voltar para casa, mesmo que pra mim o percurso tivesse parecido bem mais longo... Saí do carro com má vontade e deixei os rapazes em suas considerações finais sobre a indispensabilidade de vidros anti-mísseis, indo em direção à entrada. Já eram 4:15 da manhã e eu começava a perder a capacidade de sustentar minhas pálpebras. Me joguei no sofá, sem me importar com o fato de que o peso do meu corpo atingindo o móvel à aquela velocidade poderia tê-lo desmontado completamente. Felizmente, ele resistiu ao impacto. Estava quase cochilando, quando Bella veio ver como eu estava. – Me desculpe por isso, Jake! Eu sei como é assustadora a falta de limite de nossa família... – Ah, não se importe com isso – minhas palavras saindo entre um bocejo – eu já vivi o suficiente para saber que as vacas podem voar de vez em quando... Eu estava completamente desanimado. Quem poderia competir com um presente daquele?! Meu pobre painel iria parecer um insulto quando eles mostrassem aquele carro para ela. Minhas preocupações deviam estar muito evidentes, por que Bella disse imediatamente após eu ter enfiado a cabeça entre as pernas. – Não se preocupe! Não tenho nenhuma dúvida de que, ainda assim, ela vai preferir o seu presente! – sua voz tinha aquele “q” de mãe que conhece a cabeça da filha. Alice, que tinha aproveitado minha ausência para ter alguns vislumbres da nova festa, estava passando por nós quando Bella falou aquilo. – Realmente, é exatamente isso que vai acontecer... Eu não entendo vocês – ela resmungou com sua voz musical, claramente se referindo à Bella e Renesmee – Sempre preferem trabalhos manuais à encomendas sofisticadas. É tão frustrante... Nós dois rimos da cara dela e ela deu de ombros, indo ver se Jasper já tinha algum tempo disponível, para “conversarem”. Bella me perguntou se eu não queria um travesseiro ou coisa do tipo, mas eu já não estava conseguindo diferenciar o real do sonho, então só respondi que não e apaguei, vencido pelo sono. Precisava descansar. Amanhã seria um grande dia!

 * o Porsche 1001 Ztx Quantum é um carro meramente fictício.

 Fanfic escrita por Raffaela Costa 

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