PARA TODO O SEMPRE
Aqueles minutos de silêncio pareceram horas para mim. Eu quis falar, mas não podia. Precisei morder meus lábios para que não cedessem aos comandos dos meus pensamentos. Tudo ao redor se resumia a chuva, fogo e vento, entre quatro paredes frias. Minhas mãos, ainda firmes em seus ombros, começavam a suar com a inquietação dos meus músculos. Antecipava sua resposta em minha mente, ardendo em ansiedade e insegurança. Não haviam muitas alternativas, somente duas. Mas eram suficientes para liquidar com o juízo de qualquer um em minha situação.
Sua respiração recomeçou, rápida e desesperada, como se tivesse emergido à superfície após um mergulho profundo. Seus olhos me focalizaram e seu rosto estava em brasa. Ela balançou a cabeça, incrédula com a minha última frase. Por um momento eu até pensei que era uma negativa, e meu corpo levou um choque potente. Porém, ela pousou as mãos delicadamente em meu rosto e o que veio a seguir foi de uma intensidade surreal.
Milhões de imagens em seqüência cronológica brotaram dentro do meu subconsciente, como um filme em marcha rápida. Eram apenas flashes, que eu conseguia visualizar com certa dificuldade, mas seu significado e importância eram incontestáveis. Eram ricos em detalhes e se referiam ao período que eu identifiquei como sendo anterior àquelas duas semanas. Imagens minhas junto a ela, brincando; lendo juntos no carpete da sala; correndo lado a lado na floresta; sorrindo descontraídos um para o outro. Momentos simples e puros...
Em seguida, um novo período, a partir de um ponto que eu não reconheci. Eram visões escurecidas e sem foco, como em sonhos. Me vi em seus pensamentos, com uma expressão macabra que me assustou. Eu estava me livrando de seus abraços, resistindo a seu sorriso, me afastando de sua presença com um ar de reprovação. A cena era cruel de se ver, muito mais por ser eu mesmo quem estava diante dos meus olhos, agindo de um jeito que eu jamais agiria, ressentindo-me de coisas que eu não pude saber. Notei que no chão entre nós dois havia uma rosa branca pisoteada, enquanto Renesmee permanecia de joelhos, destruída. A rosa branca, como a do meu sonho. Rejeitada, esmagada, deixada para trás. Quem era aquele Jacob que ela me mostrava?! O que de tão ruim havia se anteposto à nossa amizade?! Eu não compreendia a origem daquelas cenas horripilantes...
Em seguida, ela me mostrou não mais flashes, mais uma memória completa de nosso beijo no hall da mansão. Entre suas lágrimas, eu pude ver minha face em segundo plano e meus braços tentando conter sua investida. Ficou então claro pra mim o que estava acontecendo ali. Ela havia interpretado minha esquiva como uma rejeição, e não como uma tentativa de protegê-la. Isso era óbvio, por que seriam necessárias muitas palavras para desmistificar minha recusa, e eu não fui capaz nem mesmo de abrir minha boca na ocasião. Ela apenas reagiu como qualquer outra pessoa agiria. Eu absorvi a raiva que insuflou em meu peito, por conta da minha negligência, precisando me lembrar dos motivos que me levaram a evitá-la daquele jeito. Transpassando o jato de imagens, sua voz grave e terna ecoou a mensagem mais importante da minha existência. Aquela pela qual eu havia esperado durante todos esses dias de angústia, escutado da boca de terceiros... Mas que ansiava ouvir dela! Aquela que mudaria a minha vida, para sempre.
– “Eu também te amo, Jacob!”
Eu recuperei meus sentidos quando ela finalmente retirou as mãozinhas do meu rosto atônito. Parecia estar com medo do que pudesse acontecer dali em diante, então se afastou, andando de costas até à lareira. Seus braços ampararam o corpo na parede próxima e ela retorceu as feições, como quem se prepara para sofrer um castigo eterno. Nem todas as palavras mais maravilhosas do universo juntas poderiam expressar, com exatidão, meu estado de espírito diante da sua declaração, mas ainda assim ela sofria com incertezas lancinantes. O fôlego me faltou quando me dei conta de que ela havia recomeçado a chorar baixinho, a face em um sofrimento profundo.
Não perdi tempo e corri até ela, tomando-a em um beijo desesperado. O gesto era a personificação de todos os meus anseios e meus lábios buscaram os dela com a urgência de um louco. Eu não me conteria, não adiaria meus desejos outra vez. Minhas mãos envolveram suas costas, apertando-a contra meu corpo trêmulo. As lágrimas em seu rosto banharam o meu, enquanto ela se rendia pouco a pouco a mim. Seus braços subiram até meu pescoço, quase como se ela quisesse agarrar o momento, retendo-me para sempre ali, junto a ela. Beijá-la gerou em mim uma satisfação tão plena que eu achei que nunca mais fosse sentir outra necessidade na vida, tal como respirar... Minha existência agora fluía de seus lábios.
– Te amo, para sempre! – eu dizia, entre um beijo e outro – para sempre!
O palpitar dos nossos corações se fundiram novamente. Eu acompanhei o contorno de sua face com os lábios, beijando seus olhos úmidos. Sua respiração irregular apenas me motivava a continuar. De olhos fechados, eu imaginava seu rostinho perfeito, enquanto meus dedos passearam pela pele de sua nuca, provocando-lhe um arrepio. Ela se aninhou dentro da minha jaqueta, seus lábios roçando de leve o alto das minhas clavículas, e eu descansei meu queixo em seus cabelos. Meus braços ninavam o corpo dela num balanço suave embalado pela melodia da natureza. A chuva lá fora se precipitava nas vidraças, o vento uivava por entre suas frestas e o fogo consumia a lenha, com estalidos tranqüilos e contínuos. A felicidade explodia por meus poros e um riso de puro êxtase que eu não pude conter se lançou da minha garganta afora. Ela acariciou meu rosto, envolvendo os meus sentidos como seda. Nada no mundo nos tiraria da proximidade um do outro agora. O calor de nossos corpos {sim, pois ela tinha sangue, quase tão vívido quanto o meu}, apesar de imaterial, era como uma presença a nos proteger e instigar.
Éramos uma só alma em dois corpos; duas vidas em um só sentimento. Cada célula minha se multiplicando a uma velocidade inumana, fazendo minha massa se enrijecer. O lance de ser um “lobo melhor” quando estávamos juntos, ou quando eu pensava nela com paixão, era de fato verdade.
Ficamos imóveis por uns minutos mais, então eu a afastei para olhar seu rosto. Ela parecia estar sonhando, um leve sorriso brotando sutilmente em sua boca vermelha de flor e os olhos fechados. Sem abri-los, ela falou docemente:
– Esse deveria ter sido nosso primeiro beijo!
Essa fase foi como um deja-vù. Me arrepiei por inteiro ao escutar minhas próprias palavras, ditas a tanto tempo atrás para Bella, saindo de seus lábios.
– Não concordo! – eu disse, não muito seguro do que falaria depois para me explicar. Ela me olhou confusa
– Como assim?!
É, como assim, Jacob Black?! Pensa, pensa, pensa...
– Eu não mudaria nada do que aconteceu entre nós... Se nosso beijo na festa tivesse sido assim, o “agora” não teria sido tão... Perfeito! O momento não poderia ser outro, Nessie! O cenário atual é bem mais apropriado, não concorda?!
Ela considerou o que ouviu por alguns segundos, com uma expressão meiga, depois concordou:
– Você tem razão! Nós não estávamos prontos ainda... O “agora” foi uma dádiva.
Palmas! Minha desculpa saiu melhor do que a encomenda... Não queria nenhum tipo de semelhança com o que aconteceu no passado. Renesmee merecia o um novo começo. Daria o melhor de mim dessa vez!
– Eu ainda não acredito que eu estou aqui, com você, livre para dizer “eu te amo”. É tão surreal! – ela flutuava com as próprias palavras, e eu junto com ela
– Me sinto do mesmo jeito! Meu maior sonho se realizou! – eu sussurrei, encostando a minha testa na dela com delicadeza
Ela colocou os dedinhos em meus lábios, como se memorizasse seu contorno. Eu deixei minha mente vagar, mantendo-a tão próxima quanto possível a mim. Se eu soubesse que tudo seria assim, tão maravilhoso, já teria tomado a iniciativa muito antes, ao invés de me acovardar. Mas, como eu mesmo disse, talvez alterasse a perfeição que foi fruto da união de vários fatores. Melhor parar de pensar em possibilidades e desfrutar da realidade que estava ali, diante de mim, sorrindo ternamente.
– Não sabe o quanto eu quis te mostrar meus sentimentos – ela disse com pesar – estender minhas mãos até seu rosto e deixar meus desejos invadirem sua mente...
– E você não imagina o quanto eu senti falta disso! A ausência do seu toque em minha vida foi torturante.
– Eu sinto tanto por isso... Mas eu não poderia arriscar nossa amizade! Tive que rebolar para não perder o controle. Pensei até que eu conseguiria agir como antes perto de você... mas no primeiro teste minhas intenções foram frustradas...
Percebi que ela se referia ao comportamento desinibido que representou hoje durante o dia. Era fascinante como as peças se encaixavam pouco a pouco.
– Você me julgava assim, tão carrasco, a ponto de te rejeitar se você me mostrasse seus sentimentos?! – perguntei, retirando uma mecha de seu rosto
– Não é isso, Jake! – ela franziu a testa – Você sempre foi um mistério para mim. Nunca entendi direito o motivo pelo qual sua presença era tão constante em minha vida... nem nunca me preocupei em descobrir, já que eu me sentia feliz que as coisas fossem desse jeito. Mas a imagem que eu tinha de você era a de um segundo pai, ou um irmão mais velho... Meu melhor amigo, entende?! Não te enxergava como homem.
– Mas isso mudou, certo?!
– Sim, mudou! E mudou de uma hora para outra, sem me dar a chance de me preparar... Foi como um baque violento no meu peito. Do nada, eu senti que estava apaixonada por você. Tentei reconsiderar, ver se aquilo não era uma bobagem passageira... mas a suspeita só se confirmou com o tempo! Sua presença passou a me afetar de uma maneira incontrolável... Senti muita vergonha, por que na minha cabeça eu havia maculado nossa amizade. Tinha certeza de você jamais me enxergaria com outros olhos que não os de um amigo. Eu ultrapassei o limite aceitável entre nós, e me senti suja por fazer isso. Um monstro.
Suas palavras me impressionaram. Era espantoso como nossas mentes funcionavam da mesma maneira. Tive vontade de rir alto, mas não o fiz. Ao invés disso, busquei seus lábios outra vez, com a ânsia de um náufrago que encontra terra firme. Ela se assustou um pouco com a minha investida, mas depois relaxou.
– É por esse motivo que eu sei que fomos feitos um para o outro, Nessie! – pronunciei, após a longa sessão de beijos – Eu me senti exatamente do mesmo jeito, sem tirar nem por uma vírgula sequer.
Ela sorriu, ainda meio zonza.
– Me belisque, por favor?! Tenho que ter certeza de que isso não é um sonho – ela fez beicinho
Eu dei um beijinho de leve na palma da sua mão. Ela suspirou.
– Isso não ajudou muito! – resmungou brincalhona
– Mesmo se eu quisesse, não poderia te tocar de uma maneira hostil, ainda que fosse de brincadeira.
– E o que você sugere então?! Eu preciso ter certeza de que estou acordada...
Pensei por alguns segundos.
– Vejamos... O que você sentiu quando eu te beijei?!
O seu sorriso em resposta foi estonteante.
– Bom... – ela começou, o rubor tomando conta de suas bochechas – eu senti um arrepio muito forte subindo e descendo pelas minhas costas. Meu coração fibrilou. Senti também uma inquietação no estômago e falta de ar.
– E por que você acha que uma dorzinha fajuta é uma prova mais eficaz de que você não está dormindo do que esse turbilhão sensações?!
– Touché! Muito astuto, sr. Sabichão! Estou impressionada...
– Obrigado, sra. Sonâmbula! Disponha sempre! – eu disse, fingindo presunção.
Nós dois rimos. Nossos corpos vibraram juntos, ainda ligados pelo abraço apaixonado. Lá fora, a chuva cessou e a noite revelou o mar de estrelas que as nuvens já não escondiam. Caminhamos então até a varanda para admirar o espetáculo natural. O banco de jacarandá artesanal nos esperava, oferecendo um convite irrecusável. Nos sentamos e eu passei o braço nas suas costas, achegando-a para mim. Ela descansou a mão direita na minha barriga, encostando a cabeça delicadamente em meu ombro.
– Está confortável, meu amor?! – era a primeira vez que eu a chamava assim e seus olhinhos brilharam de contentamento. Corei, tímido...
– Estou nas nuvens, seu bobinho! – ela tocou a ponta do meu nariz com o dedo, como uma varinha de condão, achando graça do meu romantismo. O gesto deu vazão a uma imagem de nós dois, de acordo com a perspectiva dela. Estávamos tão perfeitos juntos que eu não pude esboçar outra reação a não ser relaxar.
Nem eu, nem ela percebíamos o tempo ficando para trás. Nos perdíamos em olhares e carícias, certos de que as horas não correriam contra nossa felicidade. Aliás, eu nem sequer me lembrava da existência de tempo e espaço, mergulhado em fantasias que suas mãos derramavam em minha mente. Num dado momento ela me lançou uma pergunta mentalmente:
“Como você acha que as coisas serão daqui pra frente?!”
Considerei sua dúvida por uns instantes. Não havia razões para supor que as coisas não seriam maravilhosas daquele dia em diante. Edward e eu havíamos feito as pazes e os demais {com exceção da Loira psicopata} se davam muito bem comigo e pareciam ter aceitado os fatos muito antes de eles terem se tornado realidade, segundo ele me disse.
Talvez Nessie estivesse indagando a respeito de qual atitude deveríamos tomar, agora que não havia mais barreiras entre nós dois. Qual designação teria o nosso relacionamento?! Eu também não tinha uma resposta concreta para aquilo... Seriamos namorados então?! Só isso?! E se assim fosse, até quando permaneceríamos sob a sombra desse rótulo?! Uma eternidade inteira nos aguardava pela frente! Era tanto tempo que eu nem conseguia mensurar em minha cabeça... Que padrões nós seguiríamos, afinal, para saber quando e em que direção dar o próximo passo?!
O próximo passo... Essa parte se demorou em minha mente por mais tempo. Já havíamos dado o primeiro, o mais difícil de todos, o que oferecia mais riscos. Agora o futuro era vasto diante de nós. Se eu olhasse ao redor, tudo que veria seriam alianças eternas entre nossos conhecidos. Vínculos eternos, compromissos eternos, amor eterno... diamantes... buquês... votos... black tie... véu... calda...grinalda...
Comecei a tremer e suar compulsivamente. Meu coração se atirou de um precipício, deixando um buraco gelado em seu lugar. Me levantei bruscamente, quase desequilibrando Renesmee. Os músculos do meu corpo inteiro estavam repuxados pelo nervosismo. “Calma, Jake, tenha calma... Está tudo bem, ainda é cedo para isso!” eu tentei mentalizar, inutilmente. Eu estava errado. Não era cedo nem tarde para a solução que agora estava fervilhando dentro de mim. Não podia julgar nossa relação me valendo de argumentos comuns. Não há nada de comum no que concerne a um lobo apaixonado por uma meia-vampira. Nada mesmo! Eu girava de um lado para o outro, minhas mãos se alternando entre a testa e a boca, compulsivamente.
– Qual é o problema, Jake? Você está se sentindo mal?! – Nessie estava aflita e impaciente com meu silêncio. Tencionei lhe dar uma resposta, mas desisti, voltando a minha valsa solitária e desengonçada. Ela levantou e se colocou na minha frente, bloqueando minha passagem. Seu olhar exigia uma explicação, então eu me virei de costas pra ela.
– Para com isso... – ela se pendurou em mim – você está me deixando louca com essa atitude! Se eu soubesse que você iria ficar desse jeito, nem tinha feito a pergunta!
Seu peso não oferecia qualquer empecilho para que eu continuasse a rodopiar irresoluto. Entre um pensamento e outro eu pronunciava coisas do tipo “que idéia maluca!” “Não, ainda não é o momento!” “Até parece!”... Devaneios que a deixaram confusa e histérica. Num movimento quase instantâneo, ela me barrou com os braços, travando os calcanhares no chão a nossa frente.
– Eu exijo que você pare agora, ou eu juro que nunca mais te dirijo meus pensamentos outra vez?! – esbravejou, tão séria que me convenceu. Eu fiquei paralisado diante de sua minúscula figura, sem coragem para pronunciar qualquer coisa, temendo que minhas palavras denunciassem minhas intenções. Ela me acolheu em seus braços.
– Deus do céu, o que foi que aconteceu aqui, hein?! Um furacão passou e eu não percebi?!
“Praticamente!” eu pensei. Esperei que ela se afastasse, então avaliei sua expressão. Ela apenas demonstrava uma aflição que era aceitável, dado o meu descontrole emocional e físico.
Tudo isso em razão de uma única certeza, que se instalou em meu coração naqueles poucos segundos com uma força descomunal. Eu visualizei meu “próximo passo” com clareza e soube que não havia outro caminho a seguir. Era extremo, era profundo, mas inevitável. Pra quê esperar, realmente?! Esperar fazia parte de um estatuto humano cheio de regras de comportamento e protocolos que não se aplicavam à nossa realidade. Respirei fundo.
– Nessie, e-eu... – comecei nervoso, mas dei uma pausa e reposicionei seu corpo até o banco, onde ela se sentou confusa. Eu me agachei, ficando na altura de seus olhos, minhas mãos pousadas em seus joelhos. Suas sobrancelhas se uniram, então eu continuei:
– Eu sei que as coisas entre nós dois acabaram de se acertar, e que talvez você considere o que eu vou te pedir um absurdo... Mas eu não posso deixar de falar, mesmo assim! Antes disso, porém, você tem que saber de três coisas: A primeira delas é que eu te amo, e isso é um fato irrevogável! Segundo: que eu não encontrei outra solução à altura de nossa situação... e terceiro: atualmente, eu me encontro em pleno gozo de minhas faculdades mentais.
– O-k! – ela gaguejou, visivelmente confusa com minhas palavras desconexas. Tomei fôlego novamente.
– Você me perguntou como as coisas seriam daqui pra frente, não foi?! Bem, eu considerei várias hipóteses e, ao final, todas elas convergiram para uma mesma solução! – eu ia ter uma parada cardíaca a qualquer momento... Minha língua ficou presa no fundo da minha garganta, me impedindo de prosseguir. Renesmee acariciou meu rosto como uma pétala de rosa
– Eu estou escutando, Jake!
Segurei sua mão e olhei firmemente dentro de seus olhos. Agora eu não poderia vacilar.
– Renesmee... Case-se comigo! – pausa para recobrar o fôlego – Aceite ser a minha esposa, e eu serei o homem mais feliz e completo do universo!
Silêncio absoluto.
Minhas pernas começaram a se balançar, inquietas. Eu estava a ponto de sair correndo dali. Sua falta de ação outra vez estava me pondo louco. Tudo que ela fez foi piscar duas vezes, antes de sua boca pender para baixo, numa inércia total. “Vamos, Nessie, por favor! Não faça isso de novo comigo!”
Suas mãos, enfim, tatearam cegas meu corpo, subindo até o meu rosto. Ela hesitou inicialmente, mordendo os lábios... Depois pressionou a ponta dos dedos nas minhas bochechas.
“Nada me faria mais feliz!”
Minha ficha não caiu de imediato. Sua resposta curta não era o que eu estava esperando ouvir. No entanto ela aparentava estar tão decidida quanto eu, e seu sorriso mais lindo, aquele que franzia seu nariz pequenino, ornamentou sua face lívida. Meus olhos se apertaram com a felicidade que me invadiu naquele momento histórico de nossas vidas. Eu a ergui nos braços, e nós dois rimos abobalhados. Agora eu estava certo de que nada, nem ninguém, nos separaria... Nada me demoveria daquela decisão, nem a ela. Nos beijamos, dessa vez, como se a existência da humanidade dependesse disso. Estávamos, oficialmente, viciados um no outro.
Voltamos ao banco, entre beijos e risos. Nossas mãos nervosas se apertavam uma na outra, numa ânsia de externar a imensa alegria que sentíamos. Depois desatamos a tagarelar sobre os detalhes de nossa decisão, avaliando as conseqüências e ficando muito satisfeitos com os resultados que se apresentavam diante de nós. Cada segundo trazia uma nova emoção a nossos corações. Ficamos absortos em carícias e sorrisos por uma meia hora.
– Vamos fugir! – ela exclamou de súbito, um novo brilho em seus olhos angelicais
Eu ergui uma sobrancelha, surpreso com sua proposta.
– Fugir Nessie?!
– É!! Por que não?! – ela perguntou, como se fosse algo tão natural como ir a um shopping, ou sair para comprar vagem
– Não, meu amor! Não podemos fazer isso... – eu discordei com uma certa má vontade, admito
– Eu insisto: Por que não?! – ela cruzou os braços. Segurei se rosto com ternura.
– Por que não seria certo. Seria uma tremenda desfeita com nossas famílias se agíssemos tão impulsivamente... – me impressionei com o grau de maturidade em minhas palavras, principalmente porque, no fundo, fugir com ela não seria algo assim, tão ruim ... Ela emburrou a cara como uma criancinha mimada e eu não consegui não rir de seu desapontamento. Beijei de leve a ponta de seu nariz.
– Fugir pra casar é coisa pra quem não tem outra opção, Nessie! Esse não é o nosso caso... estou mentindo?!
– Não, não está! – ela admitiu, de mau gosto – Mas é que... eu já estou vendo o circo que todo mundo vai armar quando a gente anunciar o noivado... Tia Alice vai querer dar uma festa maior do que aquela que ela estava planejando para o meu aniversário...
Eu sorri ao ouvi-la pronunciar a palavra noivado! Ela percebeu minha expressão e o rubor interrompeu suas preocupações.
– Por que você está me olhando assim?!
– Por que você vai ficar uma gatinha vestida de noiva!
– Rá rá rá, muito engraçado... – ela ficou mais vermelha ainda – Mas não pense que você me distraiu! Eu ainda não estou totalmente confortável com o fator “cerimônia de casamento”.
Nem eu, pra falar a verdade! Sentia calafrios só de imaginar...
– Vamos fazer o seguinte então: A gente conta pra eles a nossa decisão, então eu vou exigir que eles nos casem imediatamente, sem a presepada do noivado. Damos um prazo de, no máximo, dois dias para que eles se prepararem psicologicamente, então estará feito.
Ela considerou minha idéia.
– Combinado! – sorriu, me estendendo a mão direita para selarmos o acordo.
Nessa hora, escutamos passos vindos da floresta. Nos endireitamos no assento, afoitos. Dentro em pouco, Edward e Bella surgiram por entre as árvores imensas que rodeavam a propriedade. Ele estava com o braço ao redor dos ombros dela, e os dois conversavam animadamente. No instante em que nos viu, ele leu meus pensamentos, por que parou de caminhar por uns segundos e ergueu as duas sobrancelhas, completamente incrédulo. Se Bella ainda fosse humana, teria se desequilibrado e caído no chão, com a parada brusca que ele deu. No entanto, apenas parou de caminhar automaticamente, se voltando para observar as feições do marido. Ele se recompôs com classe e voltou a caminhar. Pedi aos céus que ele não dissesse nada a respeito do assunto. Os dois completaram o percurso até nós, então nos colocamos de pé em um salto perfeitamente sincronizado.
– Ora, ora, ora... – ele disse em um tom de gozação – É bom ver que está TUDO BEM, não é mesmo?!
Concordamos nervosamente sem dizer nada. Ele deu de ombros.
– Bem... já está bastante tarde e vocês dois devem estar exaustos de tanto “conversar”, eu suponho...
De novo, balançamos a cabeça. Eu então me apressei em iniciar as despedidas, antes que o desconforto aumentasse.
– Tem razão! Eu estou precisando tirar o sono atrasado... É melhor eu ir pra casa!
Me virei para beijar a testa de Renesmee.
– Boa noite, Nessie. Sonhe com os anjos! – me contentar com aquela despedida simples foi frustrante e eu torci os lábios
Ela piscou pra mim e eu me virei para cumprimentar os outros dois. Edward se adiantou.
– Durma bem, Jake! Amanhã será um dia bastante agitado... – Disse com um tom de ameaça. Mas ele não parecia estar zangado. Estava apenas surpreso, naturalmente. A ameaça a que ele se referia não viria dele propriamente...
– Obrigado, eu farei isso sim... Até amanhã, Edward. Bella! – acenei para eles, então sai de fininho, sem nem olhar de volta. Senti seus olhares em minhas costas enquanto caminhava. Quando atravessei a cortina de folhas, disparei feito um doido em direção à La Push.
Estava tão afobado e aquela roupa que Alice me obrigou a vestir era tão complicada de tirar que eu simplesmente me transformei, destruindo-a em pedaços. “A jaqueta de couro era até legalzinha... “ pensei enquanto corria. “Mas aquela blusa pólo grafite listrada e aquela calça preta, sinceramente...”
– Quanta classe hein?! – A voz pungente de Leah interrompeu meus pensamentos. Incrível como eu sempre era pego de surpresa, mesmo sendo o lobo alfa... – Iai, qual é a boa?!
Tratei logo de contar, antes que ela visse as imagens em minha mente e começasse com babaquices.
– Não é “a boa”... é “a ótima”! Eu e Renesmee vamos nos casar!!
...
Foi inútil...
– Eu não acredito! EU NÃO ACREDITO!! Você perdeu o juízo?! Que pergunta... você nunca se familiarizou com o termo “juízo”! Se esqueceu, por acaso, que aquela garota só tem sete anos, seu pedófilo?!
Inacreditável. Mas eu não podia esperar outra coisa. Leah era sempre tão madura...
– Pense o que quiser... Seu doente! – esse negócio de responder aos pensamentos estava começando a encher – O que esperava que eu dissesse hein?! “Meus parabéns, Jacob! Muitas felicidades pra você e sua noiva em miniatura!” ?!?!? Pelo amor de Deus...
– Exatamente! Era isso que eu esperava ouvir... a parte do “noiva em miniatura”, claro!
– Você é completamente maluco então!! Isso nem é mais surpresa... mas a cada dia você aparece com uma novidade bizarra, parece um show de horrores...
Deixei a voz dela para trás, enquanto me transformava de volta em humano. Escalei o parapeito da janela do meu quarto, depois me atirei na cama, o corpo anestesiado pela enxurrada de emoções. O celular vibrou sem nem me dar tempo para respirar... “Edward” era o nome no visor. Fiquei confuso entre atender ou deixar cair na caixa... Atendi.
– Edward?! O que foi?!
– Como assim o que foi, seu maluco?! – aquele seria agora oficialmente o meu segundo nome – Que história é essa de casar com a minha filha, hein?!
Ele estava falando muito alto e eu me desesperei.
– Ah, não se preocupe com isso – meu Deus, o cara ouvia os pensamentos até por telefone... – eu estou bem longe das garotas. No topo de uma árvore pra dizer a verdade...
– Hun?!
– Olha, Jake... – ele ignorou meu espanto e deu continuidade – eu sei que eu te disse para tomar uma atitude, mas... Não precisava ser uma atitude tão extrema assim!!
Uma interrogação gigante se materializou em minha cabeça.
– Me desculpe, mas eu não entendo o porquê dessa agitação toda! Nós dois nos amamos, hoje e para sempre! O que mais é preciso para se estar apto ao casamento, afinal?!
Ele ficou em silêncio por alguns segundos.
– Eu não sei, Jacob... Isso tudo foi tão repentino... Você tem certeza de que não quer esperar um pouco mais?!
– Edward, eu não estou te entendendo?! Você já não sabe que minhas intenções não vão sofrer nenhum tipo de alteração?! Não me conhece o suficiente?! Eu poderia esperar 100 anos... Meu amor por sua filha continuaria intacto!
– Tá, tá bem, eu não estou duvidando de você... Mas estou preocupado com Nessie! Ela é tão novinha ainda... Talvez não esteja pronta para suportar um compromisso desses, com tantas... implicações!
Eu entendi o que ele quis dizer com “implicações”...
– E o que você prefere: que a gente realize essas “implicações” antes, pra depois nos casarmos?! Foi justamente pensando nisso que eu cheguei a essa solução!
Acho que ele percebeu que aquilo realmente era o melhor a se fazer, por que suspirou e seu tom diminuiu algumas oitavas.
– Tudo bem, tudo bem... Mas eu só vou ceder porque conheço minha filha e sei que ela tem maturidade suficiente para isso, senão... não ia ter conversa!
Achei graça de seu instinto super-protetor.
– Ok, é melhor eu desligar agora, antes que Bella ponha a casa abaixo...
– Quê?! – pensei, por um segundo, que ele havia contado a novidade a ela e ela estivesse a ponto de quebrar tudo, de tão furiosa
– Relaxe, meu amigo! A “fúria” dela tem outra origem, se é que você me entende... – a voz maliciosa dele me provocou um calafrio
– Urght! Por favor, me poupe dos detalhes... Eu só espero que vocês não perturbem Nessie!
Ele riu.
– Sem problemas, ela vai passar a noite com as tias! Bom, não vou colocar a culpa disso em você, já que pelo menos ela me abraçou e pediu desculpas pelo modo como vinha agindo... Ela só implorou por mais uma noite de compreensão! Não tive como negar...
– Sendo assim... – eu fiquei meio embaraçado com o que disse, mas me tranqüilizei – uma boa noite pra você! {Arght}
– Até logo, Jake!
O telefone ficou mudo. Apertei “end”, então relaxei as costas na parede.
Eu mal conseguia acreditar no fim de tarde maravilhoso que tivemos. Foi tão mágico como em um sonho.
Renesmee!
Será que seu coração estava tão agitado quanto o meu?! O que estaria fazendo agora?! Em que estaria pensando?! Tantas perguntas...
Fui interrompido por uma nova vibração do celular. “Você tem 1 nova mensagem” era o que piscava no visor. Apertei em “ler”.
10 de abr. de 2010
PARA TODO O SEMPRE
“ Jake,
espero que você tenha uma noite maravilhosa!
estarei pensando em você,
agora e para sempre.
Te amo, eternamente!
Renesmee.”
É, amanhã seria um dia realmente... maravilhoso! O começo de uma nova fase! Da melhor fase da minha vida...
Fanfic escrita por Raffaela Costa
1 comentários:
ray vc e d++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ parabens amiga vc merece
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