15 de ago. de 2010

Capitulo 38

Posted by sandry costa On 8/15/2010 No comments

- Faça pressão Edward, não pare. 
- A pulsação está muito fraca Carlisle, ela não tem sangue para bombear.
- Meu Deus Edward, meu Deus...
- Calma Bella, nós não vamos perdê-la. Agora, ajude Edward a controlar a pulsação. Verifique a respiração, ela tem que respirar...
- Nós não devíamos tê-la deixado sozinha com aquele Alec, Edward...
Um túnel. Distante e escuro. Breu e vozes soando longe.
Um frio desorientador. Era isso o que eu via, era isso que eu sentia. Meu corpo era um nada, eu não o sentia em lugar algum, e minha mente apenas vagava confusa por um espaço atemporal.
 
Eu não podia entender aquelas palavras, mas as vozes que murmuravam sobre mim, eram tão suaves, aveludadas... Eu gostei de ouvi-las. Tentei encontrá-las no turbilhão indistinto daquele silêncio encômodo. Eu queria ouvir o som das palavras embalando meus sonhos turvos, borrados...
- Ela precisa de sangue Edward, e nesse ponto... No estado dela creio que sangue animal não vai ajudar em nada. – A voz serena murmurava rapidamente, sem perdera constancia aveludada de suas palavras. Soava como cordas de nylon vibrando no espaço, cada nota subindo em espirais perfeitas.
- O quê está sugerindo Carlisle? Que eu terei que escolher entre a vida de minha filha e a de um inocente? – Essa era a voz que eu mais gostava. Tão linda, ao forte e vibrante. Parecia-se com cristais. Se pudesse ser tocada seria como seda.
- Eu não sei o que fazer Edward, ela não reage a nada... – Eu sentia tanto frio. E contudo eu não podia tremer, estava inerte, presa num corpo gelado e imóvel. Eu sabia que, em algum lugar, havia um coração, eu podia ouvi-lo ao fundo, um murmúrio lento e fraco que se misturava com as vozes perfeitas que conversavam entre si.
- Edward, nós não temos escolha. – Disse a voz feminina, um sino de vento soando na escuridão que me envolvia. Eu gostava dessa também... Era tão familiar que por um momento eu pensei estar vendo-a sob minhas pálpebras fechadas. – Eu não posso suportar isso Edward, não posso ficar aqui vendo minha filha morrer. Eu daria meu sangue se ainda tivesse algum em minhas veias, mas nem isso eu posso fazer por ela. Então não me olhe assim. Se alguém tem que morrer para que minha filha viva, eu aceito. Vou agora mesmo buscar alguém na cidade vizinha. – A voz radiante brilhava como uma estrela na imensidão obscura onde eu me encontrava. Era como olhar para o céu noturno e ver lá longe um lusco fusco incandescente.
 
- Não vai precisar ir tão longe Bella. – Um novo clarão, uma nova voz surgindo no tapete negro. O céu se abriu em uma rajada de fogo, desfazendo-se sob a luz quente que aquela nova voz trazia. Era uma ressonância macia, mas tão forte que alcançou o plano real, e subitamente eu senti aquele coração distante que falava tão baixo, bater com mais força. Era como um choque elétrico passando por meu corpo entorpecido.
- Jake, vice não vai fazer isso.
- E por quê não?
- Jacob, ela vai precisar de muito sangue. – A voz suave e calma quase sussurrava.
- Nós já fizemos isso antes. – Disse a voz rouca, soando mais perto. Eu senti a luminosidade vertiginosa daquela voz, clareando minha mente turva como se mil vela tivesse, sido acessas diante de meus olhos.
 
- É diferente Jacob. Naquela vez ela sugou só o sangue sujo das suas veias, uma quantidade insignificante para alguém como você. Agora ela precisa de muito, mesmo para você é muito sangue, você pode não sobreviver...
- Eu não me importo. Vamos logo com isso.
- Jake, não! Pare. Você não vai se matar.
- Bella, nós não temos escolha. Não há humanos por aqui,e mesmo se houvesse, eu não vou ficar aqui olhando você drenar um inocente. Se precisa ser feito, sou eu quem deve fazer. Além disso, pode ser que eu sobreviva, o doutor mesmo disse que eu sou forte. – Um silêncio pesado caiu sobre meus ouvidos. Por um momento pensei que havia perdido de vez as vozes brilhantes que me distraiam do frio. Tive medo do silencio, eu queria ouvi-los, queria sentir as notas formando cores em minha mente vazia.
Quando o desespero começava a me alcançar, a voz melodiosa da mulher sussurrou:
- Como isso foi acontecer? – Aquele lamento sufocado atravessou minha mente como um punhal. Uma melodia triste demais para eu suportar. Eu queria chorar, mas eu não encontrava meus olhos em lugar algum.
- Não temos tempo para isso agora, Bella. Deixe-me dar o sangue a ela. Depois conversamos. – Outro minuto de silencio, outro minuto de medo e escuridão. E então algo aconteceu...
Eu não sei bem como. Eu senti uma dor aguda em alguma parte do corpo que até então eu não sentia. Era como se eu tivesse sido puxada de volta a meu próprio corpo, como se por um momento, minha alma estivesse solta, flutuando num espaço inexistente. Eu senti meu coração. Ele estava quase desistindo. Lute – eu gritei para ele – mas não houve resposta. Meus coração se esforçava em suas últimas batidas oscilantes.
- Eu estou aqui. Você me encontrou. Eu nunca iria embora sem você. – O frio cedeu gradativamente, eu ainda não sabia como, mas a escuridão invencível que parecia prestes a me tragar, dissolveu-se no calor daquelas palavras sussurradas tão carinhosamente para mim. Elas me afagavam como luvas de plumas. Eu sentia o hálito quente em meus ouvidos, apenas um segundo antes de reencontrá-los. E assim, em cada parte entorpecida do meu corpo, eu pude sentir o peso da vida que estava me deixando aos poucos.
- Preciso que faça algo por mim. – Disse a voz rouca, e no mesmo instante eu soube que ele não estava falando comigo, o brilho tremeluzia.
- Qualquer coisa Jake. – Respondeu a voz clara e melodiosa da mulher.
- Se eu não der conta... – Um pausa. Um suspiro pesado. – Levem meu corpo para meu pai.
- Eu tinha uma vaga consciência despertando em mim. Eu sabia quem eu era, mas não sabia dizer onde estava ou como havia parado ali. Eu via escuridão. Eu ouvia cores... Elas cantavam para mim, amenizavam o pavor daquela semi morte, e quando fazia-se silencio, era como apagar as luzes.
- Será feito. – Disse a voz cristalina, as palavras deslizando como água.
- Muito bem então.
- Jake. – Chamou a mulher.
- Sim.
- Quando for o suficiente, eu vou pará-la.
- Não se preocupe com isso. O importante é que ela fique bem. Concentre-se nisso.
 
Eu queria entender aquelas palavras, mas minha mente estava adormecida. Ela apenas sonhava com cores e sons, influenciada por aquelas vozes magníficas, feliz por tê-las por perto. Eu sabia que eu estava morrendo... Mas desde que eu não ficasse sozinha, no silencio e na escuridão, então tudo estava bem.
- Ela sabe que está morrendo. Mas ela não está com medo, está sonhando... Está em paz.
 
Sim, sim... Paz. Alguém dizia algo assim, a voz de seda desenhava meus pensamentos, e eu adorava ouvi-la sempre adorei...
- Ela não vai morrer. – Ah, aquela outra voz... O oposto das vozes melodiosas que sempre murmuravam tão baixo e cadenciadamente. Era como fogo e gelo, e essa me queimava.
Eu sonhava com o campo, com a grama salpicada com o orvalho da manhã. Sonhava com o crepúsculo, o céu tingido de vermelho. Quadros que se misturavam, e logo vinha outro, e mais outro... Todos tão evanescentes. Eu podia sentir a grama sob meus pés, e o vento em meu rosto. Eu queria correr até minhas pernas cansarem.
- Eu preferia que vocês não vissem isso. – Murmurou a voz rouca, esquentando meu corpo recém descoberto. Eu senti o calor contra minha pele, e outra onda de choque correu por minhas pernas e braços gelados.
Tudo emudeceu. Todas as vozes brilhantes se calaram, haviam partido.
Exceto uma, mas essa não dizia muita coisa, apenas me reconfortava. Eu sentia pele quente sob meu corpo, envolvendo-me um abraço intransponível.
O quê era isso? O que era esse fogo me queimando de dentro para fora? Esse cheiro. Esse gosto terrivelmente bom escorregando por minha língua?
Era mais do que eu podia suporta, senti-me tonta de desejo, embriagada por aquele cheiro doce, aquela textura magnífica. Eu o queria tanto que chegava a doer. Meu corpo todo queria aquilo, implorava por mais...
- Tome Ness. Não precisa chorar, está tudo bem. – Sim, eu não tinha me dado conta do que estava chorando, mas agora eu percebia. Eu estava sofrendo em cada gole quente que tomava para mim, ávida e incapaz de me deter. Me doía sentir aquele desejo febril. Era esmagador, incontrolável.
Minha mente se acendia com tanto calor. Meu coração martelava, frenético em meu peito. Eu podia ouvir o vento passando sobre a superfície escarpada da rocha, levantando as cinzas numa espiral constante. Eu podia ouvir o coração dele, batendo forte sob minhas mãos semi aquecidas. Eu gemia com a intensidade da sede, que tornava-se mais voraz a cada nova gota preciosa. Eu sentia que estava emergindo de uma grande profundidade, era como se meus ouvidos se livrassem da pressão incômoda que me ensurdecia.
 
Aos poucos, como o amanhecer, como se o sol estivesse inundando o céu de luz e calor, minha visão obscurecida empalideceu, clareando a cada batida estridente do meu coração.
 
Eu vi o céu - de verdade - pairando majestosamente sobre mim, com sua imensidão silenciosa se estendendo até onde meus olhos o perdiam de vista. Um tapete negro salpicado por nuvens cinzentas que escondiam as estrelas de mim.
Ah, como era divino aquele sabor. Um bálsamo para todos os meus temores. Era como fogo líquido. Todos os sons despertavam ao meu redor, eu queria sorver tudo, tornar meu cada ruído da noite, cada farfalhar das folhas das árvores.
 
Meu coração acelerava, o dele desvanecia...
Eu estava bebendo sua vida.
 
Horrorizada, trêmula e confusa, eu me afastei do pulso ensangüentado que repousava sobre meus lábios. Meus dedos fechavam-se feito barras de ferro ao redor da ferida aberta que jorrava o sangue quente em minha boca aberta. Como era difícil me afastar daquele pulsar forte, vívido e desesperado...
- Jake. – Gemi, tentando com todas as forças combater aquele impulso sedento. Ele me olhou, sorrindo, sereno como uma brisa de primavera, e nada disse.
 
Ele estava pálido, recostado em uma das grandes árvores que cobriam aquela clareira. Eu nunca estive ali. Tentei me levantar, e logo descobri que eu podia fazer isso perfeitamente.
Contudo, me sentei ao lado dele, de modo que pudesse ver seu rosto. Ele me olhava tranqüilo, como se nada mais importasse ou merecesse atenção maior.
- Por quê fez isso? – Perguntei, sentindo as lágrimas turvarem minha visão.
- Que escolha eu tenho? Não posso viver sem você... – Engoli a bola quente que se formava em minha garganta, o gosto dele ainda incitando minha sede. Fechei minhas mãos em punho, tentando conter a raiva que eu estava sentindo de mim mesma. Percebi algo macio sob minha mão esquerda, quando olhei, me lembrei de algo que ele me dissera há muito tempo...
- Finja que é meu coração. – Estendi a flor amassada para ele. Ele sorriu. – Eu estraguei tudo não é?
 
- Não. Você fez o que tinha que fazer. Se não tivesse feito não seria você, isso faz parte de quem você é. – Ficamos em silêncio por algum tempo, escutando o vento e observando a aurora alaranjada que pairava sobre Volterra. Estávamos a mais ou menos dois quilômetros da cidade, numa clareira pequena que se elevava sobre os montes de Montepulchiano.
 
- Acabou Ness. Vamos para casa agora. – Sussurrou Jacob em meu ouvido. Segurei sua mão quente entre meus dedos e sorri para ele, feliz por ver que eu não tinha o sugado até quase a morte.
 
Ajudei ele a se levantar, percebendo a fraqueza momentânea devido a falta de sangue, e eu estava me sentindo bem. Estava esperançosa pela primeira vez em meses...
- Ah, mas nós estamos apenas começando meu caro.
 
Arfei, e quando me virei em direção da voz eu quase gritei. Aro, Caius, Jane, Demetri...
Aquele pesadelo não terminava nunca?  

By: Anna Grey

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