Imortais Parte 1
Meu primeiro impulso foi segui-lo, após aquele breve momento em que meu corpo se entorpecera de choque, eu me lancei na corrida mais desesperada de minha vida. Eu ainda podia ouvir os gritos de Alice ecoando atrás de mim, estremecendo o vale com aquela dor sem tamanho, e embora não pensasse em muita coisa enquanto seguia o maldito, minha mente se encheu daquela dor, nublou tudo, meus pensamentos, minha visão. Eu estava tão perto que podia vislumbrar o rosto lívido de Jasper sumindo a reaparecendo em meio às árvores, preso entre os dentes pútridos daquele monstro maligno. Podia também sentir Alec, logo atrás de mim, e Willian, seguido por Jacob. Todos estavam bem, afinal de contas, Emmet cuidaria de Alice, e Sam logo estaria conosco, seguindo o maldito. Mas por quê nada parecia bem para mim? Por quê eu não me sentia forte o bastante para ver as coisas por esse ângulo? Uma das coisas que Jasper me ensinou foi nunca baixar a guarda numa situação de risco, “não leve seu coração para uma batalha” dizia ele. Eu não estava dando muito orgulho para meu professor, eu suponho. Eu tentava pensar, tentava riscar alguma estratégia de última hora em minha mente, mas nada acontecia, e eu apenas ouvia essas vozes ecoando na minha cabeça, embaçando minha visão da realidade, como quando meu pai disse, naquela mesma manhã maldita: “O mesmo veneno que infecta humanos e os transforma, é capaz de paralisar um corpo imortal de forma irreversível. É talvez a única forma de morte que dispomos, além da fogueira.” E cada vez que essas palavras se repetiam dentro de mim, mais eu me sentia destruída, impotente, indigna de ter sido treinada por aquele homem que eu não pude salvar. E o quê eu faria então? Quando os alcançasse o quê eu diria à Jasper, antes de vê-lo silenciar para sempre numa semi-morte que todos nós desconhecíamos? Maldição, eu pensava, enquanto engolia com dificuldade o choro preso em minha garganta, meus olhos queimavam com as lágrimas que ameaçavam transbordar a qualquer momento.
Volterra estava a poucos metros de nós e eu não permitiria de forma alguma que ele levasse Jasper para aquelas ruínas fumegantes, sujando e envergonhando o corpo dele como se fosse um pedaço frio de carne. Os outros se aproximavam cada vez mais de mim, e eu pensei, o quê eles fariam? Estavam aqui para me deter caso eu desse uma de louca novamente? Dane-se, falei para mim mesma, se eu era a merda de uma aberração, podia muito bem agir como uma, eu já não me importava mais.
Que se danem todos eles, quero que vão para o inferno com sua proteção e cuidado. Arranquei um pequeno tronco enquanto passava pelas árvores, e por um breve momento de insanidade, eu não sabia ao certo o quê estava fazendo. Apenas fiz.
Esperei a silhueta asquerosa da criatura entrar em mira e arremessei. Quarenta centímetros de um galho de árvore um pouco mais grosso que meu punho. Foi direto, se projetou pelas folhas e arbustos com a força do meu ódio. Sorri quando ouvi o guincho de dor da criatura ecoar à minha frente e o cheiro de seu sangue subir ao ar como fumaça. Bingo!
Atravessou a perna direita na altura da coxa, e ainda estava lá quando eu o vi cambalear. Oscilou um pouco na descida, até pensei que largaria Jasper bem ali, mas o maldito continuou, sangrando e mancando, com a estaca fincada na perna e Jasper preso entre os dentes. Mas aí eu já não tinha dúvidas, não hesitei em arrancar outro galho de outra árvore, enquanto procurava uma outra maneira de acertá-lo e atrasá-lo. Era só o quê eu precisava, um momento, um pouco mais de sangue no chão. Eu nem ao menos via o quê estava agarrando enquanto desmatava o vale atrás do maldito filho da lua, eu arrancava tudo o quê minhas mãos podiam alcançar, errei algumas vezes, acertei de raspão em vários pontos de seu corpo, mas foi minha última estaca a mais sortuda, a premiada. Entrou até o talo. De onde eu estava, trinta metros atrás dele, eu podia ver o belo rombo que se abriu em sua barriga. O flanco direito esguichou sangue como um maldito champagne Krug*.
Ele desacelerou e eu fui direto para ele, quando apenas dez metros nos separava, ele largou Jasper no chão, lançando-o na relva, virou o corpo ensangüentado para mim e soltou um guincho ensurdecedor que soava como um misto de dor e ódio.
E se foi.
Cambaleando, ele continuou em direção aos portões de Volterra, que, embora queimados e semi-demolidos, continuava sólido e imponente, cercando um amontoado de cinzas. Mas eu já não podia segui-lo, eu tinha o que eu queria bem ali.
- Jasper. – Sussurrei, enquanto o segurava em meus braços. O sangue da criatura cobria suas roupas, e o cheiro era insuportavelmente forte e ácido. Alec e Willian cruzaram as árvores atrás de mim, um segundo depois Jacob saiu de lá na forma humana.
Estava acabado, eu pensei, examinando as fendas que se abriam por todo seu tórax, braços e ombros. O veneno se espalhava rapidamente, eu podia sentir o cheiro na pele dele, podia sentir a quentura se espalhando pelos membros gelados de Jasper.
- Temos que levá-lo daqui. Sam acaba de me avisar que os humanos já perceberam o quê houve com a cidade, os moradores não sabem como foram parar em Pienza e estão fazendo um pandemônio por lá. Logo a imprensa e a polícia vão cair como corvos aqui. – Disse Jacob com a voz embargada. Eu podia perceber o esforço que ele estava fazendo para ser prático, para se manter firme enquanto eu estava ali, impotente diante do corpo de Jasper.
- Não podemos deixar a criatura solta por aí enquanto os humanos estão por toda parte. – Disse Willian. – Se ele se alimentar de alguém, então teremos outro maldito filho da lua para lidar. Precisamos encontrá-lo Alec.
Eu ouvia aquelas palavras e entendia o quê significavam, mas não conseguia tirar meus olhos do rosto imóvel de Jasper. Os olhos âmbar me fitavam, e de alguma forma eu sentia que ele ainda estava ali. Seu corpo pendia inerte em meus braços, e olhá-lo daquela forma me custava tanto...
- Não...baixe a...a guarda. – Meu sangue gelou ao ouvir Jasper sussurrar aquelas palavras. Ele estava ali, ainda estava naquele corpo. Os outros emudeceram, Jacob se ajoelhou ao meu lado.
- Ele está vivo? – Perguntou ele, uma esperança crescendo dolorosamente em seu rosto.
- Sim, oh Deus, sim. – Falei, tremendo sob o corpo de Jasper. – Jake, me ajude aqui. – Passei um dos meus braços sobre Jasper, afim de acomodá-lo melhor. Levei meu pulso à boca e quando eu ia perfurar a pele, Jacob segurou meu braço.
- O quê está fazendo? – Perguntou ele.
- Jake, ele está muito fraco, talvez um pouco de sangue ajude-o a se recompor. – Falei, sem desviar os olhos do rosto de Jasper.
- Eu não sei se é uma boa idéia. – Respodeu Jacob.
- É a única que temos nesse momento. – Eu disse, puxando de volta meu braço, e, sem demora, fiz um pequeno corte em meu pulso. Deixei o sangue gotejar livremente sobre a boca semi-aberta de Jasper, seus olhos opacos me fitaram tranquilamente.
- Vamos lá Jasper, beba. Agora você pode, tem permissão para isso. – Tentei esboçar um sorriso enquanto falava, mas tudo que consegui foi uma careta de dor. – Vamos, beba. – Eu já não podia conter as lágrima, e uma após outra elas escorreram por meu rosto. – Por favor, beba, beba... – Jasper apenas me olhava serenamente, sua sede já havia secado, assim como seus olhos logo o fariam.
Eu chorei. Enquanto o segurava junto de mim, com meu sangue fluindo para dentro de seu corpo morto, chorar parecia a única coisa que eu poderia fazer por ele. E tudo piorou mil vezes mais quando Alice e Emmet nos alcançaram, eu tive que olhar nos olhos dela e entregar o corpo daquele que sempre fora sua vida.
- Eu sinto muito. – Eu falei, enquanto tremia por inteiro, vendo-a se curvar sobre o corpo de Jasper e o segurar em seus braços pequenos pela última vez. Alice não disse uma só palavra. – Eu sinto muito. – Quanta dor poderia caber num só coração? Eu ao menos fazia idéia do quanto Alice estava sentindo?
- Ele não está morto. – Disse-me ela enquanto eu me afastava com Jacob. Eu olhei aquele rosto pequeno, aqueles olhos infantis, e Alice apenas emudeceu, segurando Jasper em seus braços, o rosto vazio, tão morto quanto o dele. Mas eu não pude dizer nada a ela, não podia nem mesmo encará-la, então eu a olhei uma vez mais antes de seguir com os outros para Volterra. Eu tinha uma caçada para terminar, eu devia isso a Alice.
***
O chão de pedra estava negro, as casas queimadas até não sobrar nada, montes de escombros, a fumaça impregnava tudo, nublava o céu. Alec e Willian seguiam pela rua estreita, Jacob os seguia silencioso, suas patas grandes agitando a fuligem do chão enquanto passava. Do alto dos telhados que resistiram ao incêndio, eu os observava lá embaixo.
O rastro de sangue da criatura formava uma trilha de migalhas que nos levaram diretamente para ele. Estávamos tão perto que eu podia sentir o cheiro fétido de seu corpo. Ele havia perdido muita velocidade com os ferimentos, e agora corria desnorteadamente por Volterra, dando voltas, procurando por algo entre as ruínas.
Então, subitamente, ele começou a correr e correr, acelerando para o centro da cidade. De lá do alto que o vi mancar, ele não se curava tão rápido quanto os lobos, e isso era bom, significava que eu poderia feri-lo inúmeras vezes antes de mandá-lo diretamente para o inferno.
Comecei a correr também, me equilibrando nas vigas dos telhados e nos muros de pedra, a criatura aumentou o ritmo, eu saltei para o chão, me juntando aos outros. Estávamos quase alcançando o maldito quando a fumaça cedeu lugar a outros cheiros.
- Aro. – Murmurou Willian.
- E Jane. – Falou Alec.
- Meus pais estão aqui também. Ótimo.
Ouvimos a criatura grunhir, vozes se misturarem no vento, palavras que nos alcançavam como sussurros. E então alcançamos as vozes, e quase no mesmo instante eu vi o rosto de Aro e Jane do outro lado da praça. A fonte de pedra os separava de meus pais, Carlisle, Zafrina e Benjamin. Estavam encurralados feito ratos, não podiam contar com a criatura que sibilava enlouquecida para qualquer coisa que se movesse a sua volta. A cada passo que o monstro avançava em qualquer direção, Benjamin o atrasava fazendo voar tijolos de pedra e escombros perdidos pelo chão, a criatura já bastante ferida, grunhia e se afastava.
- Ah, vejam quem está viva ainda, minha querida Renesmee. E vejo que trouxe meu Alec de volta para mim. – Disse Aro do outro lado da praça. A torre da igreja pairava como uma grande sombra atrás de mim. Alec e Willian ao meu lado direito, Jacob no lado esquerdo, parecíamos algum tipo de grupo de reforços ou algo assim, mas eu me sentia distante daquilo tudo, só conseguia ver o rosto de Jasper em minha frente, aquela última imagem dele, eu só queria acabar com aquilo de uma vez e poder me sentar em algum canto e ficar de luto por ele.
- Cale a boca Aro, eu não tenho tempo para suas merdas agora. Tenho uma besta para queimar antes de você. Espere sua vez. – Eu falei, enquanto observava a criatura no meio da praça, pesando as possibilidades de aproximação. Aro riu, aquela risada enfadonha e desdenhosa.
- É justamente disso que se trata o nosso impasse aqui. – Disse ele satisfeito. – Veja bem, seu pai não pode encostar em mim enquanto não tiver certeza do que fiz com Alice, e ao mesmo tempo, ele não pode tirar o que quer de minha mente. – Um sorriso afetado brincou no rosto de Aro. – Entende o quê quero dizer minha querida? Vamos passar o resto de nossa eternidade aqui. – Disse ele exibindo uma satisfação soturna enquanto me encarava.
- Talvez não demore tanto quanto você imagina. – Falei, me movendo cuidadosamente em direção a meus pais. A criatura grunhiu, mas não se moveu de sua posição.
“Pai, nós encontramos Alice. Ela está com Emmet e...Jasper perto das montanhas.” Tentei organizar meus pensamentos de modo coerente, sem deixar escapar a pontada de dor que atravessava minha mente. Meu pai assentiu de modo discreto, deixando-me ver que entendia. Arrisquei mais alguns passos para perto deles, enquanto vigiava a criatura no centro da praça. Aro me observava do outro extremo, estava silenciosamente desconfiado de minha atitude. “Precisamos terminar logo com isso pai, os humanos estão vindo para cá.” Ele me olhou de esguelha, o rosto rígido como uma máscara, e deu seu primeiro passo em direção de Aro e Jane. Os outros o olharam confusos, sem saber o quê estava acontecendo ou o quê deveriam fazer, então eu continuei caminhando em direção a eles, e um a um, eu os toquei e transmiti as notícias. Minha mãe estremeceu quando viu em sua mente o rosto de Alice. Estava secretamente aliviada, feliz. Zafrina manteve-se inabalável, aquilo era algo normal para ela. Benjamin enrijeceu, Carlisle baixou a cabeça, ponderando consigo mesmo.
- O quê você está fazendo? – Murmurou Aro do outro lado, enquanto assistia a aproximação cautelosa de meu pai em sua direção. Uma pontada de pânico cruzou suas feições quando Jane se colocou em sua frente. Era agora, eu pensei, isso termina aqui.
2 comentários:
Aleluia já estava na hora desse babaca morrer.
Ñ deixa o Jasper morrer ñ. A Alice morre junto.
Espero q o próximo cap. ñ demore.
Meeus Deeus!!
O Jass vai mmooreeer?? faz isso naaao!!
E o Filho da Lua? e Aro? E Jane? Eles vao morrer? Isso vc pode fazzeer xD
Naao demoore
Bjs
Nany
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