Entre Conselhos, Sonhos e Decisões
Hoje eu acordei triste como tem acontecido há dias, no momento em que abri meus olhos eu percebi uma miríade infinita de pequeninos pontos brilhantes dançando pelas paredes do meu quarto, parecia uma sinfonia de luzes multicores como as constelações que habitam os confins das galáxias... então, me sentando na cama, eu notei o brilho glorioso do sol cujos raios de luz eram fracamente filtrados pelas cortinas do meu quarto e se chocavam vigorosamente contra a minha pele de cristal se fragmentando em todas aquelas pequeninas luzes na parede.
Eu lembro que quando era pequena eu adorava a réstia que meu corpo produzia quando havia sol, eu sempre gostava de ficar no jardim vendo minha pele refletir seu brilho sobre o gramado verde.
“É Renesmee” – eu pensei comigo mesma – “Acho que hoje você não poderá ir à escola”.
Dias de sol são complicados para mim, na escola todos pensam que moro com minha tia – no caso Esme que supostamente é a irmã mais jovem da esposa de Carlisle – na misteriosa casa da família Cullen. Esme é mais madura do que Rosalie e Alice e como já faz dez anos desde que Carlisle “deixou” a cidade com a família, o rosto de Esme já foi praticamente esquecido. Em dias de sol, vovó telefona para a escola para avisar que passei mal durante a noite e não poderei participar das aulas... todos pensam que sofro de uma gastrite estomacal crônica que surge de forma intermitente, me admiro de ninguém nunca ter notado que isso só ocorre em dias de sol.
Aproveitando que não iria a escola hoje eu me virei na cama e fiquei olhando o céu azul lá fora, por alguma razão eu sou completamente apaixonada pelo céu... principalmente quando ele está com esta coloração de azul celeste e sem nuvens, mas também amo o céu noturno quando posso me deitar da grama para admirar a lua cheia ou as estrelas cintilantes. Conversei sobre isso uma vez com meu avô Carlisle e ele acha que devo me tornar uma astrônoma no futuro... assim poderei olhar para o céu o tempo todo.
Mas eu suspirei agora, e não era pelo céu lindo lá fora ou da possibilidade de haver estrelas a noite, neste momento o céu me deixou triste... eu ficaria presa em casa durante todo o dia e não poderia ver Jacob. Jamais imaginei que poderia ficar tão depressiva por ficar em casa sem precisar ir à escola, mas na atual situação eu preferia mil vezes ir para a aula a ficar em casa com vergonha de encarar a minha família... e meu pai.
O pior é saber que tudo é minha culpa. Mas eu não sei o que deu em mim aquele dia, eu simplesmente não pude resistir em fazer amor com Jacob... estávamos sozinhos eu e ele nesta casa e o mundo parecia pertencer apenas a nós dois, foi como um sonho maravilhoso poder dormir sobre seu corpo quente e com cheiro silvestre. Pena que o despertar foi um pesadelo...
Por mais estranho que pareça e apesar de não serem humanos, os vampiros são acometidos com muito mais vigor por sentimentos como amor, paixão, raiva, ciúme... como nossos sentidos são muito mais aguçados que os das pessoas comuns, me parece que o modo como descobrimos certos sentimentos humanos também são ampliados o que nos torna muito mais arrebatadores em tudo o que fazemos.
Os vampiros amam e se apaixonam uma vez só pelo resto da eternidade. É como a Impressão dos lobisomens, sabemos que aquela determinada pessoa é a ideal para nós... foi assim com Carlisle e Esme, Alice e Jasper, Emett e Rosalie, meu pai e minha mãe e é assim com Jacob, ele sentiu a Impressão por mim e eu senti o Amor Eterno dos vampiros por ele.
Agora ele é meu para sempre e eu sou dele... se não fossem certas complicações.
A janela do meu quarto já estava no lugar novamente, eu tive que agradecer a meus tios Emett e Jasper por isso, no outro dia bem cedo após a confusão eles vieram e a consertaram sem dizer palavra... nem mesmo Emett tirou sarro de mim, ele até me olhou com um olhar condescendente como quem diz “é menina, você está ferrada”. Jasper se limitou a sorrir com carinho.
Meu pai não olhava para mim, ele havia se retraído na ultima semana e vivia enfunado no gabinete de Carlisle lendo os livros que ele já lera milhares de vezes, vovô também parecia chateado comigo, acho que porque ele e meu pai são os mais velhos e as raízes tradicionais dos dois são parecidas. Mamãe me compreendia, ela me contou que sentiu estes mesmos impulsos por meu pai entes de eles se casarem e que ela só não fez o mesmo que eu porque papai tinha medo de perder o controle perto dela e acabar matando-a.
Não é fácil ser uma meia-vampira... porque eu pareço muito mais humana que meus pais apesar de também ser uma imortal. Na escola foi terrível o primeiro dia de aula, os meninos literalmente me caçavam lá dentro, mesmo os garotos mais velhos que cursavam o ultimo ano do ginásio viviam atrás de mim. Naquela ocasião, tia Alice me explicou que até mesmo o meu cheiro os atraia e que minha beleza os deixava tão confusos que eles não conseguiam pensar direito... houve uma ocasião que um garoto veio falar comigo e desmaiou porque se esqueceu de respirar.... lembro que nunca senti tanto medo àquela vez porque achei que havia matado o probrezinho; mamãe me explicou que sentia isso por meu pai quando se conheceram e que ela mesma às vezes esquecia-se de respirar perto dele.
O impacto que causamos nos humanos é muito forte.
Eu suspirei alto mais uma vez pensando em Jacob... e não demorou nem um segundo para eu ouvir a porta do meu quarto se abrindo; minha mãe entrou silenciosamente e se deitou na cama comigo, ela colou seu rosto perfumado no meu e aproveitou meu dom para falar comigo mentalmente, acho que ela não queria que meu pai nos ouvisse conversando e provavelmente ela bloqueou nossas mentes com seu escudo.
“Ouvi você acordando” – pensou minha mãe, eu adorava a voz dela e lembro que a ouvia mesmo antes de nascer, a voz de minha mãe sempre me acalmava.
“Está um lindo dia” – eu respondi sem tirar os olhos do céu.
“Você está triste ainda?”
“Sim, mãe, como eu não estaria? Sinto falta do Jake.”
“Eu sei que você sente, meu amor, mas tem que ser paciente. È difícil ter paciência na sua idade porque quando somos adolescentes achamos que o mundo irá acabar no outro dia e não dará tempo de se fazer mais nada. Não seja apressada.”
“A senhora não entende” – eu me virei para olhar o rosto lindo de minha mãe, seus olhos dourados me encarando com ternura, eu coloquei minhas mãos ao redor de seu rosto para continuar com nosso elo mental – “È algo mais forte que eu, eu não consigo ficar longe de Jacob, é como se faltasse algo aqui dentro, como se houvesse um buraco imenso em meu peito...”
“Renesmee, Jake ainda é seu... nada mudará isso. O problema é que seu pai ainda está muito chateado com vocês dois e faz pouco mais de uma semana que tudo aconteceu... é recente demais para ele”.
“Ele está com raiva de mim, não é?” – eu perguntei desviando os olhos de minha mãe.
“É claro que não, Edward jamais teria raiva de você... ele só está chateado. O problema é que seu pai ama você demais, e também ama Jacob... então o conflito que ele sente é muito grande”.
“Os dois se odiavam tanto antes” – eu sussurrei invocando as lembranças que minha mãe me mostrou há um tempo atrás.
“Não pense nisso agora, o passado é passado e aquela história não é sobre você...” – eu não respondi e minha mãe passou as mãos pelos meus cabelos me perguntando – “Vocês tem se falado?”
“Jake apareceu na escola há uns dias atrás, e depois disso eu tenho ligado para ele do telefone público da escola durante a hora do almoço... mas, tirando isso, nunca mais nos vimos”.
“Filha” – disse minha mãe percebendo o quanto eu estava chateada – “Isso vai passar e tudo voltará a ficar bem”
“Espero que sim”.
“Vai ficar um pouco mais na cama ou quer se levantar? Alice vai separar algumas roupas que estão tomando espaço no guarda-roupa dela e eu fiquei de ajudá-la... quer vir comigo?”
Eu assenti, querendo ou não tia Alice era uma das pessoas mais hilárias que eu conhecia e ficar perto dela e de seu alto astral poderia fazer com que o dia não se tornasse tão enfadonho. Eu me levantei e me vesti, coloquei um vestido branco que eu gostava muito e que combinava com o dia de hoje, era sempre bom se vestir com algo que Alice me presenteava porque ela ficava saltitante ao saber que eu aprovava o gosto dela, além disso, era minha tia e eu tinha que agrada-la também.
Atravessando o quintal dos fundos da casa eu e minha mãe encontramos Esme ajoelhada de frente para um canteiro de flores, este ano minha avó resolveu plantar margaridas, Alice havia lido em algum lugar que margaridas eram as flores para esta estação, haviam margaridas azuis anil e amarelas se espalhando por grande parte do quintal dando uma coloração alegre e intensa para a casa.
- Oi querida, bom dia... eu já telefonei para a escola avisando que você não irá hoje. – ela disse assim que me viu.
- Obrigada, vó. – eu me limitei a responder uma vez que ainda estava sem jeito para falar com eles.
- Alice está lá em cima, Esme?
- Sim, ela já começou a separar as roupas, está aguardando por você.
Eu não vi mais ninguém enquanto eu e mamãe subíamos para o quarto de tia Alice, não havia viva alma na casa e imaginei que meu pai estivesse trancafiado no gabinete junto com meu avô. No quarto, Alice estava sozinha e um perfume floral se espalhava pelo ar, havia uma cama grande apesar de nunca ser usada e vários móveis de época espalhados pelo ambiente, uma antiga carabina pendurada na parede que pertenceu a Jasper quando ele lutou na Guerra Civil.
Tia Alice saltitava pelo cômodo entrando e saindo do closet que por sinal era maior que meu quarto, ela tinha um sorriso fácil nos lábios e seus modos elétricos faziam com que mudasse de direção repentinamente; antigamente Alice mantinha um eterno olhar de presunção no rosto, afinal, ela era uma vidente e sempre sabia o futuro de todos... mas, agora que ela não conseguia mais acionar o seu poder, passou a encarar a todos com um olhar resignado de quem não tinha mais nada de especial. Obviamente isto não diminuiu a sua curiosidade peculiar.
- Ah, pensei que não viria mais me ajudar... – ela fungou enquanto beijava o rosto de minha mãe e depois o meu – Bom dia, querida sobrinha.
- Desculpe, Alice... eu fiquei um pouco na cama com Nessie – respondeu minha mãe enquanto seguia minha tia para dentro do closet.
- Hum, está bem, agora me ajude aqui porque Seth virá à tarde para buscar estas roupas.
- Nem consigo imaginar um Quileute usando Hugo Boss ou Pierre Cardin... – riu minha mãe – Eles geralmente rasgam as roupas com uma semana de uso.
- Bem, o que eu posso fazer? Nos últimos meses eles se transformavam todo tempo para proteger nossa casa, então nada mais justo que eu repor o estoque de roupas que eles rasgavam. Além do mais, meu querido esposo não usa mais estes blazers...
- Claro que não, Alice... você não permite que Jasper use mais de duas vezes a mesma peça de roupa.
- É tia, eu nunca vi tanto consumismo... – eu disse provocando.
- Ah, Renesmee, não me venha com essa conversa revolucionária... capitalismo não se aplica aos imortais minha querida, se nós não fizermos isso nossa vida ficará ridiculamente entediante.
Não adiantava discutir com Alice, assim eu e mamãe passamos boa parte da manhã separando algumas roupas que eram destinadas a nossos leais protetores, o que era interessante é que no mesmo dia em que Alice doava as roupas ela seguia direto para Port Angeles a fim de comprar mais algumas para todos os membros da família, infelizmente, graças ao sol ela não poderia cumprir seu ritual hoje, o que a deixou com o humor um pouco carregado.
Na hora do almoço tia Alice ligou para Seth para que ele passasse aqui no final da tarde para buscar as roupas e distribuí-las na Reserva, ela até deu a idéia de irmos a La Push para levar as roupas e para eu fugir e ver Jacob mas meu pai a fuzilou com os olhos...
- Bem, eu tentei... – ela suspirou para mim.
O restante do dia não foi de todo ruim. Papai passou o tempo todo fechado no gabinete de vovô, eu joguei umas partidas de xadrez com Jasper enquanto Emett ficava em cima de mim dizendo que eu fazia tudo errado, no meio da tarde assisti a um filme com tia Rosalie e depois que o sol já estava se pondo fui até a cozinha ajudar vovó a fazer um pudim de leite para recebermos a visita de Seth, ele era tarado por pudim de leite.
- É bom você aprender estas coisas – comentou vovó – Porque você terá que cozinhar para Jacob depois que vocês se casarem... e do jeito que aquele menino come, terá de aprender a preparar vários pratos diferentes.
Eu apenas sorri para ela e continuei a derramar a calda de açúcar dentro da forma, meus pensamentos idealizando como seria o meu casamento com Jacob, alinhei todas as idéias que minha tia Alice já havia tido para quando eu subisse no altar, ela já havia até mesmo desenhado o meu vestido de noiva... mas estes pensamentos apenas me fizeram ficar mais triste quando me perguntei se um dia isso viria a acontecer realmente.
- Vamos – disse Esme segurando meu rosto – Anime-se... tudo vai terminar bem.
- Eu gostaria muito vó... mas não vejo como.
- Você puxou sua mãe, Bella é igualmente preocupado com tudo...
- É, eu acho que sim – eu consegui sorrir novamente – Vovô está bravo comigo?
- Ora, minha querida, você é a coisa mais maravilhosa que aconteceu na vida de Carlisle, como pode pensar que ele estaria bravo com você? Mas você conhece seu avô, ele não gosta de brigas e não gosta quando coisas assim acontecem.
- Sinto muito se estraguei tudo.
- Renesmee, você ainda é muito jovem... têm direito de errar, aliás, nós só aprendemos quando erramos. É como cair, você não tem outra opção a não ser se levantar e continuar andando... não é mesmo?
Eu sorri para Esme e a abracei com força, meus avós eram tão especiais para mim que eu nem sequer conseguiria exprimir em palavras, desde que nasci eles estão perto de mim... e não são apenas Carlisle e Esme, eu tenho uma verdadeira adoração por Charlie e os modos desajeitados dele, não vejo muito minha avó Renée mas eu a amo igualmente.
Seth chegou pouco antes do anoitecer, nós ouvimos seu carro barulhento desde que ele entrou na estrada que conduz até nossa casa; ele desceu do carro e veio gingando aquele corpanzil até a entrada da porta onde foi recebido por meu avô.
- Dr. Cullen, como vai? - disse Seth cumprimentando vovô.
- Bem, Seth e você?
- Ótimo como sempre, onde está o restante da Família Adans?
- Nossa, Seth, como você é engraçado... faltou apenas o nariz vermelho aí na sua cara... – provocou Emett.
- Oi Seth – cumprimentou Rosalie dando um beijo no rosto dele.
- Você não ficou de vir mais cedo? - cobrou Alice.
- Ah, eu sei, mas tive uns contratempos lá no trabalho... você sabe como é.
- Separei algumas coisas a mais para você... apesar de não merecer. – Alice disparou contra Seth, mês passado ele havia ganhado de Alice uma jaqueta lindíssima de couro para andar de moto e sem querer Seth a esfacelou quando se transformou em lobo.
- Oi Edward... Bella. – Seth cumprimentou meus pais enquanto espaçava de Alice.
- Como vai, garoto? - perguntou meu pai.
- Eu vou bem, como sempre... vim buscar as coisas que Alice separou para nós e também aproveitar para ter uma conversa com a Nessie.
- Veio dar algum recado daquele seu líder sem vergonha? - meu pai perguntou com sarcasmo demonstrando que ainda não estava nem perto de perdoar Jake.
- O que é isso companheiro? - riu Seth – Eu não posso mais vir aqui para conversar com a minha afilhada?
Minha avó Esme era bem religiosa apesar de não parecer e um ano após meu nascimento convenceu meu pai a me batizar, Seth acabou escolhido para ser meu padrinho devido à amizade com meu pai e tia Rosalie minha madrinha por gostar tanto de crianças e porque sempre quis ser mãe. Seth sempre pegava no meu pé dizendo que eu tinha que respeitá-lo como sendo meu segundo pai... eu nunca levei muito a sério isso mas o considerava sempre um parente próximo como um tio.
- Como você está? – ele veio me dar um beijo.
- Bem, Seth... na medida do possível.
- Ótimo... quer sair dar uma volta? Eu preciso comer e estou louco de vontade de devorar um cachorro quente lá da barraca do Willy. – ele me disse dando uma piscadinha, Willy fazia os maiores cachorros-quentes de Forks, sua barraca ficava na entrada da cidade e muita gente ia até lá fazer um lanche.
- Ela está de castigo Seth... e eu não quero que você a leve se encontrar com Jacob às escondidas. – sibilou meu pai.
- Cara, agora eu fiquei realmente ofendido. – disse Seth colocando teatralmente a mão no peito e se aproximando de meu pai – Vem cá, leia o meu pensamento... – ele se postou na frente do meu pai e fez cara de sério, eu esperei o impacto de meu pai descobrir que Seth estava ali justamente a pedido de Jake, mas quando meu pai desfez a cara amarrada eu percebi que Seth estava sendo sincero.
- Está bem, desculpe... – meu pai falou contrariado.
- Eu hein... desconfiando até do seu velho amigo aqui? A sorte é que eu gosto de você, Edward ou lhe daria um belo chute nesse seu traseiro branco de vampiro... – Seth respondeu rindo e dando um cutucão no peito de meu pai - Vamos, Nessie... vamos dar uma volta que eu estou cheio de fome...
- Seth – gritou minha avó antes de deixarmos a sala – Tente não comer demais porque eu e Renesmee fizemos um pudim de leite para você...
- Ah, não se preocupa não Dona Esme... na volta eu devoro o pudim também. – rugiu Seth com os olhos brilhando, ele deu uma piscadela para minha mãe e me arrebatou para fora da casa.
- Você realmente veio aqui só para me levar passear e comer cachorro-quente? - eu perguntei quando subi no banco do carona .
- Sim, não é um plano de Jake se é isso que está pensando... se fosse, seu pai já teria me matado. Eu só achei que seria uma boa idéia você passear com um lobo e sair um pouco das vistas do seu pai.
Seth ia tagarelando durante o caminho, ele conduzia o carro com as janelas bem abertas e o vento açoitava meus cabelos para todos os lados, eu não prestava atenção ao que ele dizia mas fiquei feliz por ele ter me tirado da mansão e Seth, como um representante dos lobos, era super quentinho o que me lembrava Jacob.
A noite estava linda, com estrelas cintilantes sorrindo para a floresta escura e o clima estava ameno e gostoso, o ruído do motor me afastou de meus pensamentos enquanto a voz sonora de Seth enchia a noite. Era bom respirar ar puro para variar, o clima em minha casa ainda estava tenso e pesado, sair com Seth era bom... não havia tempo feio para ele, provavelmente era a pessoa mais otimista e feliz que eu conhecia.
A barraca do Willy estava lotada de gente e eu agradeci mentalmente por não ter nenhum de meus colegas da escola por ali, Willy era um rapaz corpulento de nariz engraçado e super falante, ele estava atrás da chapa prensando alguns cachorros-quentes quando nos viu chegar.
- Ô, Seth... como é que vai? Faz tempo que não aparece por aqui...e você linda moça, resolveu trocar de namorado? - ele gritou feliz.
- Não... – eu ri – Só amigos mesmo.... este cara aqui é como um irmão.
- Manda um com tudo o que tem direito aí Willy, nós vamos nos sentar ali no fundo – Disse Seth apontando para umas mesas de metal desmontáveis que estavam espalhadas pela calçada.
- E você mocinha... não vai querer um também?
- Não, Willy, obrigada... eu não quero engordar. – eu respondi desconversando, obviamente eu não conseguia digerir cachorros-quentes por mais gostosos que Seth e Jacob dissessem que fossem.
Seth sentou-se na minha frente e me encarou com um sorriso nos lábios, ele sempre achava graça em ser meu padrinho, mas levava muito a sério a posição porque sempre procura saber como estou, como estão as aulas e tudo o mais... padrinho é um segundo pai ele diz.
- Então, você conversou com Jacob? - eu perguntei não tendo coragem de encará-lo.
- Sim, conversei... ele me contou o que aconteceu. – Seth respondeu sério agora.
- Hum... e o que você acha de tudo isso?
- Olha, Nessie, o que eu posso te dizer? Jacob é meu amigo e o Alfa da minha alcatéia, você é minha afilhada e filha de um grande amigo meu, acho fantástico vocês dois juntos e sinceramente o que fazem entre quatro paredes não é problema meu... mas acho que vocês pisaram na bola.
- É, todo mundo me diz isso.
- Foi muito cedo, vocês deveriam ter esperado um pouco mais.. sei lá, mas não foi por isso que eu trouxe você até aqui. Uns dias atrás Jake foi te ver na escola e você disse algo que o deixou com a pulga atrás da orelha...
- Algo que eu disse?
- Sim, você deu a entender que está planejando algo... e ele teme que você faça alguma besteira.
- Como assim que eu faça alguma besteira? - eu disse indignada, era um problema toda vez que eu ficava nervosa ou com raiva de alguma coisa porque eu puxei minha mãe nisso, não consigo segurar as lágrimas e agora eu lutava para não permitir que elas corressem pelo meu rosto – Eu acho engraçado, fico aqui o dia todo aturando cara feia para mim, meu pai malmente me olha, eu não durmo à noite e passo todo o tempo tentando encontrar uma solução para ficar com Jacob e ele tem medo que eu faça besteira? E o que é que ele está fazendo afinal?
- Ah, Nessie, espera porque eu não quis...
- È sério, Seth – eu falei cortando-o e notei que minha voz estava acima do comum o que chamou a atenção de algumas pessoas na outra mesa – Eu fico aqui sofrendo enquanto Jacob vem com este papo furado de esperar até meu pai se acalmar... Seth, qual é? Isso pode levar décadas. Eu me pergunto se Jacob realmente me ama.
- Meu Deus, Nessie... não mata o mensageiro aqui. E que bobagem é esta? Você sabe que Jake é completamente louco por você.
- É, mas ele parece não ligar... porque simplesmente nunca mais fez esforço para me ver.
- Renesmee... Jacob está tentando agir com calma.
- Ah, Seth... eu estou morrendo de agonia.
- Olha, vocês dois agiram sem pensar e agora você quer repetir o mesmo erro?
- Eu quero Jacob perto de mim. – eu gritei sem querer, no mesmo instante me arrependi – Desculpe, Seth... eu sei que está apenas tentando ajudar.
- Escute, eu gostaria de ajudar vocês dois, mas não vai dar se você não manter a calma. Eu sei que na sua idade é difícil ter que esperar pelas coisas acontecerem... mas é melhor esperar a poeira baixar, Nessie, senão tudo pode piorar.
- Eu vou tentar, Seth... vou tentar. Mas não posso te garantir, eu não quero ficar presa na minha casa por dez anos até meu pai resolver perdoar Jake... se eu não conseguir me segurar vou tomar uma atitude bem mais drástica.
- Ai, Renesmee – gemeu Seth – Só me avise antes para eu não estar por perto.... Meu Deus, menina, isso está pior que novela mexicana.
- Não se preocupe... eu tenho tudo sob controle. – eu falei um pouco mais controlada.
Seth devorou o cachorro quente e decidiu dar outro rumo para a conversa, foi uma boa idéia porque eu desliguei um pouco deste assunto maçante que se transformou o meu pequeno deslize com Jake, eu sempre me senti o centro das atenções em minha família, mas agora sinceramente eu gostaria de não ter tanta atenção assim voltada para mim. Não demorou muito para Seth lembrar que havia um pudim de leite só para ele na geladeira de Esme e nós subimos no carro disparando novamente para a mansão.
Seth se afundou no sofá conversando com meu pai enquanto devorava a sobremesa, Alice e Jasper haviam ido ao cinema e Carlisle e Emett jogavam sinuca na sala de jogos, mamãe, Rosalie e Esme conversavam com a chata da Kaori na sala de estar. Como achei que estava sobrando resolvi me despedir de todos e ir para a minha casa, nestes momentos era muito melhor ficar sozinha em meu quarto para repensar as coisas.
A casa estava silenciosa e meu quarto me acolheu feliz em minha tristeza muda, eu coloquei o meu pijama e me enfiei sob as cobertas... Arrumei-me na cama e fiquei olhando pela janela as estrelas cintilando lá no céu, o vento sussurrava levemente pela grama lá fora e os sons da noite encheram minha audição. Eu estava me sentindo estranhamente solitária, tudo estava tão confuso e minha família parecia tão distante de mim... mesmo minha mãe agora parecia me tratar com mais cuidado como se eu fosse diferente do que era antes.
Às vezes eu gostaria de explodir com eles gritando que o fato de eu ter feito amor com Jake não me transformava em uma pessoa diferente, francamente, isso estava me matando por dentro... ficar longe de Jacob também não ajudava, era como se faltasse algo dentro de mim, como se meu coração tivesse sido arrancado de meu peito e atirado num rio profundo.
E foi assim, ressentida com minha família e com saudade de Jacob que eu acabei adormecendo.
Então, de repente, eu estava sonhando. Eu sabia que estava sonhando mas isso não deixou de parecer estranho, havia um céu azul sobre minha cabeça e um campo ressacado que se espalhava pelo horizonte até encontrar uma floresta de árvores escuras e altas, não havia ninguém comigo até onde eu puder avistar, então, subitamente, uivos de lobos cortaram o ar e meus tímpanos pareciam prestes a explodir com o som estridente... eu não compreendi o que aqueles uivos diziam mas sabia que era um canto lamurioso e triste.
Eu vi, repentinamente, centenas de pessoas paradas e olhando para mim... elas balançavam-se para frente e para trás como se estivessem em transe, notei que os olhos das pessoas queimavam num vermelho ígneo... eram vampiros... centenas deles... e me olhavam.
“O que vocês querem?” eu gritei no meu sonho, mas os vampiros continuaram a me encarar sem dizer nada. De repente eu o vi... um vulto empunhando uma lança prateada e longa avançava em minha direção e eu me encolhi de medo, tentei correr mas não consegui... ele me ultrapassou como um raio e se lançou para frente no campo estéril. Do outro lado, na direção oposto a mim, eu vi um lobo imenso de coloração castanha avermelhada, ele corria e seus olhos estavam raivosos, mas antes que se aproximasse de nós o vulto atirou sua lança no ar e a arma cravou-se fundo no peito do lobo... e eu gritei. Gritei mais do que já havia gritado em toda a minha vida, gritei para que meu horror rompesse a barreira do sonho e atingisse o mundo real para que alguém viesse me salvar deste pesadelo horroroso... eu gritei alto porque sabia que aquele lobo morto pela lança era meu... meu Jacob.
- JACOB... – eu berrei alto e me sentei na cama arfando e olhando aterrorizada para a parede oposta do meu quarto, neste momento a porta se abriu e minha mãe entrou se sentando perto de mim.
- Renesmee... o que foi? - ele perguntou afastando os cabelos de meus olhos.
- Nada... eu tive um pesadelo. – eu consegui responder.
- Filha, você está tremendo, venha aqui. – e ela me abraçou, senti sua pele fria comprimir meu corpo e me senti mais segura, o medo do pesadelo se esvaindo de minha mente, então levantei os olhos e vi meu pai parado na porta, ele nos olhava com atenção... eu baixei o olhar.
- Eu já estou melhor, mãe.
- Com o que você sonhou? - ela perguntou ternamente.
- Não lembro direito... o vulto negro com a lança novamente... eu não sei de onde tiro isso.
- Você quer que eu durma aqui com você?
- Não mãe, não precisa... eu já estou melhor, obrigada.- eu disse realmente me sentindo menos assustada, olhei para o relógio na cômoda e já passavam das três da manhã.
- Se precisar me chame está bem? - minha mãe me deu um beijo no rosto e deixou o quarto me olhando preocupada, meu pai apenas esperou ela passar e fechou a porta.
Eu não consegui dormir por um bom tempo, queria ouvir a voz de Jacob me dizendo que estava tudo bem e que eu não precisava me preocupar com nada, queria o corpo quente dele perto do meu para eu me sentir segura... minha vida perfeita estava desmoronando e eu não queria mais isso, amanhã seria um dia decisivo.
Porque amanhã eu executarei o meu plano, custe o que custar, e sei que isso poderá piorar tudo mas eu não me importo. Amanhã será o dia D.
Ou tudo se resolverá... ou se dissolverá de uma vez por todas.
2 de out. de 2010
Capitulo 26
Autor Angus
0 comentários:
Postar um comentário
Não esqueça de comentar, isso incentiva os escritores e também a mim que tento agradar a vocês.