- Maldita! – Eu grunhi, me lançando atrás dela. Quando eu estava perto o suficiente para lançar a adaga que trazia nas mãos, Jane estacou, virando-se de súbito para mim. Ela me olhou nos olhos, enquanto afagava a pedra da lua entre os dedos, como se procurasse um botão secreto. Enquanto eu a observava girar a pedra entre os dedos pálidos, eu ouvi o grunhido bestial cortar o ar e tilintar em meus ouvidos como facas.
- Njegovo jezo opekline moon otroka – Jane sussurrava, fitando meu rosto com os olhos mais frios que eu já vira.
- Jane, pare. – Eu sussurrei para ela, sentindo um pressentimento soturno se apoderar de mim.
- Isso, querida, destrua-os. Destrua a todos! – Incitava-a Aro, segurando-a pelos ombros, acariciando seu rosto com as mãos pálidas.
- Njegovo jezo opekline moon otroka – Jane repetia, um sorriso soturno crescendo no canto de seus lábios. Eu não reconhecia aquela língua, mas sabia que nada de bom estava sendo proferido com aquelas palavras cheias de maldade.
Atrás de mim, a criatura urrava e eu podia ouvir a movimentação dos outros enquanto tentavam detê-lo e permanecerem vivos.
- Pare, você vai matar seu próprio irmão? – Eu disse a ela quase implorando. Jane me fitou com aqueles olhos vermelhos e disse, sem nenhuma emoção transparecendo em sua voz:
- Eu não tenho irmão. E você também não terá mais nada. – Disse ela, enquanto a pedra da lua era erguida no ar, refletindo a luz opaca do céu nublado.
Então eu ouvi o barulho oco de corpos sendo arremessados, e tive que desviar meus olhos de Jane e Aro. No meio da praça a criatura avançava sobre todos, levantando uma onda de destruição por onde passava. Alec estava tão perto... Meu pai, minha mãe, Carlisle, Zafrina, Benjamin, Jake... Eles lutavam com suas vidas. Até Marcus estava lá, enfrentando a derradeira morte. Ver aquilo, todo aquele horror, toda aquela violência... Presenciar aquele momento quebrou algo dentro de mim. Naquele momento eu percebi o quê significava ser um imortal num mundo de humanos. Nós éramos os monstros.
Com os pensamentos ainda turvos e o coração acelerado, eu vi a bravura de Marcus, séculos de imortalidade e força, ele parecia um fantasma pairando entre os outros. Avançava sem temer a morte, e talvez não temesse de fato. Eu sabia que não poderia fazer nada para ajudá-los naquele momento, e sabia também que teria de ser responsável pela morte de Aro e Jane. Ninguém mais poderia terminar aquilo. Apenas eu. Apenas eu e meu punhal inútil.
Então eu me virei para eles novamente, estava pronta, ou pelo menos era o quê eu gostaria de pensar.
- Vamos terminar isso de uma vez Aro. – Eu disse. Aro sorriu, aquele sorriso ofídico, aquela pele poeirenta se esticando nos cantos dos lábios. Ele afagou os ombros de Jane mais uma vez e disse, correndo os olhos para mim:
- Minha querida, já acabou. – Disse ele, gesticulando suas mãos longas para a luta que explodia atrás de mim. Por um momento eu não entendi a piada. Realmente não entendi a expressão no rosto de Jane e de Aro, embora jamais pudesse esquecê-las.
Foi o silêncio quem me alertou. O silêncio que precede o grito, a imobilidade que precede a queda, o ar suspenso como se o próprio tempo se recusasse a correr depressa. Aro sorriu novamente, uma última vez, e desapareceu de minha vista com Jane, tão rápido quanto uma nuvem de poeira se desvanece no ar. Acredito que meu corpo tenha sentido antes de minha mente se dar conta do que havia acontecido, pois minhas pernas tremiam enquanto levavam meu corpo para trás. “Olhe” dizia algo em minha mente, mas eu não conseguia obedecer.
Então os gritos abafados chegaram até meus ouvidos, apertando minha garganta como mãos invisíveis. “Olhe. Olhe e veja.”
- Tirem ele daí. Tirem logo. Merda, merda... – Gritou Benjamin, apavorado.
- Jake, quebre o pescoço. – Alertou minha mãe. Então veio a ruptura e o sangue. O gorgolejo sufocado, o rugido morrendo sob as mandíbulas do lobo.
E muitos pares de mãos arrancando, partindo, quebrando, torcendo...e a pilha cresceu rápido. O sangue logo se infiltrou nas pedras, formando poças, espelhos escuros, fétidos.
O cheiro ardeu em minhas narinas, nublou meus sentidos por um breve momento. As mãos de Alec ainda sustentavam o corpo tombado no chão. Eu não queria olhar para ele, não queria sequer pensar em seu nome, não conseguia me aproximar. Olhei para Marcus, ajoelhado ao lado de seu filho, o rosto trazendo à tona as velhas marcas do sofrimento, da perda.
- Filho. – Murmurou ele, sem coragem de tocar em seu corpo. – Por quê fez isso? Por quê não se salvou ao invés de mim? Eu já estou morto, meu pequeno príncipe.
Só havia perdão na morte? Ele poderia ter chamado Willian de filho enquanto ele ainda respirava, enquanto ainda lutava para fazer a coisa certa, enquanto ainda desejava o perdão de seu pai. Agora não importava muito, não é?
Alec me olhou de lá, daquela parte longínqua da realidade que eu não queria alcançar. Parecia que todos olhavam para mim, esperando algum tipo de crise histérica. Mas eu calei todos os gritos e lágrimas que todos esperavam de mim. Ao invés disso, acendi o isqueiro que eu apertava numa das mãos, e andei, um passo por vez, até a pilha fétida de membros e ossos da criatura. Enquanto o fogo subia, expelindo mais daquela fumaça pesada, eu selava toda dor dentro de mim. Rápido, precisava ser muito rápido, antes que minha consciência se desse conta, antes que minha mente assimilasse aquilo.
Willian morreu protegendo Marcus, como Jasper morreu protegendo Alice. Pelo menos eles deram suas vidas por alguém em quem acreditavam, alguém que amavam. Isso era certo, não era? Era nobre, eu suponho.
- Ness, precisamos ir agora. As autoridades estão entrando na cidade, já noticiaram o incêndio na televisão. – A voz de Carlisle soprou a névoa de pensamentos incoerentes nos quais eu me perdera não sei por quanto tempo. Dei as costas para o fogo, sentindo uma estranha vontade de olhar para o rosto de meu avô, de memorizar novamente cada detalhe que havia se apagado um pouco nos últimos meses. Mas meus olhos pousaram mais adiante, naquela cena distante que me alcançaria a qualquer momento.
- O quê vão fazer com ele? – Perguntei, sem me dar conta. Carlisle olhou para o corpo de Willian, deitado sobre as cinzas do pavimento.
- Marcus vai deixar a companheira humana dele decidir o quê fazer. – Eu assenti.
- Uma humana saberá o quê fazer com o corpo semi-morto de um imortal? – Minha mente fazia as perguntas sem que eu tivesse tempo de pensar sobre elas, as palavras saíam, rebelando-se aos poucos.
- Nenhum de nós sabe o quê fazer no momento Ness. Esse é um novo mistério para nossa espécie, ninguém vai responder nossas perguntas por que ninguém têm as respostas.
- Ninguém é? – Eu falei, enquanto me afastava dali, pensando em tantas coisas que não era capaz de pensar em nada precisamente. Mas por baixo de toda escuridão que se apoderara de minha mente, eu sabia aonde deveria ir para encontrar as respostas que Carlisle julgava perdidas.
- Njegovo jezo opekline moon otroka – Jane sussurrava, fitando meu rosto com os olhos mais frios que eu já vira.
- Jane, pare. – Eu sussurrei para ela, sentindo um pressentimento soturno se apoderar de mim.
- Isso, querida, destrua-os. Destrua a todos! – Incitava-a Aro, segurando-a pelos ombros, acariciando seu rosto com as mãos pálidas.
- Njegovo jezo opekline moon otroka – Jane repetia, um sorriso soturno crescendo no canto de seus lábios. Eu não reconhecia aquela língua, mas sabia que nada de bom estava sendo proferido com aquelas palavras cheias de maldade.
Atrás de mim, a criatura urrava e eu podia ouvir a movimentação dos outros enquanto tentavam detê-lo e permanecerem vivos.
- Pare, você vai matar seu próprio irmão? – Eu disse a ela quase implorando. Jane me fitou com aqueles olhos vermelhos e disse, sem nenhuma emoção transparecendo em sua voz:
- Eu não tenho irmão. E você também não terá mais nada. – Disse ela, enquanto a pedra da lua era erguida no ar, refletindo a luz opaca do céu nublado.
Então eu ouvi o barulho oco de corpos sendo arremessados, e tive que desviar meus olhos de Jane e Aro. No meio da praça a criatura avançava sobre todos, levantando uma onda de destruição por onde passava. Alec estava tão perto... Meu pai, minha mãe, Carlisle, Zafrina, Benjamin, Jake... Eles lutavam com suas vidas. Até Marcus estava lá, enfrentando a derradeira morte. Ver aquilo, todo aquele horror, toda aquela violência... Presenciar aquele momento quebrou algo dentro de mim. Naquele momento eu percebi o quê significava ser um imortal num mundo de humanos. Nós éramos os monstros.
Com os pensamentos ainda turvos e o coração acelerado, eu vi a bravura de Marcus, séculos de imortalidade e força, ele parecia um fantasma pairando entre os outros. Avançava sem temer a morte, e talvez não temesse de fato. Eu sabia que não poderia fazer nada para ajudá-los naquele momento, e sabia também que teria de ser responsável pela morte de Aro e Jane. Ninguém mais poderia terminar aquilo. Apenas eu. Apenas eu e meu punhal inútil.
Então eu me virei para eles novamente, estava pronta, ou pelo menos era o quê eu gostaria de pensar.
- Vamos terminar isso de uma vez Aro. – Eu disse. Aro sorriu, aquele sorriso ofídico, aquela pele poeirenta se esticando nos cantos dos lábios. Ele afagou os ombros de Jane mais uma vez e disse, correndo os olhos para mim:
- Minha querida, já acabou. – Disse ele, gesticulando suas mãos longas para a luta que explodia atrás de mim. Por um momento eu não entendi a piada. Realmente não entendi a expressão no rosto de Jane e de Aro, embora jamais pudesse esquecê-las.
Foi o silêncio quem me alertou. O silêncio que precede o grito, a imobilidade que precede a queda, o ar suspenso como se o próprio tempo se recusasse a correr depressa. Aro sorriu novamente, uma última vez, e desapareceu de minha vista com Jane, tão rápido quanto uma nuvem de poeira se desvanece no ar. Acredito que meu corpo tenha sentido antes de minha mente se dar conta do que havia acontecido, pois minhas pernas tremiam enquanto levavam meu corpo para trás. “Olhe” dizia algo em minha mente, mas eu não conseguia obedecer.
Então os gritos abafados chegaram até meus ouvidos, apertando minha garganta como mãos invisíveis. “Olhe. Olhe e veja.”
- Tirem ele daí. Tirem logo. Merda, merda... – Gritou Benjamin, apavorado.
- Jake, quebre o pescoço. – Alertou minha mãe. Então veio a ruptura e o sangue. O gorgolejo sufocado, o rugido morrendo sob as mandíbulas do lobo.
E muitos pares de mãos arrancando, partindo, quebrando, torcendo...e a pilha cresceu rápido. O sangue logo se infiltrou nas pedras, formando poças, espelhos escuros, fétidos.
O cheiro ardeu em minhas narinas, nublou meus sentidos por um breve momento. As mãos de Alec ainda sustentavam o corpo tombado no chão. Eu não queria olhar para ele, não queria sequer pensar em seu nome, não conseguia me aproximar. Olhei para Marcus, ajoelhado ao lado de seu filho, o rosto trazendo à tona as velhas marcas do sofrimento, da perda.
- Filho. – Murmurou ele, sem coragem de tocar em seu corpo. – Por quê fez isso? Por quê não se salvou ao invés de mim? Eu já estou morto, meu pequeno príncipe.
Só havia perdão na morte? Ele poderia ter chamado Willian de filho enquanto ele ainda respirava, enquanto ainda lutava para fazer a coisa certa, enquanto ainda desejava o perdão de seu pai. Agora não importava muito, não é?
Alec me olhou de lá, daquela parte longínqua da realidade que eu não queria alcançar. Parecia que todos olhavam para mim, esperando algum tipo de crise histérica. Mas eu calei todos os gritos e lágrimas que todos esperavam de mim. Ao invés disso, acendi o isqueiro que eu apertava numa das mãos, e andei, um passo por vez, até a pilha fétida de membros e ossos da criatura. Enquanto o fogo subia, expelindo mais daquela fumaça pesada, eu selava toda dor dentro de mim. Rápido, precisava ser muito rápido, antes que minha consciência se desse conta, antes que minha mente assimilasse aquilo.
Willian morreu protegendo Marcus, como Jasper morreu protegendo Alice. Pelo menos eles deram suas vidas por alguém em quem acreditavam, alguém que amavam. Isso era certo, não era? Era nobre, eu suponho.
- Ness, precisamos ir agora. As autoridades estão entrando na cidade, já noticiaram o incêndio na televisão. – A voz de Carlisle soprou a névoa de pensamentos incoerentes nos quais eu me perdera não sei por quanto tempo. Dei as costas para o fogo, sentindo uma estranha vontade de olhar para o rosto de meu avô, de memorizar novamente cada detalhe que havia se apagado um pouco nos últimos meses. Mas meus olhos pousaram mais adiante, naquela cena distante que me alcançaria a qualquer momento.
- O quê vão fazer com ele? – Perguntei, sem me dar conta. Carlisle olhou para o corpo de Willian, deitado sobre as cinzas do pavimento.
- Marcus vai deixar a companheira humana dele decidir o quê fazer. – Eu assenti.
- Uma humana saberá o quê fazer com o corpo semi-morto de um imortal? – Minha mente fazia as perguntas sem que eu tivesse tempo de pensar sobre elas, as palavras saíam, rebelando-se aos poucos.
- Nenhum de nós sabe o quê fazer no momento Ness. Esse é um novo mistério para nossa espécie, ninguém vai responder nossas perguntas por que ninguém têm as respostas.
- Ninguém é? – Eu falei, enquanto me afastava dali, pensando em tantas coisas que não era capaz de pensar em nada precisamente. Mas por baixo de toda escuridão que se apoderara de minha mente, eu sabia aonde deveria ir para encontrar as respostas que Carlisle julgava perdidas.
FIM
Quero dizer a todos que foi ótimo compartilhar essa história com vocês, me sinto realmente satisfeita com esse trabalho e fico muito feliz quando penso em todas as pessoas que leram e se envolveram com Rising Sun.
E ainda temos o Epílogo que já foi escrito e que está muito bom (modéstia a parte) Bem, é isso.
Autora Anna Grey
1 comentários:
Anna eu amei sua fic.
Eu ñ comentei todos os capítulos mas adorei todos.
Espero q tenha uma continuação pois será ótmio se vc escrever uma com a morte de Aro :l.
Um grande :g
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Não esqueça de comentar, isso incentiva os escritores e também a mim que tento agradar a vocês.