11 de jul. de 2011

Capitulo 26

Posted by sandry costa On 7/11/2011 2 comments


Lágrimas imortais



Marcya

No limiar da consciência nós podemos ouvir tudo o que os outros falam ao nosso redor, num momento eu senti que estava despertando; há várias formas de despertar: subitamente quando se abrem os olhos e se demora a orientar-se, ou quando nossa consciência chega até nós e sabemos que estamos para acordar.



Eu estava neste segundo tipo... entretanto, por alguma razão, sabia que acordar me traria uma tristeza grande; nunca imaginei que a tristeza seria quase insuportável.



Abri meus olhos de súbito e me sentei na cama sentindo todo o meu corpo arder em brasa, era como se eu tivesse sido espancada por dias até desmaiar de exaustão. Olhei para os lados e notei que estava em uma tenda, o colchão de ar rangeu sob meu corpo, o cheiro de mato entrava pela abertura frontal da tenda trazendo um vento frio e cortante.

Eu estava nua e senti minha pele se arrepiar, o gosto de sangue na minha boca me deixou confusa e minha cabeça girou quando respirei mais profundamente... olhei para os lados mas não encontrei qualquer roupa; parecia quase proposital, como se alguém não desejasse que eu saísse da tenda por conta própria.

Mas não foi preciso esperar muito, pouco depois um rapaz bonito entrou carregando uma expressão séria no rosto, ele parou no limiar da entrada, se abaixando para conseguir passar pela abertura da tenda; eu quase me afoguei quando o vi, o susto não me deixou falar direito.

- Alec? – ofeguei – É você? Mas como...?

- Marcya – ele disse sinceramente aliviado, ajoelhou-se ao meu lado e me beijou com fervor – Eu estava preocupado com você... temi que não despertasse mais.

- Alec, como chegou aqui? E os lobos?

- Está tudo bem, Marcya. Nós fizemos um acordo e eles permitiram que entrássemos no território, estamos bem, Ever e Damen também estão aqui.

- Onde estamos e quanto tempo eu...

- Calma – ele falou e seu rosto ficou sombrio – Estamos próximos a um dos penhascos de La Push, um local seguro e isolado, depois da confusão com os Volturi você apagou por três dias. Muita coisa aconteceu enquanto isso...

- Três dias?

- Ever disse que você teve que lutar contra aquele monstro chamado En Sabah Nur..

- Meu Deus, é verdade – eu disse num rompante – Como conseguimos fugir? Eu lembro de ter sido nocauteada pelo demônio e depois disso... tudo ficou escuro.

- Lynnda as tirou de lá – disse Alec num sussurro – Aparentemente ele tinha um poder de teleporte que ainda não havia despertado completamente... foi a primeira vez que ela usou seu dom.

- Alec – eu chamei com medo, o tom de voz dele não me passou uma boa impressão – O que você quis dizer com Lynnda tinha um dom de teleporte?

- Marcya, por favor, este é um momento em que precisamos ser fortes...

- O que aconteceu? Conte-me e não esconda nada... onde estão Lynnda e Loma?



Neste momento Alec desviou o olhar, levantou-se um pouco arcado para caber na tenda e retirou a mochila das costas, de dentro dela surgiram roupas minhas que ele me estendeu com cuidado.

- Vista-se – disse ele – Acho melhor vir comigo...

Foi quando eu tive certeza que havia algo de muito errado, se mesmo Alec, sempre tão frio e controlado, não conseguiu me contar o que estava havendo, então significava que coisas muito ruins haviam acontecido. Eu me vesti com pressa e tomei um pouco de água que estava num cantil na tenda, senti lágrimas brotando de meus olhos, meus sentidos de imortal me alertando para que eu me preparasse.

Alec me aguardava do lado de fora, notei que havia uma série de tendas ao nosso redor, praticamente três dezenas delas, estranhei aquele acampamento tão grande ser armado num local tão ermo. Alec caminhou diretamente para uma tenda alta que ficava do lado oposto à minha, estranhamente eu não via ninguém à vista.

- Ever? – chamou Alec – Marcya está aqui.

Um segundo depois Ever deixou a tenda, alto e austero, seus olhos um pouco vermelhos demais, ele me viu e eu o abracei imediatamente... a rigidez habitual de sua postura não estava lá e ele desmontou-se imediatamente no meu abraço. Depois de milênios convivendo juntos, eu sabia que Ever não estava bem...

- Meu irmão – eu chamei encarando seus olhos espantosamente azuis – O que aconteceu?

- Venha – ele respondeu me puxando para dentro da tenda, Alec não nos acompanhou.



No interior da tenda, Lynnda estava deitada sobre um colchão, coberta por cobertores fofos, seu rosto tão belo estava pálido e seus lábios roxos, ela não abriu os olhos. O medo me atingiu sem piedade, Lynnda não estava bem, a aura ao redor dela estava fraca, minguante... como se a força luminosa de sua alma estive se...

- ... extinguindo – disse Ever completando o meu pensamento em voz alta.

- Mas como?

- O poder oculto de Lynnda se manifestou durante a luta com Em Sabah Nur; ela teleportou vocês três para uma clareira nos arredores de Forks, mas para isso ela não estava preparada ainda. Acabou queimando a energia de sua própria vida, o cerne de suas forças... suas forças de imortal.

- Então... ela está morrendo?

- Sim... – respondeu Ever taciturno – A existência imortal, os poderes imortais, demanda uma grande queima de energia... o corpo de Lynnda não está suportando a carga de força que é necessária para manter a imortalidade. Seu corpo está morrendo... a única forma de salvá-la agora é retirando o poder imortal que eu lhe entreguei.

- Mas Ever! – eu exclamei chocada – Isso tornaria Lynnda novamente mortal, e sabemos que a dádiva da imortalidade só pode ser dada uma vez; se você retirar o poder imortal de Lynnda, ela jamais poderá tê-lo novamente.

- Eu não tenho escolha – disse ele desolado – Eu isso ou Lynnda morrerá agora, se ela não reagir até o pôr do sol... eu retirarei o poder imortal de sua alma... prefiro que ela viva muitos anos como mortal e morrer agora em meus braços.



Por longos minutos eu permaneci ao lado de meu irmão, segurei a mão de Lynnda e depois afaguei os cabelos de Ever e me levantei, a tristeza dele estava me fazendo mal. Mas ao sair da tenda notei que o silêncio era ainda mais opressor que a tristeza, havia algo mais ali naquele penhasco, como se uma melancolia deprimente brotasse do vento me deixando amortecida.

Alec me esperava um pouco além, na borda de uma trilha na mata que conduzia para uma colina de onde, provavelmente, o penhasco ser erguia sublime acima do horizonte. Eu o encarei e soube que havia dor em seus pensamentos, sua aura cor de chumbo o infestando como uma névoa corrosiva, meus poderes ainda estavam fracos demais e eu não conseguia saber em que ele pensava.

- Alec? – o chamei me aproximando e beijando seus lábios gelados – Onde está Loma?

- Vem comigo, Marcya – respondeu ele me puxando pelas mãos em direção ao alto da colina.

Alec me conduziu vagarosamente até onde o declive se acentuava e do alto eu pude divisar o mar infinito, a chuva sempiterna em Forks e La Push caía em gotas finas formando uma névoa a nossa volta. Alec sorriu amargamente para mim e apontou para baixo. Lá do alto do penhasco eu enxerguei a praia onde uma pequena multidão se formava, me assustei de imediato ao identificar o traje de 15 das pessoas reunidas.

- Imortais – eu sussurrei reconhecendo a cor de marfim nas vestes da Casa de Bartolomeu – O que estão fazendo aqui?

- Vieram oferecer ajuda na luta contra En Sabah Nur e os Volturi...

- Os quileutes também estão lá... por quê?

- Segundo as tradições quileutes, eles velam seus mortos por três dias – respondeu Alec baixinho.

- O que está tentando me dizer...? – eu ofeguei me afastando dele.

- Marcya – começou Alec com cuidado – Lynnda usou seu poder para salvá-las sem conhecê-lo ou dominá-lo completamente, entenda, foi algo muito poderoso. Lynnda e você só sobreviveram ao teleporte por serem imortais e mesmo assim, Lynnda está a beira da morte e você passou três dias apagada...

- Alec... – eu disse com raiva, mas ele continuou.

- Loma estava debilitada por causa da gravidez, seu fator de cura não estava funcionando a 100% de sua capacidade...

- Oh não – eu disse me encolhendo no chão, as lágrimas correndo pelo meu rosto – Não me diga que...

- Infelizmente ela não resistiu... nem o bebê. Os quileutes a cremaram na praia lá em baixo na mesma noite em que Lynnda as trouxe para cá inconscientemente. Eu sinto muito... Marcya.



Com a visão turva eu encarei a multidão na praia, lá, muito abaixo. Havia um círculo de pedras indicando o local onde o corpo de Loma fora cremado, eu solucei tanto que meu corpo chacoalhava involuntariamente, Alec me abraçou e eu agarrei seu corpo de mármore com força tentando buscar sustentação onde não havia.

- Eu não acredito – disse em desespero – Eu não acredito.

- Ela se foi, Marcya.

- E Damen?

- Lá... – disse ele apontando para alguns rochedos mais distantes na praia – Os quileutes não permitiram que ele participasse do funeral.

Há várias centenas de metros de onde a multidão se reunia, num contorno da praia, erguia-se uma muralha de rochas que era o fim desta grande parede de penhascos que se fechava ao redor da praia. Encarapitado em uma das rochas sobressalentes estava uma figura obscura parada e olhando para as pessoas aglomeradas.

- Damen... – eu sussurrei – Como ele está?

- Destruído – respondeu Alec – Com Loma morta e Lynnda em péssimo estado, a culpa o assolou completamente... assolou completamente a todos nós.

- Oh, Alec – eu gemi – Por que foram fazer isso? Tudo desmoronou e agora não há mais volta, não há mais volta para nada. Está tudo destinado a terminar em tragédia... foi tudo destruído, tudo dizimado... nossos amores e esperanças foram varridos como areia ao vento... se desfazendo.



ALEC

Olhando Marcya chorando e divisando a tristeza dos quileutes aqui do alto, percebi que minhas escolhas foram as mais errôneas que pude fazer; cometi vários erros em minha vida... mas não um tão grande.

Mais de mil anos servindo aos Volturi quase que destruiu completamente a minha noção de amor, amizade, lealdade e família; encontrei tudo isso quando me apaixonei por Marcya e me uni a ela no convívio com os outros. Por um tempo pensei que não iria me adaptar, mas aos poucos a vida longe da escravidão de Volterra me fez perceber que não é difícil ser feliz...

Agora imagino se não estou fadado a cometer erros durante toda a eternidade, todas as minhas escolhas são amaldiçoadas, mesmo as que imagino serem feitas com propósitos benevolentes. Eu aceitei transformar Damen porque ele queria viver para sempre ao lado de Loma, e eles seriam felizes para sempre...

Ao contrário, Damen matou pessoas inocentes, tornou-se um fugitivo obrigando Loma, grávida, a fugir também... desta fuga culminou sua captura e conseqüentemente, sua morte.

Interessante como boas intenções acabam se transformando em maldições. A máxima “de boas intenções o inferno está cheio” acaba sendo mais verdadeira do que desejava...



Marcya tem razão, tudo desabou e se desfez... Volturis estão vindo para cá e os lobos foram obrigados a se afastarem de suas terras para não atrair este mal para perto da vila de La Push; ao mesmo passo, os Imortais de Bartolomeu estão presentes para supostamente nos auxiliar... apesar de que seu real interesse é ter Ever novamente no panteão dos Imortais.

No fim das contas, eu não sentia nada... como se meus sentimentos tivessem sido extraídos de mim, como se eu usasse o meu poder em mim mesmo. Loma estava morta... Lynnda morrendo... Marcya completamente entristecida... Ever sem reação e Damen às beiras da loucura.



Estou aqui ouvindo o soluçar de Marcya, aqui perdido em meus sentimentos destruídos, minhas escolhas mal sucedidas, meus arrependimentos passados, minha dor irresoluta. Eu perdi minha alma? Eu ainda possuía uma? Um ser amaldiçoado como eu? Tudo se transformou em areia, em pó arrastado pela ventania... Marcya tem razão.





Uma escolha errada...



Um bom motivo...



Mas agora nada serve de consolo...



Nada...

2 comentários:

Estou em estado de choque...
Não acredito que a Loma morreu, por essa eu não esperava,coitado do Damen.
A fic perdeu um de seus personagens principais...
Fica uma tarefa mais difícil pro autor tentar tampar este buraco. Diga-se de passagem um buraco ENORME
Mais enfim a história esta MARAVILHOSA.
Muito ansiosa pelo próximo cap
Bjus

Ficar pensando em tudo o que aconteceu nessa fic é a mesma coisa que olhar para um buraco negro, nao estou dizendo que a fic nao seja boa, o que estou tentando dizer é que ela é simplesmente magnifica e deve ser horrivel para continuar ela só isso.... capitulo perfeito parabens
beijusss e ate

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