19 de nov. de 2011

Capitulo 18

Posted by sandry costa On 11/19/2011 No comments


Charlotte e Salesiana




Em um mundo onde vampiros e lobisomens existem, é tolice estranhar a própria existência de bruxas. Entretanto, aqui, neste mundo apartado do mundo dos homens, eu me encontro em um dilema que até então não havia me atormentado em todos estes séculos desde que Carlisle me transformou em vampiro.
A existência de lobos gigantes vivendo em uma reserva pacata em um canto dos EUA não me incomodou tanto, afinal, se existiam vampiros também existiriam lobisomens... agora, bruxas? A magia, apesar de existente, é muito insubstancial para ser meramente concebida com o mínimo de razão possível, aliás, não há como compreender a magia através da razão.
Sabemos que o mundo metafísico existe além da nossa razão, não conseguimos tocá-lo ou visualizá-lo, entretanto, sentimos que ele está por perto; este sentido extra-sensorial é o que nos permite, de certa forma, compreender que há alguma coisa além de nossa capacidade sensorial de percepção... ou seja, sabemos que há algo além do que vemos e sentimos no mundo real.
Temos consciência de que a magia pertence ao mundo metafísico... mas adquirir a certeza de que a magia é real pode ser uma empreitada estafante.

Para tanto, eu me encontro junto com meus amigos, em um mundo paralelo à realidade dos homens; neste mundo onírico meus sentidos de vampiro não servem para quase nada. É como se um véu se descortinasse diante de meus olhos e como se uma almofada abafasse minha audição... tudo o que sinto é o calor abafado brotando deste pântano estranho. A luz esverdeada emana da água estagnada dando a impressão de que o verde é a única cor que impera neste charco esquecido e amaldiçoado.
Sinto Jasper esgotando suas forças enquanto luta para manter seu dom nos acalmando, os lobos estão impacientes e os vampiros desconfiados... ter um sentimento hostil neste lugar é extremamente simples. Parece que todo este pântano desconfia de nossas intenções e de cada movimento que fazemos.
É como se este lugar fosse vivo e cada célula de sua existência estivesse nos vigiando; as estátuas em forma de pessoas enterradas no lamaçal são desconcertantes, a luz que emana das palmas de suas mãos dava a impressão de que estávamos num jardim hediondo onde flores fosforescentes desabrochavam numa luminosidade fátua e entediante.
As árvores eram velhas... velhas e arrogantes como sempre são todas as criaturas antigas que habitam este mundo, suas folhas eram alongadas e sem cor, como se não passassem de folhas de plástico quebradiças. Seus troncos se erguiam esguios e limosos da água parada e não era possível discernir sua altura, pois eram tão emaranhadas umas às outras que a floresta aquática parecia ser uma única e gigantesca planta com vários troncos e galhos.
Não era possível divisar o céu, por um momento eu me indaguei se haveria um céu sobre nós ou se aquele mundo mágico se restringia ao pântano e à casa decadente que se equilibrava sobre os palanques tortos. O vento era um hálito fraco e mal cheiroso que parecia emanar da água parada como um suspiro triste e sombrio.
Mas apesar de todo este ambiente fantástico e tenebroso, eu não conseguia desviar a atenção da cada a nossa frente; as janelas eram de tal forma empoeiradas que era impossível conseguir perceber qualquer coisa em seu interior, o telhado de palha estava meio desabado em um dos lados e a luz que emanava de dentro não emitia qualquer sinal de conforto.
Carlisle deu alguns passos em direção à paliçada que nos conduziria acima do pântano, a madeira podre rangeu sobre seu peso e por um instante eu pensei que se todos passassem ao mesmo tempo aquela estrutura precária desabaria. Então, um a um, nós caminhamos até o outro lado do pântano onde ficava a pequena ilha em que a casa das duas bruxas estava ancorada tristemente.

“E agora?” – perguntou Seth através do dom de Kaori – “Quem se habilita a bater na porta?”
“Esperem aqui” – respondeu Carlisle dando um passo à frente.
Mas, no momento em que ele se moveu, uma sombra mais densa que as sombras ali presentes se ergueu lentamente do solo, ergueu-se e alongou-se até tomar uma forma levemente humanóide, era como se uma imensa mancha de tinta negra se levantasse do chão. Não houve qualquer som, qualquer odor, a massa negra se colocou em pé obviamente com o intuito de barrar nosso caminho, e daquela sombra estranha na forma de um homem corcunda, um par de olhos esverdeados surgiu para nos encarar.
Olhos estranhos e desconfiados.
- Mas o que diabos...? – disse Jacob ao meu lado.
Neste momento eu corri os olhos para Jasper e o vi apertando com força os dentes, ele estava usando cada grama de força para manter nossa tranqüilidade, apesar de que eu senti uma leve tensão tomando conta do grupo. Principalmente quando a sombra falou, ou melhor, uma impressão de voz saiu daquela mancha negra apesar de que nenhuma boca podia ser vista... era como o som de um brisa farfalhante.
- O que procuram, forasteiros? – perguntou a sombra.
- A coisa fala... – impressionou-se Seth.
- Estamos em busca de Salesiana e sua filha Charlotte – disse Carlisle um pouco abalado pela aparição repentina daquele ser sombrio.
- E o que quereis vós, das minhas senhoras?
- Elas possuem informações essenciais para mim e minha família. Ouça, guardião, não desejamos o mal às suas senhoras... viemos aqui com o desespero em nossos corações, precisamos apenas que elas nos ouçam e tenho certeza de que elas não recusarão um pedido assim.
- E que informações são estas que fizeram com que tantos vampiros adentrassem os domínios de minhas senhoras?
- Nós precisamos dos conhecimentos e dos segredos que guardam Volterra – respondeu Carlisle sem rodeios.
- Volterra – repetiu a sombra e seus olhos esverdeados se estreitaram em desconfiança – A Cidadela dos Vampiros, este nome é proibido neste pântano... nada conseguirão vindo até aqui para saber qualquer coisa acerca desta cidade.
- Por favor – chamou Carlisle – Eu entendo a desconfiança que o nome de Volterra trás, mas nós corremos meio mundo para chegar até aqui depois que encontramos um antigo vampiro chamado Erestor. Ele nos indicou este local e disse que Salesiana poderia nos ajudar. Tudo o que queremos é uma chance de perguntar... apenas isso. A vida de minhas filhas e neta depende disso.
Por um segundo a estranha sombra nos encarou e fechou os olhos como se meditasse sobre o pedido de Carlisle; por um longo minuto permaneceu assim, quieto e sem emitir qualquer som ou movimento... pensei que isso era tudo e que não obteríamos qualquer resposta quando, de repente, o vulto abriu seus olhos verdes e sua voz soou ainda mais baixa que antes.
- Ela está aqui... mas fiquem avisados, forasteiros, qualquer tentativa de causar mal às senhoras deste pântano desencadeara uma fúria tão avassaladora que mesmo vampiros poderosos não serão capazes de suportar...
Dito isso, um aviso mesclado a uma ameaça, a sombra se desfez evaporando-se na forma de uma neblina negra e sumindo pelo solo através da água parada do pântano. Neste mesmo momento, a porta da choupana se abriu lançando sobre todos nós uma luz amarelada, no limiar da porta havia uma mulher parada que nos olhava com uma mescla de desconfiança e surpresa.
- Eu sou Salesiana... – disse a mulher numa voz grave e austera – Quem são vocês?

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