8 de jan. de 2012

Posted by sandry costa On 1/08/2012 No comments


POV Willian

Até que enfim senti que minha vida tomou um rumo e prosseguiu andando nele. A sensação de estagnação enfim tinha terminado. Foi difícil passar a vida toda dentro de um abrigo sabendo que era diferente de todos os que estavam ali. Sendo muitas das vezes tratada com pena, pois era considerada como a única sobrevivente de uma família que não sobreviveu à guerra. Diferente de agora o tempo ali não andava de jeito nenhum. Com o meu QI elevado logo eu aprendi tudo e a falta de material para suprir minha necessidade de conhecimento acabou. Eu era a menina que seria o orgulho de qualquer pai, Maria sempre me dizia isso. Maria foi o mais próximo de uma família que eu tive, porém nossos laços não foram tão fortes. Logo que fomos liberados para superfície não senti a necessidade de permanecer com ela, eu tinha outros planos que precisava colocar em andamento. Encontrar meu pai. E eu não descansaria até encontrá-lo novamente, mesmo que para isso colocasse em risco o amor da minha vida. Algumas pessoas podem pensar, nossa, mas como você teria coragem de abrir mão de um amor puro e verdadeiro? Penso que se ele é amor mesmo será como uma passagem que li uma vez na bíblia¹ que diz que o amor é: paciente, bom, não é invejoso, não arde em ciúmes, não se irrita facilmente, não procura somente os seus interesses, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Enfim, o amor jamais acaba. Diante disso não penso estar abrindo mão dele acredito veementemente que essas qualidades pertencem ao amor verdadeiro e quem ama de verdade as possui. E se JJ me ama de verdade vai ter paciência comigo e acima de tudo vai saber esperar, eu o amo de verdade, mas não serei completa enquanto não cumprir minha missão.
Daqui uns anos ou talvez até mesmo agora meu pai não esteja mais vivo e eu meio que tenho a eternidade pela frente, e não posso arriscar protelando, não posso perder essa chance. Acredito no ciúme que cuida e protege, mas não no ciúme que sufoca e agride. Sei que no mundo de hoje muitos não acreditam, principalmente depois de toda essa guerra, para a grande maioria o amor não deve passar de um conto de fadas descrito em livros e filmes românticos. E com isso eu vou por a prova o amor que JJ diz sentir por mim, a maior característica a se destacar? O amor tudo crê... Ou seja, o amor confia. JJ terá que confiar que também o amo de verdade e que em situação inversa eu teria que fazer a mesma coisa por ele.
Faltam apenas 3 meses para que voltemos para o Canadá e eu tinha que correr, tinha que me apressar, já tínhamos revirado boa parte do centro de pesquisas e não tínhamos encontrado nada. JJ por sua vez, já estava possesso com as investidas de Erick que até buquê de flores já tinha me enviado. Aqui na Inglaterra nós poderíamos ter nos tornado um casal, não teria sido problema algum já que estávamos como estudantes JJ até pensou nisso assim que chegamos lá e fomos dar entrada no hotel.
Flash Back ON
– Bom dia, em que posso ajudá-los?
– Bom dia, uma reserva para suíte casal em nome de Jacob Ephraim Black Junior.
– Amor, uma reserva?
– É claro amor, aqui não há necessidade de escondermos o nosso relacionamento.
– Só um momento, por favor, nós já vamos confirmar. – disse para a atendente puxando JJ para um canto. – JJ, tem que ser duas suítes. Dr. Erick Brum também está aqui na Inglaterra, esqueceu?
– Não, não esqueci. Mas o que ele tem haver com isso? Por acaso ele é algo seu? Você deve satisfações da sua vida pra ele?
– Amor, não se faça de desentendido. Você sabe que ele esta interessado em mim. E se essa aproximação me der à oportunidade de encontrar o meu pai mais rápido eu não vou hesitar.
– Willian, eu não estou gostando nada disso. Pensei que aqui ficaríamos juntos.
– E ficaremos meu amor, verifique com a atendente se tem mais alguma suíte disponível e a manteremos de fachada. Eu prometo que vou dormir com você todas as noites. Nunca ficaria separada de você.
– Certo. Sendo assim. Mesmo não gostando...
– Mesmo não gostando você sabe que é o certo.
Flash Back Off
Já fazia sete meses que estávamos na Inglaterra e nada de resultados. Erick continuava com suas investidas e até me convidou para jantar algumas vezes. Eu lhe dei várias desculpas negando o convite, dizia que estava cansada, que tinha que estudar uma matéria urgente... Estava-o cozinhando em banho Maria, sempre que tinha a oportunidade lhe dava atenção tentando adquirir conhecimento como também para tentar descobrir se ele poderia me dar alguma informação útil para encontrar meu pai. Mas, percebi que para isso acontecesse teria que ceder a um de seus convites. Sabia que assim que compartilhasse a ideia com JJ, ele teria uma síncope. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde teria que usar essa opção, teria que dar um passo mais fundo e era aí que JJ teria que confiar em mim. Teria que acreditar que eu o amo e que jamais trairia o nosso amor, ou o macularia com a infidelidade. Passei o dia inteiro com a cabeça cheia, o pensamento longe... Imaginando como abordaria o assunto com JJ. Eu não queria magoá-lo sabia que seria como ferir a mim mesma e por isso teríamos que conversar bastante, e deixar tudo esclarecido e sem sombra de duvidas, pois só de imaginar a situação meu coração já sangrava. Estávamos voltando para o hotel, quando ele me perguntou:
–O que está acontecendo Will? Você passou o dia todo aérea.
– É verdade. Eu passei o dia inteiro, pensativa mesmo. Nosso tempo esta acabando aqui, nós já exploramos muitos lugares, mas não alcançamos nem 50% do total. E eu estou pensando nas possibilidades, com isso eu meio que eu tomei uma decisão e não sei como vou te contar.
– Ah amor quando você fala assim... Eu já estou percebendo que vem chumbo grosso.
Eu fiquei calada... JJ também ficou, em seu rosto havia um vinco de preocupação, sabia que ele estava unindo as peças do quebra cabeças. E eu tinha medo da sua reação. Subimos para nosso quarto e assim que entramos eu não protelei.
– Amor, você já sabe não é?
– Willian, eu não vou “pagar de corno”. Se for isso que você tem a me dizer, desista. Eu te amo, mas isso eu não seria capaz de suportar. Aliás, com certeza é isso. Você acha que eu não estou percebendo? Acha que eu não vejo o seu interesse no Dr. Estranho? Desde que chegamos aqui, você mudou, seu jeito, seu comportamento. Nem no CP quando nosso “emprego” estava em jogo você era fria assim comigo. Eu sempre admirei a sua capacidade de manter o foco e correr atrás do seu objetivo, mas nunca imaginei que você seria tão fria e egoísta assim.
Ele não me deixou falar um minuto sequer JJ estava magoado, magoado durante todo esse tempo em que estamos aqui e eu não percebi, e ele também não me disse, que impressão errada eu lhe passei? Notei que havia ciúmes, óbvio, todos tinham notado, mas eu achei que ele tinha me entendido. Mas não, ele não entendia, apesar de ter crescido sem o pai. Porque acima de tudo, ele teve uma família que o amava, por perto. Ele sempre teve os seus por perto, cresceu cercado de carinho e amor, e não entenderia a minha necessidade. A necessidade que tenho de encontrar meu pai, de saber sobre minha mãe, como fui gerada, se era esperada, desejada, se alguma vez fui amada... Enfim, queria descobrir sobre o homem que me deu a vida duas vezes e que para me proteger teve que se afastar. As palavras de JJ eram como facas afiadas apunhalando o meu coração. Eu sabia, quer dizer, eu queria acreditar que o desespero o estava fazendo dizer tudo aquilo.
– CALA A BOCA! – gritei mais alto do que seu tom de voz acusatório, as lágrimas inundavam meu rosto, eu nunca pensei que chegaria ao ponto de gritar com JJ, a minha aflição estava beirando o ódio. – CALA A SUA MALDITA BOCA! – falei mais baixo parecendo um ronronado. – Eu não lhe disse nada, mas você me disse tudo o que pensava, não é mesmo? Eu estou possessa de raiva, de ódio. Sinceramente não esperava isso tudo de você. Estou sem palavras, estou confusa e esse definitivamente não é momento para conversarmos. – eu fui até o guarda roupas peguei alguns pertences, umas roupas e objetos de mais utilidade, e os coloquei em uma bolsa de mão. Assim que saí do banheiro percebi que ele estava tremendo com os braços ao lado do corpo e as mãos fechadas em punho, não dirigi meu olhar para ele, não suportava ver tanto ódio assim.
– Aonde você pensa que vai?
Deu-me uma vontade de rir da cara dele naquele momento. Segurei o meu maldito humor negro mordendo a língua até o ponto de sangrar e engoli minha ironia, junto com o gosto amargo do sangue, cheguei até a porta virei à maçaneta, mas a porta não se abria. JJ estava segurando a porta e a minha paciência estava se esgotando... JJ estava magoado, agora eu também estava magoada, respirei fundo e evitei olhar para ele não queria ver seu ódio, sua dor, não queria demonstrar o meu sentimento também.
– Por favor, deixe-me sair. – sussurrei com os dentes trincados e tirei a mão da maçaneta. – Você está chateado e já disse tudo o que pensa. Se não terminou eu também não quero saber. Mas, se você ainda quiser resgatar alguma coisa entre nós, deixe-me sair.
Sem nem ao menos eu tocar a porta se abriu. Saí imediatamente, praticamente correndo, não podia chorar ou cair ali no corredor, JJ iria escutar e eu não queria se ignorada ou até mesmo consolada por ele. Corri até o elevador e pela primeira vez em sete meses subi para o andar onde ficava a outra suíte, eu precisava de um tempo... - Precisava pensar se tivesse ficado mais um segundo perto de JJ teria falado coisas de que me arrependeria amargamente e eu tinha certeza que o magoaria, e aí sim dessa vez ele iria ter razão. Eu tinha disso quando ficava muito nervosa, ao discutir com alguém me vinha os piores argumentos contra ela, coisas que eu nunca tinha pensado sobre a pessoa, mas na hora da raiva eu virava uma coisa.
Se eu continuasse ali eu ia acabar com a raça de JJ, ia falar tantas asneiras e meias verdades que poderiam derrubar esse castelo de cartas que era o nosso relacionamento no momento. A vontade era de voltar e dizer a ele: Seu moleque, você não sabe o que é sofrer na vida, seu idiota egoísta e mimado. Quem você pensa que é? Quem você pensa que eu sou?Até aí eu não estava pegando pesado, mas a minha mente na hora da raiva era boa em maquinar replicas terríveis como, por exemplo, a história do triangulo amoroso entre o Jacob, Edward e a Bella. “Claro que eu iria fazer você de corno meu bem, isso é algo que todos da sua família têm que ter... chifres! E filho de boi, boi é. Entrei no quarto feliz por ter mordido minha língua isso não era verdade eu falaria essas coisas com o intuito de feri-lo, de revidar a dor e a humilhação que estava sofrendo, e me arrependeria muito depois, perderia minha razão sem contar que a família dele era maravilhosa e eles não mereciam ser envolvidos nessa situação. Larguei a bolsa no chão e caí na cama em prantos.
Como JJ podia pensar aquilo de mim? Como poderia duvidar do meu amor? Da minha integridade... Por que ele não me deixou dizer o que estava povoando minha mente? Amor? Será que teríamos nos enganado? E o imprint, era capaz disso? A dor em meu peito estava enorme, eu não conseguia parar de soluçar, parar de chorar. Seu imbecil porque você fez isso comigo, porque você tem que ser tão bocão e estragar tudo? Eu me questionava e sofria. Brigar com JJ foi pior do que imaginava, aliás, nunca imaginei sofrer uma dor assim.
Como seriam as coisas agora? Mesmo com essa situação inesperada eu não podia deixar meus planos para trás. Mesmo com o coração sangrando eu daria continuidade aos meus planos. Era isso que eu iria fazer. Assim que me acalmasse ligaria para Carlisle e lhe informaria a minha situação com JJ torcendo para que ele não estragasse meus planos por causa de seus ciúmes. Mais a frente depois disso tudo eu o procuraria e se ele estivesse livre tentaríamos um novo começo. Rá! A quem eu estava enganando? Eu sou louca por aquele idiota! Será que eu daria conta de prosseguir sem ele? As lágrimas inundaram o meu travesseiro e cansada de tanto chorar eu adormeci.


Nota 1: I Coríntios 13:4 – 8 – Carta de São Paulo falando sobre o amor.

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