8 de jul. de 2010

Capitulo 16

Posted by sandry costa On 7/08/2010 2 comments


 Sangue


Não havia muito o que juntar para queimar – pelo menos não de Félix. Jacob o tinha rasgado em partes tão pequenas, que encontrar todas me tomou um tempo extra. Heidi estava mais composta, mas ambos estavam igualmente mortos. Era difícil de acreditar, mesmo com a pira ardendo e a fumaça densa e adoçicada enchendo o ar a minha volta. Jacob tinha ferimentos de várias extensões, entre ossos e costelas quebradas, desde arranhões a cortes profundos. Eu tinha alguns também, mas em geral, Heidi tinha conseguido muito pouco comparado à Félix. Deixei Jacob – na forma humana – descansando perto das árvores e terminei o serviço. Enquanto os via queimando eu pensei sobre o que eu tinha feito, como consegui expandir meus próprios pensamentos para distraí-los e atacá-los. Meus poderes numa extensão que eu até então não sabia que era possível, lembrei de Carlisle falando sobre como nossos poderes podem se ampliar com o tempo e a maturidade, mas algo no fundo de minha mente suspeitava que algo além do tempo havia contribuído para aquele desenvolvimento repentino. De novo, nada podia-se alegar concretamente a meu respeito, por que minha existência era rara – talvez agora, única. Eu teria muito o que pensar sobre essa noite, parecia impossível que tanta coisa pudesse ocorrer num espaço de tempo tão curto. Deixei a pira queimando e fui ver Jacob, nós precisávamos partir o quanto antes, no caso de alguém vir atrás daqueles dois. Jacob estava com os olhos fechados, tremia e suava, estava pálido e com dor, Deus, como eu queria que Carlisle estivesse aqui.
Jake, Jake. – Chamei-o, minha voz embargada. – Fale para mim onde dói. – Parecia algo estúpido para se dizer, mas eu nem sabia por onde começar a ajudá-lo. Eu não poderia levá-lo a um hospital, eles no mínimo o manteriam em laboratório para estudá-lo. Ele olhou pra mim, e havia tanta dor naquele olhar que fez meu coração doer também. Foi então que ele pegou minha mão, vacilante.
Ness, eu quero que você vá para La Push. Fique lá até seus pais voltarem. É seguro lá, Sam vai te ajudar, ele vai te manter segura. – Eu começei a protestar, eu jamais o deixaria para trás, por quê ele estava falando essas coisas para mim?
Jake, esqueça. Eu não vou te deixar aqui. – Eu me aproximei mais dele, afaguei seu rosto e foi quando eu vi. Uma ferida em forma de meia lua sangrava em seu pescoço. Deus do céu, Félix o havia mordido. A compreensão me atingiu ao mesmo tempo que o pânico. O veneno o estava matando.
Jake – Sussurrei, minha voz incapaz de sair audível. Um frio intenso desceu por meu corpo. Eu iria perdê-lo.
Ness, não tem mais jeito. Eu não vou me curar dessa vez. – Ele falou, calmo e gentil. Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto e o desespero tomou conta de mim. Eu tinha que fazer alguma coisa, eu precisava. Se eu o deixasse morrer, seria como cometer suicídio. Não havia como continuar sem ele. Mas o quê? O quê eu poderia fazer?
Uma tímida luz começou a se acender em minha cabeça, eu nem sabia se daria certo, se funcionaria, mas eu precisava tentar, eu faria qualquer coisa para salvá-lo. Me inclinei sobre ele, beijei sua testa, acariciei seu rosto molhado. Ele me olhava tranquilamente, seu coração martelando no peito, como se estivesse se recusando a desistir, a parar de bater.
Você confia em mim? – Sussurrei em seu ouvido. Ele me olhou por um longo momento e disse:
Com a minha própria vida. – Respirei fundo, tentando encontrar a força dentro de mim. Quando toda sua vida depende de algo, não há como remediar. Não há espaço para o medo.
Eu… Eu te amo. – Eu soluçei, e afundei meus dentes na ferida.
Eu suguei o sangue sujo, sentindo o veneno sair de seu sistema e entrar em mim. O mais incrível era que nem o gosto amargo do veneno era capaz de inibir o gosto de seu sangue. Era forte, absurdamente quente. Era maravilhoso. Eu podia sentir seu coração batendo forte, tão forte que eu nem mesmo podia ouvir o meu próprio. Eram um só. O mesmo, o único. Eu sentia meu corpo arder, era como se minhas veias estivessem se iluminando. O sabor se intensificou, minhas lágrimas se misturaram com o sangue, quase nenhum traço do veneno restava em seu corpo. E era dez vezes melhor. Puro, forte, inebriante. Como minha família podia achar que ele cheirava mal? Seu coração martelava em meus ouvidos, em minhas mãos, mas era estranho, por quê era como se ele estivesse se afastando. Mais longe, mais longe…
Com um súbito terror eu me lancei para tráz, caindo de costas na relva fria. Como era difícil parar, com aquele sabor ainda impregnado em minha língua eu senti que meu corpo pedia mais, o cheiro dele alí ao meu lado… Mas eu não podia, eu não podia matá-lo. Nada seria maior ou mais forte que o meu amor por ele, nem mesmo minha sede. Nem mesmo o apelo de seu sangue, ainda quente e poderoso, correndo por minhas veias. Eu me levantei, clareando minha mente. Ele estava fraco, mas definitivamente ainda estava vivo. Com sorte, logo seu metabolismo acelerado seria capaz de curar todos os ferimentos, sem o veneno para impedí-lo de se curar ele estaria bom em algumas horas. Pelo menos era nisso que eu queria acreditar.
***
Eu o observei dormir enquanto a escuridão empalidecia e o céu se tornava um cinza frio e homogêneo. O fogo há muito já tinha se apagado e a única compania que eu tive durante aquela noite impossivelmente longa, foram as cinzas. Fiquei com ele em meus braços e zelei por seu sono, sempre alerta para todo e qualquer ruído na floresta. Tantas coisas passaram por minha cabeça… Tantas mudanças. Minha vida mudou tão repentinamente, tão bruscamente, o certo e o errado não estavam mais nos seus lugares de costume. Minha mente mudou, meu corpo mudou, minha alma e tudo mais que me fazia ser Renesmee Cullen à uma semana atrás, já não eram mais os mesmos. Em uma semana eu tinha feito todas as coisas que eu prometi a mim mesma jamais fazer. Eu menti para meus pais, feri Jacob, provei do sangue humano, matei minha própria espécie, e mesmo com todas essas promessas quebradas em minha consciência, eu não conseguia deixar de me sentir aliviada agora, com ele dormindo profundamente em meus braços. Aquilo parecia tão certo, tão natural, que não havia qualquer outra conceção que eu pudesse fazer. Haveria redenção se houvesse ele, e então, eu poderia dar um jeito. Isso me atormentou, por quê eu já não sabia o que esperar de mim, não sabia se os últimos dias fizeram de mim algum tipo de monstro, se eu estava me escondendo atrás de desculpas incoerentes. Os fins justificando os meios. Eu não queria isso, mas também não queria ser fraca. A Renesmee que eu costumava ser não era forte o bastante para enfrentar o que enfrentei nos últimos dias, não teria sido capaz de salvar Jacob, não teria sido capaz de abandonar a família – mesmo sob o pretexto de protegê-los. O amor nos obriga a fazer escolhas difíceis, e na maioria delas você perde algo, alguma parte extremamente importante de você. E só ele – só o amor – te dá as forças que você necessita para continuar, mesmo depois de ter que deixar uma parte sua para trás.
A luz perolada penetrou as árvores e o tímido canto dos pássaros me tirou de meus pensamentos. Olhei Jacob – ainda dormindo profundamente em meu colo. As cicatrizes em seu corpo já estavam fechadas e os ossos quebrados – que eu tive que colocar no lugar – provavelmente já estavam praticamente curados. Se eu não tivesse sugado o veneno para fora de seu sistema, ele não teria sido capaz de se curar, morreria de hemorragia em poucos minutos. Félix conseguiu por os dentes nele antes de ter sua cabeça arrancada do corpo, se Jacob não tivesse agido rápido, provavelmente nem minha distração teria sido capaz de nos ajudar.
Tentei me desvencilhar do corpo adormecido de Jacob o mais cautelosamente possível. Eu precisava resolver algumas coisas. Andei em circulos, tentando clarear minha mente. Minhas suspeitas foram confirmadas pela boca descontrolada de Heidi – Aro estava em movimento de novo, planejando Deus sabe o quê. Eu precisava avizar minha família, se Aro mandasse mais alguém atráz de nós, eles precisavam estar atentos. Havia também a suposta morte de Renée, eu nem sabia se isso era verdade, mas já sentia a dor da perda se alojar em mim, eu não tinha tempo nem mesmo para ficar de luto. Se eu piscasse, eu corria o risco de perder mais alguém. Tentei empurrar essa nova dor para um compartimento escondido, eu iria lidar com isso mais tarde. Lutar primeiro, lamentar depois. Essa era a minha nova regra.
E por fim, a mais perturbadora das questões em minha mente. Como Aro estava conseguindo burlar as visões de Alice? Como ele estava enviando gente para nos vigiar sem que Alice visse ele tomando essa decisão? E como diabos eles passaram despercebido por todos nós – por meu pai? Quanto mais eu pensava em todas essas perguntas sem resposta, mais cansada eu me sentia, e mais perdida eu ficava em mim mesma. Haviam tantas coisas – tantos fatores – que eu precisava considerar. Por que eu tenho tido essas visões? Por quê Forks? Por quê Vancouver? Por quê Zafrina?
Eu estava tão soterrada por essa onda de perguntas que não percebi Jacob despertando e se aproximando de mim. Seus braços me alcançaram apenas um segundo antes que seu cheiro. Minha garganta ardeu, e eu tive que me lembrar que aquele sabor era proibido para mim.
Hey, como se sente? – Eu perguntei, tentando disfarçar a dor da queimação. Ele girou meu corpo para ficar de frente para ele. Eu suspirei. Ele estava bem.
Vivo, graças a você. – Ele respondeu. Havia um tom emocionado naquelas palavras, quase como se ele tivesse um nó na garganta. Eu pude ver também várias perguntas nadando na escuridão de seus olhos, talvez fossem as mesmas que as minhas. Era estranho, parecia que nossas mentes estavam sempre em sintonia, era quase como olhar para um espelho. A expressão dele talvez fosse uma boa réplica da minha, pelo menos era isso que seus olhos diziam. Ele entendia, eu também não queria trazer tudo aquilo à tona naquele momento, todas as nossas perguntas mudas, toda exasperação. Éramos jovens, tínhamos vencido nossos inimigos, tínhamos sobrevivido, mas ao contrário do que os jovens geralmente costumam fazer, nós não comentamos a luta épica, nem repassamos os detalhes, golpe a golpe. Estávamos vivos e juntos, e era mais como duas pessoas que se amam muito e temem a perda do outro com a mesma intensidade dolorida. Haviam tantas outras batalhas, tantos outros riscos que poderiam ser fatais para um de nós dois. Por agora, bastava abraçá-lo, bastava ficar olhando para ele, absorvendo o máximo de detalhes de seu rosto. As palavras pouco ou nada podiam expressar agora. Nem sei quanto tempo se passou, poderiam ter sido horas, dias, semanas, ele sempre anulava todas as coisas à minha volta.
Eles precisam saber. – Sussurrou ele em meu cabelo. Sim, eles precisavam. Me obriguei a soltá-lo, o mundo real ainda estava alí, no meu encalço.
Parecia impossível que meu celular tivesse sobrevivido à luta, mas lá estava ele – no bolso de trás de meu jeans inteiramente arruinado. O visor estava quebrado, faltavam algumas partes, mas ele ainda era capaz de fazer ligações, e no momento, uma ligação era tudo que eu precisava.
O que eu vou dizer à eles Jake? – Sim, eu estava com medo. Não por mim, mas por eles. Se houvesse alguma forma de mantê-los longe disso tudo, eu faria. Mas todas as minhas opções se resumiam basicamente em tentar ficar viva até o dia seguinte, e se Aro tinha uma carta na manga – que impossibilitava Alice e meu pai de vê-lo – bem, eles definitivamente precisavam saber.
Diga a verdade Ness. Eles talvez fiquem muito bravos com você, mas sou eu quem eles vão querer matar. – Jacob sorriu me encorajando, e apesar de toda minha apreensão, não consegui evitar um sorriso cansado de aparecer em meu rosto.
Vou deixar no chão qualquer um deles que tentar. – Eu brinquei, embora eu não fosse realmente capaz de deter todos eles juntos. Jacob riu, e o som mandou uma onda de calor por meu corpo. Era o som que eu mais gostava no mundo.
Você está andando muito comigo Ness. Esse é o tipo de coisa que eu falaria. – Ele balançou a cabeça e começou a andar em direção à mochila. Observei-o procurar uma camisa e o último par de tênis que ele ainda não tinha arruinado. Peguei meu aparelho de celular, e, bem, ele não tinha muito tempo de vida. Disquei o número que julguei o mais seguro, três chamadas mais tarde a voz suave e delicada de Alice atendeu:
Meu Deus Ness, onde você está? – Alice falava baixo e rapidamente. Ela soava nervosa, mas de qualquer forma, eu não esperava outra reação.
Fique calma Alice, eu estou bem. Onde está minha mãe e meu pai? – Tentei parecer o mais calma possível, na esperança de passar credibilidade.
Você ainda não sabe? Deixamos um recado com Billy, estamos em Jacksonville. – Então era verdade. Talvez uma marreta invisível tivesse caído em minha cabeça nesse exato momento.
Alice, não… Alice vocês foram… – As palavras não saíam, nenhuma delas parecia servir.
Sim Ness. Nós viemos para o enterro de Renée. – Um silêncio gelado pairou na linha por um instante. Deus, minha mãe devia estar acabada, e eu nem estava lá para confortá-la.
C-Como? – Obriguei a palavra a sair. Alice explicou que Renée tinha descoberto à dois anos que estava com câncer e que fez Phil jurar que não contaria á ninguém. A doença venceu minha doce e impulsiva avó. Eu deveria saber lidar com isso, afinal, nós éramos imortais, mas o resto do mundo – o resto de nossa família humana – eram perecíveis, estavam suscetíveis à inúmeros fatores que poderiam acabar com suas vidas em um piscar de olhos. Essa era a poesia de ser mortal. Cada minuto pode ser o último.
Alice, eu preciso falar com meu pai. Onde ele está? – Consegui dizer após alguns instantes lutando com minha própria garganta.
Está com Bella, ela ainda está muito abalada. O ponto é, onde você está? Se sua mãe souber que você e Jacob não estão em La Push… Até agora eu consegui fazer Edward respeitar o luto dela, mas você sabe como seu pai é Ness, ele não gosta de esconder nada de Bella.– Alice retrucou.
Meu pai já sabe? – Eu não sei porquê aquilo me assustou, é claro que ele já sabia. Ele sabia de tudo.
Sabe. – Disse Alice. – Eu liguei para o Billy para avizar você, já que o Charlie não conseguiu te encontrar, e Billy me disse que vocês estavam fora à dois dias. Ele queria mandar Sam atrás de vocês e Ness, eu fiquei assustada. – Ela parou, a tensão na voz dela me alarmou.
O quê foi Alice? – Perguntei.
Eu não sei. São minhas visões. Ness, eu não consigo ver nada. Nem mesmo eu ou Jasper, está tudo borrado e vocês nem estão por perto no momento, quero dizer, era pra tudo estar mais nítido que o normal. – Senti um calafrio descer por minha espinha. Eu estava fazendo a mesma pergunta a mim mesma – bem, quase a mesma. Como Aro estava driblando as visões de Alice? Seria essa outra conexão? Era impossível que Alice estivesse perdendo seus poderes, também era impossível que não houvesse nenhuma conexão em todos os fatos recentes. Meus sonhos e visões, Heidi e Félix nos vigiando, Alice no escuro… Algo estava acontecendo, e eu sabia disso desde a primeira noite que sonhei com Aro.
Respirei fundo, tentando aparentar a mim mesma mais firmesa e coragem, e falei:
Alice, nós temos sérios problemas.

Fanfic escrita por Anna Grey

2 comentários:

Nossa que demais...que fofo a Nessie salvar o Jake adoerii.. escreve mais..xD

Anna eu simplismente amei o cap
a nessie foi demais
parabens :q
:g

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