26 de out. de 2010

Capitulo 2

Posted by sandry costa On 10/26/2010 1 comment


Notas do Autor


Bem, aqui começa realmente a história... e veremos o drama de Bella, Nessie, Alice e Quil enquanto prisioneiros dos Volturi...

E veremos que Aro, Caius e Marcus são ainda mais sombrios do que de fato parecem.

Este cap. saiu rapidinho até... o outro talvez demora um pouco mais... talvez.

Um abraço...

Ang;


 As Profundezas do Mar sem Fim







Há mais de dez anos atrás eu me apaixonei por um lindo garoto de cabelos cor de cobre, um garoto de sorriso elegante e enviesado e que podia ler os pensamentos das pessoas; eu não pensei em nada na primeira vez em que o vi... os meus pensamentos fugiram da minha mente como nuvens sopradas pelo vento, mas eu soube naquele momento que nós dois teríamos uma historia juntos... fosse ela qual fosse.
Agora, mais de dez anos após nosso casamento e depois de tantos tempos e contratempos, me pego caminhando sob guarda serrada pelo interior deste navio fantasma, um navio que serve de transporte para uma corte de mentirosos e tiranos... uma corte de malditos vampiros que destruíram para sempre a família a qual eu pertencia. Mas não, não pensarei em minha família usando o passado... eles estão vivos e eu sei que virão nos resgatar, mesmo tendo consciência de que muitos se foram...

A cabine em que nos instalaram não tinha nada e assim que entrei a tristeza tomou conta de mim, o vazio do cômodo era um aviso dos Volturi de que nós estávamos vivas apenas devido à sua “piedade”, ali, deitada no chão estava Renesmee desconfortavelmente adormecida no colo de Alice que tinha seus olhos vidrados e perdidos em pensamentos. Quill também se encontrava sentado no chão e pesadamente encostado na parede de metal do navio.
Ao entrar, a escotilha de acesso foi fechada e trancada atrás de mim... não que uma porta de aço resistisse muito tempo ao ataque de um vampiro, mas o significado por trás deste ato era claro: vocês são nossas prisioneiras. Alice levantou os olhos para mim e um sorriso amarelo brotou de seus lábios apesar de seu rosto angelical manifestar uma tristeza profunda e irreversível, eu me acomodei silenciosamente ao seu lado dando-lhe de passagem um beijo no rosto...
- Onde estamos? – perguntou ela com sua voz delicada, eu havia subido ao convés para tentar descobrir em que altura estávamos ou se havia algum ponto de referencia.
- Lugar algum, desconfio que estejamos dando a volta pelo Alasca uma vez que há gelo no mar... – respondi baixinho.
- Mas é uma rota muito mais longa, se estamos indo para Volterra seria mais fácil eles tomarem o Canal do Panamá...
- Sim, mas o Canal é inspecionado rigorosamente... duvido que Aro queira um bando de inspetores fuçando em seu navio. Imagine o problema que daria se a alfândega descobrisse um exército de vampiros nos porões de seu precioso cargueiro?
- Eles pensam em tudo... estes malditos – disse Alice acariciando os cabelos de Nessie – Assim vamos levar semanas para chegar à Europa... 
- Sim... semanas – eu repeti a palavra pesarosamente - Aliás, adivinhe quem eu encontrei lá em cima?
- Não estou boa para previsões – respondeu ela amargamente.
- Aro Volturi.
- Sério? – espantou-se Alice – O que ele fazia lá?
- Talvez buscando ar fresco e a purificação de sua alma. Ele tentou me convencer de que tudo o que fez tinha um propósito maior e que a raça dos vampiros é uma unidade independente da vontade de um indivíduo ou de um clã.
- Os Volturi falam em liberdade apenas quando lhes convém.
- Concordo. 

O silêncio recaiu pesado sobre nós duas, o ressonar intranqüilo de Quill e Nessie ostentava um pesar profundo e melancólico; não havia muita esperança em que se agarrar neste quarto miserável e triste onde nem uma única gota de tinta maculava o metal das paredes deste navio encardido. 
Um vazio sem fim tomou conta de mim e eu sabia o motivo: Edward. Era tão estranho não estar perto dele ou sentir aquele olhar penetrante, até a ausência daquele sorriso prepotente em seu rosto perfeito parecia alargar o rombo em meu peito; mesmo sabendo que ele não surgira da floresta após o confronto com Felix eu me recusava a crer que ele havia partido. Eu não viveria sem Edward e só pelo fato de eu estar viva já era prova de que ele não havia partido... eu morreria sem ele, minha existência se tornaria sem sentido. Eu nasci para ser dele assim como ele pertencia a mim.
E mesmo preocupada com meu marido eu fui obrigada a afastá-lo de meus pensamentos assim que toquei o rosto de Renesmee, sua pele estava fria como gelo e suas mãos também... seus lábios estavam arroxeados e sua respiração se condensava assim que deixava seus lábios.
- Renesmee está congelando! – eu disse despertando Alice do estupor.
- Oh meu Deus, está mesmo! – ela exclamou assustada assim que tocou o rosto frio de Nessie – Nesse quarto gelado e de encontro ao meu corpo ela deve ter perdido totalmente o calor... ainda mais sobre este piso...
Então rapidamente eu me levantei e cruzei o curto espaço que me separava de Quill, ele estava sentado e cochilando com a cabeça caída sobre o peito, delicadamente eu toquei seus braços esparramados ao lado do corpo... rapidamente ele despertou e seus olhos pareceram confusos até focarem minha imagem.
- Bella? O que foi? – ele disse com a voz arrastada.
- Quill, eu preciso que me faça um favor... Nessie está congelando e o único que pode aquecê-la é você.
Ele me olhou sem compreender, mas a luz da situação iluminou seu rosto um segundo depois, prontamente ele se pôs em pé em toda a sua estatura... vestia roupas leves que os Volturi lhe arrumaram logo que ele aceitou deixar a forma de lobo; rapidamente cruzou o quarto e se sentou ao lado de Alice que cuidadosamente moveu Renesmee para o colo de Quill. Nessie, mesmo adormecida como estava, sentiu imediatamente o calor escaldante do corpo de Quill e se aconchegou ainda mais em seus braços... e, ainda em seu sono exausto, ela suspirou baixinho:
- Jacob...
Quill prendeu a respiração e olhou-a ternamente, em seguida ergueu os olhos marejados para mim e para Alice... eu soube naquele momento que o coração do lobo estava destruído, afinal, Quill presenciara a morte da maioria de seus irmãos e eu sabia que ele também ouvira o coração de Jake parar de bater. Com este sentimento de perda ele apertou Nessie em seus braços e enterrou o rosto em seus cabelos, eu sabia o quanto Quill sentia falta de casa, dos amigos e de sua graciosa Claire. 
Meu coração pesou no instante em que encarei Quil, eu sofria toda vez que olhava para seus cabelos negros e para sua pele avermelhada, sempre que sentia seu cheiro de floresta ou o calor abrasivo de seu corpo... pois eu me lembrava de Jacob. Ah, o que eu faria se ele realmente tivesse partido? Eu amo Jacob. Sempre o amei. Antes eu não sabia que espécie de amor era esse que só com o tempo descobri, Jake é meu irmão, meu amigo e minha força sorridente... como um sol faiscante é sempre ele quem me faz rir. Edward é minha vida... mas Jake é uma parte essencial para mim, afinal, é ele quem faz Renesmee feliz e eu morreria se minha filha o perdesse; Nessie não agüentaria a falta de Jacob e eu não saberia como fazê-la viver sem ele.

- Sabe, temos problemas maiores que o de aquecer Nessie... – disse Alice me olhando com cuidado.
- Quais? – eu perguntei não conseguindo pensar direito.
- Bem, eles têm de se alimentar não é mesmo? – ela cochichou apontando para os dois – E nós também... agora, se os Volturi realmente desejam cruzar o mar gelado do Alasca, bem, aonde será que eles encontrarão alimento para um exército tão grande?
- Droga – eu deixei escapar assim que tomei consciência da gravidade do problema.
Quil era humano e sua necessidade de alimento era obvia, Nessie se alimentava de sangue assim como eu e Alice... mas onde arrumaríamos caça no meio do nada... no meio do Oceano? Já faziam algumas horas que Quil não comia nada e Nessie não caçava à dias... tanto que seus ferimentos da luta contra Felix ainda não haviam se fechado pela falta de contato com sangue... Carlisle havia lhe dado sangue de forma intravenosa enquanto ela estava no hospital, mas isso foi há alguns dias atrás.
- Eles provavelmente já pensaram nisso... na alimentação, afinal, eles planejam tudo – disse Alice.
- Ainda assim temos que ter certeza – eu respondi melancólica.
- O que está pensando em fazer, Bell?
- Vou fazer uma visitinha aos irmãos Volturi.
- Como assim?
- Alice, nós precisamos saber como nos alimentar... está certo que somos prisioneiras mas eles não podem nos manter sem saber de nada o tempo todo.
- Então deixa que eu vá. – disse Alice prontamente.

Eu não pude evitar de abraçar Alice, eu sabia que ela sentia-se responsável por mim e por Nessie por ser a mais velha, por mais ruim que pudesse parecer eu agradeci por Alice estar conosco... com ela seria mais fácil suportar todas as provações que viriam. Mas era estranho pensar em Alice como uma protetora, ela é tão pequena e delicada que mais parece uma flor de cristal no meio de um deserto... doce, sensível e lindamente posicionada sobre o salto alto que calçava. Eu senti o cheiro doce de seus cabelos e em seguida me afastei encarando-a com um sorriso nos lábios.
- Não se preocupe, irmãzinha, eu já sei me cuidar sozinha. Além do mais, não podemos permitir que Aro toque em você...
- Mas, Bell... perto de Quil eu jamais vou ter qualquer visão...
- Mas Aro não sabe disso... e caso você tenha a visão de um possível resgate, seria muito imprudente permitir que os Volturi tivessem acesso a esta informação.
- Eles não virão Bell... – ela disse numa voz triste e engolida.
- Jasper está vivo, Alice, e eu duvido que ele permita que você fique prisioneira aqui.
- Eu prefiro ele longe... assim, ao menos, ele permanecerá vivo.
- Sim, mas você sabe que Jasper jamais faria isso... ou que Jacob permitiria que Nessie ficasse presa... ou mesmo Edward...
- Bella – começou Alice mas eu levantei a mão interrompendo-a.
- Não! – eu disse com força – Não... eu não acredito que os dois estejam mortos, Alice, eu nem ouso imaginar esta possibilidade. Edward está vivo... eu o sinto.
- Me desculpe...
- Não peça desculpas – eu disse abraçando-a novamente – Eu não quero que Aro veja nosso futuro através de você, então é fundamental que você se mantenha perto de Quil o tempo todo. Aliás, você acha que é capaz de não ter visões quando deseja?
- Eu nunca tentei antes, mas como qualquer dom eu acho que posso ativá-lo ou desativá-lo quando quiser... então acho que sim, mas não seria interessante nós sabermos se eles estiverem vindo nos resgatar?
- Não – eu disse após ponderar por um minuto – É melhor mantermos nossa esperança entre a dúvida e a fé, prefiro mil vezes manter os Volturi sem qualquer informação.
- Vocês está certa – disse Alice – Minha querida Bella... como você se tornou tão madura?
- Maternidade... – eu disse sorrindo levemente.
- Provavelmente – Alice sorriu um pouco para mim – E agora?
- Bem, vou fazer uma visita aos nossos algozes.
- Tem certeza?
- Não... mas não temos mais escolha. Cuide de Renesmee, sim?

Alice aquiesceu levemente e depois me deu um beijo no rosto para me desejar boa sorte, eu me virei e sem qualquer ânimo bati duas vezes na porta de aço que nos mantinha presa nesta cabine minúscula e ela foi imediatamente aberta. Havia três guardas que nos mantinham sob vigia constante do lado de fora, eram altos e assustadoramente belos com seus olhos vermelhos feito o sangue, tinham os cabelos claros e compridos e rostos austeros; vestiam túnicas pesadas da cor do vinho velho que arrastavam-se no chão sempre que caminhavam.
- O que deseja? – perguntou o que estava mais à frente.
- Preciso falar com seus mestres. – respondi mantendo a melhor postura que pude.
- Nossos mestres não estão à sua disposição – ele respondeu sem emoção.
- Não me interessa, minha filha está congelando e meu amigo está com fome... eu quero falar com Aro.
O guarda me encarou por alguns momentos, eu sei que causamos estranheza para toda a corte Volturi, nossos olhos dourados divergem violentamente do tom sanguinolento dos deles... eles nos consideram uma anomalia e foi com este tipo de olhar que o guarda me avaliou. Ele trocou algumas palavras em italiano com seus companheiros e um momento depois voltou-se para mim.
- Venha comigo... em silêncio.
Os corredores do navio eram ecoantes e escuros, além de baixos... o guarda era obrigado a caminhar arcado para não bater a cabeça nas divisões e corredores, as paredes tinham um tom marrom e ferruginoso e eu me perguntava sobre a condição navegável desta embarcação velha. O aço diminuía e muito a minha capacidade auditiva e eu ouvia apenas o ronco dos enormes motores a diesel funcionando muito abaixo de nós... me perguntei aonde estariam os Mercadores da Morte.
Os corredores formavam um labirinto tão vasto que eu jamais conseguiria voltar sem o auxílio de um guia, eu continuava seguindo atrás do guarda por escadas inclinadas e comportas de aço que eram abertas constantemente... pelo visto eu subestimei a extensão do navio; em alguns momentos passávamos por pequenas escotilhas e eu notei que o dia lá fora já nascera e o mar faiscante estava coberto por gelo.
- Onde estamos, exatamente?
- Nos aproximando do Estreito de Bering...
- Porque vocês resolveram por este caminho? É muito mais longo – eu disse numa irritação crescente, se tínhamos que ser trancafiadas em Volterra, ao menos eles poderiam fazer isso de forma mais rápida e menos penosa.
- Seus questionamentos são irrelevantes – ele respondeu sem se virar – As escolhas dos mestres pertencem apenas a eles e não são compartilhadas com os servos.
- Você não se cansa disso? Servir de vassalo para eles?
Mas o guarda não respondeu.
Depois de alguns minutos acabamos parando ante uma porta dupla de aço reforçada e vigiada por dois vampiros de armaduras que eu pude perceber eram Mercadores da Morte... agora, de perto, suas vestimentas antigas pareciam ainda mais fantásticas. O meu guarda trocou algumas palavras rapidamente com eles e um segundo depois as portas foram abertas.
O salão era fracamente iluminado, havia tapeçarias caras cobrindo as paredes enferrujadas do lugar, o teto ostentava lâmpadas encardidas de sujeira que emitiam uma luz diáfana e fantasmagórica lançando esguias sombras por todos os lados; não era um salão grande, mas servia aos propósitos reais dos três irmãos Volturi. No fim do salão estavam instalados os três tronos: Aro sentado no meio com Marcos à sua direita e Caius à esquerda.
Aro não olhou imediatamente para mim mas quando notou minha presença abriu um sorriso faiscante e levantou me cumprimentando.
- Isabella – disse ele numa voz doce – A que devemos a honra de sua visita?
- Tenho alguns problemas a tratar com você, Aro.
- Problemas? – estalou Caius me olhando de soslaio e sua voz soou irônica.
Antes que eu pudesse responder ouvi um rugido baixo e só então olhei para o lado e percebi a presença de Alec e Jane; Alec tinha uma cicatriz horrorosa e irregular cruzando a sua garganta onde a lança de cristal de Benjamin o acertara, Jane também ostentava uma cicatriz, mas a dela parecia ser ainda mais feia porque se delineava perfeitamente bem as garras de um lobo... Jacob marcara aquele lindo rosto para sempre.
- Nossa, Jane! – eu disse ignorando Caius completamente – Você está com uma cara horrível.
Ela não respondeu, apenas emitiu um rugido alto e deu um passo feroz para frente mas Aro a deteve instantaneamente.
- Jane... pare.
Eu soube que ela se esforçava ao máximo para me causar dor... mas eu apenas sorri para ela enfatizando que os esforços que fazia eram em vão.
- Isabella... a que problemas se referia? – perguntou Aro numa voz sutil e ignorando a carranca que Caius fez.
- Primeiro, minha filha está passando frio porque vocês tiveram a idéia genial de chegar a Volterra usando o Estreito de Bering e não o Canal do Panamá; segundo, como faremos para não morrermos de sede até lá, levando em conta que a viajem tomara o dobro do tempo?
- Você nos considera tolos, menina? – disse Caius antes que Aro pudesse abrir a boca – O Canal do Panamá é fortemente vigiado, como exatamente você pretendia que voltássemos para casa tendo de passar por tantos postos de fiscalização? A rota pelo Oceano Ártico é muito mais deserta e árida, não há embarcações por aqui porque poucos seguem esta rota... obviamente é um caminho que nos favorece tendo em conta a preciosa carga que carregamos.
- O seu maldito exército – eu disse rangendo os dentes.
- Sim – ele respondeu com um sorriso sarcástico.
- E como você pensa em alimentar tantos vampiros assim?
- Ora, minha cara senhora Cullen... nós temos nossas reservas.
- Do que está falando? – eu perguntei olhando-o desconfiada, o seu tom de voz desceu como uma pedra de gelo para o meu estômago.
- Pare com isso, Caius – reagiu Aro com a voz cortante – O que estamos querendo dizer, Isabella é que não deixaríamos vocês morrerem de fome... já tomamos as devidas providências. E quanto ao seu amigo lobo, há uma tripulação de homens neste navio e nós ordenaremos que eles sirvam alimento humano para ele.
- Minha filha não suportará o frio do Oceano Ártico...
- Sim... sim... eu também tomarei as devidas medidas, vocês serão transferidas para aposentos mais confortáveis, foi uma insensibilidade muito grande de nossa parte tratar de forma tão leviana nossas convidadas – disse Aro se desculpando.
- Ótimo – eu disse ainda estranhando a boa vontade de Aro.
- Agora, Matheu – disse Caius novamente com sua voz fria e maliciosa apontando para o guarda que me trouxe – Conduza a senhora Cullen para junto de seus amigos e depois para aposentos mais confortáveis como prometeu meu irmão caridoso, mas antes, queira mostrar a ela o nosso estoque de alimento, creio que Isabella se sentirá mais confortável sabendo que não morrerá de fome.
- Totalmente desnecessário, Caius – rugiu Aro contrariado.
- Ah, você está se tornando sentimental demais, irmão – riu Caius – Então, Marcus, você acha que há algum mal em mostrar a Isabella a nossa cozinha?
Mas Marcus não respondeu e nem se deu o trabalho de nos olhar... era como se eu nem ao menos estivesse ali.
- Bem, é isso então. Matheu, conduza a nossa convidada para um reconhecimento do navio... – ele disse por fim.

Eu vi que a expressão de Aro se tornou sombria e não compreendi o porquê, mas o sorriso maligno de Caius fez com que eu me arrepiasse temendo algo ruim, eu não gostava nenhum pouco de Caius... bem, não gostava nenhum pouco de qualquer criatura que carregasse o Volturi no nome, mas Caius era o pior de todos. Ele tinha um estilo psicótico de ser que lembrava muito um louco varrido e sua tranqüilidade encenada não escondia isso; seu olhar era o de um assassino frio e calculista e seus movimentos eram sempre medidos como o de um leão avaliando uma presa.
Aro era mais lento em suas decisões, ele era o estrategista, sempre fora ele quem providenciara os planos dos Volturi e eu sabia que era ele quem decidia o que fazer e quando fazer... obviamente ele era o maior responsável pela maioria dos pecados cometidos por sua família mas, ainda assim, ele era menos assustador de Caius. Marcus parecia sempre uma estátua e me pergunto se algum dia ele percebeu que estava confinado num navio velho e sucateado.
Matheu me conduziu para fora sobre o olhar atendo dos Volturi, por sorte eu não vira Felix em lugar algum ou com certeza eu voaria até a garganta dele; novamente eu fui conduzida pelo guarda através do labirinto de corredores de metal onde, hora ou outra, nós descíamos um lance de degraus metálicos e estridentes. Meu coração estava um pouco mais leve sabendo que ao menos Renesmee e Quil não morreriam de fome ou congelados, mas é claro que este era o menor dos consolos.
Finalmente, quando eu achei que não poderíamos descer mais – e confesso que me surpreendi novamente com o tamanho do navio – tocamos um patamar onde não havia mais escadas apenas um corredor longo e cheio de escotilhas.
- Este é o porão do navio? – eu perguntei ao guarda.
- Ainda não.
- Seja lá o que for que Caius queira me mostrar eu não estou interessada, podemos voltar agora.
- Infelizmente, senhora Cullen, não é a senhora quem emite as ordens.
“Eu sabia que você diria isso” – eu pensei comigo mesma.
Então, subitamente, o guarda parou diante de uma escotilha e sem nenhum esforço a abriu...
- Olhe! – ordenou ele e eu olhei.
Com dois passos eu caminhei para dentro da escotilha aberta e me vi parada em um platô de metal... como uma sacada para um porão mal iluminado, abaixo de mim há cerca de dois ou três metros estavam reunidos três cervos que pastavam desolados um feno seco. Eu prendi a respiração por um segundo, não apenas pelo cheiro ruim das fezes dos animais aprisionados ali, mas pela astucia dos Volturi; eles sabiam que nós não nos alimentávamos de sangue humano e com isso capturaram animais vivos para que passássemos as semanas necessárias da viajem sem morrer de sede.
Por um momento eu fiquei confusa sem conseguir compreender as intenções por trás daquele ato: desejavam os Volturi a nossa simpatia ou apenas queriam mostrar que poderíamos levar uma vida normal com eles? Este gesto demonstra respeito por nossos hábitos ou apenas uma sutil sugestão de que eles permitem que nós cultivemos a nossa tradição alimentar?
Seja lá o que os Volturi desejavam com este gesto ele não ajudou a acalmar meu coração, o único alívio é que Nessie e Alice não passariam fome, apesar de que eu senti uma pena imensa destes animais. Quando caçávamos pelas florestas, os animais estavam livres e pastavam desimpedidos por uma pradaria verde e limpa, e eles eram nossa fonte de vida para que não matássemos humanos e eu sempre fui muito grata a eles por isso... davam seu sangue e sua vida apenas para que eu pudesse manter o meu estilo de vida. Carlisle sempre nos orientou a jamais caçar na mesma região seguidas vezes justamente para não desequilibrar o ecossistema do lugar... Carlisle sempre pensando no bem de tudo, uma saudade imensa se apoderou de mim quando me lembrei dele.
Uma dor ainda maior partiu meu coração ao meio quando me lembrei de Charlie...

- Como pode ver... tudo foi providenciado – disse o guarda tirando-me de meus devaneios.
- Sim – eu respondi sem emoção – Vocês parecem pensar em tudo... mas a nossa alimentação é fácil de se conseguir, agora, como vocês se alimentarão? Como alimentarão um exército tão vasto?
- Como eu disse, tudo foi providenciado.
E com um gesto leve ele me pediu para deixar a câmara e segui-lo mais uma vez. Tomamos o corredor iluminado apenas por luzes espaçadas num tom amarelo e encardido e o guarda me legou até uma grande escotilha no fim do corredor, ali o barulho da casa de máquinas era muito mais alto e o constante tilintar de metal formava um som alto e incomodativo. A temperatura era mais elevada aqui, como se os imensos motores a diesel que movimentavam o navio expandissem seu calor para as paredes de aço, mas não era um calor bom, era um calor abafado e opressivo.
Então, o guarda girou a tranca da escotilha e o som do metal foi agourento, no momento em que foi aberta um odor terrível me atingiu, um cheiro rançoso de suor e urina... algo que quase me fez cambalear para trás e que me impediu de seguir para dentro da câmara escura.
- Agora você pode olhar... – disse o guarda sombriamente.
Eu entrei no platô que a principio parecia igual ao anterior mas logo eu notei a diferença, não era apenas uma câmara como aquela onde os cervos estavam alojados, agora eu me encontrava num grande porão que também recebia uma luz falha e quase inútil, mas eu vi o que estava lá em baixo e meu horror foi tão grande que o grito de susto morreu antes mesmo de deixar meus lábios...
Lá, muito abaixo na penumbra do porão.... eu contei centenas de pessoas... seres humanos... eles ergueram seus olhos para nós, olhares de medo e desespero e poderia sentir as lágrimas correndo de meus olhos se ainda fosse humana. Em sua maioria eram andarilhos... mendigos, moradores de rua mas, aqui e ali, eu pude divisar pessoas de terno que deveriam ter sido capturadas quando deixavam seu trabalho; vi meninas da idade de Renesmee em seus uniformes de escola... operários, garçonetes e até aeromoças. Todos ali confinados e amontoados num porão de navio... alimento para o exército dos Volturi.
- Não... – eu deixei meu suspiro pairar no ar enquanto as vozes de lamento chegavam até mim.
- O que você esperava? – perguntou o guarda atrás de mim – Você sabe que nos alimentamos de sangue humano.
- Mas isso é abominável! – eu gritei – É monstruoso até mesmo para vocês... é inaceitável, um crime... isso é... é... simplesmente... eles são humanos, estão vivos, meu Deus... são pessoas... o que vocês... como vocês...????
- Como nós o quê, senhora Cullen? São apenas gado...
- Como pode dizer uma coisa dessas?
- Por que é a verdade. Você não compreende a repulsa que nossos mestres possuem pela raça humana e jamais compreenderá... eles são apenas alimento e nada mais; não os trate como inocentes, senhora Cullen, pois ele não são.
Em seguida ele simplesmente apontou para a saída sugerindo que a visita terminara, eu estava tão estupefata que não consegui falar uma palavra, minhas pernas quase se recusaram a deixar o porão quando eu ouvi o choro e os gritos desesperados de “libertem-nos” ou “deixem-me ir para casa”. Não compreendi o que o guarda tentou dizer com relação à inocência dos humanos presos ali ou porque eu jamais compreenderia a situação, afinal, é claro que jamais entenderei centenas de pessoas presas como animais ao abate.
Se meu coração fica partido quando vejo cervos presos assim esperando a morte... como eu ficarei, sabendo que seres humanos teriam o mesmo destino fatídico?

Eu quase não percebi o caminho de volta, mas sentia-me claustrofóbica naqueles corredores apertados, eu senti o desejo insano de sair dali e respirar o ar puro e gelado do continente; a visão das pessoas amontoadas não me saía da cabeça e um sentimento horrível de impotência tomou conta de mim ao mesmo tempo que me queimava uma raiva crescente contra os Volturi. Como o coração deles conseguia ser tão desprezível e insensível? Mas eu sabia que isso era apenas o começo e que agora, prisioneira deles, eu saberia de muitos atos terríveis que eles praticavam...

Como pôde Carlisle viver tanto tempo ao lado deles?

Os gritos das pessoas me acompanhou por boa parte do caminho onde apenas o farfalhar da capa do guarda podia ser ouvida, nossos passos leves de vampiro não ecoavam pelo corredor vazio que me oprimia ainda mais. Eu precisa que Edward estivesse aqui... ele e Jacob saberiam resolver a situação, Jasper e Emett... mas então eu suspirei alto lembrando que Emett se fora... e talvez Jake também... e Edward.
Eu queria chorar... precisava chorar, mas as lágrimas jamais sairiam. Como eu teria forças para cuidar de Renesmee neste mundo tão sombrio como o dos Volturis? Como eu faria isso sem Edward? Eu precisava reagir... precisava fazer alguma coisa, mas, infelizmente, me sentia aturdida e assustada demais para pensar em algo...
Finalmente o guarda parou e eu notei a presença dos outros dois... haviámos chegado à minha cela; o guarda abriu a escotilha e eu entrei tentando parecer forte, mas assim que olhei para Renesmee percebi que não conseguiria manter o otimismo. Ela já havia despertado e ao me ver pulou em meus braços e afundou o rosto em meu colo, eu sentia o cheiro doce de seus cabelos e o calor de seu corpo, as batidas de seu coração que eu amava tanto me fizeram sentir ainda mais a falta de seu pai.
- Mãe... – ela sussurrou.
- Calma minha querida... está tudo bem, tudo ficará bem.
- Você conseguiu? – perguntou Alice me olhando com cuidado.
- Sim – eu respondi cansada – Eles nos darão aposentos com o mínimo conforto e onde Nessie e Quill não passarão frio...
- Eu não quero nada que venha deles – falou Renesmee se afastando de mim e com a raiva estampada em seu lindo e angelical rosto.
- Tampouco eu – bradou Quill.
- Escutem – eu falei olhando para eles – Nós vamos atravessar o Estreito de Bering, é o braço de mar que separa o Alasca da Sibéria.. é extremamente gelado lá e para piorar rumaremos direto para o Oceano Ártico, você não suportará o frio, Nessie... e mesmo você Quil, sendo um lobo, não suportaria as temperaturas glaciais de lá. Para onde vamos é muito mais frio que o mais tenebroso inverno de Forks ou La Push.
Eles ficaram em silêncio, a menção de Forks e La Push trazia uma tristeza muito grande para os seus corações, lembranças de uma vida perfeita regada a felicidade e amor e que agora foi destruída deixando um vazio imenso e irreparável.
- E quanto à alimentação? – perguntou-me Alice e neste momento ela notou que havia algo de muito errado – O que foi Bell?
- Ah, Alice... – eu choraminguei e não agüentei mais tentar ser forte pra Nessie, simplesmente me atirei nos braços de Alice escondendo o rosto em seus cabelos.
- Bella... o que foi? Eles te fizeram alguma coisa? – ela perguntou apavorada.
- Se fizeram vão pagar caro... – rugiu Quil com o corpo todo estremecendo.
- Esperem – eu disse quase sem voz – Não foi isso... mas algo pior.
- O que foi, mãe? – perguntou Nessie preocupada.
- Eles nos alimentarão... – eu disse – Capturaram uma pequena família de cervos para que nos alimentarmos até a chegada em Volterra e Quil será alimentado com a comida de humanos da tripulação que mantém o navio.
- Cervos? – estranhou Alice – Quanta compreensão...
- Não fique animadinha, irmãzinha – eu disse – Os Volturi também trouxeram um estoque de alimento para eles mesmos.
- Como assim?
- Há centenas de pessoas presas em um dos porões do navio... prestes a virarem jantar do exército dos Volturi.
- Você só pode estar brincando... – disse Quil estarrecido.
- Mas de onde...? – arfou Alice.
- Eu não sei...
- Mas eles possuem um exército de milhares... – disse Renesmee nervosa – Mesmo que tenham centenas de pessoas presas aqui, nem todos os vampiros poderão ser alimentados.
- Isso é verdade – eu disse simplesmente.
- Não... isso é um absurdo até mesmo para os Volturi, é baixo demais... capturarem pessoas...
- Absurdo mesmo – eu interrompi Alice – E há de todas as idades... velhos, jovens... trabalhadores, moradores de rua... estudantes... centenas deles atirados naquele porão.
- Bell, o que eles planejam?
- Bem, desconfio... que eles planejaram meticulosamente esta viajem e os Volturi não são tolos, eles sabem que seqüestrar centenas de pessoas não pode passar despercebido, então julgo que planejam se alimentar apenas uma vez durante essa viajem... há apenas três cervos aqui o que significa que eu, você e Nessie seremos alimentadas apenas uma vez durante o percurso. Penso que eles dividirão os humanos entre os soldados, um para cada dois e então aguardarão o desembarque em Volterra para caçar novamente.
- O que faremos? – perguntou Quil – Não podemos deixá-los à mercê dos Volturi!


Eu olhei para Nessie ainda ouvindo seu coração batendo forte, ela estava nervosa com as notícias e com tudo o que estava acontecendo, minha filha tentava se manter firme apesar de nitidamente estar preocupada com Jake. Alice estava assustada, ela era delicada demais para situações como esta e Quil furioso começou a caminhar de um lado para o outro do minúsculo aposento... mas uma coisa ele tinha razão: não podíamos permitir que aquelas pessoas fossem assassinadas pelos Volturi.

Então, lentamente... um plano se formou em minha mente; era perigoso e muito pouco astuto... mas, ainda assim era um plano, algo que poderia ajudar aquelas pessoas a não perderem a vida de forma tão trágica. Eu então olhei para Alice, Nessie e Quil e minha voz saiu baixa para os guardas não ouvirem por trás das portas de aço.



- Sabem, acabo de ter uma idéia...

1 comentários:

Ang querido vc esta de parabens pela fic .
mas q cabeça vc tem pra escrever desse jeito.
pensar em tudo,e q maldade confinar pessoas assim é crel ate pra eles...
ai eu queria saber q plano é esse q ela pensou.
ai eu sei q vc falou q vai demorar a postar o proximo mas to super ansiosa do mesmo jeito.
mas vou aguardar pois sei q vai ser surpreendente como sempre .................
parabens

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