11 dias depois
- Mas não é possível!? – berrou Jacob, ele tinha assumido a forma humana e agora sua voz raivosa reverberava pela campina – Há quase duas semanas nós perambulamos por este país sem qualquer vestígio deste maldito pântano.
- Jacob, por favor, fique calmo – pediu Kaori numa voz baixa.
- Não há como ter calma... nós estamos perdidos no meio do nada enquanto Nessie está presa com aqueles malditos tarados italianos... como eu posso ter calma? Eu desisto! Danem-se aquelas bruxas estúpidas... eu vou para a Itália.
- Você não ouviu nada do que Erestor nos falou, Jacob? – eu perguntei quase tão impaciente quanto ele, estes dias perdidos na Escócia já havia minado minha paciência.
- Claro que ouvi! – ele respondeu num grito – E como nós poderíamos confiar num maldito vampiro fazendeiro que nos mandou para lugar algum? Se duvidar ele está mancomunado com os Volturi e nós estamos apenas zanzando como baratas tontas, prestes a sermos atacados.
- É uma possibilidade... – concordou Jasper.
- Eu não acho que tenhamos sido enganados por Erestor – ponderou Carlisle – Tenho comigo que isso se deve à magia das duas bruxas.
- Elas não podem ser tão poderosas a ponto de ocultar um pântano inteiro, Carlisle, isso é loucura, a sua mania de confiar nas pessoas pode estar nos fazendo perder tempo... já devia ter aprendido a lição com os Volturi.
- Detesto ter que concordar com Jake, Carlisle – eu disse – Mas com ou sem encantamento, já deveríamos ter encontrado este lugar.
- Vocês não têm noção do poder que estas bruxas possuem... – respondeu Carlisle pacientemente – Mas compreendo a impaciência de vocês, tudo o que peço é que procuremos uma última vez... acho que tenho uma idéia que vale a pena tentar.
Aproveitando o dia nublado e contrariando nossa opção por viajar apenas pelos campos, nosso grupo seguiu pela estrada principal, B876, caminhando no passo mais humano que conseguimos o que deixou Jake e Seth ainda mais impacientes, eles detestavam caminhar na forma humana, tanto pela lentidão como pelo fato de cansarem mais rápido.
A estrada era bonita, havia acostamentos amplos e cercas nas propriedades rurais que corriam ao seu largo, os campos semeados eram exatamente retangulares e proporcionados de maneira a encaixarem perfeitamente entre os vincos no solo que serviam de irrigação. Pareciam formas de bolos verdes gigantes.
Durante mais de 3 horas caminhamos até chegar às cercanias de uma pequena cidade chamada Killimster, não mais que um pequeno amontoado de casas e um correio, do lado esquerdo da estrada havia um campo imenso de pasto onde a cerca caía aos pedaços, não havia plantações ali. Durante alguns longos minutos, Carlisle ficou olhando para aquela terra e em seguida caminhou para dentro da cidadezinha em direção a uma praça. Lá nos fez sentar e ficar olhando os jardins como se fossemos meros turistas... Kaori até tirou umas fotos com o celular de Jasper que, por sinal, estava quebrado... mas tudo em prol da encenação.
Carlisle, por sua vez, caminhou até um banco de praça onde se sentava um senhor de meia idade, todos ficamos a postos e com nossa audição ouvindo a conversa. Carlisle pediu licença e sentou-se ao lado do homem puxando assunto logo em seguida, perguntou do clima e da cidade, elogiando a limpeza das ruas e apreciando os jardins da praça com seus calçamentos de pedras brancas recortadas em paralelepípedos. O homem ficou muito feliz em contar para Carlisle sobre a estória do povoado, talvez nem sempre houvesse bons ouvintes e um homem jovem, belo e de bons modos parecia uma platéia que superava suas expectativas.
- Durante um bom tempo, eu quis me mudar para a Escócia – disse Carlisle ao homem – Acabei comprando uma casa em Liverpool na Inglaterra, um arrependimento, deveria ter vindo morar nesta pequena e graciosa cidade chamada Killimster.
- Ah, o senhor encontraria bons amigos por aqui – disse o homem de forma alegre.
- Mas acho que seria difícil encontrar lugares bons para morar... ou terras, o senhor conhece alguém que esteja vendendo um pouco de terra ou uma propriedade pequena? Talvez eu ainda me interesse.
- Ah, o velho MacGrugger tem uma terra pra vender, poucos alqueires aqui para o lado de North Killimster, mas não é uma terra boa, é muito inclinada e esburacada.
- Entendo, mas eu estive olhando esta propriedade aqui – disse Carlisle apontando para as terras do lado esquerdo da estrada que ele a pouco observara – E ela parece estar abandonada... será que o proprietário não teria interesse em vendê-la?
- As terras da velha família Nimue? – respondeu rindo o homem – Não, não... estas terras estão abandonadas a gerações... antes mesmo de meu bisavô nascer as lendas sobre estas terras já existiam.
- Puxa! – exclamou Carlisle interessado – Eu adoro lendas locais...
- Bem, há muitos anos, séculos dizem alguns mais velhos que eu, mudou-se para cá uma senhora estranha e sua filha, chama-se Nimue, sempre viveu escondida numa casa caindo aos pedaços no alto da colina de suas terras... jamais conversava com as pessoas dos povoados e parecia uma mendiga envolta em farrapos, mas apesar da aparência miserável... era dona de muitos hectares de terra. Morreu e acabou não tendo herdeiros, pois sua filha jamais se casou, as pessoas tinham medo delas, diziam que matavam homens para lhes beber o sangue... quando morreram, os assassinatos terminaram e as terras são tão estéreis que ninguém tentar plantar nada lá. E quem tenta... volta meio louco.
- Meio louco? – perguntou Carlisle.
- É... sabe, tem algo errado nestas terras, quando você sobe a colina e entra nas ruínas do que foi a casa da mulher e sua filha, você simplesmente começa a caminhar em outra direção e se afasta... parece magia. Uns moleques daqui da cidade foram à noite até lá para provar sua coragem, coisa de adolescente, sumiram por dois dias e foram encontrados em Halcro... como se estivessem em transe.
- Muito estranho... – suspirou Carlisle – Então quer dizer que ninguém vai até estas terras?
- Ninguém... por isso, caso esteja interessado em comprar propriedades por aqui, nem pense em procurar as terras de Nimue, elas não estão a venda... e acho que jamais estarão.
Carlisle agradeceu a atenção do homem e voltou para nosso grupo, deixando de lado nossa encenação, caminhamos novamente para a estrada e atravessando-a fomos nos postar diante da cerca apodrecida onde apenas poucos carreiros de pedra ainda formavam uma espécie de mureta dividindo as terras da estrada.
- O que acharam? – perguntou Carlisle.
- Nimue é um personagem do folclore bretão... enfeitiçou o mago Merlin... – eu disse refletindo um pouco – Seria um nome apropriado para uma bruxa que pretendeu mudar o nome.
- Acha que elas estão aqui? – questionou Jasper – Isso significa que todo este lugar está encantado há quase mil anos e estas pessoas nunca souberam de nada?
- Ao que parece... – concordou Carlisle.
- Isso não parece um pântano – observou Seth.
- Talvez esse seja o encantamento... – disse Garret – Está camuflando toda esta área.
- Esperem! – disse Jacob surpreso – Estão dizendo que há um pântano por trás desta paisagem de campo abandonado?
- Pelo visto sim...
- Quando desconfiou deste lugar? – eu perguntei a Carlisle sem desviar o olhar do campo a nossa frente.
- Do outro lado deste campo, em linha reta, fica Winless... há dois dias nós passamos por lá e eu senti algo estranho, estas terras podem ser vistas de lá e quanto mais nos aproximávamos mais alguma coisa nos dizia que era o caminho errado. Talvez o feitiço não tenha tanto efeito em nós como nos humanos... nós apenas sentimos como se estivéssemos no caminho errado ao invés do feitiço nos repelir enviando-nos para longe como foi o caso dos garotos.
- Pensando bem... este lugar tem um cheiro estranho – disse Seth encarando o campo – Parece estar aqui e ao mesmo tempo não está.
- Também sinto isso – completou Kaori – É como se todo o lugar fosse cercado por uma névoa fina...
- Qual é o plano? – quis saber Jacob.
- Vamos caminhar mais um pouco pela estrada até sairmos de vista – disse Carlisle – Então poderemos pular esta mureta e entrar no campo, acho melhor não chamarmos a atenção ou as pessoas daqui ficarão curiosas com turistas entrando em terras alheias e amaldiçoadas.
Deste modo, caminhamos por cerca de dois quilômetros antes de entramos nas terras abandonadas, e logo que pisamos nos campos estéreis ficou evidente que o encantamento estava presente; era como se sua mente ficasse confusa com alguma coisa, como se você tivesse certeza de que não deveria estar aqui, e constantemente parávamos de caminhar permanecendo olhando para os lados como se procurássemos alguma coisa... por sorte, sempre um de nós conseguia puxar os outros.
- Esta confusão parece nublar minha mente – reclamou Jacob.
- Bella fez falta agora para proteger nossos pensamentos – disse Garret.
- Vamos, concentrem-se – incentivou Jasper – Faltam menos de 500 metros até o topo da colina onde ficam os restos da morada.
Com um custo elevadíssimo chegamos cambaleantes até os escombros do que antigamente fora uma pequena casa de pedras, o cume da colina não se elevava muito acima da planície, mas o vento rondava mais forte este local ermo, o silêncio era tão agudo que parecia fazer barulho e o cheiro era estranho, como se o ar estivesse estagnado há muito tempo e o vento não fosse capaz de soprar este estranho odor de umidade e mofo.
Permanecemos perambulando pela colina por muitas horas até que o dia virou noite e a noite madrugada, as estrelas estavam encobertas por um véu espesso de nuvens e mesmo o vento frio que soprava parece ter silenciado neste monte morto e amaldiçoado. Todos caminhamos por toda a extensão do terreno sabendo que havia algo errado com o lugar mas, ainda assim, incapazes de descobrir qualquer vestígio do pântano ou das bruxas que buscávamos.
- É impossível – disse Jacob frustrado – Caminhamos por todos os lugares e até agora nada, voltamos neste maldito ponto, nesta casa caída, para nada! Ouçam, nós deveríamos partir.
- É exatamente isso que as bruxas querem, Jake – falou Kaori – Que nós desistamos sem jamais tê-las encontrado.
- Eu só sei que quando encontrá-las… vou pessoalmente arrancar suas peles de diamante para elas aprenderem a não serem covardes – rugiu Seth impaciente.
- Talvez... – disse Garret depois de alguns minutos pensando no que Seth disse – Este seja realmente o nosso problema... estamos errando justamente em não pensar no feitiço. Vocês lembram o que o velho Erestor contou? O feitiço mantém afastado aqueles que possuem ofensa no coração, somente os que buscam as bruxas, sem lhes desejar mal, poderão encontrá-las. Acho que nossa hostilidade está tão arraigada em nossa mente, que o feitiço não nos permite passar por seu domínio.
- Há verdade nas palavras de Garret – opinou Carlisle.
- Então é isso? – quis saber Jacob – Temos que fazer de conta que está tudo bem para poder bater na porta das bruxas? Eu tenho que lembrá-los que já faz quase meio mês que estamos perdidos nestas malditas terras?
- Não é fazer de conta, Jake – eu disse seriamente – E sim acreditar nisso. Enquanto mantivermos hostilidade para estas feiticeiras, o encantamento não nos permitirá passar, todos nós estamos ansiosos para encontrá-las e até obrigá-las a nos prestarem ajuda. Esquecemos, entretanto, que esta atitude esconde a iniciativa da coerção, e isso é prejudicial... este sentimento faz com que o encantamento não nos permita passar.
- Talvez eu possa ajudar... – disse Jasper e havia uma expressão pensativa em seu rosto – Posso usar meu dom para acalmá-los ao ponto de pensamentos hostis não virem à tona... mas isso iria nos deixar muito vulneráveis a possíveis perigos que este lugar guarde.
- Além disso, temos que nos concentrar para não pensar em nada que desagrade o encantamento, ou este lugar entenderá que estamos planejando algo ruim à suas senhoras... – completou Garret – Acho que estamos muito tempo perdidos por este lugar para desistir agora... sou a favor de nos concentrarmos e minarmos todos os pensamentos ruins que direcionamos a Salesiana e sua filha, com a ajuda de Jasper... poderemos passar pelo encantamento.
- O que acha? – eu perguntei me virando para Carlisle.
- Não temos alternativa – ele respondeu convicto.
- Eu não sei se vou conseguir não pensar em esganar aquelas bruxas – disse Jacob cruzando os braços e me olhando de mal humor.
- Jake, você ama minha filha? – eu perguntei a ele encarando-o.
- Mas é claro que sim... – ele respondeu estranhando a pergunta.
- Talvez o único modo de libertar Nessie seja através dos poderes destas duas vampiras, você nem ao menos vai tentar?
- Está bem... claro que vou, faço qualquer coisa por Renesmee – ela disse relaxando os ombros e me olhando com tristeza.
Reunimos-nos no alto da colina num circulo fechado, a pedido de Carlisle ficamos de mãos dadas para que todos conseguissem passar pelo encantamento, fechamos nossos olhos e tentamos limpar nossas mentes para as hostilidades que podíamos reservar para Salesiana e Charlotte; aos poucos senti meu corpo relaxar e minha cabeça desanuviar, como se tudo estivesse bem, como se uma quentura revigorante brotasse do solo e tomasse meu corpo, meus membros e minha mente me embalando numa tranqüilidade apaziguadora e reconfortante.
Soube que todos estavam assim, como se o dom de Jasper fosse capaz de afastar a nuvem negra e pesada que o encantamento causava em nossos pensamentos, parecia que pensávamos com mais calma e assim pude dirigir meus sentimentos de paz para as vampiras que habitavam este lugar. Eu desejei do fundo de meu coração, não lhes causar mal, apenas pedia que nos escutassem e que nos permitissem passar para lhes encontrar.
Não sei por quanto tempo permanecemos assim, juntos, não sei se minutos, horas ou dias... eu estava tão relaxado e tão confortável nesta esfera de tranqüilidade criada por Jasper que não percebi o tempo passar; só fui despertar de meu sono quando a voz de Kaori tocou minha mente.
“Oh, meu Deus!”
Ao abrir meus olhos fiquei imediatamente estupefato. O campo de pasto longínquo havia desaparecido por completo, havia árvores velhas e altas nos cercando, seus galhos nodosos e longos se entrelaçavam formando um teto natural sobre nossas cabeças, suas folhas eram longas e esguias, de um verde luzidio e havia longos musgos caindo de seus galhos como barbas onduladas num tom verde acinzentado.
Havia sons de animais noturnos e o solo era úmido e escorregadio, não se podia enxergar o céu, era frio e escuro e parecia que estávamos num cenário fantástico... num mundo paralelo ao mundo que conhecíamos.
- Eu não posso acreditar nisso! – admirou-se Jacob.
- Se você não pode acreditar nisso... imagina quando ver isto aqui – disse Seth que se afastara um pouco e se encontrava próximo a um barranco que descia verticalmente no terreno lamacento.
Quando nos reunimos ao redor de Seth e olhamos para onde ele apontava, tivemos novamente uma surpresa apavorante... lá, muito abaixo de nós, estava um pântano profundo onde a água escura se acumulava estagnada por todos os lados como um imenso lago morto, árvores aquáticas cresciam ali expondo suas raízes aéreas para fora da água parada. De dentro do pântano brotavam estranhas formações rochosas na forma de seres humanos, seus rostos de pedra estampando sofrimento e desespero, seus braços lançados para o céu e em suas mãos espalmadas queimava uma estranha chama amarelada... havia dezenas destas elevações iluminando todo o pântano como lampiões medonhos.
No meio do caminho havia uma espécie de ponte velha, não mais que uma paliçada erguida para evitar que se atravessasse o pântano pela água parada, e lá no fim da ponte... sobre um platô de madeira velha, repousava uma choupana decadente. Seu telhado circular era forrado com turfa verde e suas janelas atiravam uma estranha luz azulada para fora; foi neste cenário fantástico, neste cenário de sonhos e pesadelos, que encontramos a casa de Salesiana e Charlotte, as duas vampiras-feiticeiras que guardavam os segredos de Volterra.
Carlisle nos olhou com receio, em seguida virou-se e começou lentamente descer a colina em direção à ponte que flutuava sobre o pântano e suas luminárias estranhas.
As luzes amareladas lançando sombras dançantes na água parada... o silêncio das árvores nos oprimindo dando-nos certeza de que estávamos nos domínios da magia e que havíamos deixado o mundo dos homens.
A noção de que agora estava mais distante de Bella me tomou instantaneamente... afinal, eu agora estava vagando num mundo irreal e onírico.
Estava preso nos domínios de duas feiticeiras...
Muito distante de casa, do meu amor... e do meu próprio mundo... irremediavelmente perdido num pântano de desolação.
Salesiana e Charlotte... atenderiam ao nosso chamado?
- Mas não é possível!? – berrou Jacob, ele tinha assumido a forma humana e agora sua voz raivosa reverberava pela campina – Há quase duas semanas nós perambulamos por este país sem qualquer vestígio deste maldito pântano.
- Jacob, por favor, fique calmo – pediu Kaori numa voz baixa.
- Não há como ter calma... nós estamos perdidos no meio do nada enquanto Nessie está presa com aqueles malditos tarados italianos... como eu posso ter calma? Eu desisto! Danem-se aquelas bruxas estúpidas... eu vou para a Itália.
- Você não ouviu nada do que Erestor nos falou, Jacob? – eu perguntei quase tão impaciente quanto ele, estes dias perdidos na Escócia já havia minado minha paciência.
- Claro que ouvi! – ele respondeu num grito – E como nós poderíamos confiar num maldito vampiro fazendeiro que nos mandou para lugar algum? Se duvidar ele está mancomunado com os Volturi e nós estamos apenas zanzando como baratas tontas, prestes a sermos atacados.
- É uma possibilidade... – concordou Jasper.
- Eu não acho que tenhamos sido enganados por Erestor – ponderou Carlisle – Tenho comigo que isso se deve à magia das duas bruxas.
- Elas não podem ser tão poderosas a ponto de ocultar um pântano inteiro, Carlisle, isso é loucura, a sua mania de confiar nas pessoas pode estar nos fazendo perder tempo... já devia ter aprendido a lição com os Volturi.
- Detesto ter que concordar com Jake, Carlisle – eu disse – Mas com ou sem encantamento, já deveríamos ter encontrado este lugar.
- Vocês não têm noção do poder que estas bruxas possuem... – respondeu Carlisle pacientemente – Mas compreendo a impaciência de vocês, tudo o que peço é que procuremos uma última vez... acho que tenho uma idéia que vale a pena tentar.
Aproveitando o dia nublado e contrariando nossa opção por viajar apenas pelos campos, nosso grupo seguiu pela estrada principal, B876, caminhando no passo mais humano que conseguimos o que deixou Jake e Seth ainda mais impacientes, eles detestavam caminhar na forma humana, tanto pela lentidão como pelo fato de cansarem mais rápido.
A estrada era bonita, havia acostamentos amplos e cercas nas propriedades rurais que corriam ao seu largo, os campos semeados eram exatamente retangulares e proporcionados de maneira a encaixarem perfeitamente entre os vincos no solo que serviam de irrigação. Pareciam formas de bolos verdes gigantes.
Durante mais de 3 horas caminhamos até chegar às cercanias de uma pequena cidade chamada Killimster, não mais que um pequeno amontoado de casas e um correio, do lado esquerdo da estrada havia um campo imenso de pasto onde a cerca caía aos pedaços, não havia plantações ali. Durante alguns longos minutos, Carlisle ficou olhando para aquela terra e em seguida caminhou para dentro da cidadezinha em direção a uma praça. Lá nos fez sentar e ficar olhando os jardins como se fossemos meros turistas... Kaori até tirou umas fotos com o celular de Jasper que, por sinal, estava quebrado... mas tudo em prol da encenação.
Carlisle, por sua vez, caminhou até um banco de praça onde se sentava um senhor de meia idade, todos ficamos a postos e com nossa audição ouvindo a conversa. Carlisle pediu licença e sentou-se ao lado do homem puxando assunto logo em seguida, perguntou do clima e da cidade, elogiando a limpeza das ruas e apreciando os jardins da praça com seus calçamentos de pedras brancas recortadas em paralelepípedos. O homem ficou muito feliz em contar para Carlisle sobre a estória do povoado, talvez nem sempre houvesse bons ouvintes e um homem jovem, belo e de bons modos parecia uma platéia que superava suas expectativas.
- Durante um bom tempo, eu quis me mudar para a Escócia – disse Carlisle ao homem – Acabei comprando uma casa em Liverpool na Inglaterra, um arrependimento, deveria ter vindo morar nesta pequena e graciosa cidade chamada Killimster.
- Ah, o senhor encontraria bons amigos por aqui – disse o homem de forma alegre.
- Mas acho que seria difícil encontrar lugares bons para morar... ou terras, o senhor conhece alguém que esteja vendendo um pouco de terra ou uma propriedade pequena? Talvez eu ainda me interesse.
- Ah, o velho MacGrugger tem uma terra pra vender, poucos alqueires aqui para o lado de North Killimster, mas não é uma terra boa, é muito inclinada e esburacada.
- Entendo, mas eu estive olhando esta propriedade aqui – disse Carlisle apontando para as terras do lado esquerdo da estrada que ele a pouco observara – E ela parece estar abandonada... será que o proprietário não teria interesse em vendê-la?
- As terras da velha família Nimue? – respondeu rindo o homem – Não, não... estas terras estão abandonadas a gerações... antes mesmo de meu bisavô nascer as lendas sobre estas terras já existiam.
- Puxa! – exclamou Carlisle interessado – Eu adoro lendas locais...
- Bem, há muitos anos, séculos dizem alguns mais velhos que eu, mudou-se para cá uma senhora estranha e sua filha, chama-se Nimue, sempre viveu escondida numa casa caindo aos pedaços no alto da colina de suas terras... jamais conversava com as pessoas dos povoados e parecia uma mendiga envolta em farrapos, mas apesar da aparência miserável... era dona de muitos hectares de terra. Morreu e acabou não tendo herdeiros, pois sua filha jamais se casou, as pessoas tinham medo delas, diziam que matavam homens para lhes beber o sangue... quando morreram, os assassinatos terminaram e as terras são tão estéreis que ninguém tentar plantar nada lá. E quem tenta... volta meio louco.
- Meio louco? – perguntou Carlisle.
- É... sabe, tem algo errado nestas terras, quando você sobe a colina e entra nas ruínas do que foi a casa da mulher e sua filha, você simplesmente começa a caminhar em outra direção e se afasta... parece magia. Uns moleques daqui da cidade foram à noite até lá para provar sua coragem, coisa de adolescente, sumiram por dois dias e foram encontrados em Halcro... como se estivessem em transe.
- Muito estranho... – suspirou Carlisle – Então quer dizer que ninguém vai até estas terras?
- Ninguém... por isso, caso esteja interessado em comprar propriedades por aqui, nem pense em procurar as terras de Nimue, elas não estão a venda... e acho que jamais estarão.
Carlisle agradeceu a atenção do homem e voltou para nosso grupo, deixando de lado nossa encenação, caminhamos novamente para a estrada e atravessando-a fomos nos postar diante da cerca apodrecida onde apenas poucos carreiros de pedra ainda formavam uma espécie de mureta dividindo as terras da estrada.
- O que acharam? – perguntou Carlisle.
- Nimue é um personagem do folclore bretão... enfeitiçou o mago Merlin... – eu disse refletindo um pouco – Seria um nome apropriado para uma bruxa que pretendeu mudar o nome.
- Acha que elas estão aqui? – questionou Jasper – Isso significa que todo este lugar está encantado há quase mil anos e estas pessoas nunca souberam de nada?
- Ao que parece... – concordou Carlisle.
- Isso não parece um pântano – observou Seth.
- Talvez esse seja o encantamento... – disse Garret – Está camuflando toda esta área.
- Esperem! – disse Jacob surpreso – Estão dizendo que há um pântano por trás desta paisagem de campo abandonado?
- Pelo visto sim...
- Quando desconfiou deste lugar? – eu perguntei a Carlisle sem desviar o olhar do campo a nossa frente.
- Do outro lado deste campo, em linha reta, fica Winless... há dois dias nós passamos por lá e eu senti algo estranho, estas terras podem ser vistas de lá e quanto mais nos aproximávamos mais alguma coisa nos dizia que era o caminho errado. Talvez o feitiço não tenha tanto efeito em nós como nos humanos... nós apenas sentimos como se estivéssemos no caminho errado ao invés do feitiço nos repelir enviando-nos para longe como foi o caso dos garotos.
- Pensando bem... este lugar tem um cheiro estranho – disse Seth encarando o campo – Parece estar aqui e ao mesmo tempo não está.
- Também sinto isso – completou Kaori – É como se todo o lugar fosse cercado por uma névoa fina...
- Qual é o plano? – quis saber Jacob.
- Vamos caminhar mais um pouco pela estrada até sairmos de vista – disse Carlisle – Então poderemos pular esta mureta e entrar no campo, acho melhor não chamarmos a atenção ou as pessoas daqui ficarão curiosas com turistas entrando em terras alheias e amaldiçoadas.
Deste modo, caminhamos por cerca de dois quilômetros antes de entramos nas terras abandonadas, e logo que pisamos nos campos estéreis ficou evidente que o encantamento estava presente; era como se sua mente ficasse confusa com alguma coisa, como se você tivesse certeza de que não deveria estar aqui, e constantemente parávamos de caminhar permanecendo olhando para os lados como se procurássemos alguma coisa... por sorte, sempre um de nós conseguia puxar os outros.
- Esta confusão parece nublar minha mente – reclamou Jacob.
- Bella fez falta agora para proteger nossos pensamentos – disse Garret.
- Vamos, concentrem-se – incentivou Jasper – Faltam menos de 500 metros até o topo da colina onde ficam os restos da morada.
Com um custo elevadíssimo chegamos cambaleantes até os escombros do que antigamente fora uma pequena casa de pedras, o cume da colina não se elevava muito acima da planície, mas o vento rondava mais forte este local ermo, o silêncio era tão agudo que parecia fazer barulho e o cheiro era estranho, como se o ar estivesse estagnado há muito tempo e o vento não fosse capaz de soprar este estranho odor de umidade e mofo.
Permanecemos perambulando pela colina por muitas horas até que o dia virou noite e a noite madrugada, as estrelas estavam encobertas por um véu espesso de nuvens e mesmo o vento frio que soprava parece ter silenciado neste monte morto e amaldiçoado. Todos caminhamos por toda a extensão do terreno sabendo que havia algo errado com o lugar mas, ainda assim, incapazes de descobrir qualquer vestígio do pântano ou das bruxas que buscávamos.
- É impossível – disse Jacob frustrado – Caminhamos por todos os lugares e até agora nada, voltamos neste maldito ponto, nesta casa caída, para nada! Ouçam, nós deveríamos partir.
- É exatamente isso que as bruxas querem, Jake – falou Kaori – Que nós desistamos sem jamais tê-las encontrado.
- Eu só sei que quando encontrá-las… vou pessoalmente arrancar suas peles de diamante para elas aprenderem a não serem covardes – rugiu Seth impaciente.
- Talvez... – disse Garret depois de alguns minutos pensando no que Seth disse – Este seja realmente o nosso problema... estamos errando justamente em não pensar no feitiço. Vocês lembram o que o velho Erestor contou? O feitiço mantém afastado aqueles que possuem ofensa no coração, somente os que buscam as bruxas, sem lhes desejar mal, poderão encontrá-las. Acho que nossa hostilidade está tão arraigada em nossa mente, que o feitiço não nos permite passar por seu domínio.
- Há verdade nas palavras de Garret – opinou Carlisle.
- Então é isso? – quis saber Jacob – Temos que fazer de conta que está tudo bem para poder bater na porta das bruxas? Eu tenho que lembrá-los que já faz quase meio mês que estamos perdidos nestas malditas terras?
- Não é fazer de conta, Jake – eu disse seriamente – E sim acreditar nisso. Enquanto mantivermos hostilidade para estas feiticeiras, o encantamento não nos permitirá passar, todos nós estamos ansiosos para encontrá-las e até obrigá-las a nos prestarem ajuda. Esquecemos, entretanto, que esta atitude esconde a iniciativa da coerção, e isso é prejudicial... este sentimento faz com que o encantamento não nos permita passar.
- Talvez eu possa ajudar... – disse Jasper e havia uma expressão pensativa em seu rosto – Posso usar meu dom para acalmá-los ao ponto de pensamentos hostis não virem à tona... mas isso iria nos deixar muito vulneráveis a possíveis perigos que este lugar guarde.
- Além disso, temos que nos concentrar para não pensar em nada que desagrade o encantamento, ou este lugar entenderá que estamos planejando algo ruim à suas senhoras... – completou Garret – Acho que estamos muito tempo perdidos por este lugar para desistir agora... sou a favor de nos concentrarmos e minarmos todos os pensamentos ruins que direcionamos a Salesiana e sua filha, com a ajuda de Jasper... poderemos passar pelo encantamento.
- O que acha? – eu perguntei me virando para Carlisle.
- Não temos alternativa – ele respondeu convicto.
- Eu não sei se vou conseguir não pensar em esganar aquelas bruxas – disse Jacob cruzando os braços e me olhando de mal humor.
- Jake, você ama minha filha? – eu perguntei a ele encarando-o.
- Mas é claro que sim... – ele respondeu estranhando a pergunta.
- Talvez o único modo de libertar Nessie seja através dos poderes destas duas vampiras, você nem ao menos vai tentar?
- Está bem... claro que vou, faço qualquer coisa por Renesmee – ela disse relaxando os ombros e me olhando com tristeza.
Reunimos-nos no alto da colina num circulo fechado, a pedido de Carlisle ficamos de mãos dadas para que todos conseguissem passar pelo encantamento, fechamos nossos olhos e tentamos limpar nossas mentes para as hostilidades que podíamos reservar para Salesiana e Charlotte; aos poucos senti meu corpo relaxar e minha cabeça desanuviar, como se tudo estivesse bem, como se uma quentura revigorante brotasse do solo e tomasse meu corpo, meus membros e minha mente me embalando numa tranqüilidade apaziguadora e reconfortante.
Soube que todos estavam assim, como se o dom de Jasper fosse capaz de afastar a nuvem negra e pesada que o encantamento causava em nossos pensamentos, parecia que pensávamos com mais calma e assim pude dirigir meus sentimentos de paz para as vampiras que habitavam este lugar. Eu desejei do fundo de meu coração, não lhes causar mal, apenas pedia que nos escutassem e que nos permitissem passar para lhes encontrar.
Não sei por quanto tempo permanecemos assim, juntos, não sei se minutos, horas ou dias... eu estava tão relaxado e tão confortável nesta esfera de tranqüilidade criada por Jasper que não percebi o tempo passar; só fui despertar de meu sono quando a voz de Kaori tocou minha mente.
“Oh, meu Deus!”
Ao abrir meus olhos fiquei imediatamente estupefato. O campo de pasto longínquo havia desaparecido por completo, havia árvores velhas e altas nos cercando, seus galhos nodosos e longos se entrelaçavam formando um teto natural sobre nossas cabeças, suas folhas eram longas e esguias, de um verde luzidio e havia longos musgos caindo de seus galhos como barbas onduladas num tom verde acinzentado.
Havia sons de animais noturnos e o solo era úmido e escorregadio, não se podia enxergar o céu, era frio e escuro e parecia que estávamos num cenário fantástico... num mundo paralelo ao mundo que conhecíamos.
- Eu não posso acreditar nisso! – admirou-se Jacob.
- Se você não pode acreditar nisso... imagina quando ver isto aqui – disse Seth que se afastara um pouco e se encontrava próximo a um barranco que descia verticalmente no terreno lamacento.
Quando nos reunimos ao redor de Seth e olhamos para onde ele apontava, tivemos novamente uma surpresa apavorante... lá, muito abaixo de nós, estava um pântano profundo onde a água escura se acumulava estagnada por todos os lados como um imenso lago morto, árvores aquáticas cresciam ali expondo suas raízes aéreas para fora da água parada. De dentro do pântano brotavam estranhas formações rochosas na forma de seres humanos, seus rostos de pedra estampando sofrimento e desespero, seus braços lançados para o céu e em suas mãos espalmadas queimava uma estranha chama amarelada... havia dezenas destas elevações iluminando todo o pântano como lampiões medonhos.
No meio do caminho havia uma espécie de ponte velha, não mais que uma paliçada erguida para evitar que se atravessasse o pântano pela água parada, e lá no fim da ponte... sobre um platô de madeira velha, repousava uma choupana decadente. Seu telhado circular era forrado com turfa verde e suas janelas atiravam uma estranha luz azulada para fora; foi neste cenário fantástico, neste cenário de sonhos e pesadelos, que encontramos a casa de Salesiana e Charlotte, as duas vampiras-feiticeiras que guardavam os segredos de Volterra.
Carlisle nos olhou com receio, em seguida virou-se e começou lentamente descer a colina em direção à ponte que flutuava sobre o pântano e suas luminárias estranhas.
As luzes amareladas lançando sombras dançantes na água parada... o silêncio das árvores nos oprimindo dando-nos certeza de que estávamos nos domínios da magia e que havíamos deixado o mundo dos homens.
A noção de que agora estava mais distante de Bella me tomou instantaneamente... afinal, eu agora estava vagando num mundo irreal e onírico.
Estava preso nos domínios de duas feiticeiras...
Muito distante de casa, do meu amor... e do meu próprio mundo... irremediavelmente perdido num pântano de desolação.
Salesiana e Charlotte... atenderiam ao nosso chamado?
2 comentários:
nossa!!! desolada estou eu aqui...
como deve ser dificil pra eles
e como sempre voce esta divino, parabens pois voce se superou no encantamento desse capitulo
voce nos envolve como se fosse magia
beijusss
OI Zê... valeu por comentar... eu demoro mas respondo kk
Cara, Candor tá na lenta mas acho que ainda consigo terminar este ano. quanto aos outros comentários: sim. Eu pesquiso um monte, as vezes semanas para poder escrever um cap. bem embasado.
Enfim, valeu por estar acompanhando.
beijo.
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