P.O.V - Hellena
Estava sentada na mesa enquanto Alec lia o jornal distraidamente. Eu havia fugido de casa depois que as meninas foram caçar, e vim para o hotel com Alec. Depois que Beatriza morrera lá, eu não me sentia muito confortável naquele lugar.
Mordisquei um pedaço de uma torrada olhando a paisagem que dava vista da minha janela. Ah Itália... Como senti sua falta.
-Alec... – chamei seu nome cantarolando.
-Hum? – ergueu os olhos verdes.
-Porque você dorme?
-Ahn... Não te explicam essas coisas da onde veio?
Provavelmente se referia ao mundo oculto.
-Não sobre vampiros, sempre que eu tocava no assunto me lançavam uma carranca e diziam que vampiros são criaturas inferiores e que não mereciam serem mencionadas por nossas bocas superiores. – disse com humor.
O vampiro piscou e franziu as sobrancelhas escuras.
-Uau... – abriu a boca e depois a fechou. – Bem... Se nos alimentarmos bem, bebendo diariamente, podemos ficar sem dormir por meses. Não necessitamos do mesmo modo que os humanos, que se não dormem o cérebro deles explode, mas precisamos descansar às vezes, é na hora que dormirmos e ficamos em estado de inércia que o corpo processa a energia e nos fortalece.
-Ah... – tomei um gole de suco.
Ele voltou a folhear o jornal, e por um tempo ficamos ouvindo apenas o som das paginas sendo viradas e dos pássaros voando alto no céu da nova manha.
Alguns ocasionais raios de sol invadiam o quarto tocando levemente o peito despido de Alec.
-Como você come comida humana? – interrompi a quietude.
-O que? – voltou às íris claras na minha direção.
-Como você pode comer? – insisti.
-Bem... Eu não preciso comer, mas quando como é convertido na hora em energia... Por que não me perguntou tudo isso no primeiro dia de questionamentos há três anos? – dobrou o jornal visto que não conseguiria terminá-lo.
-Sei lá. – dei de ombros.
Ofegou pegando o jornal de novo com gestos lentos como que esperando que eu o interrompesse de novo, não o fiz, e com isso ele voltou a ler em paz.
-Então você não foi ameaçado na fogueira há um milênio atrás, mas como se transformou? – ele tirou as vistas do jornal, fitando a parede a sua frente de um jeito frustrado.
-Do mesmo jeito que se transforma um humano, Aro deu seu sangue a mim e a Jane, bebemos veneno e dormimos. Ao acordar, éramos vampiros.
-Ah. – dessa vez ele não tirou os olhos de mim, mas insisti no silencio ate ele se der por vencido e pegar novamente o noticiário italiano. Não entendia porque ele lia aquilo.
Guardei um riso e perguntei.
-Minha mãe te deserdou ao nascer, como?
Ele respirou fundo.
-Uma súcubo do espírito tem o dom de identificar qual criança nascera na primeira geração. Quando soube que uma súcubo do fogo dava a luz a gêmeos filhos de um vampiro, como escrito na profecia, ela veio verificar se éramos as crianças da profecia, visto isso ela nos deserdou, e com isso quase morremos, mas os Volturi nos salvaram dando-nos seu sangue.
-Nossa. – foi à única coisa que consegui dizer, mas dessa vez não esperei ele voltar a ler. – Então você era meio incubo, o lógico não seria você ser meio vampiro como Corin?
-Eu fui o primeiro incubo a ser deserdado, e eu e Jane éramos bebes, nosso poder ainda era puro demais, e com isso, ele estava todo concentrado no nosso sangue, não na nossa alma.
Fiz uma cara de desentendida.
-Os bebes tem o poder mais puro e bruto, o poder fica concentrado no sangue, pois a alma deles ainda não esta completa, segundo algumas religiões. – franziu o cenho. – Sendo assim, Desdêmona pode tirar todo nosso poder e não nos tornar vampiros.
-Ham...
-Mais alguma coisa? – arqueou as sobrancelhas.
-Por enquanto não. – peguei um croissant.
Respirou, aliviado e virou mais uma folha, antes que ele pudesse ler-la, interrompi-o. Dessa vez ele dobrou o jornal e pareceu realmente desistir de ler.
-Como foi sua primeira vez?
-Ahn? – franziu o cenho.
-Quando teve sua primeira mulher.
-Faz tanto tempo Hellena, porque quer saber disso?
-A não sei, estávamos conversando sobre isso, eu e as meninas, e o assunto veio.
-Elas gostaram de saber que foi comigo? – levantou só uma sobrancelha.
-Quando eu comecei a falar elas me interromperam e saíram. – arregalou os olhos de um modo cético.
-Hum... Foi há muito tempo realmente. – parou fazendo uma expressão pensativa, relembrando memórias. – Morávamos na Inglaterra quando eu completei dezesseis anos. Os Volturi não viveram sempre na Itália.
Parou estreitando os olhos.
-Vivíamos como nobres por lá. Aro dizia que éramos seus sobrinhos.
-Você tinha a minha idade. – afirmei.
-Sim... A mulher era casada.
-Você era o amante? – não me contive rindo.
-Não... Foi apenas uma noite. Nos estábulos.
-Você dormiu com uma mulher casada no meio de cavalos? – fiz uma careta.
-Não se esqueça que a época era medieval – disse ultrajado. Pensou um pouco - Hum... Talvez um pouco antes, ou na transição do império romano para o medieval, não me lembro claramente.
-Dã, eu morei três anos na época medieval e nem por isso usei a casa dos cavalos de maneira inapropriada. – reclamei.
Alec revirou os olhos e parou de falar.
-Ta... Foi mal, continua. – disse vencida.
-Muitos nobres freqüentavam nosso palácio, inclusive ela e seu marido. O conde de... Buckhet... Alguma coisa assim – continuava com os olhos franzidos. – Não era um posto muito alto, mas Aro gostava deles. Ele possuía uma esposa, mas nenhum filho. Uma mulher belíssima.
Sai da mesa do café da manha e fui ate ele sentando no braço da poltrona.
-Conte mais, como ela era? – perguntei curiosa.
-Tinha os olhos iguais aos seus. – olhou profundamente neles, como que querendo me hipnotizar. – Não tão belos, mas castanhos como nenhum outro.
891 d.C
Havia homens e mulheres andando de um lado para o outro, se vestiam com a elegância da nobreza, e formavam conversas agradáveis sobre todo assunto.
Aro estava sentado em uma longa mesa no fim da sala, aonde todo e qualquer um que chegasse pudesse ver-lo de longe.
Ao seu lado esquerdo residia um nobre inglês, seu conselheiro, um dos poucos humanos que sabia da condição não-humana dos ricos senhorios Volturi.
Enquanto que a sua direita estava seu “sobrinho” vindo da Itália. Possuía feições semelhantes ao do homem ao seu lado, uma cortina de sedosos cabelos escuros e olhos verdes como nenhum outro, parecia distraído com seus talheres, mas no momento em que um serviçal anunciou uma nova chegada, o rapaz ergueu sutilmente os olhos, que logo se pousaram na magnífica mulher que estava parada na porta.
-Conde de Buckhet e sua esposa a Condessa Vitoria.
-Jane... – Didyme repreendeu a menina que sentava ao lado do rapaz. – Coloque um sorriso nesse rostinho, seja simpática com os convidados. – falou enquanto sorria a todos que passavam por si. Marcus que estava por perto segurou a mão da esposa.
-Puf... Eu tenho cara de bobo da corte para ficar entretendo minhas futuras refeições? – falou acida. Levou os claros olhos azuis ate o irmão ao seu lado. – Parece que Alec gostou dos nossos convidados. – comentou sarcasticamente.
-Quem acha que sou para gostar de comida? – Alec disse taciturno.
-Vocês dois agem como se já fossem vampiros. – Didyme falou em voz baixa, mas sem tirar o sorriso dos belos lábios. – Aproveitem enquanto ainda podem interagir com humanos, depois de serem vampiros não vão suportar ficar perto de um.
A conversa se encerrou assim que o casal se aproximou.
-Aro! Como é bom rever-lo. – o conde sorriu a sua frente. – Conhece minha esposa, Vitoria? – levou ela dois passos para frente.
-Me sinto honrado de conhecer tão única beleza. – o vampiro disse beijando a mão da dama que sorriu.
-O prazer é todo meu. – levou os olhos ate o jovem sentado bem perto, mas rápida como uma corça, voltou-os para o senhor.
-Como foi a primeira vez que a viu? – perguntei me inclinando para ele.
-Em uma festa, Sulpicia adorava dar festas, e Aro também.
-E então? – sorri excitada.
-Eles se hospedaram no castelo, isso era bem comum, muitos ficavam por lá. Alguns eram frutos de compulsão para nos alimentarem, outros ficavam apenas para diversão e por conta própria. – deu de ombros. – Nos cruzávamos muito nos corredores, e um dia o marido dela saiu para uma caçada, e acabamos nos encontrando no pátio.
-Vejo o jovem Volturi. – Vitoria sorriu se aproximando com leveza, seus passos flutuantes batiam nas pedras do caminho.
Os cabelos claros estavam organizados no alto da cabeça em um elaborado coque. Criadas seguiam-na de perto.
-Vejo a bela condessa. – Alec fez uma reverencia.
-Ah, por favor. - fez um gesto de mão. – Se importaria de me acompanhar ate os estábulos? – ergueu uma sobrancelha fina.
-Seria um prazer. – a condessa fez um gesto de mão e as criadas se retiraram discretamente. – Soube que seu marido saiu para uma caçada ao lado de meu tio.
-Sim... Roger tem a mania da caça. Não considero sendo como um hábito muito agradável, mas o que eu, uma reles mulher pode fazer contra um marido? – se abanava com um leque.
-Creio que por uma mulher como ti, homens cometeriam loucuras. E talvez o seu marido não esteja fazendo jus à jóia que possui. – disse galanteador, mas sem perder a fina educação recebida de Didyme.
-Não se existem mais homens polidos como ti. – sorriu sedutora.
Chegaram aos estábulos.
-Que belo lugar... – disse levantando os olhos até o teto e os descendo ate o chão. – Levar-me-ia ate o interior?
-Claro. – segurou a mão dela e entraram.
O espaço era amplo e de chão de pedra. Amontoados de feno se espalhavam por todo canto, e alguns pareciam serem usados como cama para os cavalariços.
-É um belo lugar... – riu com graça analisando o lugar com os olhos.
Alec observava-a de longe.
-Mas... Não era meu real interesse apenas conhecer os estábulos. – se virou para Alec. Largou o leque no chão e levou as mãos ate os cadarços de seu espartilho em seus seios.
Despiu-se do vestido, ficando desnuda a sua frente.
Alec se aproximou e passou a mão pelo rosto da condessa, demorando-se em seus lábios, ela ria por baixo de seus dedos.
-Dai-me o carinho que meu marido não consegue mais me conceder. – murmurou sedutoramente.
Aproximaram as bocas em um beijo mutuo, o primeiro toque intimo que Alec dava em alguém, e daquele toque, algo veio ate sua boca, um gosto forte e picante, como rosas e pimentas.
Vitoria ofegou por baixo do toque dele, mas não fora de prazer.
-O que aconteceu?
-Nos beijamos, o primeiro beijo que já dei. – murmurou perdidamente. – A primeira demonstração de que a rainha súcubo não havia removido todo o poder de dentro de mim.
Sua voz estava vazia e triste.
-Dormimos juntos, e enquanto eu a tocava vi o brilho sair de seus olhos, a vida sair de seu corpo.
-Nunca tinha sentido a fome antes? – escorreguei do braço da cadeira ate estar um pouco mais perto dele.
-Não. Ate que ela foi atiçada.
A tarde fora longa e cansativa, apenas para um dos lados.
Os dois corpos estavam deitados entre os fenos, o peito de Vitoria subia e descia com dificuldade enquanto Alec encarava o teto de madeira.
Virou-se o suficiente para que pudesse ver o rosto dela. Estava pálido e com longas olheiras, os lábios tremiam.
-Esta se sentindo bem Vitoria? – perguntou com certa preocupação.
-Foi à melhor noite que já fiz em toda minha vida. – sua voz estava perdida e vaga, quase como se estivesse sonhando. Virou o rosto para o alto, e parou.
Parou de respirar, e seus olhos perderam o fraco brilho que ainda tinham.
-Vitoria? Vitoria? – Alec se levantou e começou a sacudir-la, mas foi em vão. Ela estava morta.
O rapaz vestiu as roupas o mais rápido que pode.
O rosto da mulher estava fixo e tão pálido quando a pele dos vampiros, os olhos abertos e nevoentos e seus lábios entreabertos.
No momento que ele tentava acordá-la novamente, Aro entrou nos estábulos acompanhado de Marcus e Didyme.
-Manter aquele homem aqui é uma grande perda de tempo Aro, mate-o logo, ele só causa problemas... – a mulher reclamava, mas parou no momento que viu o rapaz. - Alec? – arregalou os olhos.
-Por deus. – Aro e Marcus sussurraram.
-Tirem esse corpo imediatamente daqui. – Aro ordenou a criados que surgiram do nada. – Não contaram nada para ninguém sobre isso, vocês não viram nada. – falou com os olhos fixos nos deles.
Os humanos obedeceram.
Aro levou os olhos ate Alec.
-Leve-o para dentro, pelo visto temos um meio incubo entre nos.
-Descobrimos naquele dia que eu ainda tinha a fome dos íncubos. – sua voz ficou soturna.
Acariciei os cabelos dele.
-E eu acabei de descobrir, que alguém precisa de um beijo. – sorri descendo ate estar sentada em sua perna. Levei minha boca ate a sua e beijei-o.
Ele me puxou mais para perto de si.
O relógio do hall de entrada, cinco andares a baixo badalou sete horas. Me afastei dele rindo e de olhos fechados.
-Eu tenho de ir. – sai de seu colo e fui atrás de minhas roupas andando apenas de lingerie e com sua camisa social de botões.
-Mas já?
-As meninas chegam cedo, tenho que chegar antes delas dispensarem a refeição e vir para casa. – peguei minha calça e a vesti, coloquei a blusa e joguei sua camiseta.
-Vou sentir sua falta, quando nos veremos novamente?
-Eu te ligo quando puder sair. – olhei para ele e sorri, corri em velocidade imortal ate estar com meu corpo colado no seu e o beijei nos lábios uma ultima vez. – Eu te ligo. – sussurrei com a boca na sua.
Sai antes que ele me segurasse.
As ruas italianas estavam frias e com uma forte bruma matinal.
Cheguei em casa alguns minutos antes das meninas.
-Onde esteve Hellena?
-Em casa.
-Devia ter ido conosco.
-Não... Minha noite foi maravilhosa. Maravilhosa.
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