O Pai de Todos
As trevas nos cercavam por todos os lados, não havia qualquer ruído a não ser o do vento silvando veloz em nossos ouvidos; eu via o corpo volumoso de Jacob Black à minha frente, ele era movido por um fúria fria que o guiava para mais perto de sua vingança. A correira parecia nossa eterna aliada e fazia com que eu não conseguisse parar de imaginar que a maldição era nossa companheira sempiterna... eu jamais culpei Carlisle pela vontade de ter uma família grande e feliz; entretanto, olhando para tudo o que passamos, não posso evitar de imaginar nossa sina.
Muitos homens mortais, fadados ao eterno delírio de riqueza e poder, anseiam pela vida eterna e pela possibilidade tola de vencer a morte, mal sabem estes homens o quão pesado é o fardo da imortalidade.
Seria mais simples se fôssemos normais...
Foi quando Garret, que seguia na frente, parou subitamente fazendo com que todos derrapássemos pelo chão de folhas, não corríamos juntos pois a mata fechada e tropical não permitia uma locomoção muito rápida... estávamos espalhados mas todos paramos imediatamente quando Garret freou bruscamente.
“Esperem” - disse ele em nossa mente,usando o dom de Kaori - “Há humanos à frente”.
“Humanos?” - estranhou Carlisle - “Mas eles não deveriam estar aqui...”
“Não mesmo” - reclamou Jasper - “Eu e Garret vasculhamos todo este lado da mata e não havia sinais de humanos...”
“Jacob... Seth” - eu falei rapidamente - “Fiquem mais para trás... se humanos estão por aqui eles irão ouvir vocês dois... são muito pesados para passarem despercebido”.
“Ouçam..” - disparou Jacob - “Estão se aproximando”.
“Depressa” - gritou Jasper - “Ocultem-se nas árvores, Jake e Seth... recuem para mais longe”.
Imediatamente, os lobos recuaram e nós subimos nas árvores... eram árvores complicadas de serem escaladas, seus troncos eram altos mas os galhos eram baixos e levianos e não conseguimos fazer isso sem emitir ruido algum. Logo, ao longe, ouvimos passos abafados pelas folhagens e um zum zum zum estranho de vozes humanas conversando baixo... aquilo causou uma estranheza imediata em todos nós e eu vi quando Carlisle, a alguns metros longe de mim, lançou um olhar intricado a Jasper que apenas apontou com a cabeça para baixo.
E lá, do meio da mata, entre árvores esguias e folhagens verdes e luzidias pela luz da lua, surgiram, aos poucos, uma dezena de pessoas... andavam lentamente e separadas numa área de algumas dezenas de metros... andavam como se conhecessem bem o caminho e como se estivessem hipnotizadas, não diminuíam a velocidade e entoavam um catingo baixo e monótono... como um encantamento estranho; eram quatro homens e duas moças...
Logo eles ficaram abaixo das árvores onde nos escondíamos e ao chegarem pararam subitamente detendo sua marcha lenta e compassada, um dos homens olhou para cima como se procurasse algo oculto ali e um arrepio gelado perpassou meu corpo. Estaria aquele homem nos procurando? Mas como poderia saber de nossa presença ali? Eu rapidamente compreendi que aqueles seres humanos não estavam vagando por coincidência.
“Eles parecem saber de nossa presença” - falou Kaori e o tom de surpresa carregava sua voz.
“Eles sabem...” - suspirou Jasper.
E eu concordei com ambos... pois sem qualquer aviso, tão súbito quanto o bote de uma serpente, a voz do homem que olhou para cima primeiro soou na noite profunda.
- Ele sabe que vocês estão aqui... e os está aguardando.
Nós ficamos ali, envoltos nas trevas e com a impressão de que nos encaminhávamos para uma armadilha, o homem que havia falado baixou novamente a cabeça e todos eles continuaram em sua marcha ininterrupta por entre a floresta fechada. Por alguns segundos eu não me movi, ainda pensava sobre o aviso que o estranho homem dera, até que finalmente eu ouvi Jasper se desprender do galho e pousar suavemente no chão fofo da floresta... nós os seguimos e momentos depois os dois lobos já estavam novamente entre nós.
“Mas que diabos foi aquilo?” - perguntou Seth através do nosso elo mental.
- Não faço a menor idéia... - respondi – Mas desconfio que nosso amigo Erestor é mais imprevisível do que imaginávamos.
- Eles pareciam estar em transe... - disse Kaori a meia voz.
- Será o poder do vampiro? - perguntou Garret.
- É possível – respondeu Carlisle – Não sabemos qual é a extensão do poder de Erestor ou qual o seu verdadeiro dom, temos certeza de que ele, de alguma forma, tem influência sobre as pessoas do lugarejo; ou pelo menos sobre certas pessoas. Um vampiro muito estranho, este tal de Erestor.
“Será ele um vampiro maligno?” - quis saber Jacob.
- Talvez não – rebateu Carlisle – Obviamente não temos como saber, mas ele não parece fazer mal às pessoas do lugar... por sinal ele nem as mata... apenas as morde, suga parte de seu sangue, mas não as mata.
“Como se ser mordido por um vampiro fosse algo bom” - fungou Jake irritado.
No fim, resolvemos que de nada adiantaria permanecermos parados no meio da mata conjecturando acerca de Erestor, seguimos em frente rumo à Voz do Mundo para encontrar nossas respostas. O clima na Nicarágua era quente e Jake e Seth sofriam as conseqüências, o corpo superaquecido dos lobos faziam-nos cansar mais facilmente e muito antes de cobrir metade do caminho o nosso ritmo caiu muito.
Jasper corria na frente, impaciente e feroz, Carlisle matinha a complacência mesmo estando triste por estar tão longe de Esme... Garret estava silencioso e concentrado, Kaori apreensiva, e eu corria como se disso dependesse minha vida. A cada passo que eu dava minha agonia aumentava, cada passo parecia um desperdício, eu queria ir até Volterra para reaver minha Bella... minha Nessie e dar um belo chute em Aro, Caius e Marcus.
Bella... minha querida... meu amor, o que estará você fazendo neste momento?
A noite me lançava sua escuridão crescente e as árvores oprimiam nossa passagem, sobre nossas cabeças um teto incomensurável de folhas negras impedia a passagem da luz das estrelas e não tínhamos qualquer orientação a não ser o Vulcão que assomava-se onipotente a nossa frente como um paredão escuro e intransponível.
Forcei-me a prosseguir correndo como forçava-me a fazer tudo... Jacob me acompanhou e Seth veio logo atrás e nossa arrancada foi tão repentina e cheia de energia que acabamos nos antecipando ao grupo, movidos por nossa raiva silenciosa e pela saudade que impulsionava nossos corações. E foi justamente quando Jacob emparelhou comigo que nós deixamos a cobertura das árvores e nos vimos parados em uma grande e larga clareira aberta na mata, uma clareia estranha e perfeitamente sinalizada como se há muitos anos aquela área houvesse sido devastada exatamente daquela forma.
Mais a frente... via-se uma plantação imensa, um vinhedo frondoso suspirando à luz da lua e, mais além, uma casa em estilo colonial e extremamente grande e suntuosa, com janelas de correr e folhas de madeira, um gramado perfeitamente aparado antecedia a residência e tudo era tão fantástico que fui obrigado a me segurar e olhar novamente para tudo aquilo.
- Uma fazenda? - disse Kaori tão estarrecida quanto eu.
“Mas não pode ser aqui...” - comentou Seth em nossos pensamentos.
- Pode sim – respondeu Jasper cerrando os dentes de repente – Sintam... há um vampiro nestas terras.
- Jasper tem razão – confirmou Garret – Ele está aqui.
- Naquela casa? Isso está ficando cada vez mais estranho – eu suspirei.
“Bem, já que não temos escolha... vamos indo” - disse Jacob trotando vagarosamente em direção à casa.
Caminhávamos desalentos e um tanto quanto impressionados, o sol ainda não nascera e o céu apenas começara a clarear, ainda assim, graças aos meus olhos de vampiro eu podia ver todo o explendor da propriedade que agora cruzávamos. Os vinhedos ocupavam quase todo o campo escurecido onde as uvas cresciam saudáveis e volumosas como rebentos de uma floração perfeita, havia uma pequena estradinha... algo mais que um mero carreiro entre os parreirais, este caminho nos conduzia para a casa que despontava soberana a algumas centenas de metros; uma casa alta de dois pavimentos e tijolos à vista, as sacadas eram de uma armação de ferro antiga em detalhes intrincados... havia luzes acesas na varanda e luzes nas janelas frondosas, um lugar pacato, elegante e estranhamente convidativo.
“Garret” - chamou Jacob - “Passa a mochila pra cá, eu e Seth vamos nos trocar, não quero ficar do lado de fora ouvindo conversa”.
Poucos minutos se passaram até que Jake e Seth deixassem as sombras dos parreirais e se reunissem novamente a nós... os lobos altivos sustentavam olhares desafiadores e cheios de suspeita, estávamos diante de uma incógnita: um vampiro estranho e misterioso.
Chegamos ao portão. Estava aberto e dava passagem a quem quer que desejasse adentrar a mansão rural, havia uma estradinha de pedras brancas conduzindo até uma escadaria alta que antecedia a entrada da casa, lá no alto, as janelas nos observavam em silencio, aguardando o nosso próximo movimento.
- Bem... nós não vamos entrar? - perguntou Jacob estranhando nossa súbita hesitação – Nós estamos em número maior, poderemos subjugá-lo facilmente.
- Não é assim que funciona, Jacob – disse Carlisle austeramente – Erestor não é nosso inimigo, nem nunca nos fez mal algum... nós viemos até ele em busca de conhecimento, sem os segredo que ele guarda você terá uma chance mínima de rever sua Renesmee. Não devemos fazer mal a Erestor, mesmo porque, não desejamos esta mal a ele, vamos com calma e será mais educado perguntarmos se poderemos entrar em sua residência do que simplesmente abrir a porta.
- E o que você sugere? - disse Jasper.
- Bem... uma abordagem à moda antiga – e assim, Carlisle pô-se a bater palmas antes de subirmos as escadarias tal qual uma pessoa normal faria para chamar o dono de uma casa.
As batidas de Carlisle ecoaram no descampado escuro e um ou dois cachorros latiram ao longe, por trás da casa assomava-se a figura alta do vulcão que mesmo há muitos quilômetros já encobria o céu em toda a sua majestosa figura. Todos permanecemos estáticos em nossos lugares, o silêncio se fez presente novamente e não sabíamos qual seria nosso próximo movimento caso Erestor não nos recebesse.
Mas, então, finalmente, com um rangido baixo, a porta se abriu e uma mulher pequena e de idade avançada saiu à cobertura amarelada das luzes da casa... olhou-nos com olhos serenos e um segundo depois sorriu fazendo um gesto para que subíssemos.
- Venham – disse ela numa voz calma – Meu senhor os está esperando.
E com isso recuou um pouco aguardando enquanto subíamos os degraus que nos separavam da entrada da casa.
“Ela é humana!” - comentou Kaori.
“De fato... isso está ficando cada vez mais estranho” - eu respondi enquanto os outros mantinham-se em silêncio com a espectativa.
- Eu sou Hermínia Marinez – disse a mulher assim que subimos os degraus, ela olhou-nos um por um e um sorriso se fez em seus lábios antigos – Por favor, podem deixar a bagagem na entrada, vocês devem estar cansados, não é mesmo? Desejam se lavar antes de encontrar com meu senhor?
- Nós agradecemos muito, Hermínia – disse Carlisle cortesmente – Mas preferimos falar com seu senhor primeiro.
A mulher fez uma meia mesura e nos conduziu para dentro da imensa casa senhorial. No momento em que baixei meus olhos para os móveis antigos, para o chão de assoalho polido, as luminárias que ainda sustentavam o lugar para pôr velas e as pinturas dos quadros na parede, eu imediatamente me recordei de outras épocas. A América Central... assim como a América do Sul e do Norte... assim como Europa fora outrora palco da terrível febre do tráfico de escravos africanos, esta era uma casa antiga e senhorial, uma casa de um Senhor de feudos e esta fazenda, talvez antes de abrigar seu atual dono, fora uma grande produtora de café.
- Por favor, sentem-se – falou Hermínia – Aguardem aqui.
Ela nos deixou esperando em uma sala confortável e ampla onde as janelas abertas arejavam o ambiente com o dia que aos poucos clareava, ainda assim, detectamos o cheiro de Erestor por todos os lados... havia uma pintura na parede que me chamou a atenção e instantaneamente as lembranças assomaram em minha mente. Sem perder meu tempo eu bati no braço de Carlisle e apontei para a pintura que tomava um grande espaço na parede maior da sala.
- Estranho... - sussurrou Carlisle.
- O que foi? - perguntou Garret.
- Volterra – eu disse baixinho apontando para o quadro.
- Você está brincando? - falou Seth com uma expressão incrédula no rosto.
- O que um quadro de Volterra está fazendo aqui? - perguntou Jacob verbalizando a dúvida geral.
- Bem, meu caro visitante – disse uma voz profunda atrás de nós – Esta é uma longa história.
Todos nos viramos ao mesmo tempo à procura daquela voz... e lá, na porta de entrada para a sala, estava Erestor. O tempo pareceu desacelerar enquanto eu observava o vampiro à minha frente, durante toda a minha vida, desde que Carlisle me salvou, eu conheci muitos vampiros... mas nenhum tão velho quanto Erestor; obviamente esta velhice não diz respeito à aparência, Erestor era um homem no auge de seus prováveis 35 anos de idade. Entretanto, emanava de si uma antiguidade profunda e esta profundidade podia ser mesurada pela agudez de seu olhar, olhos vermelhos de sangue, mas um vermelho bordo e sacramentado... como se todo o conhecimento que este ser possuía estivesse emoldurado em seu olhar; um conhecimento vasto e enraizado.
Era baixo e atarracado, seu rosto tinha uma forma oval e peculiar, suas faces tinha algo de oriental ou asiático lembrando um pouco os povos da península arábica, sobrancelhas fartas e delineadas assim como seu nariz de fendas largas, sua boca de lábios carnudos abriu-se num sorriso de muitos dentes brancos e caninos afiados quando percebeu nossa surpresa.
Tinha cabelos compridos e atados num rabo de cavalo descendo até a altura da cintura... um cabelo bem escovado e vistoso... que complementava a polidez de sua face, uma face bela e exuberante... ele parecia um rei persa de outrora.
- Por favor, sentem-se – ele disse com uma flexão majestosa da mão, e sorriu quando percebeu que não nos movemos – Ora, meus amigos, eu não lhes farei mal, aliás, creio que seria facilmente subjugado por um grupo tão grande... sob meu teto estarão seguros, eu soube de sua presença desde o momento em que chegaram à minha pequena vila. Mas, enfim, eu sou Erestor... e quem seriam vocês?
- Perdoe nossa falta de educação, Erestor – disse Carlisle se adiantando – Mas, infelizmente, minha família passou por acontecimentos bastante dolorosos e ultimamente até esquecemos de nossos modos. Eu sou Carlisle Cullen, estes são meus filhos Edward, Jasper e Kaori – e eu notei o rosto de Kaori se iluminar por ter sido citada como uma das filhas de Carlisle – Estes são Jacob Black, Seth Clewather e Garret... nossos amigos.
- É um prazer conhecê-los – disse Erestor novamente nos pedindo para sentar e desta vez aceitamos.
- Nós estamos aqui para fazer-lhe um pedido muito especial e urgente... - começou Carlisle, mas Erestor o silenciou com a mão.
- Por favor, Carlisle... eu sei porque estão aqui. Vieram até mim para descobrir os segredos que guardam a encantada Volterra.
- Mas como o senhor poderia saber disso? - perguntou Jasper surpreso.
- Bem, meu caro menino... - disse Erestor rindo – Eu presumo que todos aqui saibam que eu fugi daquelas masmorras há alguns séculos atrás e por isso, acreditem, tenho mantido todo os movimentos dos Volturi sob vigília constante. Sou um vampiro muito bem relacionado, apesar de ermitão, então, quando os Três Reis se movem de seus tronos eu sei quase que imediatamente. A aventura deles à América não me passou despercebido... sinto muito pelas suas perdas, eu ouvi dizer que foram devastadoras.
Erestor, novamente, tirou-nos o fôlego. Este estranho vampiro parecia saber mais do que havíamos suposto e agora nos encarava com um olhar de pena... um terrível sentimento tomou conta de mim, algo muito peculiar que me alertava de que havia algo muito mais profundo e secreto por trás deste velho vampiro. Eu não pude deixar de perguntar:
- Erestor – eu comecei assombrado – Como sabe tanto dos Volturi e de Volterra?
- Ora, é muito simples – disse Erestor tranqüilamente – A história dos Volturi tem tudo haver comigo, afinal, fui eu quem construiu aquele palácio... eu construí Volterra
Eu pude perceber o espanto se espalhando pelo meu rosto, assim como pude perceber o horror se instalando no rosto de todos ao meu lado, por um impulso, Kaori segurou instintivamente a mão de Jacob e ele a apertou, Jasper boquiaberto olhou para Carlisle que não desgrudou os olhos de Erestor... Garret estava igualmente pasmo e, para ampliar meu espanto, eu ouvi uma risada divertida de Seth.
- É – disse ele rindo abertamente – Isso está ficando cada vez melhor, não é mesmo? Daqui a pouco o Papai Noel salta do armário para distribuir doces.
- Seth! – rugiu Jacob – Isso não é hora para piadas.
- Por favor, Erestor – pediu Carlisle – Explique-se.
- Mas não há como eu lhes contar sobre Volterra sem lhes contar a minha história, senhores... estarão vocês dispostos a me ouvir? A ouvir a história de Erestor, o Velho. Um dos Primeiros. Um Filho das Eras?
Nós ficamos olhando-o por alguns minutos sem dizer palavra, agora nossa pressa era testada, por um lado eu queria apenas o conhecimento necessário para salvar Bella e Renesmee, mas, por outro, eu estava extremamente curioso com relação a este vampiro que diz ter construído Volterra. Obviamente... ele tinha um laço muito mais estreito com os Volturi do que até então supúnhamos.
- Por favor, Erestor – pediu Carlisle – Apesar de estarmos com pressa e desesperados, conte-nos a sua história... conte-nos quem você é.
E ele nos contou. E foi desta maneira que todos nós ouvimos a história de Erestor...
“Caminho sobre este mundo a quase quatro mil anos. O que me torna um dos poucos vampiros mais velhos, sou quase tão velho quanto o primeiro de nós, cujo qual eu nada sei a não ser o nome e a idade; já vi inúmeros reinos se formarem e padecerem, presenciei guerras, revoltas e revoluções... tudo o que a história sabe sobre a humanidade... e um pouco do que a humanidade esqueceu de si própria.
Nasci numa cidade chamada Babilônia e meu pai, um comerciante de animais chamou-me de Erabi. Ah, como eram belas as ruas da antiga Babilônia, como eram esplêndidos seus edifícios e seus fabulosos Jardins Suspensos... que hoje em dia não passam de lentas que sobrevivem apenas nas páginas dos livros e do imaginário popular; tão belas suas fontes e vastos seus templos de abóbadas estreladas... mas tudo isso terminou como terminam todas as coisas. Quando fecho meus olhos eu ainda lembro do rosto de minha mãe... da barba espessa de meu pai e do riso solto de meus cinco irmãos, ainda sinto o ar das especiarias que fervilhavam no mercado público, nas ruas inundadas de cores e tecidos... das belas mulheres e suas jóias douradas. Mas isso tudo não passa de uma lembrança e hoje, com quase quatro milênios de idade, sou composto apenas de memórias que os homens já esqueceram.
Sou uma ânfora de lembranças mortas.
Posso dizer, também, que minha vida foi ceifada de mim pelo meu criador. Morri jovem assim digamos, ainda mais pelos padrões de longevidade daquela época, na antiga Babilônia um homem de cinqüenta anos era velho; eu tinha 33 anos quando fui atacado por um vampiro em uma fatalidade despropositada.
Eu era casado e tinha filhos, havia herdado os negócios de meu pai e era um homem feliz, ao menos até deparar-me com a criatura em um beco escuro... hoje eu sei que tratava-se de um recém-nascido ensandecido por sangue e solto na cidade sem o menor cuidado. Na antiguidade não havia tanta preocupação com vampiros e a maioria vivia às escuras, entretanto, alguma alma perversa havia transformado aquele jovem soltando-o sem qualquer informação pelas ruas da cidade... sem qualquer outro desejo a não ser o sangue... ele me atacou.
E eu também me tornei um recém nascido altamente destrutivo e desprovido de controle sobre meus próprios sentimentos... vaguei para longe da minha querida cidade a fim de proteger aqueles que amava pois eu poderia ferí-los ou até matá-los, ou pior... transformá-los no monstro em que fui transformado.
E por anos vaguei... por décadas viajei juntando conhecimento, acumulando riquezas incalculáveis até que tomei consciência de minha imortalidade, compreendi que jamais pereceria e que o tempo não me afetava, ao contrário, me deixava ainda mais poderoso.
Assim, o mundo mudava diante de meus olhos e o que era novo tornou-se antigo e os que eram poderosos foram subjugados, reis caíam mas outros tomavam seus lugares, imperadores iam e vinham pelo oceano conquistando terras distantes e perdendo terras próximas. A roda dos acontecimentos me espantava, até que finalmente eu me cansei dos séculos que passavam lentamente, até que tudo se tornou monótono e eu desejei, por fim, companhia.
Os humanos eram meu alimento, mas como eu nunca fora um homem de má índole abominava o assassinato e por fim, eu corria atrás apenas dos que carregavam o mal consigo; àqueles de má conduta e caráter eu trazia a morte. Até o momento nenhum humano parecia digno de compartilhar a minha imortalidade.
Apesar de amar a minha cidade eu fui obrigado a deixá-la quando as perturbações e ameaças de invasões bateram à nossa porta e, por fim, os haititas conseguiram tomar e saquear a cidade... terminando com um reinado de 200 anos de minha esplendorosa Babilônia.
Assim eu parti através da Crescente Fértil até chegar à costa e aos portos de Tiro, de lá fugi pelo mar passando por Creta e atingindo Siracusa na Sicília... de onde, finalmente, migrei para as terras da belíssima, sorridente e colorida Itália. Nesta terra cálida encontrei meu repouso, em seus campos verdejantes e quase infinitos eu resolvi me estabelecer, o cheiro doce do vinho me intoxicava e minha paixão por vinhedos nasceu daí, era uma pena que eu apenas pudesse deixar minha casa à noite.
E, em um de meus vários passeios ao luar pela iluminada Toscana, eu conheci aquele que seria o meu companheiro; era um jovem e belo fazendeiro e criador de cabras que habitava sozinho sua imensa propriedade; filho de um homem solteiro, pois sua mãe morrera no parto, e havia poucos meses que seu pai também partira deixando-o a cargo de toda a sua imensa herança... também era muito jovem e ainda não havia se casado.
3 comentários:
Não sei como pode, mas com certeza, essa é a melhor fic de crepúsculo que existe, eu nunca vi igual, é como uma continuação de Amanhecer, parabéns mesmo, essa é a diferentça de se ler uma fic de um escritor proficional de fics com escritores meia boca. Continue assim. Alessandra.
Oi vc me deixou super intrigada com o cap. pois vc deve fazer muitas pesquisas para poder escrever com tanta propriedade de detales,eu acho q já disse a vc o quanto amo o jeito com q vc aborda os temas e as histórias q conta a vida dos seus personagens,são simplesmente arrebatadoras pois vc é um escritor nato.
e está de parabens pela fic,e vou ficar aguardando anciosa pelo prox;cap; pois sei q valerá a pena esperar
parabens querido sua fic é PERFEITA
beijusss
Zê
Valeu gente pelo carinho e pelos comentários.
Fico feliz que gostem da fic
espero nao demorar tanto pra postar o prox.
Ang.
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